
Aprendendo a amar: a surpreendente alegria de memorizar Jó | Ellie Wiener
18/fev/2025
O evangelho da prosperidade que às vezes acreditamos | Tim Challies
03/mar/2025
Peter J. Williams (PhD, University of Cambridge) é diretor geral e CEO da TyndaleHouse, Cambridge, um dos principais institutos de pesquisa bíblica do mundo. Foi professor sênior de Novo Testamento na University of Aberdeen, Escócia. É presidente do International Greek New Testament Project e membro do Comitê de Supervisão de Tradução da versão inglesa da Bíblia English Standard Version (ESV).
Seria Jesus somente um sábio aos moldes dos rabinos de sua época ou sua maneira de ensinar aponta para algo mais? Peter Williams apresenta sua resposta a essa pergunta num livro curto mas de profundidade impressionante. O autor desde início deixa claro o seu propósito: apresentar a genialidade de Jesus como um contador de histórias, não por causa da multidão que o segue, mas pela sua habilidade de comunicação e pela profunda sabedoria de seus ensinos. Com isso, Williams estendeseu texto pra além do público religioso. Ele escreve de um ponto de vista confessional e não esconde seus pressupostos, especialmente quanto a confiabilidade dos evangelhos e da veracidade das histórias. Porém, até aqueles que tem dificuldades com a confiabilidade dos textos dos evangelistas podem reconhecer que o que encontramos nos evangelhos faz parte da memória viva de seus primeiros seguidores, mesmo que alguns creiam que nem tudo o que foi atribuído a Jesus de fato foi dito por ele.
A organização do livro é simples e clara: ele aborda a história do Filho pródigo em Lucas 15 de dois ângulos, a partir da retórica e das fontes e referências ao AT. Depois, analisa brevemente outras histórias fazendo comparações com a primeira, mostrando o padrão retórico de Jesus e a maneira como seus ensinos são profundos e acessíveis ao mesmo tempo, fazendo conexões com as histórias de Israel. Por fim, Peter Williams defende que a história de Lucas 15, assim como várias outras encontradas em Lucas e Mateus podem ser atribuídas a Jesus a partir daquilo que sabemos sobre ele. Após sua defesa, ele conclui no último capítulo com um desafio ao leitor para que se submeta àquele que é genial em seus ensinos.
O primeiro capítulo é dedicado à análise literária de Lucas 15 a fim de demonstrar a coerência e coesão existentes em todo o bloco dos v.1-32. As três histórias ali atribuídas a Jesus possuem progressão lógica e retórica, e servem de preparo para o apelo final contido na história dos dois filhos (v.11-32). No capítulo seguinte, o autor trabalha com os ecos e alusões às histórias de Gênesis que podem ser acessadas a partir da parábola dos dois filhos em Lucas 15. Percorrendo praticamente todas as divisões de Gênesis que contam os ciclos de histórias dos patriarcas, Peter Williams demonstra como Jesus parece ter evocado a memória dos escribas e fariseus as histórias frequentes de irmãos e seus relacionamentos ao longo do livro mais copiado da Torá. Ele apresenta paralelos entre Caim e Abel, Isaque e Ismael, Jacó e Esaú, Judá e José. Apresenta também ecos nas relações entre pais e filhos, como as histórias de Abraão e seus dois filhos, Jacó e a figura paternal de Labão, e posteriormente, as atitudes e falas de Jacó em relação a José.
Sua tese, nesse capítulo, é de que o escriba cuja a mentalidade está mergulhada nas histórias da Torá, poderia ter captado algumas dessas semelhanças e contrastes. Não somente isso, suas demonstrações das histórias de Gênesis como pano de fundo da história de Lucas 15 serve para demonstrar a genialidade daquele que traçou esses paralelos, Jesus, que é o contador da história.
Nas comparações, porém, existe muita reversão de expectativas. Na Parábola de Lucas 15 o Pai age de maneira surpreendente, assim como o filho mais novo. Ao comparar com as histórias de Gênesis, Jesus parece ressaltar que a atitude do filho mais velho, que representa os escribas e fariseus, é incoerente com a postura de Esaú, por exemplo, que recebe Jacó de volta. Para a narrativa de Lucas, o tema da reversão é muito importante ao longo de todo o evangelho. Encontra-lo nesta parábola de Jesus, reforça a ideia de que Lucas a considerou importante, não somente por ter sua origem em Jesus, mas porque seu ensino faz sentido com a história que ele está contando.
Se o objetivo de Jesus era alcançar também os escribas e fariseus, sua crítica velada a partir de Gênesis é contundente. Ao rejeitarem os publicanos e ‘pecadores’ como o irmão mais velho faz, eles se assemelham a Caim, o irmão mais velho que preferiu a morte do mais novo. Um destaque especial do capítulo 2 é a habilidade no uso das fontes primárias. O autor é especialista em grego e hebraico e mostra como seu conhecimento o possibilita a encontrar tais paralelos. As notas de rodapé demonstram o caminho trilhado e os leitores que possuem familiaridade com as línguas bíblicas podem experimentar mais ainda do processo de descoberta. A escrita acessível, porém, não priva os leitores que desconhecem tais idiomas de compreendem as comparações e acompanharem seu raciocínio.
O capitulo três percorre outras 14 histórias contadas dá destaque a outra história importante do evangelho de Lucas, a do Rico e do Lázaro (Lc 16.19-31). Aqui o autor demonstra semelhanças e contraste entre a parábola dos dois filhos e a história do capitulo 16. Parte do seu argumento é ressaltar que a crítica aos escribas e fariseus permanece, o que parece sugerir que Jesus não somente contou essas histórias, mas também as contou em sequência. As análises das demais histórias são breves e algumas e nem sempre é fácil identificar claramente o paralelo encontrado pelo autor.
No capitulo 4, Peter Willians se preocupa em demonstrar que a genialidade encontrada nas histórias de fato remete a mente de Jesus. Ele faz um uso evangélico da metodologia da crítica das fontes embora não use o termo em momento algum. Parte do seu argumento se sustenta no fato de que as mesmas características encontradas nas parábolas de Lucas são encontradas também nas histórias registradas em Mateus e Marcos. Alguns até poderiam argumentar que a genialidade da contação de histórias pertence a Lucas, porém, ao demonstrar que Mateus possui os mesmos padrões retóricos, a mesma maneira de fazer perguntas antes das histórias e a mesma maneira de afirmar suas conclusões, o autor aponta para uma fonte anterior aos evangelistas. Essa fonte poderia ser a memória ou a tradição, porém, investigando os usos rabínicos do Antigo Testamento em suas parábolas, Peter Wiliams demonstra a alta probabilidade de que todos esses elementos tenham Jesus como sua fonte. Este penúltimo capítulo é central para sua tese.
Existe genialidade na contação de histórias dos evangelhos e essa genialidade pode ser atribuída a Jesus com segurança. O leitor atento e conhecedor das metodologias empregadas ficará surpreso com a habilidade com que o autor emprega tais métodos. Ele é honesto inclusive ao dizer que não pretende explicar a maneira como essas histórias foram transmitidas. Compreender o processo é importante, porém, não é necessário para se identificar que todas essas histórias possuem características comuns o suficiente para serem atribuídas a mesma pessoa. É possível que o leitor não concorde que todos os exemplos listados sejam igualmente convincentes. A validade do argumento, entretanto, permanece, pois há muito mais evidência a favor do que as que são aparentemente fracas ou duvidosas.
O livro conclui no capitulo 5 com uma reflexão evangelística, o que faz da obra um ótimo presente para aqueles que se interessam por Jesus como um mestre de sabedoria ou promotor de boa moral. Como Peter Williams conclui, a genialidade de Jesus é um traço da sua divindade. Ele conta histórias incríveis pois é o centro de todas elas. Ele consegue conectar as histórias do Antigo Testamento com suas histórias porque todas as histórias antigas culminam no ministério dele. Como o autor pontua, sua morte na Páscoa não é um acidente, assim também como sua genialidade. Reconhecer esses fatos requer daqueles que o fazem, uma submissão completa. Essa é a resposta mais sensata a surpreendente genialidade de Jesus.
A obra é bem redigida, com indicações de pesquisa no lugar certo, escrita por um autor que a anos comprovou sua capacidade acadêmica e autoridade pra falar sobre Jesus e como podemos conhecer e confiar naquilo que os evangelhos nos dizem sobre ele. O leitor que se aventurar nessa breve leitura ficará fascinado com o quão surpreendente é a habilidade de Jesus em contar histórias.
![]() | Pedro Vercelino é Bacharel em Teologia com ênfase em educação cristã pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida, pós graduado em aconselhamento Bíblico pela mesma escola, pós-graduado em Teologia Bíblica e Interpretação pela Faculdade Batista do Paraná e mestrando em Novo Testamento (ThM) pelo Centro de Pós-graduação Andrew Jumper da Universidade Presbiteriana Mackenzie E-mail: prof.pedrovercelino@gmail.com |
---|
![]() | Em A surpreendente genialidade de Jesus, Peter Williams examina a história dos dois filhos em Lucas 15, a fim de mostrar a genialidade, criatividade e sabedoria dos ensinamentos de Jesus. Com histórias simples, ainda assim contundentes, Jesus confronta os fariseus e escribas de sua época, aproveitando seu conhecimento das Escrituras judaicas para ensinar seu público, por meio de camadas e temas complexos. Williams desafia os que duvidam que Jesus realmente seja a fonte das parábolas registradas nos Evangelhos, indicando aos leitores a verdade de Jesus e por que isso é importante hoje. |
---|