O que significa chorar com os que choram? | Kevin DeYoung

A idolatria do bem-estar: quando a felicidade substitui a santidade | Franck Neuwirth
04/set/2025
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04/set/2025

Romanos 12:15 é uma ordem divina e um aspecto vital da maturidade cristã. Como povo santo de Deus (Rm 12:1), os cristãos devem alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram. Nos últimos anos, a segunda metade do versículo, em especial, tem sido enfatizada como um componente essencial no cuidado com as vítimas, na escuta das histórias dos oprimidos e na demonstração de compaixão pelos que sofrem.

Essas ênfases são corretas e apropriadas. Muitas vezes, a primeira coisa que devemos fazer com os que sofrem é simplesmente estar ao lado deles, reconhecer sua dor, expressar nossas condolências e assegurar-lhes nosso amor e orações. Muitos de nós podemos testemunhar, por experiência própria, que ao olharmos para trás em épocas de luto intenso, não nos lembramos exatamente das palavras que as pessoas disseram, mas nos lembramos das pessoas que estiveram presentes e se sentaram conosco em meio às lágrimas. Eu amo o que Romanos 12:15 ensina sobre compaixão cristã e cuidado pastoral. O versículo é um lembrete necessário para qualquer um de nós que possa ser tentado a tratar o sofrimento com indiferença ou a abordar os santos feridos como pessoas quebradas que precisam de uma solução rápida.

“Chorar com os que choram” é uma ordem bíblica importante. Mas não deve ser interpretada como uma fórmula universal que exige uma aplicação rígida em toda e qualquer situação em que as pessoas estejam tristes ou angustiadas. Certamente, a segunda metade de Romanos 12:15 não significa que a única resposta diante de pessoas enlutadas seja lamentar-se com elas. Buscar os fatos, perseguir a objetividade, ouvir todos os lados — nada disso é invalidado por Romanos 12:15. “Chorar com os que choram” não determina que os motivos do nosso choro nunca possam estar errados. Em resumo, o versículo deve significar algo como: “chorar com os que têm bons motivos bíblicos para chorar.”

Se isso soa como uma neutralização desnecessária de um versículo tão amado, considere três observações.

Primeira: quase todo mundo interpreta a primeira metade de Romanos 12:15 da forma descrita acima. Ou seja, ninguém pensa que Deus quer que nos alegremos com aqueles que se alegram pela ascensão do Talibã ao poder. Por mais genuína que seja essa alegria, os cristãos não devem se unir a quem celebra o aborto, exibe sua imoralidade sexual ou se delicia com o preconceito racial. Instintivamente, sabemos que a primeira metade de Romanos 12:15 significa algo como: “alegre-se com os que têm bons motivos bíblicos para se alegrar.”

Segunda: uma aplicação rígida de Romanos 12:15 é insustentável na vida real. O objetivo do versículo não é treinar nossas emoções para se igualarem a toda emoção que encontramos, mas sim nos tornar pessoas atenciosas e sensíveis — que não cantam um lamento em um casamento nem tocam um kazoo, um instrumento de sopro que adiciona um timbre de zumbido à voz do tocador, num funeral.

Lembro-me de, após a eleição presidencial de 2016, ouvir alguns cristãos decepcionados dizer a outros cristãos que era obrigatório chorar com eles diante do resultado das urnas. Nesse sentido, Romanos 12:15 ordenava que os outros compartilhassem de sua tristeza. Mas, claro, com essa mesma aplicação, os cristãos também estariam obrigados a se alegrar com os que comemoravam o resultado da eleição. O versículo funciona nos dois sentidos. Uma aplicação razoável de Romanos 12:15 não exige que sejamos tão tristes quanto a pessoa mais triste ao nosso redor, mas que sejamos sensíveis com os que pensam ou sentem de forma diferente em assuntos discutíveis ou que estejam passando por experiências diferentes das nossas.

Terceira: estritamente falando, Jesus nem sempre chorou com os que choravam. Ele certamente não se sentia obrigado, em toda circunstância, a igualar-se ao estado emocional das pessoas ao seu redor. Quando as multidões se alegravam no Domingo de Ramos, Jesus chorou (Lc 19:41); e quando as mulheres choravam por Jesus em seu caminho para a cruz, ele lhes disse para não chorarem por ele (Lc 23:28). Jesus sempre foi bondoso, mas quase nunca sentimental. Para os que estavam de coração quebrantado por causa do pecado ou buscavam libertação de seus sofrimentos, sua ternura era infinita. Mas para aqueles que lamentavam por terem seus falsos conceitos expostos, ou que estavam indignados com a verdade que ele proclamava, Jesus podia ser direto e firme ao falar o que eles não queriam ouvir.

Então, o que significa chorar com os que choram?

Para começar, devemos lembrar que os outros nem sempre sentirão o mesmo que nós em um dado momento ou em resposta aos mesmos acontecimentos. Se o filho de uma mãe acabou de ser aceito na escola dos sonhos, enquanto o filho de outra foi rejeitado por todas as instituições em que se candidatou, o apóstolo Paulo diria que a mãe triste deveria alegrar-se por sua amiga, e vice-versa. O amor não é rude — o que significa que desrespeitar o clima emocional das pessoas ao redor é, no mínimo, uma grosseria, e no pior dos casos, um pecado.

Indo mais além, Romanos 12:15 trata fundamentalmente de manter a unidade da comunhão cristã. É por isso que o versículo 15 é seguido por comandos como: “tenham o mesmo modo de pensar uns para com os outros” (v. 16), “não sejam orgulhosos” (v. 16), “façam o que é correto” (v. 17), e “no que depender de vocês, vivam em paz com todos” (v. 18). Estragar festas ou dançar em enterros não ajuda a promover a paz.

Seja atencioso. Seja compassivo. Seja rápido para estender a mão ou oferecer um ombro para quem precisa chorar. Os cristãos devem buscar consolar os tristes.

Mas nossa empatia não está desconectada de todas as outras considerações. O simples fato de chorar não é sagrado por si só. Quem ri mais alto nem sempre está rindo por boas razões. Da mesma forma, quem mais expõe sua dor nem sempre está lamentando com justa causa. Nosso sofrimento não é soberano.

Romanos 12:15 é um versículo precioso, destinado a oferecer sabedoria pastoral à igreja e sensibilidade pessoal aos nossos relacionamentos. Honramos o versículo ao obedecer ao que ele de fato ordena — não ao insistir em uma interpretação desequilibrada, fora de contexto e inconsistente com o exemplo de Jesus.

 

Texto original: What Does It Mean to Weep with Those Who Weep? Traduzido e publicado no site Cruciforme com permissão.

Foto de Abhishek Tewari na Unsplash

Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério The Gospel Coalition. Autor dos livros Os Dez Mandamentos, Homens e mulheres na igreja e Cristianismo impossível, publicados por Vida Nova

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