Cristianismo e sexualidade | Sandro Baggio
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02/set/2015O livro de Gênesis abre com o relato da criação descrevendo um mundo maravilhoso de mar, terra, céu, plantas, peixes, aves e outros animais. E então Deus coloca um homem no jardim. Imediatamente após esta parte da história se encontra um verso curioso que, à primeira vista, parece fora do lugar. O verso é Gênesis 2.12, que menciona entre parênteses que “O ouro dessa terra é bom; resina aromática e ônix também estão lá.” Uma pequena nota sugere que resina aromática pode referir-se a pérolas. Por que isso é significativo o suficiente para ser incluído no relato da criação? Como engenheiro, eu me pergunto se essas matérias-primas – latentes na criação – têm implicações para o papel da tecnologia.
Curiosamente, os materiais ouro, ônix e pérolas que aparecem no segundo capítulo da Bíblia reaparecem no penúltimo capítulo da Bíblia. Apocalipse 21.20 descreve a cidade santa, a nova Jerusalém, uma “cidade de ouro puro” e uma decoração com pedras preciosas, incluindo ônix, e com portões feitos de pérolas.
Entre Gênesis 2 e Apocalipse 21, lemos que estes materiais não são sempre usados para a glória de Deus. Em Gênesis, lemos como os “tesouros dos egípcios” foram dados ao povo de Israel quando eles fugiram do Egito. Santo Agostinho escreveu sobre como os incrédulos também podem descobrir “ouro e prata” desenterrando de “certas minas da Providência divina” que os cristãos também podem tomar e usar. No entanto, mais tarde, em Êxodo 32, lemos sobre como Arão forjou o ouro israelita em um bezerro de ouro. Mais tarde, em Daniel 3, lemos como o rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro e forçou as pessoas a adorá-la.
Mas há outras referências a ouro, pérolas e pedras preciosas ao longo da Bíblia. Alguns capítulos seguintes ao incidente do bezerro de ouro, em Êxodo 35, lemos sobre Bezalel, dizendo “e o Espírito de Deus o encheu de habilidade, inteligência e conhecimento em todo artifício, e para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, e para lapidação de pedras de engaste, e para entalho de madeira, e para toda sorte de lavores.” (Ex. 35.31-33). Além disso, Bezalel, juntamente com Aoliabe, recebeu a capacidade de ensinar essas habilidades aos outros para que o tabernáculo pudesse ser construído. Essas habilidades foram colocadas no serviço de Deus na construção do templo.
Fogo do ourives
Depois do nascimento de Cristo, lemos sobre como os magos levaram presentes de ouro, incenso e mirra (Mt 2). Aqui, o ouro mencionado em Gênesis é um dos materiais apresentados como um presente para o Cristo. No entanto, Cristo mais tarde foi traído por um de seus seguidores com um outro metal precioso: 30 moedas de prata.
Em 1Coríntios 3.9-17, lemos sobre como nossas obras são comparadas com “ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha” e que será mostrado para o que elas são quando o fogo provar a qualidade da obra de cada pessoa. Se nossa obra é construída com ouro, sobreviverá às chamas e receberemos uma recompensa, mas, se for construída com palha, será queimada e nós salvos. Porém, “apenas como alguém que escapa através das chamas”.
A menção a ouro e materiais preciosos em Gênesis 2 não é simplesmente um detalhe supérfluo do relato da criação. Estes são os materiais latentes na criação com a qual forjamos artefatos culturais, aqueles que podem ser dirigidos para longe de Deus ou em direção a ele. Podemos usar esses materiais para construir bezerros de ouro ou para construir templos que honram ao Senhor. Podemos usá-los como um presente para o Senhor ou para forjar nossos próprios ídolos. Colossenses 1.16 nos lembra que todas as coisas não só foram criadas por meio de Cristo, mas também para Ele. As implicações disso são significativas: todas as coisas na criação, incluindo as matérias-primas que forjamos, têm um significado e uma finalidade (telos), e que o propósito é encontrado em Cristo. Isso inclui a tecnologia, que também tem um significado, e o significado da tecnologia é encontrado no serviço a Deus.
Traduzido por Breno Perdigão e revisado por Jonathan Silveira.
Publicado originalmente no site Christian Courier em 12 de janeiro de 2015.