Duas coisas que os diáconos são chamados para fazer | Matt Smethurst

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Foto de Ben White na Unsplash

 

Vamos explorar o que o diácono deve fazer. No nível mais amplo, acredito que o trabalho diaconal englobe dois aspectos da vida da igreja.

1. Descobrir necessidades tangíveis e supri-las

Uma igreja em que os diáconos não atuam de acordo com a Bíblia será constantemente desviada de sua missão principal, que é fazer discípulos (Mt 28.18-20). Essa era a intenção aparente por trás da decisão dos apóstolos de estabelecer os sete em Atos 6: a distribuição injusta de alimentos provocou uma reclamação séria e expôs uma falha inquietante na igreja. A resolução da tensão era importante, e mais: urgente. No entanto, os apóstolos tinham a convicção e os meios necessários para detectar uma ameaça ainda maior: enfrentar todos os problemas de curto prazo de uma vez só abriria o caminho para um desastre de longo prazo. A negligência do ministério de ensino e oração acabaria por destruir o próprio cerne da igreja.

Assim, os apóstolos orientaram a congregação para a separação de sete homens, conhecidos por sua piedade e sabedoria, que coordenariam uma solução. De acordo com esse precedente, o trabalho diaconal ao longo dos séculos se concentrou principalmente nas necessidades tangíveis, em particular no cuidado de pobres e vulneráveis. Na verdade, o trabalho diaconal nunca deve envolver menos que o ministério de misericórdia ou a benevolência. O princípio mais amplo da função do diácono, no entanto, inclui qualquer coisa na vida da igreja que ameace distrair e desviar os presbíteros de suas responsabilidades primárias.

Tudo isso sugere que o diácono deve ser hábil na detecção de necessidades práticas e, então, deve tomar a iniciativa de supri-las com eficiência. Contudo, os melhores diáconos não reagem apenas aos problemas presentes; eles também antecipam os problemas futuros.[1] Eles amam pensar em soluções criativas para qualquer problema capaz de atrapalhar o trabalho dos presbíteros e o florescimento da Palavra.

Assim, os diáconos bíblicos são como a linha ofensiva da congregação, cujo trabalho é proteger o quarterback.[2] Os que integram essa linha ofensiva raras vezes recebem atenção, muito menos crédito, mas seu trabalho é imprescindível para a guarda e o avanço do ministério da Palavra. Sem diáconos efetivos, os presbíteros sofrerão incessantes distrações e serão excluídos do jogo em consequência de uma onda de demandas práticas.

Pastor, quando avaliar futuros candidatos ao diaconato, procure santos piedosos que enxerguem e atendam às necessidades com discrição (eles não precisam de crédito nem o querem), às suas próprias custas (eles se sacrificam) e sem serem solicitados (eles tomam a iniciativa para resolver os problemas).[3] Os sinais de alerta no candidato a diácono, então, incluirão não só a tendência a ser briguento, mas também a tendência a ser desorganizado ou não confiável. Por isso já afirmei que o caráter, ainda que seja o principal, não é tudo. Um membro piedoso que sempre se cansa com facilidade, ou nunca responde aos e-mails, ou precisa de que lhe digam muitas vezes o que fazer, não é uma boa opção para o cargo. O diácono deve ser confiável, não cobiçoso de autoridade e sem necessidade de tutela de babás. Em essência, o diácono deve ser “um par de mãos seguras”.

Mostre-me uma igreja com pastores distraídos e a missão fora dos eixos, e eu lhe mostrarei uma igreja sem diáconos eficientes.

2.Proteger e promover a unidade da igreja

O diaconato foi projetado para salvaguardar a harmonia da igreja. Assim como os sete foram incumbidos de manter a unidade da igreja de Jerusalém, os diáconos hoje (como vimos) devem desempenhar um papel fundamental como “amortecedores de choques” na vida congregacional.

O cristão briguento, portanto, será um diácono ruim. Então, o que deve caracterizar o diácono? Uma humildade evidente. Um espírito de gentileza. Uma vontade de ser flexível. A capacidade de ser veemente sem ser combativo.

Uma forma de discernir se um candidato a diácono está “pronto” para o papel é simplesmente considerar se seu reflexo é facilmente visto em versículos como os seguintes:

  • “Benditos são os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). Observe que Jesus elogia os pacificadores, não os meros mantenedores da paz. Não é suficiente se abster de contendas; na verdade, isso pode até mesmo indicar certo temor debilitante de homens. Em vez disso, Provérbios nos ensina que “quem planeja a paz terá alegria” (Pv 12.20). Diácono, você apenas afirma a beleza da paz ou você a planeja? As outras pessoas o descreveriam como alguém que “busca a paz e a persegue” (Sl 34.14)?
  • “O bom senso do homem o torna tardio à ira e é a sua glória ignorar uma ofensa” (Pv 19.11). Diácono, você é capaz de deixar as coisas seguirem seu curso? O autocontrole é a marca de suas respostas às inevitáveis divergências com outras pessoas? Não falo sobre a autoridade da Escritura ou a divindade de Cristo. Refiro-me às questões menores, coisas sobre as quais pessoas razoáveis podem divergir. Ou você está inclinado a tratar cada questão como se fosse uma emergência eclesiástica?
  • “Apelo a vocês, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejam de acordo, e que não haja divisões entre vocês, mas que estejam unidos na mesma mente e no mesmo parecer. Pois fui informado por pessoas da parte de Cloe de que há disputas entre vocês, meus irmãos” (1Co  1.10,11). Como exemplos para o rebanho, os diáconos devem ser especialmente tardios em perpetuar qualquer tipo de espírito partidário. Satanás adora ver o facciosismo expandir seus tentáculos e sufocar uma igreja pouco a pouco. Diácono, você está atento aos esquemas dele (2Co  2.11)? Evitar divisões é algo bom; antecipar-se e frustrar tal tendência em outras pessoas é ainda melhor.
  • “Suplico a Evódia e à Síntique que concordem no Senhor” (Fp  4.2). Esse versículo, como os outros, certamente não se dirige apenas a diáconos. Mas os diáconos de uma congregação devem estar entre os primeiros a dar forma a esse tipo de reação “vamos entrar em acordo”. Para esclarecer: o apelo ao acordo não equivale à homogeneidade. A questão não é suprimir quem Deus o fez ser, jamais expressar sua opinião, evitar todo desacordo ou estimular uma congregação de clones. Isso se chama uniformidade e consiste na essência das seitas. A marca das igrejas saudáveis é a unidade — que é algo mais bagunçado e mais belo que a mera homogeneidade. Os diáconos devem se encontrar nas linhas de frente a fim de estimular esse tipo de acordo obtido à custa de muito esforço no Senhor.

A última passagem para ponderar é 1Coríntios  13. O famoso “capítulo do amor” não existe porque Paulo colocou um antigo sermão de casamento no lugar errado. Essa passagem não objetiva estimular o afeto de um casal apaixonado, com brilho nos olhos, e sim fazer uma igreja dividida sentir vergonha. Se você for um diácono, aqui está um desafio: releia logo 1Coríntios 13. Leia o texto devagar e considere com honestidade como você avalia sua vida atual — incluindo seu comportamento como diácono. Mas não pare por aí. Encontre alguém que o conheça bem — de preferência um líder de sua igreja — e lhe peça para fazer uma avaliação honesta. Como é possível enxergar sua conduta e atitude como reflexos do amor descrito em 1Coríntios 13? Onde é difícil perceber esse reflexo?

O tipo de amor de valor absoluto, Paulo diz, “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7). Diácono, você        está na linha de frente para estimular os demais membros da igreja a esperar o melhor das outras pessoas, a conceder o benefício da dúvida, a se tornar fácil de agradar e difícil de ofender?

Considere a descoberta de Mark Dever aqui:

Não deseje que pessoas infelizes com sua igreja sirvam como diáconos. Os diáconos nunca devem ser quem mais reclama ou conflita com a igreja por meio de suas ações ou atitudes. Ao contrário! […] Não nomeie diáconos que não reconheçam a importância do ministério da pregação e do ensino, e sim pessoas que se preocupam em protegê-lo. Em sentido mais amplo, faça com que as pessoas que mais apoiam a igreja sirvam como diáconos. Assim, quando você estiver considerando quem deve servir como diácono, procure pessoas com dons de encorajamento.[4]

O diácono qualificado fomentará de modo considerável o tipo de amor que une e que é ordenado pela Bíblia com tanta clareza.


Notas

[1]Como afirma William Godfrey: “O diaconato não deve se contentar em se preocupar apenas com as necessidades óbvias que caem em seu colo. […] Os diáconos que não utilizam seu tempo para conhecer os membros da congregação não terão esperança de descobrir as necessidades que requerem sua atenção e intervenção. Assim, o ministério dos diáconos […] deve ser proativo” (William Godfrey, “Getting acquainted with the congregation’s needs”, in: William Boekestein; Steven Swets, orgs., Faithful and fruitful: essays for elders and deacons [Middleville: Reformed Fellowship, 2019], p. 138-9).

[2] No futebol americano, quarterback é o jogador considerado o cérebro da equipe, cuja responsabilidade é orientar todo o sistema ofensivo. A linha ofensiva é formada por cinco jogadores, cuja responsabilidade é proteger o quarterback para que ele tenha tempo de formular a jogada. (N. do E.)

[3] Sou devedor a Jeff Wiesner por esta formulação.

[4]Mark Dever, Understanding church leadership, Jonathan Leeman, org., Church Basics (Nashville: B&H, 2016), p. 13-4.

 

Trecho extraído e adaptado da obra “Diáconos – Série 9 Marcas”, de Matt Smethurst, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2022, p. 82-88. Publicado no site Cruciforme com permissão.

 

1 Comments

  1. Miguel Elias disse:

    Excelente iniciativa

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