
Duas maneiras de desonrar a Deus com seu dinheiro | Tim Challies
28/jul/2025
Foto de Tonia Kraakman na Unsplash
“Eu as alimentarei em bons pastos, e sua pastagem se encontrará nas alturas dos montes de Israel. Ali elas se deitarão em uma boa pastagem e se alimentarão em pastos fartos nos montes de Israel. Eu alimentarei meu rebanho, e eu as conduzirei ao descanso’, diz o Senhor Deus” (Ez 34.14-15).
“Nada me faltará” (Sl 23.1b) é a exclamação da ovelha satisfeita com seu divino pastor. Essa expressão se refere, sem dúvida, à abrangência do cuidado recebido por quem pertence ao rebanho do Senhor. Mais adiante, Davi enumera os vários elementos necessários para alimentar as ovelhas. “Ele me faz repousar em pastos verdejantes; guia-me a águas tranquilas” (Sl 23.2, KJV). Um autor experiente no trato de ovelhas escreveu: “Pastos verdes são essenciais para o sucesso com as ovelhas”.[1]
Provisão é a segunda necessidade humana fundamental atendida por nosso pastor. Grande parte de nossa vida gira em torno de garantir que temos “o suficiente”. Teremos o suficiente para comprar uma casa, mandar os filhos para a faculdade ou para nos aposentar? Desde o momento em que acordamos pela manhã, buscamos nos nutrir; depois, ao meio-dia; e novamente à noite!
O pastor alimenta as ovelhas com o quê? Jesus nos lembrou: “O homem não vive só de pão, mas de toda palavra que vem da boca de Deus” (Mt 4.4, NIV). “Como subpastores de Jesus, eles guiam as ovelhas aos pastos verdejantes da Palavra e as nutrem com alimento espiritual”.[2]A Palavra de Deus é o que satisfaz a alma do povo de Deus; essa é a chave para o verdadeiro contentamento. Jesus citou essas palavras no contexto da tentação no deserto. Após quarenta dias de jejum, Satanás sabia exatamente em qual ponto atacar o Salvador. Do mesmo modo que o Senhor havia suprido as necessidades de seu rebanho enquanto vagava pelo deserto, Jesus sabia que seu sustento viria de seu Pai, que atende às necessidades mais básicas do homem.
Satisfazer a necessidade da verdade de Deus é a chave para a saúde e o crescimento de seu povo. O “rebanho de Cristo só pode ser alimentado pela doutrina pura, nosso único alimento espiritual”[3] — essa deve ser a preocupação fundamental do pastor. Voltando à restauração de Pedro ( Jo 21), em duas das três respostas às afirmações de lealdade de seu discípulo, Jesus usa a palavra simples para alimentar (boskein). Trench comenta sobre o uso de boskein:
A alimentação do rebanho, a busca de alimento espiritual para ele, é a primeira e a última disciplina e regra (ainda que quaisquer outras possam ser acrescidas a estas); nada mais ocupará seu lugar, nem se pode permitir colocar essa função fora do lugar principal que, por direito, deve ocupar.[4]
Lembre-se de que o Senhor, nos dias de Ezequiel, acusou os anciãos de Israel do descumprimento de sua responsabilidade de alimentar o rebanho:
Filho do homem, profetize contra os pastores de Israel; profetize e diga a eles: “Isto é o que diz o Soberano Senhor: Ai dos pastores de Israel que cuidam apenas de si mesmos! Não deveriam os pastores cuidar do rebanho? Vocês comem a coalhada, vestem-se com a lã e matam os melhores animais, mas não cuidam do rebanho” (Ez 34.2-3, NIV).
A responsabilidade fundamental de todo e qualquer pastor é garantir que as ovelhas sejam bem nutridas.
O que um pastor pode fazer para garantir que seu rebanho seja bem alimentado? Ao aplicarmos o conceito da microalimentação das ovelhas, você verá a amplitude da responsabilidade do pastor.
A macroalimentação consiste na responsabilidade dos líderes de supervisionar a ministração pública da Palavra de Deus. Isso não inclui apenas a pregação da Palavra no púlpito, mas também o ministério da Palavra nas salas de ensino bíblico, bem como no ministério de pequenos grupos. Os líderes da igreja são responsáveis por se certificar de que as riquezas insondáveis das Escrituras inspiradas e inerrantes estão sendo apresentadas na ministração pública da Palavra. A Palavra de Deus é o alimento que vai nutrir e animar as ovelhas. Os líderes devem garantir que a ministração pública da “Palavra” na igreja forneça uma dieta espiritual saudável e bem balanceada para o rebanho. O pastor sábio dependerá do princípio sola Scriptura para obter o alimento dado ao rebanho. As ovelhas são adequadamente nutridas apenas por meio das Escrituras. Só por meio da Palavra de Deus o rebanho poderá resistir aos ataques do inimigo de sua alma. Como muitos pastores se afastaram do alimento básico da Palavra de Deus, os rebanhos ficaram desnutridos, emagrecendo e enfraquecendo na fé.
O pastor também deve se preocupar em representar o princípio da Scriptura tota (todo o conselho de Deus) no ministério de pregação. A melhor maneira de fornecer essa dieta balanceada decorre da pregação expositiva e sistemática das Escrituras. A pregação versículo por versículo de livros inteiros da Bíblia serve a muitos propósitos, incluindo os seguintes:
(1) Identifica com exatidão o cerne da mensagem cristã. “Não expomos uma passagem da literatura secular ou de um discurso político, nem mesmo um texto religioso — muito menos nossas opiniões. Não, nosso texto é invariavelmente retirado da Palavra de Deus”.[5] As pessoas podem ouvir sobre política, meio ambiente ou economia em outro lugar, de pessoas provavelmente mais qualificadas nessas categorias. As ovelhas necessitam do alimento provido por seu Bom Pastor na revelação inspirada de sua Palavra.
(2) Requer que o pastor se preocupe com a intenção do autor divino para cada texto. O Senhor nos concede as Escrituras com seu propósito em mente. O expositor fiel buscará esse propósito em vez de ceder aos próprios caprichos e impor sua agenda ao ministério da Palavra.
(3) Respeita a integridade das unidades textuais dadas por inspiração do Espírito Santo.
Destaco o fato de que ninguém jamais pensa em ensinar um livro didático de qualquer outra ciência de outro modo. O que se pensaria do mestre que professasse ensinar um sistema geométrico ou mecânico ao comentar, de forma brilhante, a seleção de uma máxima ou outra do autor?[6]
Todo texto se encontra em um contexto desenhado pelo divino autor. O pregador eficiente leva em consideração a unidade textual mais ampla, a totalidade do contexto do livro e seu lugar na revelação bíblica mais ampla.
(4) Evita que o pastor pregue apenas sobre temas específicos de seu interesse. Somos todos humanos e temos interesses próprios, e até afinidades, quando se trata de textos bíblicos e verdades doutrinárias. Você pode ter ouvido falar do pregador que, no final de cada sermão, independentemente do texto, acrescentava: “E agora algumas palavras sobre o batismo”. Mover-se de maneira sistemática pelas Escrituras ajudará a fornecer a dieta balanceada ao rebanho e nos ajudará a evitar nossas “implicâncias”!
(5) Exige que o pastor pregue os textos “difíceis” ou obscuros e as verdades “desafiadoras” da Bíblia. Embora existam verdades que gostamos de pregar, também existem as mais controversas, que nós (ou nosso povo) gostaríamos de evitar. Por exemplo, muitos desejam pregar sobre a ordem do Senhor para a família em Efésios 5, mas preferem ficar longe da pregação direta de Paulo sobre a predestinação e a soberania de Deus no capítulo 1 da mesma carta. A pregação expositiva fiel demanda que as duras verdades sejam transmitidas ao rebanho com sabedoria. A congregação apreciará o fato de você lhe dar o leite e a carne.
(6) A pregação expositiva estimulará o pastor e a congregação a se tornarem estudantes da Bíblia. À medida que o pregador passa pelos livros da Bíblia, a congregação aprenderá o que procurar no texto bíblico e como aplicá-lo à sua vida. Dabney escreve: “O principal objetivo do ensino pastoral é instruir as pessoas a lerem a Bíblia por si mesmas. […] Ele lhes deve mostrar, mediante o uso real, os métodos pelos quais desenvolver o significado legítimo.[7] Ferguson acrescenta: “O pastor, em caráter individual, tem probabilidade maior de crescer como estudante das Escrituras, como homem de Deus e como pregador principalmente pelo método exegético da pregação”.[8] Quem se empenha na obra da exposição semanal das Escrituras conhece a bênção pessoal obtida pela meditação na Palavra de Deus como preparação para alimentar o rebanho.
(7) A pregação expositiva nos dá ousadia na pregação, pois não expomos nossos pontos de vista falíveis, mas a Palavra de Deus. Somente com base nesse entendimento é possível declarar a verdade com confiança, identificar o pecado e apelar ao pecador. A promessa de Deus está ligada à sua Palavra e não à nossa sabedoria.
Pois assim como os céus são mais altos que a terra, também são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. Pois como a chuva e a neve descem dos céus e não voltam para lá sem regar a terra, fazendo-a produzir e brotar, e dar semente ao semeador e pão ao que come; assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia sem realizar o que desejo e sem sucesso no assunto para o qual a enviei (Is 55.9-11).
Essa promessa é um grande encorajamento para os pastores enquanto se afadigam para alimentar o rebanho com o que lhes é necessário ouvir, mesmo que às vezes seja difícil.
(8) Dá confiança ao ouvinte: o que ele escuta não é mera opinião humana, e sim a Palavra de Deus. Isso dará ânimo aos membros da congregação. Eles desejarão regressar na semana seguinte para acompanhar os próximos sermões. Wallie A. Criswell deu início à pregação de Gênesis 1 na First Baptist Church of Dallas começando em uma manhã de domingo, continuando na noite desse domingo e, de forma sucessiva nas manhãs e noites de domingo, por anos, até finalizar toda a Bíblia.
(9) É de grande ajuda no planejamento do sermão. Quando se planeja uma série de pregações sobre um livro da Bíblia, não é preciso se preocupar com o que pregar no domingo seguinte. Pouquíssimos de nós podem viver com tanta coragem quanto Spurgeon, que mandava as pessoas para casa no início da noite de sábado e se dirigia a seu escritório para se preparar para a manhã do domingo.
(10) Ela fornece o conteúdo para a permanência mais longa em determinado local. Se você levar a sério a pregação de todo o conselho de Deus, será necessário muito tempo para pregar a Bíblia toda!
Tendo enumerado esses benefícios da pregação expositiva como forma de macroalimentação do rebanho, o pastor prudente consultará os líderes para receber a resposta de cada um deles quanto à percepção da dieta geral de pregação para o rebanho. Qual é a percepção deles a respeito da necessidade das ovelhas? Essa pode ser uma área delicada, e os pregadores tendem a ser inflexíveis quando o tema consiste no púlpito! No entanto, se os líderes estão em contato com as necessidades do povo, os pastores devem estar ansiosos para obter a opinião dos deles, embora a resposta final sempre seja responsabilidade do pregador.
Com relação à macroalimentação, os líderes também devem se preocupar com o planejamento e a eficiência do ministério educacional da igreja. Muitas vezes pouca atenção é dedicada ao conteúdo das aulas da escola dominical ou sobre como essas aulas podem atuar em conjunto com os outros ministérios da igreja; cabe aos líderes sábios supervisionar esse importante ministério para garantir que as ovelhas recebam o alimento necessário. O mesmo se pode dizer acerca dos pequenos grupos da igreja. Os líderes desses grupos devem ser bem treinados e receptivos à orientação da liderança na esc
Notas
[1] 1 Phillip Keller, A shepherd looks at Psalm 23 (Grand Rapids: Zondervan, 1970), p. 45 [publicado em português por Betânia sob o título: Nada me faltará: o salmo 23 à luz das experiências de um pastor de ovelhas].
[2] Simon Kistemaker, Peter and John (Grand Rapids: Baker, 1987), p. 194.
[3] John Calvin [João Calvino], Commentaries, trans. John Owen (Grand Rapids: Baker, 1984), vol. 22, p. 144.
[4] Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament (London: Kegan, Paul, Trench, Trubner, and Company, 1894), p. 86.
[5] John Stott, Between two worlds: the art of preaching in the twentieth century (Grand Rapids, Eerdmans, 1982), p. 126.
[6] R. L. Dabney, R. L. Dabney on preaching (Carlisle: Banner of Truth, 1979), p. 79.
[7] Ibidem, p. 81.
[8] Sinclair Ferguson, “Exegesis”, in: The preacher and preaching, Samuel T. Logan Jr., org. (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed, 1986), p. 195.
![]() | Foi professor de Teologia Prática no Westminster Theological Seminary por duas décadas, onde também coordenou o departamento de Teologia Prática, foi diretor de Orientação Ministerial e dos programas de mestrado em Teologia. É ministro de pregação da Crossroads Community Church (PCA) em Upper Darby (PA), uma congregação multiétnica em crescimento à qual serve há mais de vinte anos. Tim fundou o The Shepherds’ Institute, uma organização que promove a causa do pastoreio entre os líderes da igreja. Escreveu e editou outros livros, entre eles The shepherd’s toolbox e The shepherd leader at home. |