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08/abr/2021Revisado em 9 de outubro de 2007
No final dos anos 1970, eu fiquei louco por Ayn Rand. Eu li a maioria de seus trabalhos, tanto ficção quanto não ficção. Lembro-me de estar sentado no centro estudantil do Bethel College lendo “A revolta de Atlas” quando era um jovem professor de Bíblia. Um professor do Antigo Testamento do seminário passou e viu o que eu estava lendo. Ele fez uma pausa e disse: “Esse tipo de coisa é incrivelmente perigoso”. Ele estava certo. Para um certo tipo de mentalidade, Ayn Rand é notavelmente viciante e atraente em seu racionalismo ateísta.
Até hoje acho seus escritos paradoxalmente atraentes. Eu sou um cristão hedonista. Em parte, é por isso que o trabalho dela é sedutor para mim. Ela tinha seu próprio tipo de hedonismo. Não se tratava do hedonismo tradicional que afirma que tudo o que lhe dá prazer é certo. O hedonismo dela era muito mais complexo que isso. Ele parece estar muito próximo e muito longe do que encontro na Bíblia. Portanto, neste ensaio, meus objetivos são apresentar Ayn Rand, descrever brevemente seu impacto como romancista e filósofa e avaliar sua teoria ética de uma perspectiva cristã — especificamente da perspectiva do hedonismo cristão. Embora a forma original deste ensaio tenha sido escrita há quase trinta anos, foi necessário fazer muito poucas alterações.
São poucas as respostas cristãs convincentes a Ayn Rand. Avaliações cristãs positivas são quase inexistentes. Pretendo que esta abordagem seja cristã e, principalmente, positiva, embora Ayn Rand fosse ateia e explicitamente anticristã. Espero ser perdoado por minha presunção de sair de minha própria área de especialidade — atuo na área bíblica, teológica e pastoral e não na crítica literária e na filosofia. Escrevo este ensaio porque tenho prazer em estender a outras pessoas o prazer que tive ao aprender com Ayn Rand.
Quem é Ayn Rand?[1]
Ayn Rand foi mais conhecida como autora dos romances “A Revolta de Atlas” (1957), “A nascente” (1943) e “Nós, os vivos” (1936), que, juntos, venderam mais de doze milhões de cópias.[2] Ela nasceu em São Petersburgo, Rússia, em 1905, formou-se em História pela Universidade de Leningrado em 1924 e emigrou para os Estados Unidos em 1926. “Sou americana por escolha e convicção”, escreveu ela, “nasci na Europa, mas vim para a América porque esse era o país que possuía as minhas premissas morais e o único país onde eu podia estar totalmente livre para escrever.”[3] Em 1929, ela se casou com Frank O’Connor, a quem conhecera (ironicamente) em Hollywood no estúdio de Cecil B. de Mille durante a produção de “O Rei dos Reis”. Até que “A nascente” a estabelecesse como romancista, Ayn Rand trabalhou como roteirista, balconista, datilógrafa, leitora de roteiros e escritora freelancer.
Em 1958, logo após a publicação de “A Revolução de Atlas”, Nathaniel Branden, de quem Ayn Rand se considera “herdeira intelectual”[4], começou a oferecer uma série periódica de palestras sobre os princípios básicos do Objetivismo — a filosofia que Ayn Rand havia desenvolvido em seus romances. Juntos, Rand e Branden publicaram “The Objectivist Newsletter” [O Boletim Informativo Objetivista] de 1962 a 1968. Esse periódico, que aplicava a filosofia de Rand a eventos contemporâneos, vendia mais de 60.000 cópias por mês antes de Branden deixar de ser associado ao projeto em 1968. De 1968 a 1976, Rand produziu um folheto mensal de quatro páginas chamado “The Ayn Rand Letter” [A carta Ayn Rand], que atingiu uma circulação de 15.000 exemplares. Ela anunciou sua decisão de parar de publicar a “Carta” com estas palavras: “Pretendo retornar em tempo integral ao meu trabalho principal: escrever livros. O estado da cultura de hoje é tão baixo que não me importo em gastar meu tempo assistindo e discutindo isso.”[5]
O impacto de Ayn Rand
A doutora Ruth Alexander disse certa vez no The New York Mirror: “Ayn Rand está destinada a ser classificada na história como [uma] destacada romancista e significativa filósofa do século XX”.[6] Se esse julgamento histórico será ou não verdadeiro a longo prazo não podemos afirmar, só podemos dizer com M. Stanton Evans que o grande sucesso de seus romances no mercado de livros (mais de doze milhões de exemplares vendidos) “sugere que ela tocou algum nervo vital profundo no tecido exausto de nossa cultura.”[7]
“Apesar de seu sucesso literário, o establishment a considera uma forasteira. Críticos têm ignorado ou denunciado o livro [“A revolta de Atlas”]. Ela também é uma exilada entre os filósofos. Liberais se zangam apenas com a menção a seu nome, mas os conservadores engolem em seco quando ela começa a falar. Para Ayn Rand, se alguém gosta ou não de seu livro é sui generis: é algo indubitavelmente, irrevogavelmente e intransigentemente individual.”[8]
Estas palavras de Alvin Toffler se confirmam quando se pesquisa a opinião crítica sobre o trabalho de Rand. Embora Nathaniel Branden tenha declarado “A revolta de Atlas” como sendo “o romance mais original e desafiador de nossa era”[9], a Newsweek rotulou o livro como “um pirulito de um masoquista que se desenrola por 1.168 páginas.”[10] Outros críticos foram igualmente negativos, se não tão criativos quanto: “uma enganação execrável”, “um exercício lamentável em algo que remete à paranoia”, “mais longo do que a vida e duas vezes mais absurdo”, “a pior peça de ficção desde ‘A nascente’”.[11] James Collins, professor de filosofia da St. Louis University, considerava os escritos de Rand como uma “arenga oscilante”.[12] Talvez a condenação mais generalizada tenha sido do crítico freelancer Bruce Cook no The Catholic World:
“A senhorita Rand é uma escritora muito pobre. Dizer que suas tramas são absurdamente tendenciosas, suas personagens não são mais do que marionetes de madeira e sua dicção totalmente sem graça ou beleza (tudo isso é verdade) é dar uma ideia real da qualidade de seus romances. Eles são completamente ruins da concepção à expressão”.[13]
Não apenas sua ficção, mas também sua filosofia subjacente, o objetivismo, recebeu críticas negativas (exceto no nível popular, veja abaixo). Além da simpática “Análise dos romances de Ayn Rand”, de Branden[14], houve dois grandes estudos sobre o objetivismo, ambos quase inteiramente negativos. Albert Ellis escreveu “O objetivismo é uma religião?” para mostrar que qualquer semelhança entre o objetivismo e uma abordagem verdadeiramente racional da existência humana é pura coincidência; que os ensinamentos objetivistas são irrealistas, dogmáticos e religiosos; que, a menos que sejam grandemente modificados em seu tom e conteúdo, provavelmente criarão mais mal do que bem para o crente em seu modo de vida; e que resultam em um sistema de psicoterapia ineficiente e inútil.[15]
William F. O’Niell escreveu a crítica mais detalhada e acadêmica do objetivismo, chamada “Caridade para ninguém: uma análise da filosofia de Ayn Rand”. Embora suas conclusões fossem negativamente críticas, ele admitiu que “o que quer que a senhorita Rand possa ter alcançado, ela continua a servir como um catalisador intelectual útil em uma sociedade que frequentemente sofre de ‘anemia filosófica’”.[16]
Provavelmente os maiores indicativos dos sentimentos do establishment, no entanto, foram os tiros filosóficos a esmo da imprensa popular. Charles Shroder, em uma crítica tipicamente vaga e plausível, disse que “as ideias da senhorita Rand parecem estar um século desatualizadas” e que “seu sistema filosófico é apenas outra filosofia de conservadorismo retardado”.[17] Joel Rosenbloon a acusou de uma “análise sofomórica/infantil da história da filosofia ocidental” e acrescentou que sua própria filosofia é “um absurdo amplamente pretensioso”.[18] O pensamento de Rand foi descrito como “uma espécie de nietzscheísmo enlouquecido”[19] e ela foi atacada como anarquista e uma Hitler incipiente[20] cuja “compreensão da lógica é incerta” e cuja filosofia “é quase perfeita em sua imoralidade”.[21]
Mas, no nível popular, a história do impacto de Ayn Rand foi diferente. Em todo o país, os entusiastas randianos discutiram seus livros com um fervor quase religioso. Eles ainda o fazem em 2007 [quando este artigo foi escrito]. Nos almoços de negócios, nas conversas tarde da noite nos dormitórios das faculdades e conversas nos bairros, as glórias de John Galt, Howard Roark e Leo Kovalensky (os três heróis de Rand) foram exaltadas e a filosofia que eles incorporaram foi aplicada à cultura americana. Histórias típicas de conversão incluem relatos como o que se segue. Um aluno lembra: “Nasci católico, mas não consigo acreditar na suntuosidade e extravagância da igreja católica. Gosto mais do culto de Howard Roark ao homem.” Uma estudante do centro-oeste que não disse a que igreja ela pertencia comentou orgulhosamente: “Saí da igreja apenas algumas semanas depois de ler ‘A revolta de Atlas’”.[22] Um executivo de uma loja de varejo em Manhattan descreveu sua experiência depois de ler “A nascente”: “Encontrei meu lar espiritual.”[23] É difícil dizer quanto a filosofia de Ayn Rand cresceu do nível popular à mente daqueles que possuem poder governamental. Em setembro de 1974, porém, a Time informou que Alan Greenspan, presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente, era amigo e discípulo de longa data de Ayn Rand.[24]
Na minha opinião, Ayn Rand foi uma voz intelectual muito importante nos Estados Unidos e deve ser seriamente considerada, se por nenhum outro motivo, pelo amplo número de leitores que seus romances receberam e ainda estão recebendo no século XXI. Mas há outras razões. Ao ler “A revolta de Atlas” pela primeira vez, e especialmente o discurso de John Galt, que Rand diz ser o breve resumo de sua filosofia[25], fui continuamente provocado por uma percepção e um pensamento mais profundos e claros. Não compartilhei das condenações indiferenciadas contra a sua ficção, que foi a mais fascinante que eu já li, ou à sua filosofia, que, como O’Neill disse, era pelo menos “abrasivamente refrescante”.[26] Mas, mais do que isto, Ayn Rand estava certa em algumas questões fundamentais. A razão pela qual escrevi este ensaio é distinguir entre algumas das verdades e erros básicos de seus ensinamentos. Ou, dito de outra maneira, eu queria descobrir porque me sentia atraído e repelido por sua filosofia. Eu escolhi focar em sua ética por dois motivos: primeiro, porque, como diz Toffler, “sua filosofia abrange mais do que economia ou política. Ela estabelece, primariamente, um novo tipo de ética.”[27] Segundo, porque seu ensaio, “A ética objetivista”, foi a melhor destilação de sua filosofia que já li.
A ética de Ayn Rand: reafirmação
O melhor resumo do pensamento de Ayn Rand em uma frase está no apêndice de seu maior romance, “A revolta de Atlas”: “Minha filosofia em essência é o conceito de homem como um ser heroico, com sua própria felicidade como o objetivo moral de sua vida, com os resultados produtivos como sua atividade mais nobre e razão como seu único absoluto” (p. 1085). Como ateia e capitalista laissez-faire (N, viii),[28] ela se opôs a todas as filosofias e sistemas éticos baseados no sobrenaturalismo ou no coletivismo. Um se opõe e destrói a vida do homem na terra, chamando a um autossacrifício na esperança de uma vida futura inexistente; o outro se opõe e destrói a vida do homem, exigindo sua autoimolação em prol de uma entidade etérea chamada sociedade. Para Ayn Rand, todas as emoções de exaltação, adoração, reverência, grandeza e nobreza que a religião arrogava a Deus e o coletivismo arrogava à sociedade pertenciam de fato ao homem como um indivíduo racional. Assim, ela disse em um discurso de formatura em 1963: “Esse é o motivo e o propósito de meus escritos: a projeção de um homem ideal”.[29] Ela queria retratar seus personagens para que “o prazer de contemplá-los seja um fim em si mesmo” (N, vii). Assim, ela atribuiu o “senso da vida dramatizado em ‘A nascente’ como culto ao homem” (N, ix).
A premissa mais fundamental de Ayn Rand foi, nas palavras de John Galt, “o axioma de que a existência existe” (PNI, 124; RA, 942). Então, uma premissa corolária era que o homem é um ser consciente que percebe essa realidade existente. Esses dois, existência e consciência, eram axiomas fundamentais e inevitáveis em qualquer ação que empreendemos: “Quer você conheça a forma de uma pedra ou a estrutura de um sistema solar, os axiomas permanecem os mesmos: que ela existe e que você a conhece”. (PNI, 125; RA, 942). Implícita nesses dois axiomas estava a lei da identidade e a lei da não-contradição. A é A; uma pedra é uma pedra e não uma flor; uma coisa é o que é e não outra coisa; você não pode comer seu bolo e comê-lo também. Essa é a lei da identidade. A existência não é insossa, mas uma base firme para a epistemologia. A lei da não-contradição é então a forma epistemológica da lei da identidade: não se pode saber que A é A e, ao mesmo tempo, que A é não-A. Duas afirmações mutuamente exclusivas não podem ser conhecidas como verdadeiras ao mesmo tempo. “Não existe contradição. (…) Chegar a uma contradição é confessar um erro no pensamento de alguém; manter uma contradição é abdicar da mente e despejar-se do reino da realidade” (PNI, 126; RA, 943).
Assim, para Ayn Rand, a existência e a consciência eram coordenadas, de modo que a existência ou a realidade fossem sempre o padrão pelo qual a validade dos julgamentos da consciência era medida. Em outras palavras, a metafísica (“aquilo que pertence à realidade, à natureza das coisas, à existência”, VE, 14) é o fundamento e o árbitro da epistemologia. (Veja sua crítica da bifurcação de Kant sobre fenomenal e numenal, PNI, 30f.)
De maneira semelhante, a metafísica funcionou como base da axiologia de Rand, seu sistema de valores. Assim como o ser é o fundamento do conhecimento, também é o fundamento do dever. O que é prescreve o que deveria ser. Como ela disse em “A ética objetivista”, “A validação dos juízos de valor deve ser alcançada por referência aos fatos da realidade. O fato de uma entidade viva ser determina o que ela deve fazer.” Essa premissa deve ser apreendida para entender o sistema ético de Rand.
Rand argumentou que “a vida é o único fenômeno que é um fim em si mesmo” (VE, 17). Ela não quis dizer mera existência, mas a vida apropriada à natureza do organismo. Nenhum valor maior que a vida pode ser concebido para qualquer organismo quando a vida é definida como a plenitude da existência apropriada à natureza de alguém. Contudo, a vida não é apenas o maior valor de qualquer organismo; a vida é também a única que torna possível o conceito de valores (VE, 16). Pois, uma vez que um “valor é aquilo para o qual se age para obter e/ou manter (…), ele pressupõe uma entidade capaz de agir para alcançar uma meta diante de uma alternativa” (VE, 15). Portanto, sem a vida, os valores não são possíveis e, portanto, a vida deve ser valiosa, pois dela depende a própria validade do conceito de valores. Se alguém deseja conceber valores, deve atribuir valor à vida ou então se contradizer desvalorizando aquilo que torna possível sua própria desvalorização.
Daqui resulta que “a vida de um organismo é seu padrão de valor: o que favorece sua vida é o bem, o que ameaça é o mal” (VE, 17). Ou, para ser mais específico em relação ao homem, “o padrão de valor da ética objetivista (…) é a vida do homem, ou: o que é necessário para a sobrevivência do homem enquanto homem” (VE, 23). Novamente, não é mera sobrevivência, mas a sobrevivência própria da natureza do homem. O que é essa natureza?
A distinção do homem das formas inferiores de vida é esta: “sua consciência é volitiva” (VE, 20) e o conhecimento do qual sua sobrevivência como homem depende e que ele deve alcançar pelo uso de sua vontade é conceitual e não meramente perceptivo (VE, 20). Rand chama o método exclusivamente humano de usar a consciência de “conceitualização” e o descreve da seguinte forma:
“Não se trata de um estado passivo de registro de impressões aleatórias. Trata-se de um processo ativamente sustentado de identificação das impressões em termos conceituais, de integração de todos os eventos e todas as observações em um contexto conceitual, de apreensão de relações, diferenças, semelhanças no material perceptivo de uma pessoa e de abstração delas em novos conceitos, de estabelecimento de inferências, de realização de deduções, de obtenção de conclusões, de elaboração de novas perguntas, de descoberta de novas respostas e de expansão do conhecimento em uma soma cada vez maior. A faculdade que dirige esse processo, a faculdade que opera por meio de conceitos, é a razão. O processo é o pensamento” (VE, 20).
Se o homem deve ser homem, ele deve querer pensar. Seu meio básico de sobrevivência é a razão. “Nenhuma percepção e instinto lhe dirá como acender um fogo, como tecer um pano, como forjar ferramentas, como fazer uma roda, como fazer um avião, como realizar uma apendicectomia, como produzir uma lâmpada elétrica, tubo eletrônico, ciclotron ou caixa de fósforos. No entanto, sua vida depende de tal conhecimento — e apenas um ato volitivo de sua consciência, um processo de pensamento, pode fornecê-lo” (VE, 21).
O próximo passo na ética de Rand era o seguinte: uma vez que a singularidade do homem consiste no uso volitivo de sua razão e sua sobrevivência depende disso, então “aquilo que é apropriado à vida de um ser racional é bom; e o que nega, se opõe ou destrói é mal” (VE, 23). O padrão pelo qual todo homem determina o bem e o mal é a sobrevivência ou realização de sua própria vida como um ser racional. O compromisso ético básico de Ayn Rand era ser racional. Ou seja, ela buscou uma vida que concordasse com o fato de que A é A, e nenhuma contradição no pensamento ou na ação de alguém deve ser tolerada. Assim, ao designar seu padrão de ética como “interesse próprio racional”, a ênfase teve que recair na palavra “racional”.
Todas as virtudes decorrem dessa racionalidade. Vou citar vários exemplos.
Independência: É o seu compromisso de pensar por si mesmo e de aceitar o fardo e a responsabilidade de sua própria vida racional (PNI, 128).
Integridade: É a convicção de que o homem é uma entidade indivisível e que nenhuma brecha pode ser permitida entre corpo e mente, entre ação e pensamento, entre sua vida e suas convicções (PNI, 129; RA, 945). Abandonar a integridade é tentar falsificar sua própria consciência, é pensar sim e não, é viver uma contradição.
Honestidade: “É o reconhecimento do fato de que o irreal é irreal e não pode ter valor, que nem o amor, nem a fama nem o dinheiro são um valor se obtidos por fraude (…) honestidade (…) é a virtude mais profundamente egoísta que o homem pode praticar: sua recusa em sacrificar a realidade de sua própria existência à consciência iludida dos outros” (PNI, 129; RA, 945).
Justiça: É o reconhecimento do fato de que não se pode falsificar o caráter dos homens. A é A e você não pode identificar uma pessoa como A e tratá-la como não-A. “Todo homem deve ser julgado pelo que é e tratado como tal (…). Assim como não se paga um preço mais alto por um pedaço de sucata enferrujado do que por um pedaço de metal brilhante, também não se valoriza um monstro acima de um herói (…). Reter seu desprezo pelos vícios dos homens é um ato de falsificação moral e reter sua admiração por suas virtudes é um ato de desvio moral” (PNI, 129; RA, 946).
A virtude da justiça tem vastas implicações para as relações inter-humanas. Ela afirma que “o princípio do comércio é o único princípio ético racional para todas as relações humanas, pessoais e sociais, privadas e públicas, espirituais e materiais” (VS, 31). Justiça significa que “nunca se deve buscar ou premiar os imerecidos, nem na matéria nem no espírito” (VS, 26). Assim, os heróis de “A revolta de Atlas” fazem este juramento: “Juro pela minha vida e pelo meu amor que nunca viverei pelo bem de outro homem, nem peço a outro homem que viva pelo meu” (RA, 680, 993).
Todo sacrifício próprio é mau, porque “o sacrifício é a entrega de um valor maior pelo bem de um valor menor ou sem valor. Assim, o altruísmo mede a virtude de um homem pelo grau em que ele se rende, renuncia ou trai seus valores (uma vez que a ajuda a um estranho ou inimigo é considerada mais virtuosa, menos ‘egoísta’ do que a ajuda para quem se ama). O princípio racional da conduta é exatamente o oposto: aja sempre de acordo com a hierarquia de seus valores e nunca sacrifique um valor maior por um menor” (VE, 44). Abandonar essa ambição é abandonar o único padrão pelo qual escolhas racionais podem ser feitas. O homem que perde sua ambição de alcançar seus próprios valores perde sua ambição de viver (PNI, 130; RA, 946). Ele, portanto, abandona o fundamento e o padrão de qualquer ética racional e deve optar por alguma teoria da ética mística (Deus), social (sociedade) ou subjetivista (desejo) (VE, 34).
Dessa maneira, Ayn Rand fornece os fundamentos filosóficos de sua ética. Para resumir novamente em suas palavras: “Minha filosofia em essência é o conceito de homem como um ser heroico, com sua própria felicidade como o objetivo moral de sua vida, com os resultados produtivos como sua atividade mais nobre e razão como seu único absoluto” (RA, 1085).
A ética de Ayn Rand: apreciação
Concordo com Ayn Rand que, para que o homem sobreviva e viva como homem, ele deve viver por sua razão. Ou seja, ele deve pensar claramente sobre a realidade e fazer julgamentos com base no que considera real. “Por que você não julga por si mesmo o que é certo?”, Jesus perguntou (Lc 12.57; ver 1Cor 10.15; 11.13). É verdade que tudo o que nega, se opõe ou destrói a racionalidade ou a lógica é mau. A fé cega não é uma virtude. John Galt, o herói de “A revolta de Atlas”, está certo quando diz:
“Não diga que você tem medo de confiar em sua mente porque sabe muito pouco. Você está mais seguro em se render aos místicos e descartar o pouco que sabe? Viva e aja dentro do limite do seu conhecimento e continue expandindo-o até o limite da sua vida. Redima sua mente das lojas de penhores da autoridade. Aceite o fato de que você não é onisciente, mas bancar o zumbi não lhe dará onisciência — sua mente é falível, mas rejeitar a mente não o tornará infalível. Um erro cometido por si mesmo é mais seguro do que dez verdades aceitas pela fé, pois o primeiro dá a você os meios de corrigi-lo, mas o segundo destrói sua capacidade de distinguir a verdade do erro” (PNI, 178; RA, 982).
Nenhum conceito que o homem constrói é válido, a menos que ele o integre sem contradição na soma total de seu conhecimento. Chegar a uma contradição é confessar um erro no pensamento de alguém; manter uma contradição é abdicar da mente e despejar-se do reino da realidade (PNI, 126; RA, 943).
A necessidade e a retidão da racionalidade são, até onde eu posso ver, inalcançáveis. Por conseguinte, estou disposto a seguir sua defesa das virtudes da independência (fazer seus próprios julgamentos), integridade (praticar o que você prega), honestidade (manter uma liberdade da contradição entre suas palavras e suas convicções) e produtividade (a luta ambiciosa para atingir seus valores). Concordo sem reservas que se deve “sempre agir de acordo com a hierarquia dos valores de uma pessoa e nunca sacrificar um valor maior por um menor” (VE, 44). E, contanto que Rand defina o autossacrifício como “a entrega de um valor maior pelo bem de um menor” (VE, 44), eu concordarei que todo sacrifício próprio é mau. Ela estava certa em dizer que o homem racional deveria se dedicar ao “objetivo de remodelar a Terra à imagem de seus valores” (VE, 26).
Como seus valores são determinados pela realidade de quem você é como homem racional, a luta para alcançar seus valores é a luta para viver. Mas a ambição e o esforço de experimentar a vida como homem é meramente a forma existencial da ambição (na forma psicológica) de ser feliz (VE, 29). Rand deixa bem claro que, por felicidade, ela não entende nenhum tipo de prazer. O interesse próprio deve ser qualificado como “racional” (VE, 60): somente o que é adequado a um ser racional é bom e o fundamento da verdadeira felicidade (VE, 23). É por isso que ela se opõe ao hedonismo tradicional, que declara que “o valor adequado é o que lhe der prazer” (VE, 30).
Para Ayn Rand, a felicidade “é um estado de alegria não contraditório — uma alegria sem penalidade ou culpa, uma alegria que não se choca com nenhum dos seus valores e não funciona para a sua própria destruição” (VE, 29). Com base nessa definição, estou disposto a dizer sim à seguinte frase: “A conquista de sua própria felicidade é o maior objetivo moral do homem” (VE, 27). O significado dessa sentença não é que um sentimento seja exaltado acima da natureza da realidade ao guiar nossas escolhas. A frase repousa na convicção de que a realidade é tal que a verdadeira felicidade — “alegria não contraditória” — é o resultado inevitável de uma vida dedicada ao princípio de que A é A e que não há verdadeira alegria em se falsificar a realidade de qualquer maneira. Para o homem racional, o objetivo de ser feliz é o objetivo de realizar seus valores, e o objetivo de realizar seus valores é o objetivo de viver como homem, e o objetivo de viver como homem é um esforço para levar a realidade a sério, para responder adequadamente ao axioma A é A, homem é homem (PNI, 125; RA, 942). Não posso culpar a validade básica dessa abordagem da ética. Na medida do possível, essa também é a minha abordagem.
A ética de Ayn Rand: crítica
Pode ter sido notado que na lista das virtudes de Rand acima a justiça e o orgulho foram omitidos, o que eu aceitei. Isso não é porque eu discordo de tudo o que ela disse sobre essas questões, mas porque o cristão não pode segui-la consistentemente nesses pontos. Rand argumentou que “nunca se deve buscar ou premiar os imerecidos, nem na matéria nem no espírito” (VE, 26). Os homens devem lidar uns com os outros como comerciantes, não como saqueadores e parasitas. O cristão, por outro lado, é instruído: “abençoe os que te amaldiçoam” (Lc 6.28). Em suma, para Ayn Rand não há lugar para a misericórdia, ao passo que, no cristianismo, a misericórdia está em seu centro.
Por que houve esse conflito aqui? Eu acho que foi devido ao profundo imanentismo de Rand: a completa rejeição de uma dimensão divina ou sobrenatural à realidade. Se ela estava certa em seu ateísmo e naturalismo, então acho que seu sistema era consistente a ponto de exigir apenas justiça. Dado o escopo da realidade que Ayn Rand levou em consideração, o axioma A é A exige que os homens sempre negociem valor por valor.
Mas, se Ayn Rand estiver errada em relação a Deus, se ele existe e, como disse São Paulo, “criou o mundo e tudo nele (…) Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas” (At 17.24-25), se esse Deus existe (e Ayn Rand não ofereceu argumento contrário, somente a afirmação),[30] então uma dimensão radicalmente nova da realidade deve ser considerada e um novo valor correspondente deve guiar o comportamento do homem.
O novo fato da realidade é que Deus não pode ser tratado como homem. Não há nada que o homem possa oferecer a Deus que ainda não seja dele. Não se pode trocar valor por valor com alguém de quem recebe vida, respiração e tudo o mais. Como criaturas, devemos depender totalmente da misericórdia e contentar-nos com ela ou, por um ato de rebelião irracional, sair da realidade e tentar viver uma contradição.
Em vista da natureza da realidade, o maior valor do homem racional será a admiração e o gozo de seu Criador e Redentor. Este valor implica pelo menos três outros: primeiro, implica o valor de conhecer e estar com Deus. As virtudes que visam alcançar esse valor são o estudo e a meditação sobre as realidades divinas. O segundo valor implícito na minha admiração por Deus é o valor de convocar outras pessoas para que possam ver como ele é valioso, de modo que possam admirar e desfrutar de sua excelência. Isso está implícito, pois é uma necessidade psicológica querer aumentar minha alegria na beleza de Deus, admirando-a na admiração de outra pessoa por ela. Quando a beleza de Deus se reflete no deleite do meu próximo por essa beleza, minha alegria por essa beleza é aumentada. A virtude que visa atingir esse valor é chamada de evangelismo, testemunho ou apologética. O terceiro valor implícito na minha admiração e gozo de Deus é um estilo de comportamento nas relações inter-humanas que anuncia o valor que atribuo à misericórdia de Deus. É precisamente aqui que o desprezo pela misericórdia por parte de Ayn Rand deveria ser alterado. Se eu quiser ser fiel ao meu valor maior — a excelência de Deus, incluindo sua misericórdia —, meu comportamento terá que refletir isso em atos misericordiosos.
As críticas devastadoras de Ayn Rand ao altruísmo estão equivocadas no que se refere à misericórdia cristã[31]. Rand só concebia misericórdia em termos de sacrifício de nossos valores maiores por valores menores. O cristão não sacrifica valores ao abençoar aqueles que o amaldiçoam, nem seu comportamento é despropositado ou aleatório. Trata-se de uma conquista de sua própria dependência no Deus misericordioso e de seu amor por ele. Essa conquista é causada pela misericórdia de Deus e visa transformar o inimigo em alguém que valoriza Deus acima de todas as coisas. É, portanto, um ato de benefício próprio, aumentando, de fato, a alegria do crente.
O que Ayn Rand quer dizer com altruísmo é realmente horrível e pode ser visto melhor nas palavras de Lillian Rearden a seu marido em “A revolta de Atlas”. Eis a essência do mal do altruísmo, como Rand notou:
“Se você diz a uma mulher bonita que ela é linda, o que você deu a ela? Isso não passa de um fato e não lhe custa nada. Mas se você diz a uma mulher feia que ela é linda, você oferece a ela a grande homenagem de corromper o conceito de beleza. Amar uma mulher por suas virtudes não tem sentido. Ela mereceu isso, é um pagamento, não um presente. Mas amá-la por seus vícios é contaminar toda a virtude por causa dela — e isso é um verdadeiro tributo ao amor, porque você sacrifica sua consciência, sua razão, sua integridade e sua inestimável autoestima” (RA, 290).
Como para Ayn Rand não havia espaço para um Deus soberano e suficiente, com quem não se pode negociar, ela não podia contar com qualquer forma justa de misericórdia. Todos os antagonistas de seus livros eram corruptos por quase qualquer padrão e certamente pelos padrões cristãos. É de fato mau amar uma pessoa “pelos seus vícios”; é mau “dar respeito não merecido” (RA, 367). Mas a misericórdia no sentido cristão não é respeito, nem um pagamento pelos vícios de alguém. A misericórdia não se dá “por causa dos” vícios, mas “apesar dos” vícios. Ela não se destina a recompensar o mal, mas a revelar a recompensa de Deus que não pode ser negociada, mas apenas livremente admirada e desfrutada. Seu objetivo não é corromper ou comprometer a integridade, mas transformar os valores do inimigo nos valores de Cristo. Embora possa significar o sacrifício de alguns prazeres temporais, nunca é o sacrifício dos meus valores e, portanto, nunca é abnegado. Mas em relação ao sacrifício de valores menores por valores maiores — uma noite de descanso para a entrega oportuna de uma remessa de aço —, nesse sacrifício Ayn Rand acreditava profundamente.
Portanto, a filosofia de Ayn Rand não precisou ser inteiramente descartada. Antes, precisava levar em conta toda a realidade, incluindo o Deus infinito. Nesse caso, sua própria premissa — A é A — exigiria uma alteração no que ela concebia como racional e em como avaliava a misericórdia. Uma vez que ela tenha afirmado “fornecer aos homens uma visão integrada e consistente da vida”, essa alteração significaria uma reconstrução de toda a estrutura. Nenhum detalhe de sua filosofia teria sido deixado intocado. Mas já dissemos o suficiente. Essa reconstrução é o trabalho de toda uma vida.
Foi aí que o ensaio original terminou. Na época, ela estava viva. Ela faleceu em 6 de março de 1982. Enviei-lhe uma cópia do ensaio com uma carta pessoal, alegando que ela repensasse sua ética, levando em consideração toda a realidade, a realidade abrangente de Deus. Não sei se ela recebeu ou leu a carta ou o ensaio. Sua maneira de ver o mundo me parece ainda hoje em 2007 incrivelmente perspicaz e tragicamente provincial. Tanta coisa no mundo é vista com uma espécie de precisão truncada. Mas deixar Deus fora da conta distorce toda a realidade. Que o Senhor nos dê olhos para ver o mundo com tanta nitidez quanto Ayn Rand e com muito mais plenitude e verdade.
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[1] A única biografia autorizada de Ayn Rand é “A biographical essay” em Nathaniel Branden e Barbara Branden, Who is Ayn Rand?, (New York: Random House, 1962), pp. 149-239. É um retrato interessante, mas idealizado que se lê como um romance de Rand.
[2] “The Chairman’s Favorite Author”, Time, 104 (1974), p. 87. Estes números continuam a subir e “A revolta de Atlas” está na posição 222 hoje (10/9/2007) na Amazon.
[3] “Sobre a autora” no apêndice para a versão americana Atlas Shrugged, (New York: Signet, 1957), p. 1085.
[4] John Kobler, “The Curious Cult of Ayn Rand”, Saturday Evening Post, 11 November, 1961, p. 91.
[5] Time, 107 (1976), p. 32.
[6] Citado em Bruce Cook, “Ayn Rand: A Voice in the Wilderness”, Catholic World, 201 (May, 1965), p. 119.
[7] “The Gospel According to Ayn Rand” [Os evangelhos segundo Ayn Rand], National Review, 19 (Outubro3, 1967), p. 1060. Em 1991, houve uma grande pesquisa que colocou “A revolta de Atlas” somente atrás da Bíblia como o livro que as pessoas citam que mais lhes influenciaram. A maioria das pessoas consideram a afirmação exagerada, mas aponta para um impacto bastante significativo. (http://en.wikipedia.org/wiki/Ayn_rand#_note-17).
[8] Alvin Toffler, “Ayn Rand: A Candid Conversation with the ‘Fountainhead’ of ‘Objectivism’” [Ayn Rand: Um conversa sincera com a fonte do Objetivismo]. Playboy, 11 (March, 1964), p. 35.
[9] “Who is Ayn Rand?” [Quem é Ayn Rand], p. 5.
[10] “Born Eccentric” [Nascido excêntrico], Newsweek, 21 (March 27, 1961), p. 104.
[11] “The Curious Cult of Ayn Rand” [O culto curioso de Ayn Rand], p. 99.
[12] “The State of the Question” [O estado da questão], America, (July 29, 1961), p. 569.
[13] “Ayn Rand: A Voice in the Wilderness” [Ayn Rand: uma voz no deserto], p. 122.
[14] “Who is Ayn Rand?” [Quem é Ayn Rand?], pp. 1-148.
[15] “Is Objectivism a Religion?” [O objetivismo é uma religião?] (New York: Lyle Stuart, Inc., 1968), p. 11.
[16] “With Charity Toward None” [Caridade para ninguém], (New York: Philosophical Library, 1971), p. 14.
[17] “Ayn Rand: Far Right Prophetess” [Ayn Rand: profetiza da extrema direita], Christian Century, 78 (December 13, 1961), p. 1494.
[18] “The Ends and Means of Ayn Rand” [O fins e os meios de Ayn Rand], The New Republic, 144 (October 24, 1961), p. 29. (Por uma crítica equilibrada de seu entendimento de história, veja M. Stanton Evans, “The Gospel According to Ayn Rand.” [O evangelho segundo Ayn Rand]).
[19] “Ayn Rand: A Voice in the Wilderness” [Ayn Rand: uma voz no deserto], p. 123.
[20] “The Gospel According to Ayn Rand” [O evangelho segundo Ayn Rand], p. 1059.
[21] Gore Vidal, “Comment,” Esquire, 56 (July, 1961), p. 27. Este ataque foi efetivamente respondido em um número posterior: Leonard Peikopf, “Atlas Shrieked” [Atlas aterrorizado], Esquire, 56 (October, 1961), p. 20.
[22] Originalmente contado por Robert L. White em New University Thought (Autumn, 1962). Estas e outras narrativas foram recontadas em “Ayn Rand: A Voice in the Wilderness” [Aynd Rand: uma voz no deserto].
[23] Dora J. Hamblin, “The Cult of Ayn Rand” [O culto de Ayn Rand] Life, 62 (April 7, 1967), p. 95.
[24] “The Chairman’s Favorite Author” [A autora favorita do presidente], p. 87.
[25] O discurso foi impresso separadamente em “For the New Intellectual” [Para o novo intelectual] (New York: Signet, 1961), pp. 117-192.
[26] “With Charity Toward None” [Caridade para com ninguém], p. 15.
[27] “Ayn Rand: A Candid Conversation”, p. 35.
[28] No restante do ensaio, irei usar as seguintes abreviações das edições Signet de seus livros: “A revolta de Atlas” (RA), “A nascente” (N), “Para o novo intelectual” (PNI), “A virtude do egoísmo” (VE).
[29] “The Romantic Manifesto: A Philosophy of Literature” [O manifesto romântico: uma filosofia da literatura] (New York: World Pub. Co., 1969), p. 160.
[30] Isto é, em todos os trabalhos dela que eu li, o ateísmo é presumido. Se ela argumenta contrariamente, não estou ciente.
[31] Esse problema de se abater um altruísmo falso é abordado por William O’Neill em “Caridade para com ninguém”, pp. 201ss, mas não da perspectiva cristã.
Traduzido por Luiz Adriano Borges e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: “The Ethics of Ayn Rand”. Desiring God.
Este livro é um manual moderno de espiritualidade. O autor argumenta que servir a Deus por obrigação não satisfaz o coração de Deus, e que buscar a alegria em Deus é a maior motivação do cristão. Porque quanto mais satisfeitos estivermos em Deus, mais Deus será glorificado em nós. É um livro revolucionário, uma verdadeira mudança de paradigmas. Trata de temas como prazer cristão, casamento, missões, amor, conversão, soberania de Deus e outros do nosso cotidiano. Publicado por Shedd Publicações. |
1 Comments
Faltou analisar uma coisa: a ética de Ayn Rand requer que o mais fraco seja esmagado no momento em que ele se tornar uma inconveniência para o Produtor. O fim de Eddie Willers em Revolta de Atlas demonstra isso – ele nunca tinha o potencial para ser um Produtor, nunca foi convidado para a utopia de John Galt. No fim, Ayn Rand estava justificando a exploração do homem pelo Homem, iluminado e racional. Essa ética de trabalho randiana só é possível porque o Produtor se aproveita das pessoas menos racionais, uma mensagem que está escondida na sua – admitidamente atrativa – visão de que o trabalho é bom. Mas, no fim, empodera as pessoas de um modo errado.
E também, como curiosidade, Rand tinha planejado ter um personagem chamado padre Amadeus que aprende as verdades objetivistas, mas ela o riscou porque acreditava que a religião, em especial a religião cristã, não merecia nem isso. Ela foi uma influência fundamental para Anton LaVey criar a igreja satânica.
Em contraste, o que o Evangelho, cuja mensagem sempre foi anátema para Rand, diz: “[Jesus] não esmagará a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega até que se faça vencer a justiça” (Mateus 12:20).