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Imagem de Angelo Giordano por Pixabay

Um dos dilemas mais antigos para a doutrina cristã é o problema do mal. Existe um termo teológico que dá nome a esse tema: teodiceia, que é o estudo do problema do mal e sua origem. Se Deus é bom, por que existe o mal? Como pode existir o mal em um Universo governado por um Deus justo, bom e todo-poderoso? A teodiceia procura responder a essas perguntas.

Mas a questão vai mais além: Como um Deus justo, bom e todo-poderoso permite que o mal exista em seu Universo, que os ímpios prosperem e pequem abertamente sem ser castigados? E por que ele permite que o justo sofra neste mundo?

Há três respostas básicas para essas indagações:

A primeira resposta é a do ateísmo. Este, parte do seguinte raciocínio: se Deus é justo, bom e todo-poderoso, por que o mal existe? Se o mal existe, a conclusão deles é que Deus simplesmente não existe. A natureza é determinista, não segue qualquer princípio ou ordem moral. O mal faz parte do Universo. Não existe um Deus bom nem um Deus justo que possa impedir a realidade do mal. Essa é a resposta dos ateus.

Muitos adeptos do ateísmo justificam sua posição pelo fato de não poderem conceber ou compreender as desgraças que existem no mundo. Existe um filme muito interessante de Mel Gibson intitulado Sinais, que narra a história de um pastor anglicano que se tornou ateu porque perdeu a mulher num grave acidente de carro. É claro que o filme adota concepções que não têm nada a ver com a Bíblia, mas Mel Gibson, como católico praticante, de vez em quando encontra jeito de inserir alguma questão religiosa em seus filmes. Nesse filme, temos um exemplo de como muitas pessoas se tornam ateias, porque não podem compreender a presença do mal num mundo supostamente governado por um Deus bom.

A segunda resposta à questão do mal no mundo é a da chamada teologia relacional ou teísmo aberto. A teologia relacional diz o seguinte: Não é culpa de Deus que o mal exista no mundo, porque Deus não é todo-poderoso nem onisciente. Deus se esvaziou de sua onisciência e de sua onipotência para poder se relacionar de maneira ideal com as pessoas, a fim de que não fôssemos meras peças de um jogo de xadrez em suas mãos.

Essa posição recebeu certa notoriedade por ocasião do tsunami que atingiu a costa do sudeste da Ásia, resultando num desastre de proporções mundiais. Toda a mídia estava voltada para aquela região do mundo em que o tsunami havia matado milhares de pessoas e causado grandes prejuízos materiais. Na época um adepto do teísmo aberto publicou em seu blog pessoal uma tentativa de justificar a Deus, pois todos estavam perguntando: “Como um Deus bom permite que tantas pessoas sofram e crianças inocentes morram?”. A resposta dele foi mais ou menos esta: “Por que vocês estão culpando a Deus? Ele não sabia que o tsunami iria acontecer e não tinha poder para impedi-lo”.

Desta forma, o teísmo aberto tenta explicar a teodiceia negando o aspecto de que Deus é todo-poderoso e que, portanto, tenha o controle total do Universo.

A terceira resposta vem das religiões orientais, como o zen-budismo e outras correntes religiosas que negam o outro lado da equação, ou seja, afirmam a inexistência do mal. Seus adeptos alegam que o mal é simplesmente uma projeção da nossa mente. Para eles, se a pessoa alcançar determinado nível de espiritualidade, entrará em sintonia com a realidade que temos ao nosso redor, na natureza e nas forças que nos cercam. Dessa maneira o mal e a dor deixarão de ser uma realidade para ela. Isso tem tudo a ver com a meditação transcendental, que tenta resolver o problema do mal negando a própria existência do mal.

Como o cristianismo histórico resolve esse problema? Nós mantemos os dois lados da equação: Deus é todo poderoso e bom, e o mal existe no universo. Não podemos negar que Deus existe, que ele é bom, justo e todo-poderoso. Por outro lado, não podemos negar também que o mal existe, é real, que muitas vezes ele passa impune e aqueles que cometem atrocidades não recebem a devida punição. Vemos servos de Deus, que o temem, passarem por sofrimentos de grandes proporções neste mundo, de maneira que as pessoas perguntam: “Vale a pena seguir a Deus, já que não parece existir diferença entre os que o servem e os que não o servem, na medida em que o mesmo mal acomete a todos? Quando cai um avião, morrem crentes e descrentes; quando há uma recessão no país, crentes e descrentes perdem o emprego; quando há uma crise econômica, empresas de crentes e de descrentes podem igualmente ir à falência”.

Isso é o que a realidade mostra, e por isso as pessoas se perguntam se, no contexto de um mundo onde aparentemente Deus parece não se importar com mal, vale a pena servi-lo.

A resposta do cristianismo é que o nosso serviço a Deus independe dessas coisas, pois ele é bom, justo e todo-poderoso, mas permite a existência do mal. E assim o permite porque tem o propósito de mostrar sua soberania ao castigar os ímpios, naquele dia que ele já preparou, e igualmente de mostrar sua misericórdia ao salvar aqueles que são seus neste mundo tenebroso. Portanto, mesmo que não possamos entender os motivos por que Deus permite que o mal atinja determinadas pessoas, podemos afirmar que ele é justo, santo, bom, todo-poderoso, que o mal existe neste mundo por permissão dele e está dentro dos seus planos. Embora nem sempre possamos entender isso claramente, de uma coisa podemos ter certeza: haverá um dia que Deus julgará todo o mal.

 

Trecho extraído da obra “O culto segundo Deus“”, de Augustus Nicodemus, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2012, p. 90-93. Publicado no site Cruciforme com permissão.

Augustus Nicodemus Lopes é mestre e doutor em Novo Testamento e Interpretação Bíblica e pós-doutor em Novo Testamento. É vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. É casado com Minka Lopes e tem quatro filhos: Hendrika, Samuel, David e Anna. É autor de vários livros, entre eles Um chamado à justiça e retidão, O poder de Deus para a salvação, O poder de Deus para a santificação, A conquista da Terra Prometida, A compaixão de Deus, Cristianismo na universidade, Livres em Cristo, O Pentecostes e o crescimento da igreja, A supremacia e a suficiência de Cristo, No princípio de tudo e Abraão, o pai da fé, publicados por Vida Nova.
Em nossos dias, assim como na época de Malaquias, o culto a Deus tem sido desvirtuado das mais diversas maneiras. Embora muitos pensem que nada temos a aprender com o Antigo Testamento em matéria de culto, estão enganados. Ao levantarem sua voz contra o povo de Deus de sua época, por haver desvirtuado o culto ao Senhor, os profetas usaram como argumentos princípios relativos à adoração a Deus que certamente se aplicam ao povo de Deus de todas as épocas.

 

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