Apologética e martírio | Felipe Wieira

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Com o Mar Mediterrâneo ao fundo, 21 cristãos coptas caminham algemados, no vídeo mais chocante que já assisti em toda minha vida: Todos uniformizados, postos de joelhos na areia, são brutalmente degolados, com uma “mensagem assinada com sangue ao Povo da Cruz”. Uma ameaça feita pelo grupo autodenominado “Estado Islâmico” (ISIS) contra toda a cristandade, que traz à nossa mente uma realidade com a qual não tendemos a nos preocupar muito: o martírio.

Talvez a preocupação da igreja ocidental com relação ao martírio se restrinja à vida de nossos missionários em países nos quais a morte em nome da Fé é um inimigo constante, sempre à espreita. Comumente, essa preocupação é tratada com orações para que o Senhor livre nossos missionários dos ataques, que os proteja e os guarde. Essa é uma abordagem justa e, sem dúvida, uma oração que devemos fazer constantemente, mas ainda assim, fica aquém do padrão que a Escritura nos fornece, não nos preparando para aquilo de que o Senhor Jesus nos deixou avisados: “…de fato, virá o tempo quando quem os matar pensará que está prestando culto a Deus.” (Jo 16.2)

No livro de Atos, vemos que, diante da perseguição, os primeiros cristãos oravam pedindo mais coragem para permanecer firmes e anunciar o Evangelho (At 4.29). Especialmente na carta aos Hebreus, o autor se dirige a um povo perseguido com algo que vai na contramão do senso comum: apologética. À vista de uma realidade de opressão, em que os leitores eram tratados pelos judeus como traidores e pelos romanos como rebeldes, o autor de Hebreus não faz discursos motivacionais ou orações pelo fim da perseguição, mas defende a supremacia de Cristo sobre todas as coisas e a natureza da verdadeira fé. Ou seja, ele faz apologética em seu mais alto grau!

Nesse momento de dor, nossos irmãos coptas precisam de apologética. Eles precisam de alguém que defenda a superioridade de Cristo sobre a dor, a morte, o sofrimento e sobre o Estado Islâmico. Precisam ouvir que todas as coisas, incluindo o martírio, “cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28), sendo encorajados a, se preciso for, derramar o próprio sangue em sua luta contra o pecado (Hb 12.4).

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A apologética corretamente aplicada traz esperança e coragem para enfrentar as mais tenebrosas adversidades. Isso porque ela defende a natureza da verdadeira fé. Uma fé que olha para as coisas não vistas (Hb 11.1), que se apoia na fidelidade da promessa de um Deus absolutamente soberano (Hb 11.10) e que caminha pela terra em peregrinação, desejando a cidade que ainda há de vir. Se essa fé for devidamente defendida e impregnada nos corações dos cristãos, a perseguição será uma realidade superável.

Nossos irmãos coptas precisam de apologética. Eu e você precisamos de apologética. Precisamos ter em nossa mente a certeza de que Cristo é superior a todas as coisas e que, nessa posição, ele é totalmente digno de que “saiamos até ele fora do acampamento, suportando a desonra que ele suportou, pois não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir.” (Hb 13.13-14). Ore por nossos irmãos perseguidos, ore para que o Senhor lhes dê intrepidez diante do martírio, mas, acima de tudo, dedique-se a defender a verdadeira Fé e a supremacia daquele que a concedeu. Diante da morte, faça apologética!

Felipe Wieira é Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Teológicos do Vale do Paraíba (CETEVAP) e bacharel em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, cursa o Mestrado em Teologia no Puritan Reformed Theological Seminary e serve como assistente pastoral na Igreja da Trindade, em São José dos Campos, interior de São Paulo.

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