Paulo e a homossexualidade  | Timothy Keller 

Por que precisamos de mais pastores como Agostinho | Bryan Litfin 
30/jun/2025
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O texto de Romanos 1.26,27 é uma das passagens mais controversas das Escrituras. É a passagem mais longa na Bíblia sobre homossexualidade. 

Nos últimos tempos, muitos têm tentado sugerir que o entendimento tradicional desses versículos é equivocado; que eles se referem a pessoas que agem contra a própria natureza; ou apenas ao sexo homossexual promíscuo, e não a relacionamentos duradouros. Mas o sentido literal de “… relações […] não naturais…” (v. 26,27, NIV) é “contrárias à natureza”. Significa que a homossexualidade é uma violação da natureza criada que Deus nos deu. E não existe nada aqui a sugerir que Paulo só tenha alguns tipos de atos homossexuais em mente. Como cidadão romano culto e viajado, Paulo estaria muito familiarizado com relacionamentos amorosos estáveis e longos entre casais do mesmo sexo. Isso não o impede de identificá-los como contrários à intenção do Criador para a prosperidade humana. 

Paulo está dizendo: “Eis uma maneira pela qual Deus, em sua ira, tem entregado os humanos a seus desejos excessivos, para experimentar as consequências” (assim deveria ser entendido o final do versículo 27 — a “… devida recompensa…” nada mais é do que colher os frutos da idolatria, um castigo não restrito à homossexualidade). A Bíblia é clara, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, que a prática homossexual como um padrão de comportamento estabelecido, não passível de arrependimento, revela uma atitude de rejeição do senhorio de Jesus, e deixa as pessoas fora do seu reino (veja 1Co 6.9,10), embora jamais fora do seu alcance (v. 11). 

Duas observações precisam ser feitas aqui. A primeira delas é que, em Romanos 1, Paulo opta por salientar primeiramente todo sexo fora do casamento (v. 24) e, depois, mais especificamente, o sexo homossexual (v. 26,27) como desejos excessivos que resultam em Deus “entregando” alguém à ira e que são resultantes disso. É um fato inevitável: a Bíblia diz que a homossexualidade é pecado. Mas, em outros pontos de sua carta, Paulo menciona outros exemplos de comportamento idólatra. Assim, em Colossenses 3.5, ele identifica a “… avareza, que é idolatria” (grifo do autor). A avareza — ou seja, o desejo constante e o ímpeto destrutivo por mais — é indicativa de adoração a ídolos, tanto A avareza é indicativa de adoração a ídolos, tanto quanto a imoralidade sexual. quanto a imoralidade sexual. 

E, então, em Gálatas 4.8,9, ele sustenta algo muito surpreendente. Dirigindo-se a cristãos que tinham sido pagãos antes de passarem a confiar em Cristo, e que agora estão sendo tentados a adotar todas as leis religiosas judaicas como meio para serem salvos, ele declara: “… costumáveis servir aos que por natureza não são deuses [o que é indiscutível — tinham sido pagãos] […] como podeis voltar para esses princípios elementares fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?”. 

O que Paulo quer dizer com isso? Ele está ensinando que buscar bênção e salvação por meio da moral bíblica é uma atitude tão idólatra — o estabelecimento de um governante e salvador diferente de Deus — quanto a avareza ou a homossexualidade. Adoraremos o que pensamos necessitar para nos satisfazer, para nos dar “vida”. Se não adorarmos a Deus, adoraremos alguma outra coisa — a gratificação sexual, o aumento das nossas posses, o cumprimento de regras; e nenhuma dessas é mais (ou menos) séria do que as outras. 

Portanto, a segunda observação necessária é que, embora a homossexualidade seja um pecado, ela é um pecado — não o pior pecado. Toda imoralidade sexual é pecaminosa (v. 24); Paulo ainda está prestes a relacionar outros pecados nos versículos 29 a 31, os quais denomina “injustiça” — atos que emanam de nossa rejeição da verdade acerca de Deus, prejudicam nossas relações horizontais e merecidamente trazem a ira de Deus (v. 18). 

Isso quer dizer que há duas formas de interpretar mal — ou ignorar — a Palavra de Deus nesse ponto: 

  • Algumas igrejas, no esforço de se mostrarem relevantes para a cultura, e com o intuito de parecerem amorosas e receptivas aos homossexuais, têm minimizado ou negado o ensino claro das Escrituras sobre a homossexualidade, tais como os versículos 26 e 27. Poderíamos chamar isso de abordagem “liberal”. 
  • Outras igrejas levam muito a sério o que a Bíblia diz sobre a homossexualidade, mas de um modo muito arrogante. Veem a homossexualidade como o pecado que interessa (ou, se não o fazem, falam e vivem como se as- sim fosse). Não buscam amar os gays ou recebê-los bem em absoluto. Talvez busquem amar e conviver bem com os vizinhos ou amigos hindus que cometem adultério, mas não com pessoas homossexuais. Poderíamos caracterizar isso como uma abordagem “conservadora”. 

Paulo não faz nem uma coisa, nem outra. Deixa claro que a homossexualidade é (literalmente) “desejo excessivo e desonroso” (v. 26). Mas, lembre-se, ele depois relaciona uma porção de outros pecados que falam muito mais de perto a vários de nós — inveja, calúnia, desobediência ou deslealdade (v. 29,31). E as pessoas que praticam tais coisas são as mesmas entre as quais ele deseja promover uma colheita do evangelho! Paulo não está dizendo: “Não interessa o que você faz; Deus não se importa, desde que você esteja feliz”. Mas tampouco está dizendo: “O que você faz importa tanto, que não quero amá-lo ou testemunhar para você, porque você está fora do alcance do evangelho”. 

Como você sabe que, no fundo, se enquadra na segunda situação? Porque vê atos homossexuais como uma “perversão”, mas não considera o engano ou a arrogância “condenáveis” (v. 28). Só captamos o sentido do evangelho quando entendemos, como Paulo, que nós somos os piores pecadores que conhecemos (1Tm 1.15) — e que, se Jesus veio morrer por nós, não há ninguém por quem ele não morreria. Isso nos liberta para lhe obedecermos amando nosso próximo; e para sermos capazes de aceitar a definição de próximo fornecida por Jesus como a pessoa que nossa cultura (eclesiástica ou secular) nos diz que está, ou deveria estar, fora do alcance de qualquer ajuda (Lc 10.25-37). 

Trecho extraído e adaptado da obra  Romanos 1-7 para você de Timothy Keller, publicado por Vida Nova no ano de 2017.

 

Timothy Keller nasceu e cresceu na Pensilvânia, com formação acadêmica na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. Ele é pastor da Redeemer Presbyterian Church, em Manhattan. Já esteve na lista de best-sellers do New York Times e escreveu vários livros, entre eles A fé na era do ceticismo, Igreja centrada, A cruz do Rei, Encontros com Jesus, Ego transformado, Justiça generosa, entre outros, todos publicados por Vida Nova.
Junte-se ao dr. Timothy Keller na exposição da primeira metade da Carta de Paulo aos Romanos. Entenda seu significado e veja como ele transforma nosso coração e nossa vida hoje. Escrito para pessoas de todas as idades e etapas da vida, de pesquisadores a novos crentes, de pastores a professores, este material pode ser utilizado de diversas formas e foi feito para você.

 

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