
Ore, trabalhe e descanse como se tudo dependesse de Deus | Aaron Armstrong
16/jun/2025
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Que as doces palavras desse convite sejam graciosamente benditas! Eu estava sorrindo enquanto vocês cantavam o refrão “Refugia-te em Jesus” porque lembrei-me de algo que aconteceu há muito tempo. Faz anos, um irmão, também ministro, e quase tão excêntrico quanto dizem que eu sou — embora, no fim das contas, a peculiaridade não seja nossa, mas das pessoas, que não são tão concêntricas quanto nós. Enfim, esse irmão participou conosco de um culto evangelístico. Em seguida, fizemos uma reunião de oração, ou uma reunião de aconselhamento. Dentre aquelas últimas pessoas ansiosas que ali estavam, havia um jovem que havia chamado nossa atenção. Eu estava ajoelhado ao seu lado, enquanto meu amigo se ajoelhou do lado oposto. Ele fez uma oração que me fez rir — não consegui segurar. Ele disse: “Senhor, aqui está um pobre pecador que tem sido servo do Diabo: ele fugiu do seu mestre e nunca mais lhe deu notícias”.
Na época, achei divertida a expressão, mas há uma grande verdade nela. Gostaria de chamar sua atenção durante alguns minutos para essa verdade, porque ela poderá ser extremamente útil para aqueles que querem escapar da escravidão do pecado e de Satanás. Em primeiro lugar, permitam-me observar que, se vocês prestarem atenção no Diabo, nunca se livrarão dele. Se aquele filho pródigo tivesse procurado alguém naquela terra distante e se tivesse dito a essa pessoa “pelo contrato que fizemos, tenho de alimentar os porcos durante mais uma semana, mas já adianto que, depois disso, não serei mais seu empregado”, ele jamais teria voltado para seu pai. A única escapatória que lhe restava era refugiar-se em casa. Por isso ele não disse apenas “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”, mas ele, de fato, “levantou-se e foi ter com seu pai” (Lc 15.18). Imitem o exemplo dele. Não prestem atenção no Diabo. Esse é o significado do refrão com o qual estamos familiarizados desde que o ouvimos pela primeira vez cantado tão piedosamente pelos Jubilee Singers:
“Refugia-te em Jesus”.
Essa simples sentença poderá ser como uma voz encantadora para alguém aqui que esteja vivendo uma vida de pecado. Não volte para o meio de suas antigas companhias; refugie-se em Jesus; recolha-se à sua casa. Talvez você tenha vivido uma vida entregue ao mal, totalmente contrária à lei de Deus; no entanto, você está aqui esta noite, na casa de oração, no meio de um povo que ora. Rogo-lhe, agora, que não diga o que fará amanhã, ou daqui a um mês, ou quando tiver colocado em ordem alguns negócios. Refugie-se em Jesus imediatamente, assim como fez o pobre escravo dos estados do sul, quando teve a chance de ganhar sua liberdade. Garanto-lhes que ele não procurou seu mestre e lhe disse: “Vou fugir amanhã, mestre”. Não, de jeito nenhum! Em uma noite enluarada, porém, quando seu mestre menos esperava, o negro fugiu para a floresta e foi guiado pela bendita estrela polar em direção à terra da liberdade. Digo-lhes mais uma vez: imitem seu exemplo, refugiem-se, refugiem-se em Jesus, se vocês estiverem presos à escravidão do pecado e a Satanás. Esse é o melhor conselho que posso lhes dar. A procrastinação não é apenas ladra do tempo, mas é também assassina de muitas almas. Lembrem-se dos versos que às vezes cantamos:
“Hoje, um Deus mui perdoador
Ouvirá a suplicante oração;
Hoje, o sangue puro do Salvador
Lavará a tua culpa, então.
A graça comprada com tanto amor,
Se tratada com vil desprezo,
Trará ruína de vingança e terror,
E te deixará mui surpreso”.
Mais uma vez, no que diz respeito a dar atenção ao Diabo, não dê. Há quem procure estar atento a isso ao tentar escapar do poder de algum pecado, quando, o tempo todo, essa pessoa com certeza está sempre cativa de outros pecados. Muitos tentaram romper com o mal aos poucos, e se livrar de suas correntes uma por uma, mas não foram capazes de fazê-lo. Só se pode fazê-lo de uma vez por todas, de imediato, e pronto. O pecado é como a esposa de Potifar: não se deve conversar com ela, deixe para trás as roupas e fuja. Sua única segurança está na fuga imediata. Digo-lhes o mesmo que Mentor disse a Telêmaco: “Foge, Telêmaco, foge! Tua única esperança de vitória é pela fuga”. Fuja imediatamente, pobre pecador. Refugie-se em Jesus, refugie-se em Jesus. Vamos cantar de novo, bem suavemente, o segundo verso e o coro:
“Volta, ó peregrino, pra teu lar,
Jesus chama por ti;
O Espírito e o Noivo a apelar:
Venha e refugia-se aqui!
Refugia-te, refugia-te, refugia-te em Jesus,
Refugia-te, refugia-te em casa; porque Jesus
Espera para te salvar” .
Só mais uma palavra antes de encerrarmos. Vocês sabem que, antigamente, quando havia escravos, quando um negro queria fugir do seu mestre, sempre havia quem lhe indicasse o caminho. Havia pessoas boas que se dedicavam ao que chamavam de “Estrada de Ferro Subterrânea”, pela qual passavam os escravos de um lugar para outro até chegarem à terra da liberdade. Portanto, esta noite, há muitos amigos neste Tabernáculo que gostariam de conversar com você que quer se refugiar em Jesus. Principalmente se você vier até aqui à frente depois da reunião, alguns dos meus irmãos terão o maior prazer em lhes dizer como se livrar do grande pântano lúgubre do pecado. Eles conhecem o caminho — alguns deles mal tiraram a lama das roupas —, e ficarão encantados se puderem guiá-los rumo à liberdade. O mais importante é acolher Jesus. Ele é o grande Libertador: “se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).
Se alguém aqui encontrou seu caminho para Jesus, permita-me dizer que é perfeitamente normal fugir do antigo mestre, mas não se refugiar imediatamente no seu novo Mestre. Venha diretamente a ele e lhe diga “sou teu, Senhor Jesus, e não me envergonho de tê-lo como meu Senhor e Mestre”. Venha corajosamente para o lado do Senhor, deixe-se batizar de acordo com seu mandamento e com seu exemplo também, e una-se ao seu povo em comunhão e no santo culto. Se você for realmente do Senhor, jamais haverá de querer se afastar dele, e ele jamais o entregará de volta ao seu antigo mestre, porque assim disse:
“A alma que se inclinou a Jesus pra repousar
Não abandonarei, a seus inimigos não entregarei;
Essa alma, embora o inferno queira abalar
Eu jamais, nunca, jamais, a abandonarei”.
Trecho extraído da obra “Oração comunitária: quarenta sermões pregados no Tabernáculo Metropolitano e em outras reuniões de oração”, de Charles Spurgeon, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2022, p. 285-289. Traduzido por A. G. Mendes. Publicado no site Cruciforme com permissão.
![]() | C. H. Spurgeon (1834-1892) foi um grande pregador batista da Inglaterra e que continua a influenciar cristãos de diferentes denominações, entre os quais é conhecido ainda hoje como o príncipe dos pregadores. Muitos dos seus sermões eram transcritos à medida que os proferia, sendo depois traduzidos em várias línguas. Spurgeon muitas vezes chegou a pregar dez vezes por semana em diferentes lugares. Contava com trezentos intercessores que, todas as vezes que pregava, mantinham-se em súplica. Foi pastor em Londres por 38 anos na Igreja New Park Street Chapel (mais tarde conhecida como Metropolitan Tabernacle). Também foi o fundador da Escola de Pastores, além de autor prolífico de muitas obras, entre as quais Conselhos para obreiros, publicado por Vida Nova. |
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