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21/out/2016Na semana passada, Rusty Reno e eu participamos do programa de rádio de Hugh Hewitt. Em certo momento, comentei que o problema em se tentar argumentar contra o consenso moral dominante sobre sexo, sexualidade e identidade era que tal consenso não é baseado em um argumento que se pode abordar especificamente, mas sim em um consenso estético. Questões de gosto são o que realmente dominam o individualismo expressivo e a ética da autenticidade da presente era.
Mais tarde naquela manhã, Reno e eu estávamos juntos participando de um painel com o arcebispo Charles Chaput e o professor Robert George, discutindo, entre outras coisas, sobre as futuras possibilidades de se restaurar visões tradicionais de casamento e família. Ofereci uma avaliação bastante pessimista e opinei que os cristãos precisam desviar suas energias políticas do nacional para o local. O professor George, no entanto, titubeou citando a maneira como a causa do movimento pró-vida havia realizado conquistas significativas no palco nacional desde os dias de trevas dos anos 1970.
De fato, sua resposta me fez parar para refletir. Quando enfrentamos aquilo que parece ser mudanças irreversíveis, realmente pode ser fácil entrar em desespero. No entanto, é verdade que a causa pró-vida é mais forte agora do que talvez ela já tenha sido. Também é verdade que inúmeros fenômenos históricos aparentemente irreversíveis, desde Napoleão até à União Soviética, têm provado ser um pouco menos que o fim da história.
Mas, ponderada a situação, creio que os sucessos da causa pró-vida na verdade reforçam meu argumento inicial de que é a estética (e não os argumentos) o meio primário para se influenciar a mudança social hoje. Desse modo, o sucesso da causa pró-vida na verdade apoia meu pessimismo em questões de sexualidade. O sucesso da causa pró-vida tem sido dirigido pela estética, de modo que é difícil imaginar como encontrar um equivalente na causa da moralidade sexual tradicional.
Na causa pró-vida, tem-se apresentado argumentos baseados em desenvolvimentos na ciência médica. Há argumentos excelentes baseados na lei natural sobre questões envolvendo o relacionamento da vida, personalidade e seu potencial. Eu suspeito, porém, que tudo isso seja uma ação menos atrativa para a mudança significativa da opinião pública. O elemento principal para o verdadeiro sucesso da causa pró-vida em um nível popular tem sido o uso da estética. Histórias de mulheres que realizaram abortos e se arrependeram, bem como histórias de pessoas que poderiam ter sido abortadas, mas nasceram e vivem uma vida plena, têm tido um grande impacto. Imagens de corpos desmembrados de crianças abortadas certamente tocam até mesmo os corações mais endurecidos. Acima de tudo, o advento da ultrassonografia tem se mostrado crucial, já que nos trouxe a capacidade de olharmos dentro do útero para vermos a forma de uma pessoa humana, para observarmos um coração batendo e uma mão se movendo. Isso tem transformado a imaginação popular no que diz respeito às crianças não-nascidas.
É aqui que acredito que o paralelo com nossas questões atuais falha. A estética está contra nós no momento. A visão de casais gays se alegrando por se casarem devido à decisão do caso Obergefell v. Hodges naturalmente inspira uma resposta positiva. Eu notei o papel que os seriados e as novelas tiveram antes na formação da imaginação pública em questões sobre identidade, casamento e moralidade sexual. Em relação a isso, podemos acrescentar que a estética da linguagem usada na causa é potente: liberdade, amor e igualdade ressoam de maneira profunda e positiva em nossa cultura. A título de comparação, a estética linguística no debate sobre o aborto (escolha versus vida) é muito delicadamente equilibrada, fazendo com que os outros fatores, tais como as ultrassonografias, sejam mais decisivos.
No atual momento, é muito difícil enxergar o ponto em que tradicionalistas podem aproveitar da vantagem estética em debates sobre sexualidade e identidade. Será muito difícil obter uma vantagem narrativa para posições tradicionais. Não apenas não temos acesso significativo à mídia de cultura pop, precisamos reconhecer que, para cada história contada de um casamento ou família gay destruída, haverá a mesma quantidade, senão mais, de casos de casamentos e famílias tradicionais.
Talvez o transgenerismo possa oferecer algumas possibilidades. Ele pode ser uma ideia ambiciosa demais na revolução identitária. Ele aparenta ser um movimento que será assaltado pela realidade em algum momento. Nesse cenário, a estética provavelmente trabalhará contra ele. Imagens de mutilações corporais, manipulação hormonal e relatos dos resultados trágicos de procedimentos cirúrgicos precipitados e irreversíveis podem muito bem influenciar o gosto público. No entanto, não consigo ver no momento uma revolução estética na questão do casamento. Não quando toda a estética da cultura popular está contra ele.
Ainda assim, se o professor George estiver correto (e eu espero que ele esteja) e for realmente possível mudar o curso da sexualidade anárquica e da identidade líquida, acredito que isso acontecerá apenas se, em primeiro lugar, compreendermos o papel da estética em nosso atual clima e então encontrarmos maneiras apropriadas de influenciar o gosto público. Argumentos podem ser verdadeiros ou falsos, bons ou ruins. Mas quem se importa com isso hoje? Vivemos em uma época em que a moral binária primária está entre o que é bom e ruim em termos de gostos pessoais. O controle da estética é onde o verdadeiro poder de mudança se concentra.
Traduzido por Jonathan Silveira e revisado por Tiago Silva.
Texto original: We Need to Win the Aesthetic, not the Argument. First Things.
Carl Trueman é professor de História da Igreja no Westminster Theological Seminary e pastor na Cornerstone Presbyterian Church. É autor de muitos livros, incluindo The Creedal Imperative, Fools Rush in Where Monkeys Fear to Tread: Taking Aim at Everyone e Republocrat: Confessions of a Liberal Conservative. Escreve regularmente no blog Reformation 21 e participa do podcast Mortification of Spin. |
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1 Comments
Texto excelente! Obrigado pela tradução! Só colocar “sonograma” como ultrassonografia.