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18/jan/2018“Você acha que minha crença é loucura, certo?” Perguntei a um amigo judeu-ateu.
Sua namorada interveio gentilmente: “Não, ele não acha isso!”
“Sim, ele acha”, respondi. “Eu creio que toda a história da humanidade gira em torno de um judeu palestino do primeiro século que morreu na cruz e ressuscitou. Isso é loucura, certo?”. Meu amigo ateu concordou. “Mas o problema é”, eu respondi, “eu acho que você também acredita em coisas loucas”.
Quando nossos amigos ouvem as reivindicações de Jesus, eles se perguntam por que nós cremos em coisas tão fantásticas quando há uma visão perfeitamente racional e coerente de mundo disponível a nós. Mas, se olharmos para o fundamento secularista no qual, supostamente, todos estamos, perceberemos que ele é mais como um bloco de gelo flutuando para longe da terra.
E há rachaduras no gelo. Aqui estão seis.
1. Ausência de fundamento para a ciência e a existência
A crença em um Deus Criador pessoal pode parecer loucura, mas ela é o fundamento sobre o qual a ciência foi construída. O método científico foi desenvolvido por cristãos porque eles acreditavam em um Criador racional que controlava o universo de acordo com os princípios racionais. O professor de Princeton e filósofo mundialmente reconhecido, Hans Halvorson, sustenta que a ciência ainda está melhor sobre um fundamento teísta. A ciência pode explicar como o universo surgiu, mas o método científico de buscar causas naturais para fenômenos naturais não pode nos mostrar a primeira causa. O ateísmo luta para explicar porque afinal há um universo ou porque o universo segue leis racionais compreensíveis às mentes humanas. Se o sucesso da ciência nos aponta a algum lugar, argumenta Halvorson, é para o sobrenaturalismo teísta.
2. Ausência de fundamento para a igualdade humana
Meus amigos secularistas acreditam que o valor igualitário de todos os seres humanos é uma verdade autoevidente. No entanto, se abraçarmos a narrativa materialista de que os homens se resumem às suas partes físicas, por que devemos valorizá-los igualmente? Alguns tentam fundamentar a igualdade na ciência, fazendo referência a fontes evolucionárias para o altruísmo (um campo liderado pelo professor de Harvard, e católico, Martin Nowak). Mas a evolução nos dá muitas evidências na outra direção e, como observa o proeminente psicólogo ateu Steve Pinker, examinar como a moralidade humana surgiu é diferente do projeto moral de como os seres humanos devem viver.
Outros procuram estruturas éticas que transcendem a cultura, muitas vezes citando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mas a Declaração foi escrita por um comitê desproporcionalmente cristão, liderado por Eleanor Roosevelt – uma cristã apaixonada –, e é fortemente influenciada pelos valores judaico-cristãos. Na verdade, em 1983, o representante iraniano na ONU chamou-a de “uma compreensão secular da tradição judaico-cristã, que não poderia ser cumprida pelos muçulmanos”.
É claro que os filósofos secularistas podem e formulam sistemas éticos que defendem a igualdade humana. Podemos até mesmo observar florescimento da promoção da igualdade. Mas se o universo não é mais do que a ciência pode medir, nós não temos nenhum fundamento definitivo para o valor e igualdade humana. Por fim, somos apenas átomos.
3. Tensão entre valores seculares e diversidade religiosa
Meus amigos secularistas celebram a diversidade religiosa e defendem os direitos das minorias de praticarem sua fé. Isso parece bonito, mas o que acontece quando as crenças religiosas se chocam com os valores seculares? Se dissermos aos nossos amigos muçulmanos: “Nós defendemos seu direito de serem muçulmanos, desde que reconheçam a igualdade de papéis entre homens e mulheres, a legitimidade do casamento homossexual e a liberdade sexual para seus adolescentes”, nós realmente defendemos seu direito de praticarem sua fé?
Nicholas Kristoff desafiou seus pares no New York Times: “Nós [progressistas] queremos ser inclusivos com pessoas que não se parecem conosco – desde que elas pensem como nós”. Meus amigos imigrantes não ocidentais, vindos de uma variedade de procedências religiosas, muitas vezes lutam com a realidade de que a cosmovisão secular está sendo imposta a eles e seus filhos. Claro, isso não significa que a ética liberal secular não está certa e não deve ser imposta. Talvez ela esteja. Mas devemos reconhecer que elas são crenças predominantemente mantidas por brancos ocidentais e elas, muitas vezes, estão em tensão com as crenças de minorias raciais e religiosas.
4. Conflito entre verdade objetiva e relativismo religioso
Alguns dos meus amigos secularistas estão confortáveis em dizer que as crenças religiosas estão erradas. No entanto, a maioria evita isso e prefere pensar que todas as religiões são igualmente válidas: a abordagem do adesivo COEXIST. Mas, como as religiões fazem afirmações concorrentes sobre a verdade objetiva, não podemos dizer que todas elas são igualmente verdadeiras sem invalidar a própria verdade.
Se o racismo é errado, então as crenças religiosas que defendem o racismo estão erradas. Se a afirmação de que Jesus ressuscitou dos mortos é inverídica, então o princípio central da fé cristã é falso. Onde diferentes religiões fazem afirmações conflitantes sobre eventos históricos – como elas fazem – elas simplesmente não podem estar todas certas. Por mais difícil que possa ser provar o que aconteceu num passado distante, se abandonarmos o conceito de verdade histórica abandonamos a própria verdade e a realidade não revelada.
5. Falsa suposição do aumento do secularismo
Não vemos as rachaduras no gelo da cosmovisão secular porque esse parece ser o padrão normal. Os religiosos são tidos como do lado errado da história: conforme o mundo se torna mais moderno, mais instruído e mais científico, o humanismo se espalha e a religião diminui. Isso, porém, não aconteceu e não acontecerá num futuro próximo. De fato, o mundo está se tornando mais religioso.
Essa informação ainda não chegou à maioria dos departamentos universitários, mas ela tem sido propagada em alto e bom som pelos sociólogos da religião. Além disso, a ligação entre educação e secularismo é um mito. Os cristãos inventaram a universidade e, hoje, judeus e cristãos são os grupos mais instruídos do mundo, com a menor diferença em níveis educacionais entre homens e mulheres. Nos Estados Unidos, enquanto os americanos com formação universitária são menos propensos a dizer que acreditam em Deus com certeza absoluta, estes ainda perfazem 55 por cento da população graduada, e cristãos com formação universitária vão à igreja com mais frequência do que os cristãos com menor formação. A ideia de que o ateísmo é o padrão normal entre pessoas instruídas é simplesmente insustentável.
6. Falsa suposição de que menos religião é bom para sociedade
Os neoateus argumentam que o mundo seria melhor sem religião, mas você precisa ser altamente seletivo com seus exemplos para tornar essa afirmação persuasiva. Você também tem que ignorar os dados indicando que, ao menos nos Estados Unidos, pessoas que participam da comunidade religiosa são mais felizes, saudáveis e vivem mais do que aqueles que não o fazem.
Em nosso presente momento, o ateísmo não é avaliado com o mesmo critério que qualquer determinada religião. As pessoas dizem: “Eu não posso ser cristão por causa das cruzadas”. Mas elas não dizem: “Eu não posso ser ateu por causa da Coreia do Norte”. É claro que meus amigos secularistas vão protestar que a Coreia do Norte, China e Rússia Stalinista não representam seu tipo de ateísmo. Amém por isso. Mas nem os horrores das Cruzadas ou a Inquisição representam meu tipo de Cristianismo.
Com certeza, as crenças religiosas podem motivar ações horríveis. O chamado Estado Islâmico nos deu exemplos diários desse horror. Mas o ateísmo não está diretamente ligado à virtude, mesmo fora dos regimes totalitários. Como o psicólogo ateu Jonathan Haidt observa: “Os ateus podem ter muitas virtudes, mas, ao menos numa das controversas e mais objetivas medidas do comportamento moral – doar tempo, dinheiro e sangue para ajudar estranhos em necessidade –, os religiosos parecem ser moralmente superiores aos secularistas”.
Não me interprete mal. Nós, cristãos, também não somos pessoas boas. Somos um monte de hipócritas imorais que se agarra à preciosa vida do belo Salvador. Mas algo nesse agarrar parece ajudar.
Então, pessoas religiosas acreditam em coisas loucas? Certamente. E, para registro, meu amigo judeu-ateu é muito mais esperto do que eu. Mas isso é loucura não importa como você olhe – e pode ser que pessoas que acreditam em coisas loucas como a ressurreição estejam contraintuitivamente em terreno sólido.
O falecido Dallas Willard escreveu certa vez:
Uma vez que ganho a vida como professor universitário e filósofo, eu frequentemente me questiono com essas palavras: “Por que você segue Jesus Cristo?”, minha resposta é sempre a mesma: “Quem mais você tem em mente?”.
Traduzido por Tiago Alexandre da Silva e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: 6 Cracks in a Secular Worldview. The Gospel Coalition. Publicado com permissão.
Rebecca McLaughlin é PhD pela Cambridge University e graduada pelo Oak Hill Seminary em Londres. É articulista no The Gospel Coalition e é autora do livro "Confronting Christianity". Visite seu site: rebeccamclaughlin.org |
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