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A dívida é parte de todos os aspectos da vida econômica. Os governos em todos os seus níveis tomam dinheiro emprestado, emitindo, em geral, vários tipos de títulos para financiar projetos de investimentos e despesas correntes. As empresas financiam a expansão e as operações correntes con­traindo empréstimos de bancos ou de investidores. (Discutiremos a dívida do governo e das empresas no capítulo 28). Pessoas e famílias usam a dívida para pagar por suas casas, por seus carros, pela escola e até mesmo para despesas diárias. Contrair empréstimo em nossa sociedade é tido como algo inevitável e benéfico. No momento em que escrevo este livro, o americano médio tem em torno de 40 mil dólares em dívidas de consumo, o que não inclui sua dívi­da com hipoteca.[1] Apenas uma em quatro pessoas não tem dívidas.[2]

Por que as pessoas se endividam?

Há quem se endivide depois de passar por uma calamidade financeira, como, por exemplo, uma conta médica elevada e imprevista ou a perda do emprego. Outros se endividam porque não souberam lidar com a renda ou com as despesas que tinham (veja as partes dois e três). Endividar-se é atraente porque você pode ter o que deseja hoje sem ter de adiar a gratifi­cação desejada, e também lhe permite se preocupar amanhã com a manei­ra como pagará a dívida. Credores e varejistas, ávidos para vender, muitas vezes facilitam a contratação de empréstimos, inclusive para aqueles cuja capacidade de pagamento é duvidosa. Muita gente se endivida drastica­mente tal como ganha peso — uma pequena decisão ruim num momento ao longo de muitos anos durante os quais vive um período de negação.

A dívida é sempre presunçosa

Nos antigos desenhos do Popeye, o personagem Dudu ficou famoso por sua frase: “Ficarei feliz em lhe pagar na terça por um hambúrguer hoje”. Quando eu era criança, vi vários desenhos do Popeye, mas nunca vi o Dudu pagar o que devia. As pessoas se endividam movidas pela supo­sição otimista de que pagarão o que devem quando sua renda aumentar. Governos e empresas fazem empréstimos com a expectativa de que a economia continuará a se expandir. A Escritura, porém, adverte: “O cora­ção do homem planeja seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”(Pv 16.9). Não podemos esperar que haja estabilidade e prosperidade ininterruptas num mundo caído. Pessoas perdem o emprego. Empresas perdem participação de mercado. Economias nacionais entram em re­cessão e depressão. Não faltam fomes, secas e pandemias. Os mais endi­vidados sofrem mais quando chegam os tempos difíceis. Em janeiro de 2020, a economia estava prosperando com pleno emprego e progresso. Os mercados de ações estavam em alta histórica. Quando veio a pandemia e a economia fechou, muitas empresas, desde pequenas firmas familiares até empresas de grande porte, faliram ou encerraram de vez suas operações. Muitos desses negócios faliram porque estavam, de acordo com a termi­nologia da imprensa financeira, com a “corda no pescoço” devido ao seu endividamento. Elas haviam tomado dinheiro emprestado para expansões e aquisições na suposição de que os bons tempos persistiriam. Estavam totalmente despreparadas para uma retração econômica drástica. Warren Buffet, guru das finanças, observou: “Quando a maré reflui, dá para se ver quem estava nu”.[3]

A dívida tem consequências

A Bíblia alerta contra o endividamento: “O rico domina sobre os pobres, e o que toma emprestado é servo do que empresta” (Pv 22.7).

1. A dívida escraviza

É muito difícil se livrar de uma dívida. Nos séculos passados, quem não con­seguisse pagar sua dívida se tornava escravo do seu credor ou era levado para a cadeia dos devedores até que ele ou seus amigos e parentes pagassem o que devia. A dívida ainda transforma as pessoas em escravos. Ela o força a gastar boa parte do que você ganha com esforço em despesas com juros que nada produzem, deixando muito pouca coisa para as necessidades e os prazeres da vida. Sua dívida poderá se transformar em cadeias que o impedem de realizar as responsabilidades que Deus lhe deu para com sua família (1Tm 5.8) e para com a obra do Senhor. Diz Paulo: “Fostes comprados por preço; mas não vos façais escravos de homens” (1Co 7.23).

2. O alto preço da dívida

A dívida rebaixa seu padrão de vida. Além de pagar o custo do que você comprou, você paga juros. A dívida torna tudo o que você compra mais caro. As pessoas incorrem com frequência no endividamento com o propósito de elevar seu estilo de vida. Na realidade, porém, a dívida invariavelmen­te rebaixa o estilo de vida porque, a longo prazo, você gasta dinheiro com juros, e esse dinheiro poderia ter sido alocado em outras categorias mais desejáveis do orçamento. Muitas famílias gastam um vasto percentual de sua renda mensal com o pagamento de juros sobre suas dívidas. Já vimos que endividar-se sai caro de outra maneira: a dívida impõe o fim do relaciona­mento porque uma parte decidiu que o endividamento excessivo da outra era motivo para romper a relação. Ela chegou à conclusão de que a dívida era um claro sinal de falta de controle próprio e era um fardo que não ia querer suportar, além de ser um risco para o casamento que não gostaria de correr.

3. A dívida pode levá-lo a perder o que você tem

A Escritura admoesta explicitamente sobre as consequências da dívida: “Se não tens com que pagar, por que deixarias levar a cama onde te deitas?” (Pv 22.27; veja também Ne 5.3-5). Quando alguém não pode pagar, tem de devolver o carro e a hipoteca da casa é executada.

4. Ter dívida é estressante

Quem tem dívida com frequência é tentado a se preocupar com a forma pela qual vai pagá-la (Mt 6.25s). A dívida excessiva rouba uma boa noite de sono de muita gente.

5. A pessoa terrivelmente endividada está sempre com as finanças a reboque

Essa realidade foi expressa pelo sucesso que fez a canção Sixteen Tons, de 1950, interpretada por Tennessee Ernie Ford, que descrevia de forma pun­gente os trabalhadores de uma mineradora de carvão que trabalhavam o dia todo para carregar dezesseis toneladas de carvão cada um, mas que acabavam em dívida com o armazém geral da empresa. Esses indivíduos presos ao ciclo da dívida se veem cada vez mais endividados todos os dias — não ao arma­zém da empresa, mas ao Mastercard, à Visa e à American Express. Um nú­mero cada vez maior de horas do seu trabalho diário é gasto unicamente para saldar suas dívidas. Quanto pior sua situação, mais desesperados eles ficam, e com isso têm de pagar juros mais altos para aqueles que ainda se dispõem a lhes emprestar dinheiro.[4]

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A dívida geralmente é sinal da ausência da bênção de Deus

Na antiga aliança, Israel ouvira que a dívida é uma maldição resultante da de­sobediência à aliança: “Ele emprestará a ti, mas tu não emprestarás a ele. Ele será a cabeça, e tu serás a cauda” (Dt 28.44). Isso confirma Provérbios 22.7, em que se lê que o tomador é escravo de quem empresta. Os que tomam emprestado estão numa posição de fragilidade e de dependência. O credor tem um certo grau de poder sobre ele. Sua liberdade financeira é limitada por sua dívida. Isso é válido para países, empresas e indivíduos.

Endividar-se é sempre pecado?

Em face de tudo o que a Escritura diz a respeito de contrair empréstimos, alguém poderá perguntar se é sempre errado fazê-lo. Embora as dívidas se­jam contraídas muitas vezes de forma pecaminosa, nem sempre é pecado emprestar ou tomar emprestado dinheiro de alguém. Alguns o fazem por razões pecaminosas, porque são ambiciosos, porque estão insatisfeitos (des­contentes com o que Deus tem suprido) e impacientes, porque creem que para ser felizes têm de possuir imediatamente o que não podem ter neste momento. Há pessoas que acabam endividadas porque pecaram ao não pla­nejar/elaborar um orçamento com sensatez (Pv 21.5). Outros tomam di­nheiro emprestado, embora não planejem pagar (Sl 37.21), o que é o mesmo que roubar. Outros, ainda, tomam emprestado na ignorância, achando que todo mundo faz o mesmo — meus pais o fizeram, meu governo o faz, meus amigos também, até minha igreja —, portanto deve ser normal.

Por isso, embora a Bíblia ensine que endividar-se é muitas vezes algo insensato, nem sempre é pecado se endividar. O exemplo mais comum disso é a aquisição de uma casa. Pouca gente tem dinheiro para pagar à vista. A diferença entre um aluguel e a parcela de uma hipoteca é mínima. (Veja o capítulo 27 para mais informações a esse respeito). Pode-se optar também pela contratação de empréstimo para outras compras de grande porte.

Que exemplos de princípios gerais sobre contratação de empréstimos podemos dar?

Se você precisa mesmo fazer um empréstimo, faça tudo o que estiver ao seu alcance para não ficar numa posição em que não terá condições de dar conta de suas obrigações:

  1. Dê a maior entrada que puder e tome o mínimo possível emprestado.

  2. Certifique-se de que as parcelas mensais estejam dentro do seu orçamento.

  3. Evite contrair empréstimo para itens depreciáveis.

  4. Se estiver tomando dinheiro para pagar pelo consumo de itens como gêneros alimentícios, então você está realmente muito endividado.

  5. A dívida torna tudo mais caro e rebaixa o seu estilo de vida. Quanto mais elevada a taxa de juros, maior o seu prejuízo.

  6. Pague suas parcelas em valor integral e no prazo certo (Pv 3.27,28).

  7. Faça tudo o que puder para atender às suas obrigações com a dívida contraída (Sl 37.21).

  8. Certifique-se de que tem reservas suficientes de curto prazo (veja a Parte 5) para compensar déficits periódicos do orçamento e, assim, não atrasar os pagamentos.

  9. Evite se colocar numa posição em que você deva mais por alguma coisa do que poderia receber se tivesse de vender o item rapidamente.

  10. Coloque como seu propósito ficar completamente livre de dívidas.


[1] Veja www.cnbc.com/2018/08/20/how-much-debt-americans-have-at-every-age.html#:~:text=The%20average%20American%20now%20has,27%20percent) .%E2%80%9D.

[2] Idem.

[3] Citado em Dave Ramsey, The total money makeover. 3. ed. (Nashville: Thomas Nelson, 2009), p. xxiii.

[4] Os empréstimos de curto prazo, que permitem ao indivíduo contratar um empréstimo mediante pagamento futuro no contracheque, muitas vezes têm juros extremamente eleva­dos. É conhecido o envolvimento do submundo na contratação de dívidas, em que agiotas se aproveitam dos desesperados cobrando deles juros exorbitantes.

Trecho extraído da obra “Dinheiro, dívida e finanças: perguntas e respostas fundamentais“, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2023, p. 171-176. Traduzido por A. G. Mendes. Publicado no site Cruciforme com permissão.

Jim Newheiser (MA, DMin, Westminster Seminary) é diretor do programa de Aconselhamento Cristão e professor de Aconselhamento e Teologia Pastoral no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte, além de diretor executivo do lnstitute for Biblical Counseling and Discipleship. Serviu por 25 anos como pastor de pregação na Grace Bible Church em Escondido, Califórnia. Jim é casado com Caroline e têm 3 filhos. É autor de vários livros, entre eles Marriage, divorce and remarriage.
Descubra o segredo para uma vida financeira saudável e equilibrada com Dinheiro, dívida e finanças. Em formato acessível de perguntas e respostas, este livro oferece uma abordagem prática para alcançar a sabedoria bíblica no uso do dinheiro. Com experiência em finanças, aconselhamento e educação teológica, Newheiser aborda questões importantes para elaborar orçamentos, ter controle das finanças, se libertar das dívidas e muito mais. Um recurso indispensável a todos cristãos, pastores e conselheiros que desejam auxiliar pessoas a glorificarem a Deus nessa área tão importante da vida.

Publicado por Vida Nova.

1 Comments

  1. Reginovaldo Soares Cristal disse:

    Como Pastor Batista, achei muito interessante este Livro, pois aborda muitas questões Financeiras, os quais precisamos preparar nossos membros, para saber lidar com as finanças. Vou adquirir um livro sim, pois aborda bem sobre finanças.

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