O coração pastoral de Paulo: Uma análise de Cl 1.28-29 | Wanderson Logiudice

O nosso Deus é o Deus da justiça | Augustus Nicodemus
21/nov/2024
O nosso Deus é o Deus da justiça | Augustus Nicodemus
21/nov/2024

Valentin de Boulogne, Public domain, via Wikimedia Commons

Introdução

Os líderes da igreja são chamados para pastorearem as suas comunidades. O seu chamado não diz respeito à uma gestão administrativa, mas sim no cuidado de pessoas. Nas cartas paulinas, é visto que, Paulo tem um coração pastoral, pois ele procurava cuidar da igreja pregando e orientando-a sobre como viver em um mundo caótico. 

A igreja de Colossos tinha uma necessidade, que era experimentar coisas diferentes. Eles entendiam que Cristo não era suficiente, pois eles queriam vivenciar outras realidades de poder. No entanto, o que protege a igreja é uma pregação fiel as Escrituras. Como Paulo definia a sua pregação? Mesmo pregando o Evangelho com fidelidade, ele tinha dores no ministério? Esse artigo buscará responder essas questões.

 

Contexto 

A finalidade de Paulo escrever a carta a igreja de Colossos era corrigir ensinamentos equivocados a respeito de Jesus Cristo. Falsos mestres estavam ensinando heresias na igreja. Esses ensinamentos falsos estavam prejudicando o pensamento que eles tinham acerca de Cristo, como também, na maneira em que eles deveriam viver na igreja.  

Sendo assim, Paulo precisava corrigir o conceito que eles tinham acerca do senhorio de Jesus, a divindade e a obra que Jesus havia realizado na cruz. Uma má concepção do Evangelho faz com que a compreensão da vida espiritual seja ameaçada. O Pastor precisa estar alerta para a necessidade do seu rebanho. Paulo tinha em mente de que a igreja de Colossos era rodeada por regras e rituais judaicos.  

Em Colossenses 1.24, Paulo diz se alegrar no sofrimento deles, e por que ele disse isso? Ele está usando uma metáfora vívida. Paulo fala de preencher em seu corpo o que ainda resta das aflições de Cristo. Paulo está argumentando que, quanto mais ele sofria, mais estaria reduzindo a necessidade de outros cristãos sofrerem. No entanto, o sofrimento de Paulo não se compara com o sofrimento de Cristo, pois o próprio Cristo morreu pela igreja. No próximo tópico, analisaremos a definição da pregação de Paulo.

 

Definição da pregação

O versículo 29 começa com um plural μες, hemeis; e isso mostra o quanto Paulo foca na unidade, isto é, ele reconhece que o trabalho não é feito sozinho, mas com pessoas. Provavelmente, Paulo estava se referindo aos seus amigos de ministério, Epafras e Timóteo. 

Paulo está explicando o que é o seu ministério da palavra e qual é a forma que o seu ministério tomou, e esse ministério se resume em dois termos: advertindo e ensinando (Cl 1.18). Uma igreja saudável, é aquela que entende que o anúncio do Evangelho é fundamental. 

Por que Paulo usou esses dois termos para explicar o seu ministério da palavra?

 

     a. Advertindo (νουθετοῦντες, Nouthetountes; Colossenses 1.28);  

     b. Ensinando (διδάσκοντες, didaskontes; Colossenses 1.28). 

 

É visto que, a NVI, traduziu os termos “νουθετοντες; e διδάσκοντες”, no gerúndio, e por que esses termos estão dessa forma? Aqui, nós temos dois particípios presentes, e a função do particípio é falar algo no verbo principal da oração, ou seja, ele é uma espécie de adjetivo do verbo. E qual é o verbo principal da oração? É a palavra καταγγέλλομεν (katangellomen), que a tradução é proclamamos (verso 28). Os dois particípios estão no presente, e eles estão em uma ação simultânea ao verbo principal. Assim, enquanto Paulo proclama o Evangelho, ao mesmo tempo acontece a admoestação e ensino.   

Sendo assim, Paulo está definindo ou descrevendo a sua pregação através de dois termos: advertindo (νουθετοντες, Nouthetountes); e ensinando (διδάσκοντες, didaskontes). Abaixo, eu irei explicar os dois termos.

 

     a. Advertindo (νουθετοντες, Nouthetountes; Colossenses 1.28);

Para Paulo, anunciar o Evangelho significa admoestar o povo, isto é, advertir ou aconselhar alguém em termos de comportamento. Em primeiro lugar, Paulo prega o Evangelho porque ele entende que o Evangelho é capaz de mudar o comportamento do povo de Colossos. A admoestação de Paulo, está relacionada com o anúncio do Evangelho, ou seja, é o próprio Evangelho que muda o comportamento do povo.  

Paulo está descrevendo o meio básico do anúncio do Evangelho. A ênfase da pregação de Paulo está no apelo moral que conduz a uma reforma de conduta. O termo denota uma função pastoral de Paulo, por isso ele admoesta. A admoestação centrada no Evangelho é central para cuidar dos corações pecadores.

 

     b. Ensinando (διδάσκοντες, didaskontes; Colossenses 1.28). 

O segundo termo que Paulo usa para a sua definição do Evangelho é ensinando, διδάσκοντες, didaskontes; Colossenses 1.28). A maturidade cristã está relacionada com a educação. Uma pregação fiel educa a igreja. O ensino está relacionado com o Evangelho, lembrando que o termo ensinar é um particípio adverbial, Paulo está caracterizando a proclamação do Evangelho no ensino.  

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Paulo prega o Evangelho com o intuito de ensiná-los cada um na sabedoria, porque ele entende que o ensino está relacionado com a vida prática, por isso ele diz “ensinando a cada um com toda a sabedoria”.  

A palavra em grego é “τέλειος, teleios” (Cl 1.28); e a língua portuguesa não tem uma expressão que consiga explicar a profundidade da ideia do termo. A NVI traduziu por “perfeito”; já outras traduções utilizaram o termo “maduro”, porém, o termo é mais profundo do que maduro e perfeito.  

Conforme o teólogo Douglas J. Moo: 

“Conota é a qualidade de ser tão sincero na devoção ao Senhor que seria possível dizer que é inculpável em sua conduta” (MOO, 2020, p. 209).    

Eles amavam a filosofia e, provavelmente, eles conheciam muito Aristóteles, e para Aristóteles, existem três áreas da virtude intelectual. Sabedoria é uma das principais, a segunda é o entendimento e a terceira seria a prudência. Para Paulo o propósito da sabedoria está relacionado em apresentar toda pessoa madura em Cristo. 

 

As dores do ministério 

A expressão para esforço é κοπι(kopio; Cl 1.29). Já o termo para lutar é γωνιζόμενος (agonizomenos; Cl 1.29). Veja atentamente que a palavra lutar está no gerúndio, e isso significa um particípio, porém, o particípio está no presente, e isso significa uma ação simultânea ao verbo principal da oração.  

O esforço de Paulo está relacionado com o lutar, e a ideia do texto é uma ação simultânea. O esforço e luta acontecem juntas, pois a ideia do texto, ou pelo menos na mente de Paulo, está no competir de um atleta.  

Por exemplo, uma pessoa que faz dieta, ela se esforça para não comer um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, não é mesmo? A ideia de Paulo está no esforço de pregar o Evangelho, admoestar, ensinar e proteger a igreja de falsos mestres. O esforço de Paulo está em anunciar o Evangelho fiel.  

 

Considerações finais 

Os pastores são chamados a pastorear as suas igrejas. Esse chamado exige trabalho duro e empenho. O cuidado pastoral que Paulo teve com a igreja de Colossos está expressa em advertir e ensinar. Nas cartas que Paulo escreveu, é visto o cuidado não apenas doutrinário, mas pastoral. A igreja precisa de uma boa teologia, mas ela também precisa de um bom pastor. Ela precisa de um pastor que cuida não apenas do coração, mas do intelecto, e como o pastor faz isso? Ensinando o Evangelho.  

Como um membro de igreja se torna um cristão maduro? Ouvindo atentamente os ensinos por meio do seu pastor e se dedicando arduamente ao estudo da palavra individualmente, e isso pode ser feito em seu tempo de devocional. 


Referências bibliográficas

WITMER, Timothy Z. A Liderança pastoral: Alcançando o pastoreio eficaz em sua igreja. São Paulo: Vida Nova, 2024.  

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2016. Tradução e notas: Luciano Ferreira de Souza.  

WHITE, Peter. O pastor mestre. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.  

MOO, Douglas J. Colossenses e Filemom. São Paulo: Shedd Publicacões, 2020.    

 

Mestrando em estudos bíblicos e teológicos no Novo Testamento pelo Seminário Jonathan Edwards – STJE; Graduado em Letras pela Faculdade FAVENI; Mestre em Hermenêutica e Pregação Bíblica pelo Seminário Betel Brasileiro, São Bento – SP; Pós-Graduado no Novo Testamento pelo STJE/UNIFIL; Bacharel em Teologia pelo Betel Brasileiro, Santo André – SP.

 

Indicação de leitura

Os líderes da igreja são chamados a pastorear e não apenas a serem membros de um conselho administrativo. Esse chamado exige um envolvimento profundo e pessoal no ministério pastoral entre o povo. Em A liderança pastoral, Witmer esclarece os quatro principais ministérios dos pastores: conhecer, alimentar, liderar e proteger — tanto no nível macro (abrangendo toda a igreja) quanto no nível micro (pessoal).

No coração do livro, estão os sete elementos essenciais de um ministério pastoral eficiente. Os elementos são apresentados como um conjunto interdependente, que deve ser implementado integralmente para que o plano pastoral seja eficaz. Além de discutir a importância de cada um desses elementos, os capítulos finais exploram as implicações do compromisso de pastorear o rebanho e sugerem meios práticos para a implementação do ministério pastoral. Com este livro, o autor espera ajudar os líderes da igreja a aplicarem os princípios pastorais em seus contextos ministeriais, promovendo um pastoreio mais bíblico e significativo.

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