As melhores leituras de Edições Vida Nova 2019 | Thiago Oliveira e Luiz Adriano Borges

O erro da tolerância seletiva | Tiago Silva
18/dez/2019
História de um Casamento: uma reflexão necessária sobre relacionamentos | Josué Reichow
06/jan/2020
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Thiago Oliveira:

Aqui vai um breve endosso de 5 livros que li das Edições Vida Nova no presente ano:

Milagres no coração – Tiago Cavaco

Literatura sermonar talvez não seja algo comum aos leitores brasileiros. Há quem goste de ler os sermões de Spurgeon aqui e ali. Há os que leram “Pecadores nas mãos de um Deus irado” – do Edwards – e perderam o sono. Mas, se existe um bom começo para apreciar a leitura de sermões, este é o livro. Dando uma excelente dinâmica ao já dinâmico evangelho de Marcos, o autor nos prende com sua escrita cheia de ilustrações e com uma boa aplicação que nos faz parar para refletir antes de passar para o próximo capítulo, isto é, o próximo sermão. Você vai rir e chorar. Só não vai ficar indiferente. Esse é daqueles livros que te pega e que vira Top 10 fácil na tua lista de leituras anuais.

Dons espirituais – Thomas R. Schreiner

Livro muito bom para que cessacionistas e continuacionistas vejam o que é maturidade na hora de defender sua vertente teológica. Schreiner escreve na perspectiva de que os dons cessaram. Mas o livro é dedicado a “três amigos e companheiros de ministério no evangelho de Cristo”. Quem são eles? Piper, Grudem e Storms. Três teólogos que acreditam e ensinam que os dons continuam até os dias de hoje. Em seu conteúdo há uma teologia dos dons espirituais que até quem é da corrente oposta do autor vai concordar com ele. Uma pérola que chegou para somar com outras obras que abordam o mesmo tema.

A origem da idolatria – Mauro Meister

Livros pequenos podem surtir um grande impacto no leitor. Obviamente, seu conteúdo precisa ser extremamente bom. O que é o caso desta pequena obra do Mauro Meister. O tema “idolatria” permeia toda a Escritura, tornando-se assunto chave para compreendermos o que é adoração. Meister explana, com muita destreza, o relato da Queda em Gênesis 3 e faz a ponte com o texto do primeiro capítulo da epístola aos Romanos. O livro é repleto de aplicações de como somos idólatras em nosso mundo contemporâneo e como não nos apercebemos disto.

Autoridade bíblica pós-reforma – Kevin Vanhoozer

Este foi um dos muitos livros publicados para a celebração dos 500 anos da Reforma Protestante. Eu o li para celebrar os 502 anos. E se alguém for ler quando a Reforma estiver completando um milênio de existência, duvido que essa pessoa vá ter algo melhor para ler. O livro é espetacular! Seu autor vai trabalhar os chamados 5 Solas numa perspectiva tão profunda que o leitor acaba tendo sobressaltos mentais constantes e se pega dizendo: “Puxa! Isso aqui é algo que nunca pensei”. Dois anos depois eu entendo o porquê este livro entrou na lista de melhores leituras de muitos de meus amigos e personas que sigo nas redes sociais. E só para deixar registrado: Leia tudo o que Vanhoozer escreve. Vai por mim.

Cristianismo na universidade – Augustus Nicodemus

Livro muito oportuno do Augustus Nicodemus. Tão bom e pertinente que fiz uma breve resenha (confira aqui). Pastores e líderes de jovens devem fazer bom uso deste livro e, com muita oração e preparo, debater o que está se debatendo nas universidades. Contrastando a sabedoria secular com a sabedoria divina, formando uma juventude pronta para batalhar nos campi e ficar de pé frente aos ataques do relativismo e da incredulidade.

Luiz Adriano Borges:

Em tempos de hiperconectividade e hipervelocidade de informações, não temos tempo de parar e refletir sobre nossas ações. Para que perder tempo e ficar remoendo o passado?; “bola pra frente”, como se diz. Final do ano é momento de fazer listas e resoluções para o futuro.

Mas, também, no final do ano se aproveita para rever o que foi feito (ou deixado de fazer) ao longo dos doze meses que se passaram. Conseguimos cumprir o que havíamos planejado? Pelas vicissitudes da vida, muita coisa é deixada para trás e outras entram no lugar. No ciclo que se encerra, as perguntas inevitavelmente nos assolam: Fiz exercícios suficientes? Viajei o que queria? Fiz mais devocionais? Li o tanto que havia pensado?

Com relação a livros, eu nunca planejo com muita antecedência o que vou ler no ano, mas tenho uma longa lista e sempre busco ficar perto da meta do ano anterior, mesclando livros para pesquisa, de espiritualidade e literatura. Claro que muitos livros “furam a fila” e acabam entrando na frente de outros dependendo da vontade, disposição e necessidade.

Lembrar os livros que lemos e fazer um balanço tem muitas vantagens: nos ajuda a perceber possíveis ausências que são importantes pessoalmente; nos ajuda a não ficar distraídos e ler somente o que nos dá prazer e não o que nos confronta ou é necessário (para mim, pode ser ler muita literatura ao invés dos livros para minha pesquisa); também nos traz à memória as boas leituras e como podemos melhorar e buscar mais livros de certos assuntos ou autores.

Conforme vamos avançando na era da informação, ironicamente sentimos pouca necessidade de relembrar informações porque os dados estão disponíveis a um clique de distância, o que acaba afetando nossa memória e nossa capacidade de retenção de conhecimento. Relembrar as boas leituras que fizemos é um excelente exercício!

Aqui, comentarei os três melhores livros que li da Editora Vida Nova neste ano.  Coincidentemente, os três são do Timothy Keller. Cada um dos livros tem uma abordagem diferente, sendo um mais devocional, um mais de aconselhamento e outro mais acadêmico, o que mostra a versatilidade deste autor, que figura entre os meus escritores favoritos. Os três livros são “Oração”, “O significado do casamento” e “Deus na era secular”.

Oração – Timothy Keller

Já li alguns livros sobre vida devocional, de autores como Richard Foster, John Eldredge, Dallas Willard entre outros, mas o livro “Oração”, de Tim Keller, me surpreendeu. Ele nos aponta como a oração é uma conversa, mas também um encontro com Deus; e desse encontro saímos conhecendo mais de Deus e de nós mesmos. E também, algo que me fez mudar a visão da oração, Keller coloca que, enquanto seres corpóreos, não devemos pensar na oração como algo desencarnado; nossa linguagem corporal também afeta nossa vida espiritual. Pensar o contrário implica em uma posição gnóstica, que coloca o espírito como mais importante que o corpo, como se na oração pretendêssemos abolir o corpo, como algumas religiões místicas tentam. A oração cristã nos envolve integralmente. Portanto, é um livro que todos deveriam ler, sendo um assunto primordial na vida de todo cristão.

O significado do casamento – Timothy Keller e Kathy Keller

O próximo livro foi muito impactante não só na minha vida e de minha esposa, como também em outras pessoas que participaram de um grupo de discussões em nossa casa. Ao longo de um semestre lemos e discutimos “O significado do casamento”, de Tim e Kathy Keller. Este livro é um dos mais honestos que já li sobre o assunto. Ele nos confronta em muitas áreas dentro do casamento e nos faz refletir o quanto temos sido orgulhosos, egoístas e até mesmo hedonistas, buscando no casamento um escape para a felicidade individual, ao invés de procurar fazer o outro feliz. E fazer o outro feliz – como diz o imperativo para os maridos amarem as suas esposas como Cristo amou a igreja (Ef 5.25) –, se levado à sério (como deve ser) produz em nós uma necessidade de ajustes. Entramos no casamento muito despreparados e, na verdade, nunca ficamos “prontos” e perfeitos. Somos seres imperfeitos que necessitam da graça de Deus cotidianamente; o casamento exige perdão, sacrifícios, mas também traz muitas alegrias, que antecipa a Grande e Verdadeira Alegria da vida eterna. Este livro do casal Keller não é um manual, mas, antes, um guia de pessoas imperfeitas para pessoas imperfeitas que procuram crescer juntas na graça do Pai amparado em Sua Palavra. Um livro importante para solteiros, jovens casais e casais maduros, enfim, para todos, porque o coração ensinável nunca para de aprender.

Deus na era secular – Timothy Keller

Por fim, o mais acadêmico dos três livros, “Deus na era secular”. Keller é um grande leitor e consegue fazer grandes sínteses de ideias intelectuais presentes na nossa “era secular”. Não preciso dizer que ele segue Charles Taylor nesses pontos. Um livro recheado de notas de rodapé, o que mostra a atenção para as diversas visões, que procura comparar as visões cristãs e seculares e como isso impacta cada área da vida humana, em questões de sentido, contentamento, liberdade, identidade, esperança e justiça. Keller desdobra cada um desses pontos ao longo de doze capítulos traçando como o modo secular e o modo cristão entendem cada um deles. Ele pretende demonstrar como o cristianismo faz sentido, dá sentido e enriquece cada um desses pontos. Como ele comenta ao final de seu livro, e que serve de resumo:

“em cada capítulo, analisei as ofertas incomparáveis do cristianismo – um sentido que o sofrimento não é capaz de afastar, um contentamento que não se baseia nas circunstâncias, uma liberdade que não exclui os outros, ao contrário, aumenta o amor, uma identidade que não esmaga você nem exclui os outros, uma bússola moral que não o converte em opressor, e uma esperança capaz de enfrentar qualquer coisa, até a morte” (Deus na era secular, p. 272).

Como pode-se notar, um livro para ser lido, estudado, discutido e degustado. Com certeza, uma das melhores leituras entre todos os meus livros que li este ano e candidato certo à releitura.

Não sei se você, caro leitor, percebeu, mas esses três livros enfocam três áreas da vida do cristão que deveriam ser melhor equilibradas: espírito, alma/coração, mente. Temos a tendência de focar em uma dessas áreas em detrimento de outras, e nos esquecemos do mandamento de amar a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso entendimento (Lucas 10:27); assim, vivemos desequilibrados. Seria interessante aproveitar o final do ano e relembrar os livros lidos buscando selecionar leituras para o próximo ano que tampem as lacunas. Focar somente na racionalidade, leva à uma religiosidade sem experiências; achar que uma vida somente de orações basta, acaba levando ao fundamentalismo; e viver somente em busca de experiências torna a fé “líquida” (“Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições” [1Coríntios 3:2]). A busca do cristão é por restabelecer uma mente cristã, renovando a alma e o coração e buscando restaurar o poder do Espírito. Tim Keller, nestes três livros, nos ajuda em áreas importantes de nossa existência nessa terra e inclusive nos contextos atuais, em nossas vidas devocionais, em nossos casamentos e no convívio com pessoas de crenças diferentes. São belas sugestões para leituras para o próximo ano.

Thiago Oliveira é graduado em História e especialista em Ciência Política, ambos pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso). Mestrando em Estudos Teológicos pelo Mints-Recife. Casado com Samanta e pai de Valentina, atualmente pastoreia a Igreja Evangélica Livre em Itapuama/PE.
Luiz Adriano Borges é professor de história na UTFPR-Toledo, lecionando sobre história da técnica, tecnologia e sociedade, filosofia, sociedade e política. Sua área de pesquisa centra-se na História e Filosofia da Tecnologia e da Ciência. Seus projetos mais recentes são: “A visão cristã da tecnologia” e “Esperança em Tempos de guerra. Ciência, tecnologia e sociedade em Tolkien, Huxley, Lewis e Orwell (1892-1973)".

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