Estimulando o aconselhamento na igreja local | Franck Neuwirth

O caminho do justo foi revelado em Cristo: uma leitura do Salmo 1 | Christopher Ash
20/out/2025
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O pastor tem papel central na formação de uma cultura de aconselhamento bíblico dentro da igreja. Embora o aconselhamento não seja uma atividade exclusiva do ministério pastoral, já que a Escritura convoca todos os crentes a se aconselharem mutuamente (Cl 3.16; Rm 15.14), o líder da comunidade exerce uma função estratégica de ensino, supervisão e inspiração.

Assim, a igreja deve ser conduzida no entendimento de que o aconselhamento não é uma tarefa exclusivamente de especialistas, mas de todo o corpo de Cristo. Mais do que atender individualmente, como Moisés fazia no início de seu ministério, o pastor deve promover uma cultura em que o aconselhamento mútuo se torne uma prática comum, saudável e frutífera na vida comunitária, como Jetro sugeriu que Moisés o fizesse (Êx 18.13-27). Assim como estava acontecendo com Moisés, muitos pastores em nossos dias estão sobrecarregados e precisam dividir o fardo, entendendo que todos os crentes podem auxiliar no cuidado pastoral e serem conselheiros.

Veremos a seguir algumas estratégias que podem ser adotadas em nossas igrejas, a fim de estimular o aconselhamento como uma prática comunitária dos membros, tornando a igreja um ambiente de acolhimento e cuidado mútuo.

Pregação centrada na suficiência da Escritura

O ponto de partida para estimular o aconselhamento bíblico na igreja local é a pregação expositiva. O pastor deve demonstrar, em seu púlpito, que toda a Escritura é suficiente para instruir os crentes na vida e na piedade, à luz de 2Tm 3.16-17 e 2Pe 1.3–11.

Quando a Palavra é proclamada de modo fiel, os membros aprendem a enxergar seus problemas, dilemas e práticas erradas à luz do Evangelho. A pregação não substitui o aconselhamento individual, mas fornece a base teológica para que toda a igreja compreenda como aplicar a Bíblia às questões da vida. Precisamos ensinar os nossos membros a pensar biblicamente.

Discipulado e formação de conselheiros leigos

O pastor deve investir em discipulado intencional, treinando irmãos para aconselharem biblicamente. Isso pode ocorrer por meio de:

  • Cursos sobre os fundamentos do aconselhamento bíblico.
  • Grupos de estudo focados na aplicação prática da Palavra.
  • Acompanhamento de líderes que desejam se capacitar.
  • Convite para que seus liderados, em fase de treinamento, participem de atendimentos pastorais.

Como Paulo escreveu a Timóteo: “E o que de minha parte ouviste… transmite-o a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2.2). O pastor estimula o aconselhamento quando multiplica conselheiros.

Criar uma cultura de mutualidade

Isso significa promover uma cultura em que os membros aprendam a exortar, encorajar e consolar uns aos outros. Ao mesmo tempo, os membros devem ser ensinados a buscar ajuda quando estiverem passando por lutas e dificuldades em sua vida; afinal de contas, todos são membros do mesmo Corpo, e quando um sofre, todos devem se responsabilizar por promover a saúde desse irmão, pois o sofrimento dele também é o sofrimento de todos (1Co 12.26-27).

Essa mutualidade se desenvolve em grupos pequenos, ministérios de oração, reuniões de jovens e encontros informais, nos quais o aconselhamento acontece de forma natural. O pastor deve incentivar esses espaços, mostrando que a igreja toda é chamada a viver como corpo que se edifica em amor (Ef 4.16).

Modelar o aconselhamento com humildade e graça.

O exemplo pastoral é fundamental. O pastor que aconselha com humildade, sabedoria e graça inspira a igreja a fazer o mesmo. Paulo, ao se dirigir aos presbíteros de Éfeso, afirmou: “Nunca deixei de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20).

Assim, o pastor deve mostrar na prática que aconselhar não é apenas resolver problemas, mas caminhar com as pessoas em direção a Cristo. Neste sentido, podemos afirmar que o aconselhamento está bem próximo da prática do discipulado, pois, em ambos os ministérios, o que desejamos é fazer com que Cristo seja formado na vida do crente (Gl 4.19).

Integrar aconselhamento, cuidado pastoral e oração

O aconselhamento não deve ser isolado de outras práticas da vida da igreja. Ele precisa estar integrado ao cuidado pastoral, à oração e aos sacramentos. Tiago exorta: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele…” (Tg 5.14).

O pastor estimula o aconselhamento ao conduzir a igreja a perceber que o cuidado espiritual ocorre tanto no púlpito quanto na visita pastoral, tanto no culto público quanto na conversa individual.

Evitar dois extremos

Para desenvolver uma cultura saudável visando a prática do aconselhamento comunitário, o pastor precisa evitar dois extremos:

  • Clericalismo: pensar que apenas o pastor é capaz de aconselhar. Infelizmente, alguns líderes apreciam serem reconhecidos como a única voz a ser ouvida na igreja. Pelo que a Bíblia no diz, qualquer crente maduro o suficiente para ser um conselheiro pode e deve acompanhar o irmão mais novo na fé e ajudá-lo em seu progresso espiritual.
  • Abandono: delegar tudo aos leigos sem oferecer treinamento e supervisão. Este é um grande perigo, pois um conselho ruim é prejudicial para o aconselhado em sua saúde emocional e espiritual. Com um treinamento adequado, os conselheiros terão a oportunidade de compreender o que Deus espera tanto em relação à forma quanto ao conteúdo a ser dito (Cl 4.6).

O caminho bíblico é o equilíbrio: o pastor treina, acompanha e orienta, mas a igreja toda participa. Como Paulo nos ensina, o papel da liderança é treinar e capacitar, o papel dos crentes é exercer o seu ministério (Ef 4.11-12). Tudo isso até que todos atinjam a maturidade espiritual e desfrutem da unidade no Corpo de Cristo (v. 13-16).

 

Conclusão

O pastor estimula o aconselhamento na igreja local quando reconhece que seu papel não é monopolizar o ministério, mas capacitar o corpo de Cristo a viver em mutualidade. Ele deve fazê-lo pela pregação da Palavra, pelo discipulado intencional, pelo exemplo pessoal e pela integração do aconselhamento com a vida comunitária da igreja.

Assim, o aconselhamento deixa de ser prática periférica para se tornar parte integrante da missão da igreja, conduzindo todos à maturidade em Cristo (Cl 1.28). O resultado não é apenas uma comunidade mais saudável, mas uma igreja que glorifica a Deus ao viver a verdade em amor, mostrando ao mundo o poder transformador do evangelho.

 

Foto de Kendall Scott na Unsplash

Franck Neuwirth é Doutor em Ministério pelo Reformed Theological Seminary, EUA, em parceria com o Centro de Pós-graduação Andrew Jumper. É Escritor da Editora Cristã Evangélica e Coordenador Acadêmico no SETECEB, além de lecionar disciplinas na Área de Novo Testamento, Grego, Metodologia Científica e Aconselhamento. Atualmente, está cursando seu PhD pela Universidade de Viena na Áustria. Franck é casado com Ilma Rabelo Neuwirth e pai da Isabella e do Luiz Filipe.

Autor de "Aconselhamento bíblico para todos", publicado por Edições Vida Nova.

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