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Um pouco de grego faz toda a diferença | Peter J. Williams - CRUCIFORME

Um pouco de grego faz toda a diferença | Peter J. Williams

Será que Deus nos ama porque somos bonzinhos? | Casey Lute
04/nov/2024

Imagem de: Ruth Guthrie

Familiarizar-se com as línguas originais da Bíblia pode trazer-lhe grandes benefícios — e talvez seja mais fácil do que você imagina.

Em décadas recentes, o Reino Unido experimentou uma mudança radical no rótulo das embalagens de alimentos. O foco agora está em oferecer informações detalhadas sobre o que estamos consumindo. Atualmente, quase todas as embalagens de alimentos possuem as informações cientificas que lhe são inerentes, o que demanda, portanto, do consumidor um certo nível de conhecimento a respeito de assuntos como: calorias, teor de açúcar, sal e outros componentes.

A quantidade de carboidrato ou de cafeína são elementos que fazem parte das discussões, e, o afastamento desses assuntos não é mais uma opção, até porque, em particular, nenhum pai que preze por sua saúde evitaria ler as informações dos rótulos. Diante desse cenário, também pode-se acrescentar àquelas pessoas que, com suas compreensões limitadas sobre nutrição, buscam convencer os seus ouvintes a seguirem uma dieta maluca, isto é, sem fundamentação cientifica. Porém, geralmente essas pessoas fracassam porque a maioria da população, atualmente, já possui um certo nível de conhecimento da matéria, e também existem diversos especialistas de confiança para consultar. Com isso, no panorama geral, ter mais informações — mesmo que seja de cunho mais acadêmico — elevou a compreensão social sobre o assunto.

Com isso em mente, o que aconteceria se aplicássemos essa experiência, dos rótulos, ao nosso aprendizado dos idiomas originais da Bíblia? Em nossos dias já existem diversos aplicativos, sites e cursos que visam ensinar o grego koiné e o hebraico do Antigo Testamento. No entanto, pensando em um público mais amplo de cristãos, o estudo tende a ficar escondido, exceto daqueles que procuram, com muita determinação, por eles. O que aconteceria se o conhecimento do grego bíblico fosse algo difícil — como acontece, por exemplo, com os elementos da nutrição — de se evitar? Ou seja, se em vez de o alfabeto hebraico ser algo pelo qual devêssemos procurar em algum livro especial, ele estivesse impresso em algum lugar das nossas Bíblias? E se os autores cristãos, mais influentes, começassem a imprimir o texto grego nos milhões de livros cristãos que são vendidos atualmente? E se o hebraico e o grego estivessem disponíveis nas Bíblias dos bancos da igreja? E, por que não, nas Bíblias infantis?

O ponto central é iniciar com o desejo. Isto é, será que os cristãos das igrejas realmente querem se envolver com os detalhes da Bíblia? A escassez do ensino das línguas originais nas igrejas parece sugerir que não há demanda de irmãos e irmãs interessados em aprender. Porém, diante deste resultado é importante responder a seguinte pergunta: os cristãos não estão dispostos porque nunca lhes foi dado a oportunidade, ou, é porque eles sentem que esse tipo de aprendizado está num nível acima das suas capacidades? O fato é que, assim como as informações dos rótulos encontram-se acessíveis ao consumidor comum, talvez, se as línguas originais estivessem à disposição dos cristãos, ou, se eles tivessem mais oportunidades para aprendê-las, a igreja perceberia o quão enriquecedor é ter esse conhecimento e o quão útil ele seria para a sua fé.

Se os cristãos são apaixonados pela Palavra de Deus, então eles deveriam se preocupar com a qualidade da informação que recebem sobre ela. Eles deveriam também desejar por um encontro cada vez mais próximo com ela. Isso significa que, se pudessem, eles desejariam extrair do idioma original o seu significado.

Com isso, talvez seja a hora de pensarmos sobre o que não se fala no dia a dia. Isto é, de que as línguas originais compõem aquilo que a igreja cristã herdou e a familiaridade com elas deveriam ser algo normal dentro da igreja

Portanto, se isso não for o suficiente para motivá-lo a aprender, veja, a seguir, alguns benefícios que você deveria aproveitar, a fim de conhecer as línguas bíblicas em seus diversos níveis.

 

  1. Capacidade de perceber as conexões presentes no texto: Com muita frequência, uma palavra ou grupo de palavras que estão relacionadas no hebraico ou no grego são traduzidas de várias formas para o inglês (ou português). Essas variações nem sempre podem ser evitadas pelos tradutores, e, inclusive, elas podem dificultar o modo como um tema se desenvolve em uma determinada passagem ou livro. Portanto, ao aprender as línguas originais, você conseguirá perceber como essas palavras se conectam entre si e como o tema aparece entre elas.
  2. Capacidade na identificação das nuances: No processo da tradução, algumas nuances são passiveis de serem perdidas ao mesmo tempo em que novas são introduzidas no texto. Com isso, o conhecimento das línguas originais permite que você não caia no erro de extrair alguma ideia presente na tradução da língua vernacular, mas que não aparece no texto grego ou hebraico.
  3. Aumento da confiança: Ler a Bíblia no seu idioma original nos torna mais confiantes no que se refere a compreensão do texto. Essa confiança advém porque a camada da tradução, que se encontrava entre nós (leitores) e o texto, foi removida. Por consequência, o texto se torna mais acessível, permitindo que percebamos a simplicidade da sua escrita e nos asseguremos de que o seu significado não está distorcido.
  4. Capacidade de entender as traduções: Ler a Bíblia no seu idioma original pode nos ajudar no processo da interpretação. Toda tradução é resultado de escolhas de palavras e, uma vez que temos o conhecimento do grego e hebraico, conseguimos captar as suas variações e os seus limites. Atualmente, há boas traduções à nossa disposição, mas boa parte delas, foram traduzidas seguindo o método de interpretação mais literal, o que dificulta na compreensão.
  5. Capacidade de entender as perspectivas dos tradutores: Ler a Bíblia no seu idioma original permite-nos fazer parte de um grupo mais amplo de tradutores, como por exemplo: os rabinos, os reformadores, os pesquisadores e outros que também se dedicaram ao estudo dessas línguas. Isso nos dá a capacidade de entender o modo como cada tradutor pensava e enxergava o texto.
  6.  Ter uma leitura mais rápida em menos tempo: Nas traduções modernas da Bíblia, normalmente, são necessárias para cada duas palavras do hebraico, três em inglês; e para cada três palavras gregas, quatro em inglês (em português o processo é semelhante). Isso significa que, uma vez que adquirimos a fluência, automaticamente a nossa leitura fica mais rápida enquanto a quantidade de palavras diminui.
Leia também  Como decidimos qual tradução da Bíblia devemos ler? | Tony Watkins

 

Várias objeções podem ser feitas contra o aprendizado dos idiomas originais da Bíblia. Aqui estão algumas respostas a elas:

 

  • O alfabeto é muito complexo: Os alfabetos hebraico e grego têm, respectivamente, 22 e 24 letras. Com isso, é possível ler a Bíblia em cada idioma conhecendo cerca de 50 símbolos. O alfabeto raramente é um grande obstáculo para os iniciantes. Aliás, após a leitura de algumas páginas, o leitor perceberá que os símbolos se repetem.
  • Eu não sou muito bom com idiomas: A maioria das pessoas tem um bom domínio do seu idioma. A capacidade que os adultos têm de aprender novas palavras e nomes em sua própria língua é bem próximo daquilo que eles precisariam para aprender as palavras dos idiomas gregos e hebraicos.
  • Não tenho tempo para isso: Talvez você não tenha tempo para dominar uma língua bíblica, mas mesmo com uma rotina agitada, é importante ter uma distração. Portanto, dedicar alguns minutos diários para aprender os alfabetos grego e hebraico vai lhe proporcionar uma melhor compreensão das origens da Bíblia e facilitar o entendimento do que os comentaristas bíblicos estão falando.
  • Eu tenho dislexia: Diferente do inglês (ou português), nas línguas bíblicas a ortografia e a pronúncia geralmente são bem alinhadas. As palavras em hebraico, por exemplo, costumam ter apenas 2 á 5 letras. Ter dislexia no seu idioma não significa que você não terá sucesso ao aprender essas línguas.
  • Estou velho para aprender: Aprender uma língua bíblica não é apenas algo bom para quem está no início da carreira. Pelo contrário, isso pode enriquecer a experiência com a Bíblia de qualquer pessoa seja ele jovem ou mais experiente. Alguns especialistas em geriatria — embora não todos — acreditam que aprender uma segunda língua pode ajudar a reduzir o risco de demência.
  • Um pouco desse conhecimento pode ser perigoso: Isso será uma verdade quando uma pessoa com pouco conhecimento estiver cercada por outras com um conhecimento ainda menor. A colocação de informações nutricionais nas embalagens dos alimentos proporcionou as pessoas um conhecimento adicional, porém, esse novo conhecimento não se tornou um perigo. Há, hoje, milhões de pessoas com um conhecimento confiável sobre nutrição. Portanto, o conhecimento dos idiomas originais é confiável.

 

Peter J. Williams (PhD, University of Cambridge) é diretor geral e CEO da Tyndale House, Cambridge, um dos principais institutos de pesquisa bíblica do mundo. Foi professor sênior de Novo Testamento na University of Aberdeen, Escócia. É presidente do International Greek New Testament Project e membro do Comitê de Supervisão de Tradução da versão inglesa da Bíblia English Standard Version (ESV).
Texto original: A little Greek goes a long way Tyndale House Cambridge. Traduzido por Gedimar Junior e publicado no site Cruciforme com permissão.

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