Metanoia – Espalhe esperança | Silas Chosen

Homossexualidade: Natural ou Ambiental? | Alan Shlemon e Gregory Koukl
15/maio/2015
O que Deus tem a ver com a matemática? | Vern Poythress
29/maio/2015
Homossexualidade: Natural ou Ambiental? | Alan Shlemon e Gregory Koukl
15/maio/2015
O que Deus tem a ver com a matemática? | Vern Poythress
29/maio/2015

As mães estão de joelhos, os filhos de pé. O que estamos fazendo sentados?

Aviso: O autor deste texto não só é membro da empresa que produziu o filme em questão como, esteve envolvido em diversos estágios da produção do mesmo.

No meio do caos do vício em drogas, em um dos momentos em que os personagens estão tentando respirar, um deles pergunta ao outro sobre a origem do vício. Apresenta uma possibilidade de explicação para a situação impensável na qual se encontra o outro personagem. E como resposta ouve:

“Não é isso. Eu simplesmente não sei o que é.”

Algo tão degenerativo, doentio e complicado como o vício em crack, praticamente uma endemia se considerarmos somente a cidade de São Paulo, não tem o luxo de apresentar respostas simples. Só perguntas. Duras e difíceis de responder.

E não é com respostas diretas ou panfletagem que chega aos cinemas o filme Metanoia, dirigido por Miguel Nagle, fruto da parceria entre a Companhia de Artes Nissi e a 4U Films. Sendo um filme de cunho cristão, a fé em Deus e a perseverança do amor são mostrados como uma maneira de solucionar o drama da vida de um viciado em crack. Mas esse é mostrado como um caminho estreito e tortuoso, sem atalhos. Especialmente porque, como o filme subliminalmente aponta, os tormentos do personagem não têm um ponto de origem definido: é como se eles tivessem nascido com aquele homem.

A história não é exatamente original: Eduardo (Caique Oliveira) vive com sua mãe Solange (Einat Falbel) na periferia de São Paulo. Leva uma vida sem preocupações, nem objetivos, quando é apresentado à drogas pesadas por um amigo, Jeff (Caio Blat). Então ele vai entrar num declive sutil, derrubando-o aos poucos em direção a um vício fulminante. Acompanhamos tanto Solange, a quem só resta lutar da maneira que pode contra o vício do filho, quanto o próprio Eduardo, vivendo situações conflitantes e difíceis durante seus dias e noites no meio da Cracolândia.


1181040357-
É um filme que, apesar de seu baixo orçamento, consegue alcançar uma qualidade estética interessante. As diversas limitações, tanto técnicas quanto artísticas, não conseguem dissuadir o andamento da história, que mesmo tendo um sentimento ligeiro de repetição perto do final, ainda se move com vontade para frente e para a conclusão sutil, mas muito bem executada. Daqui a algum tempo escreverei um texto para discutir, aqui no TUPORÉM, as questões abordadas ali naquele final. Adianto que considero uma união de escolhas muito acertadas, que poderiam ter arruinado completamente o filme, mas deram a ele uma mensagem bela e elegante. O fato do filme ter suas cenas na Cracolândia filmadas na mesma dá uma autenticidade que estúdio nenhum poderia conferir.

É necessário comentar mais especificamente sobre o elenco. Einat Falbel e Caio Blat conjuram uma simplicidade incrivelmente realista, pessoas de verdade, longe do que muita gente tem já de costume com a dramaturgia audiovisual brasileira. O mesmo vale para a participação bastante contida e bem vinda de Thogum Teixeira. Silvio Guindane e Solange Couto tem uma participação especial bastante efetiva, no sentido emocional e temático, embora não no sentido narrativo, ao encenar uma história paralela. Caique Oliveira tem a missão de carregar o filme, e faz bem ao filme o fato de sua inconstância diminuir muito no final, quando tem cenas intensas que executa bem.

A primeira coisa que salta, terminado o filme, é a ausência de um proselitismo chato e diminuitivo. Temos sido bombardeados com alguns filmes cristãos cujo diálogo com o público o transforma numa peça de propaganda facilmente ignorável. Ninguém no Metanoia tenta convencer você de que um lado ou outro é o correto. Ele só apresenta fatos que você pode interpretar no nível surreal, poético, literal ou imaginário. E em qualquer desses níveis, felizmente, a produção convence. É um filme pesado e com muita negatividade, mas sua função é espalhar esperança.

Em inúmeros pontos do filme vemos a presença de “anjos”, de voluntários que trabalham na recuperação de viciados. Uma clínica de reabilitação é apresentada. Vemos que existe gente que quer lutar para mudar isso.

E a personagem que tem a luta mais sutil é, de fato, Solange. O subtítulo do filme descreve a causa e efeito sugerida no filme. Se a mãe está de joelho, o filho tem como ficar de pé. Afinal, Tiago 5.16.

O cinema brasileiro é muito acusado de ser vitimizador, e de se basear no coitadismo célebre como parâmetro para seleção de seus temas. Discordo, pois há muita coragem e muito valor na obra total do nosso cinema. Porém, um filme que de fato faça algum apelo em termos de “levar o povo a se mexer” não é tão comum. A preciosidade de ter um filme alerta que não emburrece, não desvia a câmera do que é feio e que coloca você ao lado de uma necessidade humana terrivelmente próxima é insuperável.

As mães estão de joelhos. Os filhos estão de pé. Não podemos continuar sentados. Se alguém achar a solução do filme simplista demais, precisa se lembrar de que o Corpo de Cristo na Terra somos nós mesmos, e a missão para transformar situações como essa em vida, e vida em abundância, passa pela nossa apatia de continuarmos no nosso conforto.

A esperança está sendo espalhada. Torne-se parte dela.

Silas Chosen é roteirista, cineasta, publicitário, ilustrador e é viciado em cinema e histórias. Escreve para sites e programas de rádio sobre cinema, cultura pop e cristianismo desde 2004. Faz parte da 4U Films, ministério de cinema independente.

Deixe uma resposta