Três fontes para uma vida de sabedoria | Wayne Grudem

Os benefícios da pregação expositiva | Timothy Z. Witmer
19/maio/2025
Os benefícios da pregação expositiva | Timothy Z. Witmer
19/maio/2025

A Bíblia enfatiza de modo excepcional o valor da sabedoria. O livro de Provérbios exalta a sabedoria em inúmeras passagens:

Feliz é quem encontra sabedoria, e quem adquire entendimento; pois o lucro da sabedoria é melhor que o da prata; sua renda é melhor do que o ouro. É mais preciosa que as joias, e nada do que possas desejar se compara a ela. […] Seus caminhos são agradáveis, e suas veredas são todas de paz. (Pv 3.13-17)

Contudo, como é que alguém se torna sábio? Nesse texto, refletiremos sobre três fontes da sabedoria.

 

A sabedoria vem de Deus

Deus é infinitamente sábio. Sua sabedoria é tão superior a toda a sabedoria humana que Paulo o chama de o “único Deus sábio” (Rm 16.27; veja tb. Rm 11.33). Embora o ser humano consiga obter algum conhecimento, a Bíblia diz que em Cristo “estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3). Portanto, para adquirir a verdadeira sabedoria, temos de recorrer a Deus em nossa caminhada de relacionamento pessoal com ele. “O Senhor dá a sabedoria” (Pv 2.6; veja tb. 1Rs 3.12; 4.29; 10.24; Sl 51.6; Ec 2.26; Dn 2.21-23). Tiago diz a seus leitores que a sabedoria se adquire pedindo-a a Deus:

Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a concede livremente a todos sem criticar, e lhe será dada (Tg 1.5).

Outras passagens no Novo Testamento dizem que Cristo é nossa fonte de sabedoria (veja Lc 21.15; 1Co 1.24,30; Cl 2.3); outras falam do papel do Espírito Santo na comunicação da sabedoria aos crentes (veja 1Co 12.8; Ef 1.17). Se a sabedoria consiste na habilidade de aplicar corretamente a Bíblia a qualquer situação, segue-se que a sabedoria requer discernimento das situações, uma capacidade não apenas de conhecer os fatos de uma situação, mas também de sondar o âmago dela, de compreender o que está de fato se passando. Além disso, a sabedoria requer discernimento bíblico, a capacidade de analisar várias passagens e compreender perfeitamente como aplicá-las. É por isso que Paulo ora para que os cristãos filipenses cresçam em discernimento:

E peço isto em oração: Que o vosso amor aumente cada vez mais no pleno conhecimento e em todo entendimento [em grego, aesthēsis, “discernimento, insight, capacidade de compreender”], para que aproveis as coisas superiores, a fim de serdes sinceros e irrepreensíveis até o dia de Cristo (Fp 1.9-10).

Uma vez que Paulo ora a Deus para que ele dê discernimento a esses cristãos, convém que peçamos igualmente a ele o mesmo tipo de discernimento para nós mesmos e para os outros.

De modo semelhante, Paulo ora para que os cristãos em Colossos sejam cheios do conhecimento da vontade de Deus “em toda sabedoria e entendimento espiritual” (Cl 1.9). O autor do Eclesiastes nos diz: “Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e felicidade ao homem que lhe agrada” (Ec 2.26). Essas passagens são mais uma indicação de que a sabedoria vem de Deus, que é certo orar a Deus por sabedoria, e que ele se agrada especialmente de concedê-la aos que andam em um relacionamento pessoal com ele.

 

A sabedoria vem da Escritura

Se Deus é a fonte de toda sabedoria verdadeira, não é de surpreender que ele use com frequência as palavras da Bíblia como meio de nos comunicar a sabedoria. Quando Moisés, em Deuteronômio, estava dando ao povo de Israel os mandamentos de Deus por escrito, ele lhes disse que deveriam “guardá-los e obedecê-los”, porque, acrescentou, “a vossa sabedoria e o vosso entendimento serão vistos pelos povos” (Dt 4.6).

A Escritura não torna sábio apenas um pequeno grupo de acadêmicos eruditos, mas todo o povo de Deus, até mesmo os “simples” — os que talvez não sejam muito instruídos ou sábios aos olhos do mundo — podem se tornar sábios através das palavras de Deus:

A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples (Sl 19.7; veja tb. Sl 119.98-100, 130; Cl 3.16; 1Tm 3.15).

A sabedoria que vem de Deus por meio da Escritura é muito diferente da sabedoria do mundo. Paulo deixa muito claro esse contraste entre a sabedoria do mundo e a sabedoria de Deus:

Na verdade, falamos de sabedoria entre os que já são maduros; não, porém, a sabedoria desta era, nem dos seus governantes, que estão sendo reduzidos a nada. Mas falamos do mistério da sabedoria de Deus, que esteve oculto, o qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória (1Co 2.6-7; veja tb. Gn 3.6; 1Co 1.18-31; 2.1-16; 2Co 1.12).

 

A sabedoria vem com o temor de Deus

A Escritura deixa claro em vários lugares que, para obtermos sabedoria, temos de começar primeiramente com o temor de Deus:

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; todos os que cumprem seus ensinos revelam entendimento (Sl 111.10).

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento (Pv 9.10).

O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra (Pv 15.33; veja tb. Jó 28.28).

A ideia do temor do Senhor não é um tópico obscuro na Escritura, uma vez que as expressões “temor de Deus”, “temer a Deus”, “temor do Senhor” e “temam ao Senhor” ocorrem cerca de oitenta vezes no Antigo e no Novo Testamentos.

Às vezes, o cristão explica esse “temor do Senhor” como “reverência a Deus”, que é um conceito mais frágil do que temor. Não sei de nenhuma versão da Bíblia que traduza assim o Salmo 111.10: “A reverência ao Senhor é o princípio da sabedoria”. Isso certamente se deve ao fato de o sentido mais comum da palavra hebraica yir’āh no Antigo Testamento e do termo grego phobos no Novo Testamento (em versículos como Dt 2.25; Jn 1.10; At 9.31; 2Co 5.11) ser simplesmente “temor”.[1] Embora seja verdade que o sentido de “reverência” seja apropriado em alguns contextos,[2] não me parece que seja satisfatório nos casos de passagens sobre a sabedoria.

É importante deixar bem claro que o cristão não tem por que temer a condenação eterna de Deus (veja 1Jo 4.18), porque Cristo já nos salvou eternamente da condenação final: “Portanto, agora já não há condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Contudo, há outros sentidos de “temor do Senhor” que parecem apropriados à vida cristã. Por exemplo, é apropriado ao cristão temer desagradar a Deus ou entristecer o Espírito Santo (veja Ef 4.30). É também bastante apropriado temer a disciplina paternal de Deus caso ande em desobediência deliberada (veja Hb 12.5-11).[3] Contudo, temer o desagrado paternal de Deus e sua disciplina paterna são coisas muito diferentes do terror do juízo final, do qual fomos libertos pelo sacrifício de Cristo pelo nosso pecado.

Um temor sadio do desagrado divino, bem como o temor de sua disciplina paternal, são naturais e contribuem para a aquisição de sabedoria. Se incutirmos em nossa mente, no início de nossa busca de sabedoria, que desejamos imensamente evitar desobedecer ou desagradar a Deus, a avidez de conhecer sua direção para nossa vida e o desejo de andar em obediência a esses bons mandamentos serão muito mais intensos.

O oposto disso certamente não é verdadeiro. Se não tivermos temor algum de desagradar a Deus, e nenhum temor de sua disciplina, já não nos aplicaremos tanto em nossa busca de compreensão dos seus caminhos, e provavelmente não cresceremos muito em sabedoria. Isto porque “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111.10).

Os que não têm temor algum de Deus, enveredam-se por todo tipo de pecado terrível. Na conclusão dos nove versículos em que Paulo discorre sobre os pecados dos judeus e dos gentios separados de Deus, ele (após citar diversas passagens do Antigo Testamento) resume o problema na frase final ao dizer que eles não têm temor algum de Deus:

Não há justo, nem um sequer. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se desviaram; juntos se tornaram inúteis. Não há quem faça o bem, nem um sequer. A garganta deles é um sepulcro aberto; enganam com a língua; debaixo dos seus lábios há veneno de serpente; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés se apressam para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não possuem nenhum temor de Deus. (Rm 3.10b-18)

A ênfase bíblica no temor espiritualmente benéfico de Deus indica que é importante que as igrejas ensinem sobre a relevância desse temor. Esse ensinamento certamente resultaria em mais sabedoria em nossas igrejas, o que produziria mais santidade, pureza e bênçãos divinas em nossa vida diária.


Notas

[1] Ludwig Koehler; Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic lexicon of the Old Testament, ed. de estudo, 2 vols. (Leiden: Brill, 2001), p. 433–34; Francis Brown; S. R. Driver; Charles Briggs, A Hebrew and English lexicon of the Old Testament (Oxford: Claredon, 1968), p. 432; Bauer et al., A Greek-English lexicon, p. 1062.

[2] Veja Brown; Driver; Briggs, A Hebrew and English lexicon, p. 432, sentido 3, “temor de Deus, reverência, piedade”, e Bauer et al., A Greek-English lexicon, p. 1062, sentido 2b, “reverência, respeito”. Contudo, o sentido “reverência” não ocorre na edição mais recente de Koehler; Baumgartner, The Hebrew and Aramaic lexicon (2001), p. 433–4.

[3] Veja também Grudem, Christian ethics, p. 142.


Trecho extraído e adaptado da obra  “O que a bibilia diz sobre as decisões do dia a dia” de Wayne Grudem, publicada por Vida Nova no de 2025, p. 47-56.

 

Wayne Grudem é professor pesquisador de Teologia e Bíblia pelo Phoenix Seminary, no Arizona. Foi professor titular do departamento de Teologia Bíblica e Sistemática da Trinity Evangelical Divinity School durante vinte anos. É graduado em Harvard, mestre em Teologia pelo Westminster Theological Seminary e doutor pela Universidade de Cambridge. É autor de Teologia sistemática, Entenda a fé cristã, Política segundo a Bíblia, Economia e política na cosmovisão cristã, Comentário bíblico de 1Pedro e A pobreza das nações, publicados por Vida Nova.
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