
A ascensão de Cristo e a vocação da igreja | Abner Arrais
02/jun/2025
Eu julgo muito. Fico surpreso e desolado, muitas vezes, com a rapidez com que emito um julgamento, não raro sem fatos, sem conhecimento, sem compaixão. É claro que há momentos em que julgar é certo e bom. Deus nos manda ter discernimento, e o discernimento envolve necessariamente julgar o que é verdadeiro e o que é falso. No entanto, existem duas categorias amplas em que o julgamento é pecaminoso e proibido por Deus.
Ultrapassar o que está escrito
O primeiro tipo de julgamento pecaminoso é julgar de forma hipócrita ou julgar as pessoas com base em algo que está fora do nosso conhecimento. Nos versículos iniciais de 1Coríntios 4, Paulo exorta as pessoas daquela igreja a não julgarem umas às outras. No entanto, quando ele diz isso, está se referindo a um tipo específico de julgamento e apresenta várias condições. Primeiro, ele coloca um limite no tempo, dizendo que não devemos julgar “até que venha o Senhor”; segundo, quando julgarmos, não devemos “[ultrapassar] o que está escrito”. Isso mostra que existe um padrão objetivo pelo qual podemos julgar, mas que não podemos ir além desse padrão. O padrão, obviamente, é a Bíblia. Podemos julgar a doutrina e o comportamento pelos padrões objetivos de certo e errado que nos são dados nas Escrituras. O que não podemos fazer, porém, é julgar o coração e as motivações de uma pessoa.
Os limites do conhecimento humano e a capacidade de ver apenas o exterior, e não o que está dentro, significam que os seres humanos são incapazes de fazer julgamentos precisos sobre assuntos que dizem respeito ao coração e à consciência. Paulo usa a si mesmo como modelo, afirmando que não se preocupa com o julgamento dos outros a seu respeito. Na verdade, Paulo afirma que nem ele julga a si mesmo sobre esses assuntos, pois seu conhecimento limitado o impede de ver os recessos profundos de seu próprio coração. Ele examinou sua vida e não está ciente de nada que possa ser enquadrado como pecado contínuo, então ele deixa o resto com Deus, enquanto aguarda o dia do julgamento, quando tudo será esclarecido. Se somos incapazes de entender completamente o nosso próprio coração, quanto mais o coração dos outros! Como, então, podemos julgá-los?
Portanto, devemos garantir nossa obediência ao mandamento: “nada julgueis antes do tempo”. Ou seja, não devemos pronunciar julgamento sobre os assuntos que não podemos ver, saber ou avaliar adequadamente. Não devemos julgar os motivos nem a retidão de outros crentes.
Questões de consciência
Há outra área que não podemos julgar, e a encontramos explicada nos versículos iniciais de Romanos 14. Assim como não podemos julgar motivos e santidade pessoal, não podemos julgar questões de consciência sobre as quais a Bíblia não oferece nenhuma diretriz explícita. Cada um de nós, individualmente, é servo de Cristo, e devemos permanecer firmes no que acreditamos que nosso Mestre exige de nós, com base em nossos estudos da Bíblia.
Escrevendo sobre questões que não devemos julgar, Matthew Henry diz:
Trata-se de fazer um juízo intempestivo e fazer um juízo temerário. Paulo não está falando aqui de julgamento feito por pessoas de autoridade, no âmbito de seu cargo, nem de julgamentos particulares concernentes a fatos notórios; ele fala sobre julgar o estado futuro das pessoas, ou as fontes e princípios secretos de suas ações, ou sobre julgar fatos intrinsecamente duvidosos. Julgar, nesses casos, e dar uma sentença decisiva, é assumir o assento de Deus e desafiar sua prerrogativa. Veja, quão ousado pecador é o censurador atrevido e severo! Quão inoportunas e arrogantes são as suas condenações! Mas há um que julgará o reprovador e aqueles que ele reprova, sem preconceito, paixão ou parcialidade. E chegará um tempo em que os homens não poderão deixar de julgar corretamente a respeito de si mesmos e dos outros, pois seguirão o julgamento dele. Essa perspectiva deve fazer com que eles sejam agora cautelosos ao julgarem os outros e cuidadosos ao julgarem a si mesmos.
Assim a Bíblia deixa bem claro: não devemos julgar assuntos que estão ocultos na escuridão, pois fazê-lo seria julgar alguém com base em coisas que não podemos saber. Da mesma forma, não devemos julgar os motivos, a piedade pessoal ou a consciência em assuntos nos quais a Escritura é silenciosa. Se fizermos essas coisas, seremos culpados de legalismo, de criar padrões morais que ultrapassam aqueles que nos são dados na Bíblia.
Texto original: What God Forbids You To Judge. Traduzido e publicado no site Cruciforme com permissão.
![]() | Tim Challies é pastor da igreja Grace Fellowship, em Toronto, no Canadá, editor do site de resenhas Discerning Reader e cofundador da Cruciform Press. Casado com Aileen e pai de três filhos, ele também é blogueiro, web designer e autor de várias obras. |
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![]() | O discernimento espiritual serve para muito mais do que tomar grandes decisões de acordo com a vontade de Deus. É uma atividade essencial do dia a dia, pois permite que cristãos comprometidos separem a verdade de Deus do erro e distingam o certo do errado em todas as situações. É também um tipo de habilidade, algo que qualquer pessoa pode desenvolver e aprimorar, especialmente com a orientação deste livro. Publicado por Vida Nova. |
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