
O propósito das emoções | Dannah Gresh
24/mar/2025O evangelho de Jesus Cristo é a chave para um casamento sólido. Depois de instruir sobre os papéis de marido e esposa, Paulo escreve: “Esse mistério é grande, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.32). Quanto mais você conhece e experimenta o amor de Deus em Cristo, mais você será motivado e capacitado para demonstrar o amor misericordioso, gracioso e sacrificial ao seu cônjuge.
Primeiro, é necessário conhecer o amor de Cristo
Se você não experimentou o amor de Cristo, não poderá amar como ele ama. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). Por isso, Paulo utiliza os primeiros três capítulos de Efésios para lembrar os cristãos do amor de Cristo por eles no evangelho. Deus nos escolheu em Cristo para adoção como filhos de Deus (Ef 1.3-6). Ele nos redimiu pela graça, nos perdoou por meio do sangue de Cristo, e nos selou com o Espírito Santo (1.7-14). Nós que éramos mortos em nossos pecados fomos ressuscitados com Cristo. Recebemos o dom gratuito de Deus: a justificação pela fé (2.1-10). Somos acolhidos na família de Deus (2.11-22), e nos tornamos herdeiros da promessa divina (3.1-13). Somente depois dessa descrição expansiva do amor de Deus por nós, Paulo orienta os maridos a amarem suas esposas, assim como Cristo amou a igreja (5.25). O marido deixa de amar a sua esposa porque se esqueceu do amor de Cristo por ele. O que ele mais precisa não são técnicas ou regras, mas um coração extasiado e transformado pelo amor de Cristo por ele.
Se você deseja ter um casamento bem-sucedido e amoroso, ore por si mesmo (e por seu cônjuge) com a mesma oração que Paulo fez pelos efésios: “Por essa razão, dobro meus joelhos perante o Pai, de quem toda família nos céus e na terra recebe o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais interiormente fortalecidos com poder pelo seu Espírito. E que Cristo habite pela fé em vosso coração, a fim de que, arraigados e fundamentados em amor, vos seja possível compreender, juntamente com todos os santos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade desse amor, e assim conhecer esse amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais preenchidos até a plenitude de Deus” (Ef 3.14-19). Então, participe da resposta a essa oração estudando diariamente a Palavra de Deus e meditando sobre a grandeza do amor de Cristo por você. Esse amor o motivará e o capacitará a demonstrar amor ao seu cônjuge.
A melhor coisa que você pode fazer por seu casamento é se aproximar mais de Jesus. Quanto mais você compreender e apreciar o amor de Deus por você em Cristo, melhor será o seu casamento, à medida que você reflete esse amor ao seu cônjuge. Um casamento se fortalece quando os cônjuges demonstram o amor de Deus um pelo outro. Assim, os dois apreciarão melhor o amor gracioso de Cristo. Uma razão pela qual um cristão não deseja se casar com um não cristão, é que um não cristão não conhece o amor de Deus e, como resultado, é incapaz de expressar um amor semelhante ao de Cristo.
O amor se baseia na graça, não na lei
A maioria dos relacionamentos, incluindo o casamento, é governada implicitamente por uma espécie de lei que diz: “Eu o tratarei do jeito que você merece. Se você for bondoso comigo e atender às minhas expectativas, serei bondoso com você. Porém, se você me tratar mal, eu me afastarei de você, ou farei com você o que fez comigo”. Para o homem natural, essa lei parece justa e razoável. No entanto, quando ela é aplicada no casamento, o resultado é briga, rancor, amargura, separação e divórcio. Em contrapartida, os cristãos se lembrarão com gratidão que não foi assim que Deus nos tratou. Embora sejamos grandes pecadores, Deus nos mostrou misericórdia e graça. “Não por méritos de atos de justiça que houvéssemos praticado, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar da regeneração e da renovação realizadas pelo Espírito Santo, que ele derramou amplamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3.5-6). Ele nos chama a amar uns aos outros da mesma maneira: “Portanto, sede imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor como Cristo, que também nos amou e se entregou por nós a Deus como oferta e sacrifício com aroma suave” (Ef 5.1-2).
Uma avaliação honesta da nossa necessidade de receber esse tipo de amor e graça é fundamental se quisermos estender essa graça aos outros. De acordo com Tim Keller: “Este é o evangelho: nós somos mais pecadores e defeituosos do que já ousamos imaginar; no entanto, ao mesmo tempo, somos mais amados e aceitos em Jesus Cristo do que já ousamos sonhar”.[1] Um verdadeiro cristão reconhece que é um grande pecador (1Tm 1.15), e é grato pela misericórdia demonstrada por Deus. A consciência do pecado individual ajuda o cristão a se livrar da tendência de julgar os pecados dos outros. Além disso, os cristãos sabem que se casaram com outro pecador, e não se surpreendem quando o cônjuge peca. Em vez de reagir com revolta, podem lembrar-se da misericórdia de Deus para com ele e procurar restaurar seu cônjuge com bondade (Gl 6.1), assim como Deus nos perdoou e nos restaura quando pecamos (1Jo 1.8-9). Ao mostrarmos essa graça, somos imitadores de Deus, cuja bondade nos leva ao arrependimento (Rm 2.4).
Continue lutando pelo amor
O amor infundido com a graça do evangelho não acontece por acaso. Maridos e esposas devem trabalhar continuamente para demonstrar esse tipo de amor um ao outro. Paulo nos encoraja: se andarmos pelo Espírito, não satisfaremos os nossos desejos carnais, que incluem rivalidades e ira (Gl 5.16,19-21). Em vez disso, seremos caracterizados pelo fruto do Espírito, que inclui amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, amabilidade e domínio próprio (5.22-24). Essas qualidades trarão alegria e harmonia a qualquer casamento. Entretanto, Paulo nos adverte que não é fácil andar fielmente pelo Espírito: “Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne. Eles se opõem um ao outro, de modo que não conseguis fazer o que quereis” (5.17).
Se você não sentir amor pelo cônjuge — ou, pior, se você perceber que é culpado por palavras e ações carnais, incluindo ciúmes, contendas e dissensões — você será tentado a culpá-lo. Porém, o real problema é que você deixou de andar pelo Espírito, e se entregou à carne. O pecado do seu cônjuge pode tentar você, mas ele não é capaz de torná-lo carnal. Paulo escreve em outra passagem: “Não veio sobre vós nenhuma tentação que não fosse humana. Mas Deus é fiel e não deixará que sejais tentados além do que podeis resistir. Pelo contrário, juntamente com a tentação providenciará uma saída, para que a possais suportar” (1Co 10.13). Não importa a situação em que você se encontre; você pode escolher caminhar pelo Espírito. Então você produzirá o fruto do Espírito e não realizará as obras da carne. Em vez de esperar que seu cônjuge mude, você deve se reconciliar com Deus, não esquecendo do seu próprio pecado, e se lembrando da graça e misericórdia de Deus a você.
A aliança do amor permanece
Os votos pelos quais entramos na aliança matrimonial refletem o peso do nosso compromisso: “Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, até que a morte nos separe”. Ao longo do casamento, as circunstâncias mudam. Os cônjuges mudarão pela experiência de criação de filhos, tribulações, envelhecimento, pelo cuidado com os pais enfermos etc. Uma das partes talvez se torne deficiente físico ou venha a ser diagnosticado com algum transtorno mental. Um pode ficar desempregado, ou perder o dinheiro da poupança em investimentos fraudulentos. Os dois podem enfrentar as provações de filhos rebeldes. As pessoas mudam com o passar do tempo. Algumas se tornam obesas. Outras mudam de personalidade por causa de depressão, ansiedade ou raiva. Dizem que não nos casamos com apenas uma pessoa, isto é, com quem está ao nosso lado diante do altar. Na verdade, nos casamos com várias pessoas,[2] ou com a pessoa que o nosso cônjuge se tornará em diferentes fases da vida.
Quando se casa, um cristão se compromete a amar o cônjuge, não apenas pelo que acha que ele é, ou pelo que espera que seja no futuro, mas por quem ele é e por quem venha a ser. Isso reflete o amor eterno e imutável com o qual Deus nos amou. Ele promete nunca nos abandonar (Hb 13.5). O mundo, por meio de filmes e canções, cria a falsa expectativa de que o amor será fácil quando encontrarmos a pessoa certa. Além da crença que o amor romântico deve ser fácil, é a ideia de que, se não for fácil, então deve haver outra pessoa em algum lugar para você (sua alma gêmea). A realidade é que você é uma pessoa pecaminosa que se casou com outra pessoa pecaminosa. Somente com a ajuda do Espírito de Deus, e à luz do seu amor persistente por nós, é que poderemos nutrir o amor por nosso cônjuge.
O amor descrito
1Coríntios 13 é o famoso capítulo de Paulo sobre o amor. Nessa passagem, ele explica o amor em sua forma mais pura: “O amor é paciente; o amor é benigno. Não é invejoso; não se vangloria, não se orgulha, não se porta com indecência, não busca os próprios interesses, não se enfurece, não guarda ressentimento do mal; não se alegra com a injustiça, mas congratula-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.4-7). Somente uma pessoa amou perfeitamente dessa maneira. Paulo está descrevendo o amor de Cristo por nós. Leia cada frase dessa passagem e pense em como Jesus o ama nesse sentido. Agora, leia novamente e reflita sobre as maneiras em que você pode imitar o amor de Jesus ao cuidar do cônjuge que ele lhe deu.
Resumo
A chave principal para um casamento bem-sucedido é o evangelho. Se o seu amor está diminuindo, você não necessita que seu cônjuge mude; precisa compreender melhor o amor de Cristo por você. Seu objetivo deve ser que seu cônjuge olhe para você e diga: “A maneira como você me trata me faz lembrar de como Deus me ama”. Quando os cônjuges se empenham para amar dessa maneira, com a ajuda do Espírito Santo, o casamento é um lindo retrato do amor entre Cristo e sua igreja.
Notas
[1] Timothy e Kathy Keller, The meaning of marriage (New York: Penguin, 2011), p. 48 [publicado em português por Vida Nova sob o título O significado do casamento].
[2] Lewis Smedes: “Quando casei com minha esposa, mal sabia o que estava fazendo. Como poderia saber a maneira que ela mudaria ao longo de 25 anos? Como poderia saber o quanto eu ia mudar? A minha esposa já morou com pelo menos cinco homens diferentes desde que nos casamos, e cada um deles fui eu. O elo com meu eu antigo tem sido sempre a memória do nome que eu assumi lá atrás: ‘Sou aquele que estará sempre contigo’. Quando jogamos fora aquele nome, quando perdemos aquela identidade, é difícil encontrar a nós mesmos. E os laços que nos unem serão desgastados ao ponto de se romperem” (http://www.christia- nitytoday.com/ct/2002 /decemberweb-only/12-16-56.0.html).
Trecho extraído e adaptado da obra “Casamento, divórcio e novo casamento”, de Jim Newheiser, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2025, p. 101-106. Publicado no site Cruciforme com permissão.
![]() | (MA, DMin, Westminster Seminary) é diretor do programa de Aconselhamento Cristão e professor de Aconselhamento e Teologia Pastoral no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte, além de diretor executivo do lnstitute for Biblical Counseling and Discipleship. Serviu por 25 anos como pastor de pregação na Grace Bible Church em Escondido, Califórnia. Jim é casado com Caroline e tem 3 filhos. É autor de vários livros, entre eles Dinheiro, dívida e finanças: perguntas e respostas fundamentais, publicado por Vida Nova |
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![]() | (MA, DMin, Westminster Seminary) é diretor do programa de Aconselhamento Cristão e professor de Aconselhamento e Teologia Pastoral no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte, além de diretor executivo do lnstitute for Biblical Counseling and Discipleship. Serviu por 25 anos como pastor de pregação na Grace Bible Church em Escondido, Califórnia. Jim é casado com Caroline e tem 3 filhos. É autor de vários livros, entre eles Dinheiro, dívida e finanças: perguntas e respostas fundamentais, publicado por Vida Nova |
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