
Paulo e a homossexualidade | Timothy Keller
07/jul/2025
O cansaço é uma condição inerente à experiência humana. Após longos períodos de trabalho ou esforço contínuo, é natural que o ser humano experimente estados de exaustão física e emocional. Essa realidade é amplamente reconhecida, uma vez que nenhum indivíduo é imune aos limites do corpo e da mente. É possível que, nesta semana, muitos se sintam particularmente esgotados, talvez, ao ler este texto, você, leitor também se perceba em tal estado.
Nesse contexto, é pertinente refletir sobre a afirmação de Jesus registrada no Evangelho: “venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt 11.28). Tal declaração convida à análise do tipo de cansaço a que Cristo se refere.
Compreende-se que Jesus não está tratando unicamente dos fardos do cotidiano, como conflitos familiares, pressões profissionais ou carência financeiras, embora estes também sejam relevantes. Conforme argumenta Sproul (2017), o fardo mais opressor que pode recair sobre a alma humana é a culpa. A partir dessa perspectiva, o convite de Jesus adquire uma dimensão espiritual e existencial mais profunda, direcionando-se ao alívio da consciência culpada e à restauração do ser humano em sua totalidade.
É fundamental compreender que, na perspectiva do evangelista Mateus, Jesus se apresenta como aquele que revela o Pai. Seu chamado dirige-se não aos sábios e instruídos da época, mas aos cansados, sobrecarregados e humildes, isto é, aos mais simples. Jesus não revela o Pai com o objetivo de satisfazer a curiosidade intelectual dos eruditos, tampouco para reforçar a autossuficiência dos arrogantes. Ao contrário, sua revelação é dirigida aos “pequeninos”, convidando-os ao conhecimento do Pai e conduzindo os cansados ao verdadeiro descanso.
Esse convite de Jesus ressoa temas presentes na literatura sapiencial judaica. A sabedoria, frequentemente identificada com a Lei (Torá), é apresentada como um chamado à escuta e à obediência. Nesse sentido, o ensino de Jesus dialoga com a tradição judaica ao propor um discipulado que implica não apenas conhecimento, mas uma resposta prática e transformadora à revelação divina.
Cansaço através do excesso.
As palavras atribuídas a Jesus no Evangelho de Mateus destacam-se não apenas pelo seu conteúdo teológico, mas pela maneira como articulam a experiência daqueles que se encontram exaustos e sobrecarregados. A expressão utilizada sugere uma condição contínua e duradoura de fadiga, decorrente de esforços excessivos, indicando uma realidade persistente que transcende um mero episódio de cansaço. Essa perspectiva ressalta a profundidade do estado existencial dos indivíduos a quem se dirige a mensagem, configurando um convite à busca por alívio e consolação.
Em seguida, surge a expressão que pode ser traduzida como “sobrecarregados”, a qual remete à ideia de carregar ou suportar um peso imposto. Esse termo evidencia que o cansaço experimentado pelos indivíduos não resulta apenas de seus próprios esforços, mas das cargas externas que lhes são atribuídas. Assim, a fadiga mencionada ultrapassa a dimensão pessoal, refletindo uma sobrecarga derivada de pressões e exigências provenientes de contextos religiosos, sociais ou culturais.
É comum que algumas interpretações contemporâneas deste versículo associem o convite de Jesus ao alívio após um dia exaustivo de trabalho. Contudo, essa leitura parece limitar o alcance da proposta de Cristo. O foco do texto, a meu ver, reside nas cargas existenciais e espirituais que as pessoas carregam — fardos que se tornam centrais em suas vidas, muitas vezes assumidos como prioridades. O chamado de Jesus, nesse contexto, vai além de um alívio físico momentâneo; trata-se de uma oferta de descanso integral, voltada àqueles que foram esmagados pelo peso de expectativas, exigências e culpas impostas ao longo da vida.
Jesus dirige seu chamado àqueles que transformaram suas cargas em prioridades absolutas. A esses, Ele convida a reconhecerem sua necessidade espiritual e a voltarem o olhar unicamente para Ele. O cansaço, nesse contexto, não é apenas físico, mas profundamente existencial, resultando direto das cargas que o indivíduo insiste em carregar por conta própria. Tais cargas, quando postas como prioridade, podem assumir o caráter de uma idolatria, isto é, ama-se tanto aquilo que se faz, que, ao final do dia, permanece-se de joelhos diante disso. Afinal, o peso que recai sobre os ombros é, muitas vezes, o resultado de expectativas e demandas que o próprio sujeito impôs.
A estrutura desse texto, evidencia um contraste significativo, pois os sábios e instruídos, conforme apresentados por Mateus, são aqueles que rejeitam o chamado de Jesus, sua confiança está em sua própria autonomia e conhecimento, o que os afasta da obediência e os conduz à arrogância espiritual. Em contraposição, os cansados e sobrecarregados são justamente aqueles que reconhecem sua limitação e fragilidade. A esses, o convite é claro, obedecer ao chamado de Cristo. Tal obediência se manifesta, entre outras formas, na renuncia a transformar suas cargas em ídolos e no reconhecimento de que não precisam carregar tais pesos sozinhos. O descanso prometido por Jesus está ligado à entrega confiante, e do coração à verdadeira fonte de alívio e sentido.
Jesus oferece aquilo que nós necessitamos
De acordo com a estrutura teológica do Evangelho de Mateus, a quem Jesus estaria se referindo ao fazer seu chamado? A referência é a todos aqueles que se encontram oprimidos pelo peso excessivo de regras e regulamentos impostos sobre seus ombros. E quem impôs tais cargas? Escribas e fariseus.
Os escribas eram especialistas na Lei de Moisés (Torá) e detinham grande autoridade religiosa e social entre o povo judeu. Por sua vez, os fariseus constituíam um grupo religioso e político, conhecido por sua rigidez na observância da Lei e das tradições orais. Esse conjunto de pessoas tornou-se, para muitos, um peso opressivo.
Na contemporaneidade, ainda se observam figuras e grupos que, de maneira análoga, impõem sobre a sociedade um fardo de regras e dogmas rígidos, seja no âmbito político, religioso ou social. Muitas vezes, fazemos da política, das informações teológicas e de diversas outras esferas um peso que dificulta a liberdade e o bem-estar individual. Em contraste, Jesus oferece aquilo que realmente necessitamos, o descanso verdadeiro, que liberta da opressão das cargas impostas por regras humanas.
O cansaço que experimentamos frequentemente decorre de uma mente e um coração enraizados em crenças e promessas falsas, cujo desfecho é o desespero, marcado pela ausência de esperança. É fundamental evitar transformar sonhos, atividades laborais ou mesmo ministérios em pesos insuportáveis. Tais encargos não precisam ser carregados, pois um peso maior já foi assumido por Jesus em nosso lugar, o fardo dos nossos pecados. Portanto, não permita que o trabalho se torne um peso, e nem que o ministério se transforme em um fardo sobre seus ombros. Nenhuma dessas responsabilidades é mais significativa do que as palavras suaves e reconfortantes de Jesus.
Referências bibliográficas
SPROUL, R.C. Estudos bíblicos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
CARSON, D.A. O comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.
![]() | Mestrando em estudos bíblicos e teológicos no Novo Testamento pelo Seminário Jonathan Edwards – STJE; Graduado em Letras pela Faculdade FAVENI; Mestre em Hermenêutica e Pregação Bíblica pelo Seminário Betel Brasileiro, São Bento – SP; Pós-Graduado no Novo Testamento pelo STJE/UNIFIL; Bacharel em Teologia pelo Betel Brasileiro, Santo André – SP. |
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