Quem foi São Nicolau? | Kevin DeYoung

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Quem foi São Nicolau?

A resposta insatisfatória ao título deste post é que ninguém sabe dizer com certeza. Citando um estudioso de Nicolau, “Podemos garantir que houve um bispo com esse nome que causou um grande impacto em sua terra natal. Nós também podemos aceitar a data de 6 de dezembro como sendo a data de sua morte e funeral. Esses são todos os fatos que podemos ter certeza. Não podemos ir adiante”. (Gustav Anrich, citado por Charles W. Jones em Saint Nicholas of Bari, Myra and Manhattan).

São Nicolau

De acordo com as melhores estimativas, Nicolau nasceu por volta do ano 280 AD em Patara, na Ásia Menor. Mais tarde tornou-se bispo de Mira, atual Turquia. Ao que parece, Nicolau morreu por volta do ano 343 ou próximo de 6 de dezembro. Essa é a data de sua celebração na igreja católica.

Não há registro de sua existência em qualquer documento até o século VI. Naquela época, Nicolau, seja lá quem ele tenha sido, já era famoso. O imperador Justiniano dedicou-lhe uma igreja em Constantinopla. Inicialmente, Nicolau era mais conhecido no Oriente. Porém, por volta do ano 900, um grego escreveu: “Tanto o Ocidente quanto o Oriente aclama e o glorifica. Onde quer que haja pessoas, seu nome é reverenciado e igrejas são construídas em sua homenagem. Todos os cristãos respeitam sua memória e invocam sua proteção”. Em 1087, marinheiros italianos roubaram seus restos mortais e os levaram de Mira para Bari, na Itália. Isso aumentou sua popularidade na Europa e fez de Bari um dos lugares com o maior índice de peregrinação. Diz-se que Nicolau foi representado por artistas medievais mais vezes do que qualquer outro santo – a não ser Maria.

O homem e o mito

Por que Nicolau foi tão famoso? Bem, é impossível distinguir os fatos da ficção, mas segue aqui um pouco da lenda de São Nicolau:

Ele era considerado ser um fazedor de milagres que trazia crianças de volta à vida, destruía templos pagãos, salvava marinheiros da morte no oceano e, quando bebê, era amamentado apenas dois dias por semana e ficava em jejum nos outros cinco dias.

Mudando de uma lenda provável para uma história possível, Nicolau foi honrado por suportar a perseguição. É dito que ele foi aprisionado durante a grande perseguição do Império sob o domínio de Diocleciano e Maximiano. Na ocasião de sua libertação, as pessoas se conglomeraram em sua volta, dizendo: “Nicolau! Confessor! São Nicolau voltou para casa!”.

Nicolau também foi aclamado como defensor da ortodoxia. Fontes antigas declaram que ele estava presente no Concílio de Niceia. De acordo com a tradição, ele foi um firme oponente do arianismo. Escrevendo cinco séculos após sua morte, um biógrafo afirma: “Graças ao ensinamento de São Nicolau, a metrópole de Mira não foi maculada pela heresia ariana, pois firmemente a considerou como sendo um veneno”. São muitas as histórias sobre sua coragem. Uma delas diz que Nicolau viajou para Niceia e, na chegada, imediatamente deu um tapa no rosto de Ário. O restante dos membros do Concílio ficou tão chocado e revoltado que quiseram remover Nicolau de suas atividades de bispo, até que Jesus e Maria apareceram para defendê-lo. De acordo com a mesma lenda, tal aparição fez com que os membros do Concílio mudassem de ideia, os quais rapidamente se retrataram de tal ultraje.

Como você deve ter adivinhado, Nicolau também foi reverenciado por ser um homem generoso que dava presentes. Tendo nascido em uma família rica, ele herdou a fortuna quando seus pais morreram. Ao que parece, toda a fortuna foi gasta dessa maneira. A história mais famosa envolveu três garotas que eram tão carentes que estavam forçadas a ingressarem em uma vida de prostituição. Nicolau, porém, jogou três bolsas de ouro na janela das jovenzinhas como presentes.

Com o tempo, São Nicolau se tornou o santo padroeiro de nações como a Rússia e a Grécia, de cidades como Friburgo e Moscou, e de crianças, marinheiros, meninas solteiras, comerciantes, penhoristas (as três bolas de ouro penduradas do lado de fora das casas de penhor simbolizam as três bolsas de ouro).

O Natal e São Nicolau

Em homenagem a São Nicolau, o entregador de presentes, cristãos começaram a celebrar a data de 6 de dezembro (dia de São Nicolau) entregando presentes. A tradição se desenvolveu com o tempo. Para os meninos e meninas que tivessem se comportado bem, São Nicolau viria com seu casaco vermelho de bispo e suas botas com presentes na noite de 5 de dezembro. Já os meninos e meninas que tivessem se comportado mal, deveriam temer São Nicolau. Em regiões altamente católicas da Europa, São Nicolau se tornou um estorvo para crianças errantes. Na Alemanha, ele foi acompanhado com frequência por Knecht Ruprecht (trabalhador agrícola Rupert) que ameaçava comer crianças malcomportadas. Na Suiça, São Nicolau ameaçava colocar crianças más em um saco e levá-las à Floresta Negra. Na Holanda, o ajudante de São Nicolau amarrava as crianças em um saco e as levava de volta à Espanha. Em partes da Áustria, o sacerdote, vestido com roupas de Natal, visitaria os lares de crianças malvadas e as ameaçaria com açoites. Pelo menos hoje em dia ele se limita apenas a verificar sua lista!

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Não é surpreendente que os reformadores não tenham se simpatizado com as tradições que haviam sido construídas a respeito dos santos. Lutero rejeitou os dias dos santos, acreditando que tais dias haviam sido criados em cima de lendas e superstições (e de uma força virulenta de moralismo que poderíamos acrescentar). Na Alemanha, Lutero substituiu o dia de São Nicolau com uma celebração diferente, “A Criança Cristo” (ou Christkindl). Ironicamente, Kriss Kringle, que derivou do feriado de Lutero, “A Criança Cristo”, se tornou apenas outro nome para São Nicolau.

De São Nicolau para Santa Claus (ou Papai Noel)

A seita que cultuava São Nicolau praticamente desapareceu na Europa protestante, com exceção de um país: a Holanda. Se você ama o Natal com todas as decorações de Papai Noel, meias e presentes, agradeça os holandeses. Se você odeia tudo isso, tente ignorar meu sobrenome por enquanto. Os puritanos haviam se livrado de São Nicolau e haviam banido o Natal. Os holandeses, porém, permaneceram com suas tradições e as levaram ao Novo Mundo. Na Holanda, Sint Nicolaas foi abreviado para Sinterklass. De acordo com a tradição holandesa, Sinterklass monta um cavalo e é acompanhado por Zwart Piet, ou Pedro Preto (Black Peter). Muitas pessoas acreditam que o nome Pedro Preto deriva de escravos negros, embora outras digam que ele é negro porque desce as chaminés e se suja de fuligem.

De qualquer forma, é fácil verificar como a palavra Sinterklaas evoluiu nos Estados Unidos para Santa Claus. Santa Claus se tornou quem conhecemos somente depois que o poema “Foi a Noite Antes do Natal” (“Twas the Night Before Christmas”) foi escrito em 1823. Possivelmente os versos mais bem conhecidos já escritos por um estadunidense, o poema influenciou muito a tradição de Santa Claus no mundo de língua inglesa e outros países.

O bom e velho São Nick e Jesus

Como os cristãos deveriam reagir às tradições de Santa Claus? C. S. Lewis as abraçou e incluiu o Papai Noel no livro “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”. Outros cristãos, temendo o sincretismo, permanecem longe de Santa Claus, renas e de árvores cheias de presentes. Eu deixarei que você e sua família formem opinião em relação à celebração de Natal (veja Romanos 14.1, 5-6). Pessoalmente, eu e minha família buscamos um equilíbrio: não ensinamos nossos filhos sobre Santa Claus, mas ficamos felizes em desfrutar do filme “A Felicidade Não se Compra” (“It’s a Wonderful Life”), de algumas árvores de Natal e um pouco de Bing Crosby. E se as crianças começam a ouvir aqui e ali coisas como renas voadoras que pousam nos telhados, não vamos apresentar as leis da física para acabar com suas expectativas. Acima de tudo, é claro, tentamos divulgar em casa que o Natal é a respeito de Cristo.

No entanto, se Santa Claus já está em todos os cantos, por que não usá-lo em seu benefício e falar a respeito do verdadeiro São Nicolau? Não sabemos muito a respeito dele, mas sabemos que ele viveu e foi reverenciado. De acordo com a lenda – uma daquelas histórias que provavelmente não é verdadeira, mas deveria ser – quando Nicolau era um garotinho, ele se levantava bem cedo para ir à igreja e orar. Em uma manhã, o velho sacerdote teve uma visão na qual a primeira pessoa que entrasse na igreja pela manhã deveria ser o novo bispo de Mira. Quando Nicolau entrou primeiro, o velho sacerdote, obedecendo a visão, ordenou o garoto como bispo na mesma hora. Antes, porém, de consagrar Nicolau como bispo, o sacerdote lhe perguntou algo: “Quem é você, meu filho?”. De acordo com a tradição, a criança cuja lenda um dia se tornaria em Santa Claus, respondeu: “Nicolau, o pecador”. Nada mal para um garotinho.

Com o pouco que sabemos sobre São Nicolau, é seguro dizer que ele não se sentiria feliz em saber que ele apagou Cristo, a figura central do Natal, dos corações de muitos. O bispo de Mira conhecia, sem dúvida, as palavras do anjo a José: “Maria dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”. Então, neste Natal, dê presentes se você assim desejar. Em nossa família, nós daremos. Receba-os com ações de graças. Porém, não se esqueça daquilo que mais precisamos: salvação através da morte substitutiva de Cristo. Este é um presente que o verdadeiro São Nicolau não teria ignorado.

Traduzido por Jonathan Silveira.

Texto original aqui.

Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério The Gospel Coalition.

1 Comments

  1. Maria pinto disse:

    Amei pesquisar São Nicolau.Um belo trabalho . Parabéns

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