A história de fé e trabalho por trás de “A Love Supreme”, de John Coltrane | Caroline Cross

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John Coltrane (1926-1967)

Abril no Distrito de Columbia é uma época mágica do ano. Washington recebe uma nuvem de pétalas cor-de-rosa entre as cerejeiras que estão desabrochando na bacia das marés.

Além dos sinais da primavera, abril também traz consigo um outro motivo de celebração. Em abril se comemora o mês de Apreciação do Jazz. Esse gênero musical tipicamente americano teve origem em Nova Orleans, na virada do século 20. Apenas algumas notas musicais de seus ritmos característicos já evocam o cheiro de beignets e café no French Quarter e o tempero apimentado de Cajun gumbo em um café lotado na calçada.

Assim como Nova Orleans não seria a mesma sem os tons cadenciados de uma melodia de jazz no saxofone, o jazz em si não seria o mesmo sem o saxofonista John Coltrane. Em seu livro O Chamado, Os Guinness conta a história do gigante do jazz.

Os Guinness relata o sucesso inicial de “Trane”, que tocou em combos liderados pelos grandes nomes do jazz Dizzie Gillespie e Miles Davis. Embora o sucesso fosse doce, ele não satisfazia.

Nos primeiros anos da década de 1950, a vida de Coltrane quase teve um fim trágico devido a uma overdose de drogas quase fatal em São Francisco. A experiência traumática mostrou-se transformadora, pois o toque da morte levou Coltrane a um encontro com Deus.

Os Guinness escreve que o melhor trabalho de Coltrane veio após esse encontro divino, incluindo sua famosa composição A Love Supreme, em que ele responde musicalmente à sua experiência do poder do amor de Deus.

Os Guinness relata que, depois de uma performance ao vivo particularmente excepcional de A Love Supreme, Coltrane deixou o palco com as palavras Nunc Dimittis (“Agora podes deixar ir”). Essa frase em latim fazia parte de uma oração noturna comum em referência à oração de Simeão no evangelho de Lucas:

Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; ele era justo e temente a Deus, e esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E o Espírito Santo lhe havia revelado que ele não morreria antes de ver o Cristo da parte do Senhor. Assim, movido pelo Espírito foi ao templo; e quando os pais levaram o menino Jesus, para fazer por ele conforme ordena a lei, Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: “Senhor, agora podes deixar ir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos; luz para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo Israel” (Lucas 2.25-32).

Bem ali, no calor das luzes do palco, John Coltrane se conectou com a experiência de um judeu há milhares de anos no pátio do templo de Jerusalém. Embora separados por mundos e eras, ambos os homens sentiram a realização de um chamado.

Leia também  O fundamento da liberdade | Os Guinness

Assim como Coltrane, também estamos trabalhando para a consumação de um chamado.

Nossas próprias histórias seguem o arco das escrituras, pois fomos criados à imagem de Deus para trabalhar e agora sentimos os efeitos da Queda em nossas vocações, mesmo quando experimentamos momentos de redenção.

No entanto, a consumação aguarda. Como João escreve em Apocalipse 21.3-5a,

E ouvi uma forte voz, que vinha do trono e dizia: O tabernáculo de Deus está entre os homens, pois habitará com eles. Eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. “Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram.” O que estava assentado sobre o trono disse: “Eu faço novas todas as coisas!”

Este mundo e nosso trabalho sofrem com a maldição do pecado. Podemos nunca experimentar o mesmo sentimento de realização que Simeão e Coltrane. No entanto, podemos esperar com certeza a esperança pela restauração de todas as coisas quando um dia diremos, juntamente com Coltrane: “Nunc dimittis”.

Ouça o álbum A Love Supreme no Spotify:

Texto original: John Coltrane’s Faith and Work Story Behind “A Love Supreme”. Institute for Faith, Work and Economics.

Traduzido e revisado por Jonathan Silveira.

Caroline Cross serviu na área de comunicação no Institute for Faith, Work & Economics. É graduada em Economia pela University of Virginia.

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