Cuidado com as celebridades | Christopher Ash

Pastores, alimentem o rebanho com a Palavra | Timothy Z. Witmer
04/ago/2025
Pastores, alimentem o rebanho com a Palavra | Timothy Z. Witmer
04/ago/2025

Foto de Edwin Andrade na Unsplash

Por vários anos, ensinei o Evangelho de João aos meus alunos. Toda vez que trabalhava nesse material, eu tinha meu coração sondado pelo ensinamento de João 5. Os oponentes judeus de Jesus o acusam de estar “igualando-se a Deus” (v. 18), no sentido de colocar-se como um rival de Deus. O Senhor Jesus diz que não, que faz somente o que seu Pai faz; que busca a glória dele, e não a sua própria. Ele diz a seus críticos:

Eu não aceito glória dos homens. João 5. 41 (NIV)

Mas eles aceitam, e isso os impede de crer:

Como vocês podem crer, visto que aceitam glória uns dos outros, mas não buscam a glória que vem do Deus único? João 5.44 (NIV)

O problema é que, por natureza, busco e valorizo a glória que vem dos elogios feitos por outras pessoas. O que as outras pessoas pensam de mim importa muitíssimo. E receio que eu não seja o único a pensar assim.

Muitos dos que estão lendo isto têm predisposição para o burnout. Vocês são capazes; têm muitas habilidades naturais. Se estão envolvidos no ministério pastoral, pode ser que tenham tido a expectativa de uma carreira de sucesso em um ambiente de trabalho secular. Talvez alguns de vocês tenham ingressado na liderança pastoral após uma carreira extremamente bem-sucedida; ou ingressaram logo nos primeiros dias do que poderia ter se tornado uma história de sucesso no mundo secular.

Você estava acostumado a desfrutar de elogios, respeito, alta consideração e aplausos das pessoas no mundo secular, ou pode ser que tivesse essas expectativas. Mas agora escolheu um trabalho que o mundo despreza ou, na melhor das hipóteses, considera marginal e estranho. Você e eu podemos facilmente buscar, em substituição, a adoração de nosso próprio rebanho, ou de nossos colegas pastores, para preencher essa lacuna deixada pela ausência de afirmação por parte do mundo. E podemos nos tornar lobos solitários orgulhosos, buscando autorrealização por meio de nosso trabalho.

Ou talvez você ainda esteja naquela carreira de sucesso, mas também sirva de todo o coração em sua igreja local. O prestígio e a posição que lhe são dados por essa carreira importam para você mais do que talvez possa perceber. O serviço dedicado na igreja local, que você espreme em uma agenda ocupada, é algo que lhe proporciona muito pouca afirmação e elogios por parte dos outros. É tentador direcionar nossa energia para as atividades que redundam em elogios dos outros.

Tenho vergonha de dizer que sou assim por natureza. Quero que você diga o quanto achou proveitoso meu ministério. Quero que publique em seu blog que este livro foi útil para você! Eu adoraria que o mostrasse lá na frente de sua igreja, para toda a congregação, e dissesse que é a melhor coisa que já leu sobre o assunto. Por natureza, é isso que quero. Mas suspeito que eu possa estar falando com um caçador de glória igualzinho a mim.

Você também quer que as pessoas, na igreja em que serve, pensem bem de você. Se você é pastor, quer que seus colegas pastores o admirem. Quando alguém lhe pergunta, em uma conferência de pastores, como vão as coisas em sua igreja, você quer ser capaz de responder assim: “Bem”, você diz calmamente, “quando plantamos a igreja, havia três senhoras idosas e um cachorro de três patas; agora temos trinta mil homens e mulheres jovens, talentosos e entusiasmados, três mil fazendo um curso para pessoas interessadas em entrar para a igreja, trezentas pessoas na equipe da igreja e um orçamento de trinta milhões de dólares. E plantamos a igreja apenas três semanas atrás.”

“Deus não é bom?”, você acrescenta com modéstia!

Mas o Senhor Jesus diz que buscar o louvor das pessoas impede a fé verdadeira em nosso coração.

Cuidado com as celebridades! Vivemos em uma cultura secular de celebridades; é extremamente fácil deixar que essa cultura de pessoas que elogiam outras pessoas contamine nossas igrejas e conferências. Tome cuidado para não colocar preletores e pastores em pedestais. Tome cuidado com os heróis. “Não confiem em príncipes” (Sl 146.3). Cuidado ao querer subir nesse pedestal. Examine seu coração.

Ore para que, por meio de alguma maravilhosa ministração sobrenatural do Espírito Santo, comece a haver realmente, em seu coração e no meu, um desejo de que Deus seja glorificado. Ore para que, cada vez mais, Jesus cresça e nós diminuamos (Jo 3.30). E ore para que nos importemos menos com o que as pessoas pensam de nós e mais com o que elas pensam de Jesus.

Eu me pergunto o quanto do meu excesso de trabalho nesta última década foi motivado por um desejo honesto pela glória de Deus? E quanto foi motivado por um desejo de que as pessoas pensassem bem de mim e de meu ministério? Acredito que houve um pouco do primeiro desejo; e também que parte do excesso de trabalho foi decorrente de pessoal insuficiente, como costuma acontecer com frequência com o trabalho cristão.

Contudo, eu gostaria de saber dar a resposta completa e honesta, pois meu coração é enganoso e desesperadamente corrupto (Jr 17.9). Eu não posso alegar inocência e duvido que você também possa.

Essa repreensão à nossa motivação egocêntrica é uma espada que atravessa as profundezas do nosso coração distorcido e sombrio. Seguimos um Mestre que “não agradou a si mesmo” (Rm 15.3, um dos grandes eufemismos das Escrituras). Se aderirmos à cultura de celebridades na igreja, afastaremo-nos do caminho de seguir Jesus fielmente.

 

Christopher Ash é autor e escritor residente na Tyndale House em Cambridge. Estudou teologia em Oxford, onde recebeu o prêmio Denyer and Johnson. Trabalhou por muitos anos para o Proclamation Trust como Diretor do Curso de Treinamento Cornhill. Escreveu vários livros, entre eles Trusting God in the Darkness, Psalms for You, Job: The Wisdom of the Cross e Marriage: Sex in the Service of God. É casado com Carolyn, com quem tem quatro filhos e dez netos.
Milhares de vocacionados deixam o ministério cristão todos os meses. Eles não fazem isso por falta de amor a Cristo ou por não ter desejo de servi-lo, mas por exaustão que os impede de seguir adiante. Com sua vasta experiência pastoral, Christopher Ash também se viu à beira do esgotamento e acompanhou muitos que chegaram ao limite de suas forças.

Em Zelo sem burnout: princípios para manter a chama do ministério acesa, Ash destila sabedoria bíblica para revelar sete princípios que transformam a maneira como encaramos o sacrifício ministerial. Prepare-se para uma verdade libertadora: somos criaturas de pó. Servir a Deus com zelo não significa sacrificar nossa saúde ou família, mas reconhecer nossa fragilidade e depender daquele que nunca dorme. Este livro conciso e poderoso oferece princípios para uma vida de serviço duradouro e pleno.

 

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