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27/fev/2015Dizer que as cruzadas cristãs são o equivalente ao atual terrorismo islamista, equalizando forças religiosas a partir do critério “toda religião tem virtudes e vícios” é um argumento precário por algumas razões:
1) Olhe para os anos iniciais do islã e do cristianismo e veja como cada uma dessas religiões nasceram, e veja a relação de ambas com a violência no seu nascimento, são diametralmente diferentes. O jihadismo (não-progressista) do islã é sua face primitivista. Leia sobre o nascimento do cristianismo, o que você encontrará lá? Um judeu galileu crucificado. Leia sobre o nascimento do islamismo, o que você encontrará lá? A Hégira, Maomé organizando um exército em Medina para dominar a península arábica.
2) O cristianismo tem um conceito de martírio oposto ao conceito islamista (pode recorrer até a fontes progressistas), lá o martírio é passivo, aqui é ativo, lembrando que para a teologia islâmica conservadora, shahada (martírio) e jihad andam juntos, ou nas palavras de A. Ezzati da Universidade do Teerã “O conceito de martírio (shahada) no Islã apenas pode ser entendido a luz do conceito islâmico de Luta Santa (jihad).” (tradução nossa) – Fonte aqui;
3) Equalizar cristianismo e islamismo a partir de possíveis crimes feitos por cada uma destas tradições é cair em um relativismo conveniente, ao invés de tratar as diferenças reais entre os dois fenômenos religiosos e suas respectivas matrizes religiosas. O cristianismo tem sua complexidade e o islamismo também, equalizá-las é evitar um honesto debate sobre a razão das cruzadas e do atual terrorismo jihadista;
4) Se alguma vez alguém em nome do cristianismo e até de Cristo cometeu algum tipo de violência, ele poderia ser disciplinado pelo “Sermão da Montanha” (por exemplo), enquanto no Alcorão não há nada equivalente a noção de “amar os inimigos” (lembra do filho do Hamás?). Em outras palavras, o cristianismo tem subsídio teológico e moral em sua matriz religiosa (a Nova Aliança) para disciplinar qualquer uso violento da mensagem de Cristo. Na matriz islâmica, o Alcorão, isto não é possível (apesar do esforço de alegorização do islã progressista). Ou seja, em caso de abusos uma “reforma” é possível a partir das fontes primárias do cristianismo, no caso do islã, uma reforma a partir do Alcorão levaria ao islamismo jihadista/wahhabista ou uma equivalência.
5) Islamofobia, no sentido de uma aversão violenta ou depreciativa ao muçulmano, não é algo cristão. Porém, rotular de islamofóbico todo tratamento teológico ou filosófico que discorde de aspectos da cosmovisão islâmica é desonestidade intelectual ou é se colocar em uma posição politicamente cômoda. Isto seria a mesma coisa que rotular Paulo de antissemita porque tinha sérias objeções sobre como o judaísmo rabínico funcionava. Não dá!
6) Jihad é uma obrigação religiosa para o islã, temo que o progressismo e o secularismo não terão forças para conter o jihadismo literalista, e o pior, temo que uma retórica cristã de não-crítica ao islã, só enfraquece o cristianismo que já sucumbe diante do crescimento islâmico e do secularismo em territórios pós-cristãos.
7) Enfim, comparar “cruzadas cristãs” com “terrorismo islâmico” é logicamente falacioso e fenomenologicamente inconsistente. Um cristão pode alegar a partir de sua raiz histórica que as cruzadas são incompatíveis com o cristianismo, porém, infelizmente, o islã não pode relativizar a jihad a partir do mesmo critério, pelas razões supracitadas.
Nota: quanto à interpretação progressista de que jihad não implica em violência ou ação armada cito: “Depois do Alcorão, o hadith (registros sobre ditos e ações do profeta) é a segunda mais importante fonte da lei islâmica (shaaria). Nas coleções do hadith, jihad significa ação armada; por exemplo, das 199 referências à jihad na mais padronizada coleção do hadith, Sahih al-Bukhari, todos assumem que jihad significa guerra. Em um sentido mais amplo, Bernard Lewis afirma que “a maioria esmagadora dos teólogos clássicos, juristas, e tradicionalistas [i.e. especialistas em hadith]…. entendiam a obrigação da jihad em um senso militar.” (tradução nossa) – Fonte aqui.
Texto publicado originalmente no blog do Igor.