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15/maio/2015Engajamento cultural
Eu tenho um questionamento sobre o engajamento cultural para você: Já imaginou como você pode se engajar melhor com aquele colega de trabalho cético, com um amigo ou um familiar? Como devemos interagir com a cultura secular como embaixadores de Cristo?
Além de ensinar Apologética Cristã na William Jessup University, eu também sou membro do grupo de pesquisa em engajamento cultural no Dallas Theological Seminary. Uma das coisas que aprendi durante meu primeiro ano com o Hendricks Center for Christian Leadership and Cultural Engagement, é que o apóstolo Paulo fornece um magnífico exemplo de engajamento cultural no contexto do primeiro século que pode nos ajudar a pensar sobre nossa relação espiritual com os céticos no século XXI.
Em Atos 17.16-34, Lucas registra a visita de Paulo a Atenas – cidade na qual havia uma imensa quantidade de pessoas procurando se envolver em conversas espirituais. É como se cada indivíduo estivesse envolvido em discutir várias questões religiosas e filosóficas.
Naqueles dias, Atenas era um centro massivo de intelectuais. Qualquer um que entrasse na cidade não poderia deixar de notar todas as estátuas, templos, altares e inscrições dedicadas às mais variadas divindades. O politeísmo – crença de que existem muitos deuses – estava em todo lugar. Por exemplo, havia um templo em honra a Hefesto, deus do trabalho e da tecnologia. O Parthenon que os turistas visitam atualmente era, na verdade, um enorme templo em honra a Atena – a deusa padroeira da cidade.
O método de engajamento cultural de Paulo
A verdade importa. Mas a forma como ela é apresentada também importa. Vamos ver três lições sobre engajamento cultural baseadas no encontro de Paulo com os atenienses:
1. Tenha um coração compassivo
É óbvio que Paulo realmente se importou com as pessoas com as quais falou, ainda que parecesse que suas crenças fossem completamente opostas ao pano de fundo judeu do apóstolo. Apenas imagine como ele deve ter se sentido ao se deparar com uma cidade abarrotada de ídolos. Lucas registra em Atos 17.16 que Paulo ficou “profundamente indignado”. O comentário de Lucas aqui provavelmente indica que Paulo ficou totalmente irritado com tudo aquilo[1]. Como um bom fariseu, ele sabia muito bem como Deus agia severamente contra a idolatria em seu próprio país.
Entretanto, Paulo não perdeu a cabeça. Ele não surtou, nem começou a correr pela cidade como um furacão, gritando: “Vocês entenderam tudo errado!”. Eu realmente admiro o fato de ele não ter demonstrado uma “espiritualidade religiosa” – ainda que ele tenha ficado absolutamente ofendido com a idolatria presenciada em toda a cidade. Como Jesus, seu engajamento com a cultura foi alimentado por um coração compassivo.
Com que frequência pensamos no engajamento cultural com coração e mente dominados pela compaixão?
2. Prepare-se para os insultos e para o interesse
Não somos os “caras legais” na cultura popular. Eu entendo isso. A rejeição são ossos do ofício para os embaixadores de Cristo. Como Darrell Bock disse certa vez:
“Popularidade não é algo que o Novo Testamento nos diz para esperarmos. Esta é, na verdade, outra tensão para o cristão ao interagir com o mundo. Nós estendemos nossas mãos e dizemos ‘Deus se importa com você e te ama’, e ainda assim, somos, com frequência, rejeitados. Mas Jesus disse: ‘Se eles me rejeitaram, eles irão rejeitar vocês’.”
Eu concordo totalmente. Há uma máxima sobre o engajamento cultural aqui: “Às vezes, a cultura te empurra para trás”. Algo parecido com os atenienses, os quais chamaram Paulo, basicamente, de charlatão ignorante que copiava suas ideias de diferentes filósofos.
Mas aqui há algo interessante. Nem todos irão rejeitar o Evangelho. Em Atenas, pessoas como Dionísio, Damares e outros, na verdade, aceitaram a mensagem de Paulo. Outros pelo menos se interessaram a ponto de manter um diálogo aberto e essa não é uma posição ruim para se manter.
Apenas convidar um cético para um novo diálogo já é um passo na direção correta.
Perceba que nós não sabemos como Deus usará nosso engajamento cultural na jornada espiritual das pessoas com as quais nos encontramos diariamente – pessoas que podem, eventualmente, converter-se a uma fé em Cristo. Então, por favor, não desista de seus amigos céticos. Por favor, não desista de seus familiares céticos ou de seus colegas de trabalho! Eu já estou nisso há algum tempo e descobri que a persuasão, às vezes, se dá aos poucos.
Então relaxe. Não é necessário fazer um “gol de placa” em cada interação. Em alguns momentos, convidar seu amigo cético para uma nova conversa pode ser um grande passo na direção correta.
3. Desafie as pessoas de maneira eficiente
Voltemos a Atenas. Vamos lembrar que Paulo estava falando com pessoas de diferentes grupos religiosos. Contudo, ele se aproximou para o diálogo dizendo: “Quem vocês adoram sem conhecer é justamente quem eu vos anuncio” (v. 23).
É interessante como ele criou certa tensão ao utilizar esse método. Por um lado, ele lhes estendeu a mão, mas, por outro, ele os desafiou. Ele utilizou um tom chamativo e isso fez toda a diferença do mundo nesse caso.
Eu gosto da forma como Paulo desafia as pessoas enquanto se engaja com a cultura. Ele respeita suas buscas por espiritualidade, mas também deixa claro o que eles estão buscando. De fato, ele define o que eles buscam. É quase como se ele os conhecesse tão bem que pudesse afirmar com toda certeza onde eles estavam, no campo espiritual, e onde precisavam chegar para encontrar um real relacionamento com Deus – a única coisa que realmente pode trazer realização plena.
Dica apologética de Atos 17: Desafie as pessoas enquanto respeita sua busca pela verdade.
Atos 17 deve nos desafiar, como defensores da fé, a nos engajarmos com a cultura de uma forma que respeite a busca das pessoas pela verdade e pela espiritualidade. Vamos mostrar aos nossos amigos que somos simpáticos às suas posições, tentando realmente compreendê-las, levando, gentilmente, nossos diálogos na direção da Bíblia e da esperança que temos em Jesus.
Verdade, tom e engajamento cultural
O encontro do apóstolo Paulo em Atos 17 nos mostra a importância de comunicar a verdade, mas também apresenta a importância de fazer isso com o tom de um embaixador de Cristo – cuidando das pessoas com um coração compassivo, estando prontos para o interesse, bem como para a rejeição, e desafiando as pessoas de maneira eficiente. Que este exemplo bíblico do primeiro século inspire nosso engajamento cultural e nossos diálogos espirituais com os céticos no século XXI.
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[1] A tradução NVI é demasiadamente gentil ao dizer que ele estava “profundamente indignado” (v.16). A palavra grega utilizada por Lucas é muito mais forte (παρωξυνετο). Nossa palavra “paroxismo” provém dela. Paulo estava enfurecido ao ver aquilo. Polhill, John B. Acts. Vol. 26. The New American Commentary. Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1995. p. 366.
Traduzido por Felipe Wieira e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original aqui.
Mikel Del Rosario é palestrante e professor de apologética. Obteve seu Master of Arts em apologética cristã na Biola University e seu Master of Theology (Th.M) no Dallas Theological Seminary. |