Reprimir o desejo sexual faz mal? | Augustus Nicodemus Lopes
19/jul/2012Em defesa da apologética | Timothy Keller
05/set/2012Prossigo ao longo da estrada da vida em minha condição comum, satisfatoriamente decaída e sem Deus, absorvido numa reunião alegre com meus amigos a manhã toda ou em um pouco de trabalho que hoje satisfaz minha vaidade, nas férias ou em um novo livro, quando de repente uma dor no abdômen em forma de estocada, prenunciando grave doença, ou a manchete nos jornais, que nos ameaça com alguma destruição, põe abaixo todo esse castelo de cartas. A princípio, vejo-me oprimido, e toda a minha pouca felicidade ganha a aparência de brinquedos quebrados. Então, lenta e relutantemente, de mansinho, tento chegar a uma disposição de espírito que devo demonstrar em todos os momentos. Lembro-me de que todos esses brinquedos nunca foram projetados para dominar meu coração, que meu verdadeiro bem pertence a outro mundo e que meu único tesouro real é Cristo. E talvez, pela graça de Deus, eu obtenha êxito e por um dia ou dois me torne uma criatura que dependa conscientemente de Deus, extraindo força da fonte correta. No momento em que a ameaça é retirada, porém, toda a minha natureza salta de volta aos brinquedos: fico até mesmo ansioso – Deus me perdoe! – por banir de minha mente a única coisa que me amparou no momento da ameaça, porque ela agora está associada à infelicidade daqueles poucos dias. Dessa forma, a terrível necessidade da tribulação mostra-se por demais evidente. Deus me teve por apenas 48 horas, e somente à força de me tirar tudo, mas basta que Ele guarde a espada por um momento para eu me comportar como um animal de estimação quando o banho odiado termina. Sacudo-me até secar-me ao máximo e corro para reassumir minha cômoda imundície, se não no monte de esterco mais próximo, ao menos no mais próximo canteiro de flores. Essa a razão por que as aflições não podem cessar enquanto Deus não nos vir transformados ou não perceber que não há esperança de transformação para nós.
Fonte: (C. S. Lewis. O problema do sofrimento. Ed. Vida: São Paulo, 2001, pp. 120-121).
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A doutrina cristã do sofrimento explica, suponho, um fato muito curioso no que tange ao mundo em que vivemos. A felicidade e a segurança consolidadas que todos almejamos, Deus as retém de nós pela própria natureza do mundo, mas a alegria, o prazer e a diversão Ele os dispersou por toda parte. Nunca estamos seguros, mas temos muita diversão e poucos momentos de enlevo. Não é difícil ver por quê. A segurança pela qual ansiamos nos ensinaria a depositar nosso coração neste mundo e seria um obstáculo ao nosso retorno para Deus. Alguns momentos felizes de amor, uma paisagem, uma sinfonia, uma reunião animada com os amigos, um mergulho ou uma partida de futebol não têm essa tendência. Nosso Pai nos dá alívio na jornada com algumas pousadas agradáveis, mas não irá nos encorajar a confundi-las com o nosso lar.
Fonte: (C. S. Lewis. O problema do sofrimento. Ed. Vida: São Paulo, 2001, pp. 130-131).
C. S. Lewis (1898-1963) foi um dos gigantes intelectuais do século 20 e, talvez, o mais influente escritor cristão de sua época. Foi professor de literatura inglesa na Universidade de Oxford até 1954, quando foi eleito por unanimidade para ocupar a cadeira de inglês medieval e renascentista na Universidade de Cambridge, cargo que ocupou até se aposentar. Entre as suas obras mais apreciadas estão a série As Crônicas de Nárnia, Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, Os Quatro Amores e Cristianismo Puro e Simples. |