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14/maio/2019Na manhã de 19 de janeiro de 1999, minha família acordou como de costume na pequena cidade de Dolisie (República do Congo). Todos estavam se preparando para ir e fazer o que normalmente fazíamos: crianças se preparando para a escola e adultos para o trabalho. De repente, ouvimos tiros e bombardeios. Todos tentaram encontrar abrigo entre os gritos das crianças, choros de mulheres e confusão. Depois de dois dias tentando se esconder em nossa casa porque não sabíamos onde ir com um pai deficiente, a fome nos expulsou. Assim começou nossa longa jornada como refugiados.
Durante 18 meses, dormimos em chão de terra, em escolas abandonadas, igrejas e hospitais onde estávamos à mercê dos mosquitos da malária. Nossa refeição que comíamos uma vez por dia vinha algumas vezes da gentileza dos aldeões que nos convidavam para plantar, mas principalmente do que podíamos encontrar na floresta. Comemos samambaias que crescem à beira do rio e bebemos água de rios onde animais mortos e cadáveres eram descartados e onde as pessoas limpavam os excrementos das crianças. Nós não tínhamos banheiros ou papel higiênico. Ficamos doentes com desnutrição, malária, febre tifoide e hemorroidas.
Nosso mundo está cheio de notícias sobre violência racista e étnica, guerra e pessoas tendo que deixar suas casas rumo ao desconhecido. A seguir, veremos sete fatos sobre refugiados que podem nos ajudar a compreendê-los melhor.
1) Os refugiados são seres humanos, com todas as suas dores, alegrias, tristezas, idiossincrasias, etc.
Às vezes pensamos nos refugiados como uma imagem borrada de pessoas na TV, como estatísticas ou um nome de país distante. Mas, na verdade, são pessoas com nomes e rostos reais, experimentando as mesmas coisas que experimentamos. Muitas são pessoas que estudaram e obtiveram diplomas e trabalharam em algum lugar. Elas são cônjuges, pais e filhos, bem como membros de famílias, igrejas e outras comunidades. São humanos – pessoas como você e eu.
20 de junho é o Dia Mundial dos Refugiados. Este evento traz consciência para o fato de que milhares de pessoas são refugiados ou refugiados deslocados internamente que vivem em países estrangeiros por causa de circunstâncias fora de seu controle.
2) Os refugiados são despojados de todas as necessidades básicas: alimentos, medicamentos, suprimentos higiênicos; coisas que muitas vezes não damos o devido valor.
Depois de ter sido privada de uma boa refeição durante meses, achei difícil acreditar que as pessoas pudessem jogar comida fora e que eu costumava fazer isso. Agora sou muito grata pelo que tenho. Enquanto nosso mundo aqui é estável e pacífico, os mundos dos refugiados estão repletos de caos e de confusão. O sofrimento é uma ocorrência cotidiana.
3) Os refugiados vivem em constante medo.
Eles enfrentam o medo da morte, medo de não ter nada para alimentar suas famílias, medo de ter seus entes queridos arrancados deles pela morte ou pela confusão. Ansiedade e cansaço são seus companheiros constantes. Eles experimentam desespero e desesperança o tempo todo. Eles enfrentam todos os tipos de perigos, desde ser baleado até ser estuprado ou molestado.
4) Refugiados são pessoas que têm que deixar para trás sua amada casa e às vezes seu país por razões de segurança.
Ser refugiado significa não ter um lugar estável para viver e chamar de lar; você está sempre em movimento e não pode experimentar o sentimento de pertencimento. Um sentimento de pertencimento é uma das necessidades mais básicas de todos os seres humanos. Ser arrancado da comunidade e dos grupos sociais e ter que recomeçar traz confusão, medo, insegurança e uma sensação de grande perda.
5) Refugiados são pessoas em transição cujo objetivo é tentar reconstruir suas vidas.
Eles são consumidos por questões que surgem na terra estrangeira: nova cultura, novos alimentos, aprender uma nova língua, garantir que suas famílias sejam cuidadas.
Eles também pensam nas aldeias ancestrais distantes enquanto esperam que a guerra termine e que conflitos políticos, étnicos e raciais sejam resolvidos. Essa espera pode ser por muito tempo, então eles vivem em um país ou região com o desejo de voltar para onde vieram, não sendo capazes de colocar raízes fortes em sua nova casa.
6) Os refugiados não têm voz.
Quando eu era uma refugiada, desejei que houvesse, por algum milagre, uma maneira de deixar as pessoas saberem o que estava acontecendo no Congo, como inocentes estavam sofrendo e morrendo por algo que eles nem sequer iniciaram. Uma vez que eu não podia expressar o que estava acontecendo dentro do mundo, eu me voltei para Deus com tudo que eu tinha. Orei por tudo – e não eram orações casuais, mas sim “orações de parto”.
Às vezes eu não conseguia colocar minhas orações em palavras. Eu apenas gemia e chorava. A Bíblia diz que Deus recebe nossas lágrimas (como orações). Como os refugiados não têm voz, Deus está chamando seu povo para ser uma voz aos refugiados, para falar contra a injustiça e toda sorte de violência. E Ele está esperando que digamos sim!
7) Deus não é um estranho entre os refugiados.
De fato, o povo de Deus há muito tempo é refugiado. Em sua Palavra, Deus mostrou que está preocupado com o sofrimento dos refugiados. Ele se preocupa com eles. Ele deu leis ao seu povo para receber e cuidar dos refugiados.
Durante meu tempo como refugiada, vi Deus se mover em nossas vidas. Sua paz e alegria, apesar das circunstâncias, eram reais. Eu também testemunhei a provisão milagrosa e cura de Deus. Meu testemunho está em nosso livro, Amor Impossível: Uma história real de amor repleta de milagres e esperança durante uma guerra civil africana. Craig e eu também fizemos uma entrevista em vídeo com o Seedbed (veja o vídeo aqui).
Ser uma refugiada me ajudou a descobrir quem eu sou: uma pecadora perdoada pela graça.
A guerra me ajudou a enxergar quem é o meu próximo e como eu deveria tratá-lo. As pessoas que eu amaldiçoei dentro de mim e aquelas pelas quais orei para que morressem mereciam a mesma graça que me foi dada.
A guerra também me ensinou quem Deus realmente é para mim: meu Pai e minha rocha! Quando andamos pelo vale escuro, descobrimos tesouros preciosos que não descobriremos de outra forma.
À medida que entramos no mês de junho e nos preparamos para celebrar o Dia Mundial do Refugiado, oro para que estejamos abertos e conscientes de maneiras pelas quais podemos ajudar os refugiados em nossas comunidades – nosso próximo.
Traduzido e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: 7 Things Christians Should Know about Refugees. Seedbed.
Médine Moussounga Keener é PhD pela Universidade de Paris e coordenadora dos Ministérios de Formação do Seminário Teológico Asbury. É autora do livro "Loved: women who found hope and healing in Jesus" e, com o marido, trabalha pela reconciliação étnica entre os Estados Unidos e a África. |
Foi durante um encontro de um ministério no campus da Universidade Duke, nos Estados Unidos, que Craig Keener, renomado acadêmico americano, conheceu Médine, uma estudante africana de um programa de PhD. Após Médine retornar a seu país, Craig percebeu seu amor por ela e começou a empreender a jornada árdua — e muitas vezes sobrenatural — para vê-la novamente. Árdua porque foi nesse momento que a guerra civil estourou no Congo, e Médine teve de enfrentar terror, doenças e dificuldades devastadoras como refugiada. Sobrenatural porque, mesmo separados por continentes, culturas diferentes e os estragos da guerra, Craig e Médine nunca deixaram de acreditar que a fé, a esperança e o amor podem superar até os obstáculos mais avassaladores. A cada página dessa história sobre uma amizade que se transformou em romance, vemos, na verdade, o grande e soberano amor de Deus por cada um de nós. Publicado por Vida Nova. |