Pokémon Go em um mundo fraturado e monótono | Trevin Wax

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Meu amigo Chris Martin capturou este Eevee perto da Main Street, em minha cidade natal.

Pokémon Go conquistou os Estados Unidos. Se você já encontrou pessoas nas ruas de seu bairro olhando para seus telefones, você testemunhou suas tentativas de capturar as criaturas míticas que aparecem em vários lugares. Pokémon Go é um cruzamento entre geocaching e jogos de realidade aumentada, e tem apresentado resultados surpreendentes.

Conforme relatado pelo Washington Post:

Pokémon Go já foi baixado mais vezes do que o aplicativo de namoro Tinder, e está rapidamente superando o Twitter, que tem estado por aí por completos 10 anos. As ações da Nintendo subiram quase 25 por cento na segunda-feira por causa do jogo – seu maior ganho em mais de 30 anos.

É uma mania, ou é uma mágica – dependendo de como você enxerga.

Se você é um pai que tem dúvidas sobre o jogo, dê uma olhada neste guia de Tony Kummer sobre do que se trata o jogo e como evitar potenciais perigos (como, por exemplo, atravessar a rua sem olhar para os dois lados!). Dois amigos meus, Chris Martin e Aaron Earls, oferecem bons conselhos para as igrejas, assim como Joshua Clayton do Southwestern Seminary. E tem havido alguma controvérsia acerca dos locais adequados para jogar. (Cemitério de Arlington e Museu do Holocausto? Oh, não.)

Seria fácil dispensar este jogo como apenas uma modinha boba, e certamente a maioria das pessoas que o jogam estão apenas se divertindo um pouco. Mas aqui nós talvez tenhamos uma oportunidade de dar um passo atrás e fazer algumas perguntas:

  • Por que este jogo é tão popular?
  • Por que ele é popular justamente agora?
  • A qual necessidade ele vem ao encontro, neste momento?

A popularidade de Pokémon Go nos diz algo sobre a vida norte-americana no século 21. Muitas pessoas experimentam o mundo como monótono e desprovido de maravilhas, e se preocupam com o fato de que nossa sociedade parece estar se fraturando. Esses sentimentos criam pontos de pressão na nossa cultura, e Pokémon Go proporciona uma sensação fugaz de alívio.

1. Vivemos em um mundo fraturado e ansioso por comunidade.

Nos últimos meses, nossas notícias foram de mal a pior. Nós vimos protestos e motins, fuzilamentos em massa e ataques terroristas. Estamos no meio de um realinhamento político que levou à fratura interna dentro do nosso sistema de dois partidos e de uma onda populista anti-establishment que apela para alguns dos impulsos mais sombrios da população americana. Enquanto isso, nossos hábitos de mídia social nos conectam com pessoas de pensamento semelhante, mas ao mesmo tempo polarizam o nosso discurso e nos isolam das pessoas mais próximas de nós.

Mas então, como se alguém tivesse derramado pó de pirlimpimpim sobre o país, pessoas de todas as idades decidem deixar a solidão de suas casas e locais de trabalho, sair para as ruas, e pegar criaturas míticas através de um aplicativo no celular.

Policiais estão jogando o jogo junto com manifestantes. Muitas igrejas são locais de ginásios Pokémon. Crianças que normalmente ficavam dentro de casa durante o verão agora estão vagando pelas ruas procurando Pidgeys e Eevees. Esta semana, enquanto eu caminhava pelas ruas com meus filhos, alguns vizinhos vieram para nos perguntar o que tínhamos capturado e dar dicas sobre como descobrir onde os monstros mais raros se escondem.

Aqui está um relatório sobre o centro de uma grande cidade:

Em um certo momento, alguém gritou “TEM UM RHYDON NA RUA!” e, de onde eu estava, podia ver mais de 50 pessoas apontando suas câmeras na mesma direção para revelar o monstro. Por um momento, HAVIA um enorme rinoceronte de pedra bem no centro da cidade. Era real. Mesmo sendo algo tão bobo, eu nunca vou esquecer aquele momento. Este jogo é irreal, e está aproximando as pessoas.

Ou considere este tuíte de um veterano de guerra:

Eu sou um veterano com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Nos últimos três anos, deixar meu quintal era uma tarefa árdua. Hoje eu levei meu filho ao parque e conversei com 20 estranhos aleatórios. Obrigado, Nintendo.

O aspecto social deste jogo é uma grande parte de seu apelo. Em um mundo no qual sentimos que as pessoas estão se separando, um simples jogo proporciona uma sensação momentânea de união.

2. Vivemos em um mundo monótono e ansioso por transcendência.

Em uma era secular, as pessoas comumente concebem o mundo em termos científicos de causa e efeito. É menos provável que fiquemos espantados com a magnificência deste mundo e mais provável que nos sintamos como se fôssemos apenas engrenagens em uma máquina naturalista. A mente secular, devido à sua base racionalista, deve criar significado ao invés de descobri-lo.

Mas, de repente, um jogo baseado na mitologia japonesa invade o maquinário naturalista da idade moderna. Pokémon imagina o mundo como se fosse repleto de kamis, que se assemelham aos deuses gregos antigos. As criaturas habitam árvores, rios e pedras, de forma semelhante aos antigos mitos nórdicos ou celtas que descreviam um mundo repleto de fadas e duendes. Quando você considera mitos antigos que nos deram animais fantásticos, como centauros e unicórnios, e coloca-os dentro da cosmovisão animista do Xintoísmo, você começa a perceber por que o mundo oriental de Pokémon parece, ao mesmo tempo, estranho e familiar.

Parte do apelo de Pokémon remonta à fascinação da infância com contos de fadas, algo que nunca superamos completamente. Como G. K. Chesterton escreveu:

“Todos nós gostamos de contos extraordinários porque eles tocam o nervo do antigo instinto de espanto. Quando somos crianças muito pequenas, não precisamos de contos de fadas: precisamos apenas de contos. A vida comum é interessante o suficiente.”

Quando eu e meus filhos seguimos os rastros de Pokémon ao redor do bairro em busca dessas criaturas míticas, percebemos que estávamos mais conscientes do nosso ambiente. O pássaro que voava por cima de nós e pousava em uma árvore era mais glorioso do que qualquer Pidgey que encontrávamos no telefone. Ontem pude notar três borboletas de cores diferentes em minha caminhada – insetos que eu teria falhado em me maravilhar se eu não tivesse meus sentidos ampliados graças a Pokémon Go.

O efeito dos contos de fadas, Chesterton escreveu, é lembrar-nos de que “este mundo é um lugar selvagem e surpreendente, que poderia ter sido bem diferente, mas que ainda assim é bastante agradável…”

“O país das fadas não é nada senão o país ensolarado de bom senso… As velhas amas não falavam às crianças sobre a grama, mas sobre as fadas que dançam na grama; e os velhos gregos não conseguiam ver as árvores porque as dríades encobriam-nas.”

Os desejos e limites de um jogo

Pokémon Go toca em nosso desejo de unidade em um mundo fraturado. Por um momento, estamos juntos, compartilhando o mesmo espaço físico e jogando o mesmo jogo.

Pokémon Go também toca em nosso anseio por algo além da sociedade racionalista monótona da nossa era. Por um momento, sentimos a magia das antigas mitologias e ansiamos por algo além do mundo presente.

Claro, tudo isso é apenas um jogo, e como todas as modas, o seu apelo em breve vai passar. Esses mitos não refletem a cosmovisão bíblica. Eles nos dão alguns momentos de diversão, mas nenhuma promessa para o futuro. Nenhum jogo pode prover uma comunidade duradoura ou um significado eterno; somente o evangelho pode fazer isso.

Mas, como missionários neste tempo e lugar, devemos ter os olhos bem abertos para as pressões que as pessoas sentem neste mundo fraturado e monótono para que possamos contar melhor a melhor história, que, nas palavras de C. S. Lewis, é “o mito que se tornou realidade.”

Traduzido por Fernando Pasquini Santos e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original: Pokémon Go in a Fractured and Flattened World. The Gospel Coalition.

Trevin WaxTrevin Wax é editor executivo do The Gospel Project, um programa de grupos pequenos centrado no evangelho para todas as idades, publicado pela LifeWay Christian Resources. Contribui com inúmeras publicações, incluindo Christianity Today e World. Escreve diariamente em seu blog Kingdom People, hospedado na página The Gospel Coalition.

1 Comments

  1. […] Para uma análise da parte mais filosófica do jogo partindo de uma ideia cristã sugiro este artigo: http://tuporem.org.br/pokemon-go-em-um-mundo-fraturado-e-monotono/ […]

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