
Quanto tempo devemos gastar lendo a Bíblia? | Tim Challies
06/out/2025
Desde muito cedo trazemos dentro de nós uma noção de justiça. Quer seja em questões simples, como dividir de forma correta uma caixa de bombons com os nossos irmãos, quer seja nas perseguições testemunhadas na escola, quando ainda era mais comum o chamado bullying (palavra de origem inglesa para designar atos de agressão e intimidação repetitivos contra um indivíduo que não é aceito por um grupo). Também quando assistimos a uma partida de futebol e percebemos tendência de favorecimento nas decisões do juiz em relação a algum dos times, isso igualmente desperta em nós o senso de justiça.
Um cenário propício ao antagonismo
Em nosso país, a justiça tem estado sob os holofotes. Há julgamentos e cerceamentos que tramitam na mais alta corte do Poder Judiciário, e nem sempre concordamos com as sentenças. Isso tem gerado desconforto em boa parte dos cristãos conservadores da nossa nação. É como se, mesmo sem haver um acordo comum entre eles, a discordância quanto a algumas decisões fosse assumida quase que unanimemente.
Há uma grande parcela de irmãos na fé descontentes com os rumos do nosso país. Vivemos uma época em que as pessoas anseiam por uma justiça que reverbere de forma mais definitiva e certeira. Assim como a nossa sede de justiça se manifestava em questões simples na infância, ela hoje se apresenta em situações mais complexas e decisivas, como a própria realidade da nossa nação.
Entendo que uma das principais causas desse desconforto da igreja quanto aos rumos do Brasil não se restringe a uma questão de preferência ou escolha partidária no campo político. É mais provável que cristãos conservadores se oponham a uma ideologia (vigente também em terras tupiniquins) que se posiciona sistematicamente contra a maior parte dos elementos da cosmovisão judaico-cristã. Aquilo que nos é caro como valores bíblicos e posturas sustentáveis à luz da Escritura torna-se, portanto, princípio a ser defendido com grande zelo. Vivemos em uma época em que parte da sociedade não se contenta com a simples tolerância em relação ao liberalismo moral, mas avança para criminalizar posturas conservadoras alinhadas aos valores cristãos. Em períodos assim, podemos nos irar, nos indignar, ou seja, experimentar um sentimento de incômodo que surge dentro de nós quando percebemos algo ruim que nos atrapalha ou nos afasta do que desejamos.
Discordância na medida certa
Em um tempo de tamanha sede de justiça, muitos irmãos na fé não fixam seus olhos na plenitude da justiça aguardada no juízo final. Sentem, antes, sede por uma justiça que reverbere em nossos dias, sem adiamento para um tempo indeterminado. Esse tipo de expectativa traz consigo tanto a limitação da nossa visão parcial (pois não somos oniscientes) quanto uma indignação que, muitas vezes, pode ser fruto mais de ressentimentos pessoais e planos frustrados do que da manifestação de uma ira justa e não pecaminosa (Ef 4. 26-32).
Mas será que podemos nos indignar corretamente? Podemos ansiar por justiça sem que isso esteja atrelado a algum aspecto do nosso egoísmo? Creio que sim. E passo a sugerir alguns princípios que podemos utilizar para identificar se nos iramos sem pecar:
- A nossa ira e sede por justiça podem ser expressão da formação do caráter de Cristo em nós. Quanto mais nos assemelharmos a Cristo, maior será a nossa tendência a reagir contra o pecado.
- A nossa sede por justiça pode ser legítima se privilegia os valores do Reino de Deus mais do que o nosso bem-estar individual.
- Ela pode ser legítima quando se manifesta ao lado de qualidades piedosas. A manifestação da ira justa vem acompanhada de autocontrole, sem que da nossa boca saiam palavras torpes nem violência que extravase em ataques e ferimentos contra pessoas.
O que podemos concluir à luz das Escrituras?
Ao olharmos para a Bíblia, vemos profetas que, no passado, se levantaram para denunciar os pecados tanto do próprio povo quanto de nações vizinhas de Israel. Cada um deles experimentou, em maior ou menor medida, um grau de descontentamento crescente que os levou a denunciar, com obediência, os descaminhos de seus ouvintes, bem como a iminente manifestação da justiça de Deus.
Ao olharmos para Jesus, encontramos o manso e humilde que, ainda assim, se irou contra os mercadores no templo de Jerusalém (Jo 2.13-22). Ele mesmo nos ensinou sobre a bem-aventurança daqueles que têm fome e sede de justiça.
A igreja pode manter-se sedenta pela manifestação do desprazer divino contra toda impiedade e injustiça, ao mesmo tempo em que cultiva a bendita esperança do retorno do justo Juiz (Ap 22.11-12)
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![]() | Carlos Eduardo Morais Borring Valderrama é Mestre em Teologia Bíblica pelo SETECEB. Bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida (Atibaia-SP) e pela Universidade Metodista. É professor residente do SETECEB (Seminário Teológico Cristão Evangélico do Brasil) onde leciona nas áreas de Novo Testamento, Teologia Sistemática, Teologia Histórica e Hermenêutica. Conselheiro bíblico formado pelo NUTRA (Núcleo de Treinamento e Aconselhamento Bíblico). Pastor desde 2004. Casado com Janice e pai de Miguel e Ana Laura. |
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