A arte deve ser evangelística para ser cristã? | Alex Medina

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Campo de Trigo com Corvos, Vincent van Gogh

Por quase dez anos eu tenho me envolvido profundamente como artista/ produtor/ designer, em um movimento incrível de cristãos que criam hip-hop e rap. Devido ao sucesso recente, muitos dentro do movimento têm temido a possibilidade de estarem regredindo na missão original. Porém, eu vejo um problema maior bem próximo. Aqueles que têm sido instrumento no sucesso de cristãos que criam e/ou produzem rap, não têm auxiliado a estabelecer uma teologia apropriada de vida integral da arte. Por conta de nosso zelo, nós apenas temos conferido mérito e valor a coisas que são evangelísticas ou que buscam comunicar a doutrina cristã. Somente então nós as rotulamos de “cristãs”, quando, na realidade, o cristianismo “não está apenas comprometido com a ‘salvação’ do homem, mas com o homem todo no mundo todo”, como diria Francis Schaeffer. Ao escrever este artigo, minha intenção é ajudar amigos cristãos a pensarem bíblica e claramente a respeito da arte e da fé.

Deus é o Deus-criador. Assim, como portadores da imagem de Deus, nós criamos. Desde o início do tempo nós vemos que nem todas as criações de Deus eram o que consideramos “religioso” por natureza. Gênesis 2.9 nos diz que “O Senhor Deus fez nascer então do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento”. Deus criou árvores não apenas para propósitos utilitaristas, mas também para o prazer e para desfrute estético. O primeiro poema que lemos na Escritura é Gênesis 2.23, quando o primeiro homem, Adão, diz a Eva: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada”. Adão criou este poema anteriormente à Queda, antes de o pecado entrar no mundo e contaminar todas as coisas. O livro de Cânticos de Salomão é poesia romântica e sexual em sua natureza, escrita para expressar amor dentro de um relacionamento constituído por uma aliança. “Seus seios são como dois filhotes de corça, gêmeos de uma gazela” (Cânticos de Salomão 7.3). Este poema honra a Cristo mesmo sem apontar explicitamente para a história da redenção e para o Messias. Ainda assim, em nossa atual cultura, este poema não seria considerado arte cristã, nem seria tocado em estações de rádio “cristãs”. Se um cristão fizesse um álbum inteiro seguindo a mesma vertente que o livro de Cânticos de Salomão, nós deveríamos ser capazes de desfrutar e glorificar a Deus com nossas esposas por isso.

Não faça um artista hip-hop ser um cargo da igreja

Eu tenho visto algumas pessoas equipararem o rap ao ministério de pregação de um pastor ou à tarefa que um cristão tem de evangelizar. Conversando recentemente com Sho Baraka sobre este assunto, ele compartilhou o seguinte:

“O problema é que nós temos criado uma verdade teológica a partir da cultura e das preferências sistemáticas. Agora, o hip-hop é um cargo na igreja e não é considerado uma vocação ou uma arte. Primeiro precisamos começar deste ponto antes de prosseguirmos. É algo acerca do qual todos nós somos culpados de implicar isto de uma maneira ou de outra”.

Ver o rap como um cargo de pregação e evangelismo é inconsistente e cria problemas infelizes quando um cristão deseja fazer um tipo de música que revele os atributos de Deus de maneira menos explícita. Em seu livro, “A arte e a Bíblia”, Francis Schaeffer escreve:

“O cristão deve usar as artes para a glória de Deus, não como propaganda evangelística, mas como algo belo para a glória de Deus. Uma obra de arte pode ser uma doxologia em si mesma. . . . A mensagem cristã começa com a existência eterna de Deus, e então, com a criação. Ela não parte da salvação. Devemos ser gratos pela salvação, porém a mensagem cristã é mais abrangente. O ser humano tem valor por ser feito à imagem de Deus”.

Não devemos fazer passar nossas preferências pessoais e métodos como se fossem exigências bíblicas. Existe um espectro abrangente acerca da abordagem de um cristão em relação às artes. A arte pode ainda ser cristã, mesmo que ela não seja evangelística. Se reconhecemos a arte como sendo cristã apenas quando ela está pregando o evangelho, um cristão pode ser visto como alguém que está regredindo na fé, mesmo que ele não esteja buscando ganhos egoístas e tão somente desejando fazer música que seja menos explícita a respeito de Deus. Cristãos que desejam fazer um álbum inteiro sobre natureza, beleza e justiça social não estão sendo infiéis ao evangelho de Cristo. Eles não precisam de justificativa para criar arte. Eles são livres para criar arte a respeito de qualquer coisa e tudo que pertence ao seu Deus – que são todas as coisas.

Leia também  Por que os protestantes se convertem ao catolicismo? – Parte IV: A sociologia da conversão | Brad Littlejohn e Chris Castaldo

Nós precisamos de arte para a revelação especial e geral

Ao defender isto, eu não estou dizendo que a intenção de pregar o evangelho em sua música seja inútil ou “antiquada” para a abordagem do rap. Para aqueles que desejam fazer música para ensinar doutrina bíblica e compartilhar a respeito de como o homem pode ser salvo, continue a fazer! Para aqueles que desejam fazer arte metafórica que deriva da criação ordenada de Deus, confie no Espírito Santo, escreva boa música e não se preocupe.

O objetivo é apreciação mútua para abordagens e filosofias distintas. Precisamos de artistas cristãos escrevendo sobre revelação especial e revelação geral. Canções sobre os infortúnios da vida, genocídios na África, amor e a experiência humana, podem ser úteis em alertar a consciência dos ouvintes e fazê-los perguntarem questões mais profundas. Criar trabalho honesto, verdadeiro e belo não é contra o evangelho, mas brota da mensagem do evangelho de Cristo, reconciliando o mundo de volta a Si através de Sua vida, morte e ressurreição.

As Escrituras não determinam o tipo de arte que você deve criar, mas elas, sim, se concentram no conteúdo de sua vida e coração. Assim, devemos eliminar qualquer coisa que não flua de um coração regenerado, qualquer coisa feita por ganho egoísta ou motivo pecaminoso, seja falando mal de alguém com o objetivo de obter uma promoção, ou alterar sua música exclusivamente para ganhar aceitação e elogios. Fundamentalmente, a vida do cristão é atada ao amor (Lucas 10.27, Gálatas 5.14). Cristãos ligados a um corpo local de crentes e buscando fazer discípulos como Cristo ordenou, têm liberdade sob a direção do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para criarem arte como julgam melhor. “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Coríntios 10.31).

Leitura adicional

A arte não precisa de justificativa, Hans R. Rookmaaker

A arte e a Bíblia, Francis A. Schaeffer

Imagine: A Vision for Christians in the Arts, Steve Turner

A criação restaurada: Base bíblica para uma cosmovisão reformada, Albert M. Wolters

Echos of Eden: Reflections on Christianity, Literature, and the Arts, Jerram Barrs

Traduzido por Jonathan Silveira.

Texto original aqui.

Alex Medina é produtor musical e diretor de arte na Reach Records. Ele e sua esposa, ambos de Nova Iorque, residem em Atlanta.

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