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09/maio/2019A maternidade é apologética.
É difícil pensar em um papel na vida que exija um fluxo mais constante de explicações sobre por que acreditamos no que acreditamos sobre Deus e como ele se relaciona com tudo: família, lanche, cochilos, amizades, paqueras, comida, remédios, tarefas domésticas, escolaridade e qualquer outra coisa que esteja debaixo do sol. Uma vez que a maternidade é apologética, as mães devem ser boas teólogas. Precisamos conhecer a Deus, seu caráter, suas palavras e seus caminhos.
Muitas de nós entramos na maternidade pensando que temos uma compreensão bastante firme do que acreditamos sobre Deus e sobre nós mesmas – o que é verdadeiro e correto em qualquer situação. Mas a maternidade nos dá experiências e situações que nunca poderíamos ter antecipado, o que significa que pressiona nossas crenças sobre Deus em milhares de cantos de nossas vidas e as vidas daqueles que estão sob nossos cuidados. De repente, a mulher que sempre se chamava de “sossegada” descobre que é tudo menos isso quando seu filho perde seu terceiro par de sapatos em uma semana. E a mulher cujas habilidades organizacionais mantiveram sua agenda de faculdade precisa, fluída, detalhada em minutos, descobre que a maternidade parece sempre atrasá-la em tudo, desde ir à igreja até manter a lavanderia em dia.
A pequenez e a aparente aleatoriedade de nossas tarefas diárias não apenas desafiam quem pensávamos que éramos, mas quem nós acreditamos que Deus é. Será que essas pequenas tarefas aleatórias que ele nos deu são evidências de que ele é pequeno e aleatório também? O que devemos fazer com a futilidade das meias sem pares, das lixeiras derrubadas, das crianças que nunca estão bem o suficiente para chegar às consultas médicas e vomitam no banco do carro? Podemos confiar em um Deus que nos oferece fraldas descartáveis e privação de sono quando pedimos noites tranquilas e macacões limpos e aconchegantes? A resposta é sim, podemos confiar nele. Mas provavelmente não o faremos se não estivermos nos familiarizando implacavelmente com ele em sua Palavra. Provavelmente não o faremos se nossa teologia não permear nossas mentes e corações.
Nossas bênçãos inesperadas
Uma coisa que notei em minha vida como mãe é que tenho o hábito terrível de pedir muito pouco a Deus. Nós o achamos pequeno quando ele não atende nossos pequenos pedidos, quando na realidade são nossos pequenos pedidos que revelam que não temos apetite por ele.
Queremos um dia sem líquidos derramados no chão ou de caos. Ele não nos dá isso, mas está disposto a nos dar algo muito maior: a graça em Cristo para ser uma mãe paciente, humilde e amorosa em meio a líquidos derramados no chão e de caos.
Queremos a completa ausência de birras e crianças com boas notas e realizações notáveis. Ele pode dizer não a esses pedidos, mas está disposto a nos dar algo que eclipsa tais pedidos: a graça em Cristo para pastorear e disciplinar nossos filhos através de birras, apatia e maus desempenhos.
Queremos crianças que tenham memorizado cem versículos da Bíblia e possam impressionar seus professores da escola dominical, mas ele quer nos dar algo muito maior: a humildade de poder ajudar nossos filhos a conhecê-lo e amá-lo de todo coração e alma, mente e força, enquanto os ensinamos diligentemente os antigos caminhos da Palavra e dos caminhos de Deus, que é apenas outro modo de dizer, teologia.
Estamos ensinando nossos filhos sobre Deus em cada pequena coisa que fazemos – pelo que pedimos a ele, como falamos, ao que dizemos sim e ao que dizemos não. Claro que não é errado pedir um bom sono, ausência de birras e um dia livre de líquidos derramados no chão. Deus nos ama – ele não se desanima com a nossa pergunta. Mas não deixe que seus pequenos pedidos façam você esquecer que ele prometeu dizer sim a algumas coisas realmente grandes. Ele prometeu dar a você a graça que você precisa para caminhar durante o dia como sua criança comprada pelo sangue; ele não prometeu um dia sem problemas – muito pelo contrário. “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).
Mamães-teólogas
Talvez você esteja pedindo a Deus para fazer de você o tipo de mãe que pode efetivamente ensinar seus filhos a usarem o penico e também planejar as refeições, esquecendo-se o tempo todo que ele lhe equipou com tudo que você precisa para a vida e piedade através do conhecimento dele. Mãe cristã, você tem conhecimento de Deus! Você é uma teóloga. E você consegue continuamente a cultivar o conhecimento dele através do estudo contínuo de sua Palavra. Sua teologia é grandemente moldada simplesmente lendo as palavras de Deus diariamente. Ela é moldada por receber a Palavra pregada todos os domingos. É moldada através de aulas no meio da semana, escola dominical, estudo bíblico em pequenos grupos e devocionais em família. Você pode se perguntar o que isso tem a ver com o treinamento e o planejamento das refeições. Tudo! Uma mãe cuja teologia foi bem estimulada e corretamente aplicada, não é meramente uma enciclopédia bíblica, ela é uma apologética viva de sua mensagem. Mesmo ao ensinarmos nossos filhos a usarem o penico, estamos ensinando sobre Deus – que ele é lento em irar-se, tem um amor constante e sempre faz o que ele diz que fará. E, mesmo no planejamento das refeições, estamos ensinando sobre Deus – que ele nos provê ricamente em seu Filho e que seu Filho é o pão da vida que desceu do céu.
Somos teólogas em tudo o que fazemos, não para sermos professoras-mães com alunos exultantes, mas sim mais como um bebedouro. Cristo é a água e nós somos o meio de levar essa água aos nossos filhos. Se nos secarmos, não é porque Cristo deixou de ser água, mas porque nos separamos da fonte.
Considere Jesus. Ele reuniu um grupo de doze homens para segui-lo, para comer e dormir em sua companhia, para ser ensinado em particular por ele, para ter o privilégio de observá-lo e conhecê-lo. Ele criou um cenário que vem embutido na maternidade. Muitos de nós estamos desesperados para ensinar alguém a tomar café uma vez por semana, com Bíblias abertas e lindos estudos e marcadores. Deus poderia dizer não a esse pedido, mas quando ele lhe deu filhos, ele disse sim a algo muito maior. Quando ele te fez mãe, ele estava afirmando seu chamado como teóloga. Sua teologia informa e molda seu papel como professora, apologista e embaixadora para ele em todos os cantos da sua vida, de sol a sol – não apenas quando você está tomando café com um amigo ou no estudo bíblico semanal das mulheres.
Chesterton vai direto ao ponto:
“Como é que ensinar a regra de três para as crianças dos outros pode ser uma grande e ampla profissão e ensinar suas próprias crianças a respeito do universo, uma profissão restrita? Como é que ser o mesmo para todos pode ser grandioso, e ser tudo para alguém, algo limitado? Não pode ser. A função de uma mulher é trabalhosa, mas porque tem uma amplitude colossal e não porque tenha um alcance diminuto. Compadecer-me-ei da sra. Jones pela imensidade de sua tarefa; jamais me compadecerei dela por sua pequenez.”[1]
Companheiras, se pensarmos que ensinar nossos filhos sobre o Deus Triúno e o universo que ele criou é algo pequeno, digno de pena ou sem importância, não compreendemos o que é a pequenez. Não entendemos a maneira como Deus trabalha. Ele pega o que é pequeno aos olhos do mundo – um bebê em uma manjedoura – e o chama, “o resplendor de minha glória e a expressão exata do meu ser” (Hb 1.3). Ele é perfeitamente capaz de assumir o trabalho aparentemente pequeno e humilde da maternidade e brilhar a glória de Cristo sobre nós e nossos filhos. Vá para a Palavra dele. Aprenda seus caminhos. Conheça-o. Ame-o. E compartilhe esse conhecimento – essa teologia – com os menores que ele colocou ao seu cuidado. Você é a primeira teóloga e apologista mais formativa deles.
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[1] G. K. Chesterton, O que há de errado com o mundo. Ed. Ecclesiae, traduzido por Luíza Monteiro de Castro Silva Dutra.
Traduzido e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: The Apologetic of Being Mom: Why Mothers Must Be Theologians. Credo Magazine.
Abigail Dodds é esposa, mãe de cinco filhos, e seminarista no Bethlehem College & Seminary. É autora do livro (A)Typical Woman: Free, Whole, and Called in Christ (2019). |