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29/abr/2021Vivemos em uma época de conflito, divisão, suspeita e cinismo. Nós nos treinamos para presumir o pior dos outros. E o resultado dessa suposição inerente é que impedimos o progresso em questões importantes sobre justiça, filantropia e até mesmo missão cristã.
Portanto, acho que é hora de as pessoas, especialmente os cristãos, recapturarem o senso de admiração pela beleza da humanidade. Precisamos começar a nos concentrar na bondade das pessoas criadas à imagem de Deus.
Sim, as pessoas são pecadoras e quebrantadas. Somos imperfeitos e falhamos. Mas também estamos transbordando de potencial para generosidade, virtude e serviço altruísta. Somos contradições ambulantes.
Os cristãos muitas vezes têm sido reticentes em aceitar a ideia de que a humanidade possui bondade intrínseca, por causa de nossa dedicação à mensagem da graça do evangelho. Afinal, como as pessoas saberão que precisam da graça, a menos que digamos a elas de forma convincente o quanto são ruins?
No entanto, não acho que precisamos nos tornar teologicamente frouxos ou tolamente ingênuos a fim de cultivar uma mentalidade positiva sobre nossos semelhantes. E, na verdade, temos muito a ganhar.
Vejamos três razões convincentes para os cristãos começarem a se concentrar mais na bondade da humanidade.
1. É onde nossa história começa e termina.
Desde as primeiras páginas das Escrituras, somos informados a respeito da bondade da humanidade. Na verdade, essa é uma característica que nos define.
No relato da criação, Deus se refere a tudo o que ele cria como bom. E quando ele cria a humanidade, que é a pedra angular de seu trabalho criativo, ele se refere ao homem e à mulher como muito bons — criados à imagem de Deus para serem a joia da coroa de toda a criação.
Além do mais, quando olhamos para as páginas finais das Escrituras, vemos que a bondade da humanidade é completamente restaurada. Cada lágrima é enxugada. A injustiça e a violência deixam de existir. A humanidade é completamente restaurada no relacionamento com Deus à medida que, juntos, glorificamos a Jesus eternamente. O destino final da humanidade é experimentar a própria bondade para a qual fomos criados no início da história.
Ao olharmos para todas as páginas entre a visão original e a visão definitiva de Deus para a humanidade, aprendemos que se trata de um longo e tortuoso caminho até chegar lá. O pecado e a violência se tornaram uma parte indelével da experiência humana, assim como nossa desconexão de Deus. É somente na pessoa de Jesus que podemos encontrar redenção e restauração.
Contudo, a história da Bíblia não é centrada na maldade da humanidade. A história da Bíblia trata de como Deus nos criou como seres bons que deveriam viver em união eterna com ele. E embora tenhamos caído em um estado de rebelião e iniquidade, ele ainda nos amou o suficiente para enviar seu Filho para se tornar um de nós, morrer por nós e nos convidar para o poder de sua ressurreição. A história da Bíblia diz respeito a como Deus está provendo uma maneira de iniciarmos na bondade para a qual sempre fomos criados.
2. Torna nossa mensagem mais atraente para os descrentes.
Quando dizemos a um descrente que ele é um pecador miserável que precisa desesperadamente de um Salvador, isso é chocante. E embora seja verdade, não é a única coisa verdadeira a respeito deles.
Nos círculos evangélicos, estamos incrivelmente focados em uma doutrina conhecida como depravação total, que nos ensina que não há uma única parte de nosso ser que não tenha sido corrompida pelo pecado. Em Romanos 7.18, Paulo diz que: “Na minha carne, não habita bem algum”.
Durante a Reforma, a depravação total tornou-se uma ênfase para os teólogos. Na época, muitos cristãos pensavam que poderiam conquistar o caminho para o céu entregando esmolas e praticando boas obras. Portanto, a ideia de que não era possível conquistar o caminho para o céu era fundamental na mensagem do reformador. Nunca poderíamos ser bons o suficiente.
Mas, por mais necessário que fosse corrigir o erro da época, quando a depravação total se torna nossa concepção totalizante do que significa ser humano, perdemos muito da própria visão de Deus para a humanidade. E até mesmo os descrentes percebem isso.
Quando olhamos para os avanços da medicina, a busca pela justiça e o aprimoramento geral da sociedade, muitos desses esforços são liderados por pessoas que nem mesmo acreditam em Deus. Portanto, dificilmente se pode dizer que não há nada de bom na humanidade caída à parte de Jesus. Aspiramos a grande virtude.
O problema é que nunca conseguimos chegar lá. Nunca alcançamos totalmente os ideais que buscamos. E nunca conseguiríamos. Na segunda parte de Romanos 7.18, Paulo diz: “pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo”.
Mas em Jesus, não apenas nossos pecados podem ser perdoados, como também podemos começar a nos aproximar da verdade, da justiça e da virtude — com a esperança de que chegaremos lá pela graça de Deus e seu poder redentor.
Essa é uma história que os descrentes provavelmente acharão convincente, porque enxergam essa verdade em seus próprios corações.
3. Por causa de Jesus, todo o bom trabalho que fazemos nesta vida é eternamente significativo.
Em muitas partes da Igreja, temos a tendência de apresentar o evangelho como uma espécie de “carimbo manual para o céu”. Pensamos na salvação como algo para quando morrermos — uma espécie de seguro contra incêndio.
Enfatizamos também que este mundo não durará para sempre, que aqui não é o nosso lar e que estamos apenas de passagem. Já que a humanidade é totalmente depravada, este mundo nunca ficará melhor, e tudo será queimado na segunda vinda.
Como resultado, muitas vezes não vemos como Deus deseja trabalhar através de nós para trazer redenção em grande escala aqui e agora. Enquanto tivermos nossa fé em Jesus e nosso tempo diário devocional, estaremos preparados para o que está por vir.
Paulo, porém, apresenta uma perspectiva totalmente diferente quando olha para o futuro eterno. Em vez de nos voltarmos para dentro enquanto esperamos pelo que vem depois da morte, somos chamados a nos mobilizarmos.
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre atuantes na obra do Senhor, sabendo que nele o vosso trabalho não é inútil.” (1Coríntios 15.58)
Ao olharmos ao longo das gerações, vemos épocas em que as coisas melhoram. Depois pioram na próxima geração, e voltam a melhorar novamente. Às vezes, um aspecto da sociedade está dando um passo adiante em termos morais, enquanto outros aspectos estão dando dois passos para trás.
Mas a promessa de Deus é esta: se você faz parte da promoção do bem em sua própria geração, seus esforços nunca serão em vão. Mesmo que a geração que vem depois de você busque desfazer o que você fez, seu bom trabalho ecoou pela eternidade.
Você só precisa acreditar que Deus tem a capacidade de trabalhar por meio dos corações humanos aqui e agora.
Nós nos tornamos as histórias que contamos sobre nós mesmos.
Ninguém deve ser mais a favor do ser humano do que a Igreja. E embora costumemos dizer que intimidamos a humanidade por amor, nem sempre é assim que acontece. Talvez fosse mais eficaz, como disse Abraham Lincoln, apelar para “os melhores anjos de nossa natureza”.
Não estou dizendo que devemos negar ou minimizar a propensão da humanidade para o pecado e a maldade. Mas talvez pudéssemos ser um pouco menos cínicos. Talvez pudéssemos enxergar aquilo para o qual sempre fomos destinados a ser e atrair outros para essa visão. Não por nossos próprios esforços, mas pela graça que Jesus nos deu e o poder de redenção que ela nos concedeu.
Traduzido e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: 3 compelling reasons for Christians to focus more on the goodness of humanity. Her and Hymn.
Dale Chamberlain (M.Div. Talbot School of Theology) é pastor, podcaster e escreve com sua esposa Tamara no blog Her&Hymn. |
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