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Muitos de nós recebemos com alegria o renascimento da pregação centrada em Cristo que as igrejas na América do Norte têm experimentado nas últimas décadas. Para alguns ela tem sido uma prática antiga de saturar seus ministérios com a pessoa e obra do Salvador, já para outros ela é algo relativamente novo na busca sincera de proclamar seu Salvador de uma forma mais penetrante em suas pregações. Louvado seja Deus! Se Cristo está sendo proclamado, então a Igreja está no caminho certo.

No entanto, existe uma linha tênue entre ser cristocêntrico (pregar as Escrituras de forma que elas estejam centradas em Cristo) e ser cristomônico (pregar o Cristo das Escrituras excluindo o Pai e o Espírito). Cristomonismo é o ato de focalizar apenas na obra salvífica de Cristo na nossa leitura e pregação das Escrituras, como se cada passagem da Bíblia nos levasse apenas aos pés da cruz. Nosso próprio Senhor nos apontou repetidamente dois outros objetos nas Escrituras, a saber, Deus o Pai e Deus o Espírito Santo. Ao longo dos relatos dos Evangelhos, ele repetidamente afirmou que tinha vindo para fazer a vontade de seu Pai. Além disso, em sua ascensão, Cristo prometeu enviar outro Consolador – o Espírito Santo, para ser o agente divino que acompanharia e agiria em sua Igreja. Devemos seguir o exemplo de nosso Senhor ao pregar tanto a obra quanto caráter do Pai e do Espírito.

A princípio é muito mais fácil para alguns de nós, a despeito do que poderíamos imaginar, aderirmos sutilmente um cristomonismo. Quando a Lei é pregada em nossas igrejas (conforme ela deve ser pregada) e a única aplicação é “você não pode guardá-la, mas Jesus pôde”, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. Se você quase exclusivamente ouve que, como cristão, suas obras não são aceitáveis a Deus e elas não o agradam, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. Se você escuta pouco ou nada do amor do Pai ao salvar os pecadores, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. Se você raramente ouve uma aplicação na pregação, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. É muito fácil cair no cristomonismo. Quanto a isso você pode objetar: “O que há de errado com essas mensagens?”. A resposta simples é que elas não estão retratando fielmente todo o conselho de Deus ou, em outras palavras, elas não resumem a totalidade da mensagem de “Jesus Cristo e ele crucificado”.

Considere por um momento o ensino bíblico sobre o “amor do Pai”. A passagem mais conhecida nas Escrituras é frequentemente um dos mais claros exemplos de um abuso cristomônico. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). O tema principal desta passagem é o Pai. Tudo o que existe na passagem expõem e qualifica a magnitude do amor do Pai pelos pecadores. Pregar este texto com a ênfase exclusiva em “o que nele crê (ou seja, o Filho) não perecerá” (como uma verdade essencial que está no texto) é interpretá-lo mal devido à ausência da motivação do Pai de enviar o Filho ao mundo.

Além disso, podemos considerar a santidade e justiça de Deus. Veja os vários textos na Lei que falam sobre respectivos pecados e seus sacrifícios correspondentes. Ir rapidamente do texto da Antiga Aliança para o cumprimento final em Cristo (sendo sacrifício pelo pecado), sem lidar com a natureza do pecado a que se está referindo, a santidade de Deus (Habacuque 1:13) e Sua justiça que requer julgamento pelo pecado, passar por essas verdades no texto da Antiga Aliança não aumentará nossa apreciação pela pessoa e obra de Cristo, em vez disso, a diminuirá. Sem uma exposição completa e bíblica do pecado, da santidade e justiça de Deus, a obra de Cristo se torna menos salvífica e mais como um band-aid.

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Por fim, com que propósito nosso Senhor prometeu dar o Espírito? Resumidamente, para o convencimento do pecado e para nos levar a um profundo reconhecimento do Salvador. Quando ouvimos a Lei ser pregada, nossa primeira reação deve ser recorrer ao Espírito em oração, ou seja, a fim de sermos convencidos do pecado e recorrermos a Cristo em busca de perdão. Então, devemos amadurecer mais no conhecimento de Cristo, dessa forma aprendendo a render obediência amorosa e voluntária a Deus. Se simplesmente saltarmos para “Jesus fez tudo isso por mim” e pararmos aí, estaremos descartando a obra do Pai e do Espírito na santificação e perseverança. Por exemplo, se lermos o imperativo de Filipenses 2:12 “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” e saltarmos diretamente para a obra de Jesus na cruz, perdoando os pecados, perderemos o restante do ensino de Paulo: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. O desafio do imperativo é encontrado na obra do Deus Triúno – Pai, Filho e Espírito Santo, operando em e através do crente na santificação. Simplesmente afirmar “não posso desenvolver minha salvação, Jesus fez isso por mim” é esvaziar o imperativo de 2:12, que é um chamado à fé e obediência resoluta. Isso nega a contínua obra de Deus no crente.

Meu grande temor nisso tudo é que diante da tendência atual na pregação, que busca ser fielmente cristocêntrica, muitos acabarão se tornando cristomônicos. O grande e eterno amor do Pai pelos pecadores será diminuído e a contínua obra do Espírito em nós será perdida. Por duas vezes nos últimos cinco anos de ministério eu fui confrontado com essa atitude: “Eu não quero que me digam o que devo fazer, quero que me digam o que Jesus fez por mim”. Isso é cristomonismo, não cristocentrismo. Afinal, foi Jesus quem disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). A grande obra de redenção inclui o Pai e o Espírito operando conjuntamente com Ele para concluir essa realidade em nossas vidas.

Traduzido por Tiago Silva e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original: Christocentric or Christomonic? Place for Truth.

Matthew Holst é pastor sênior na Shiloh Presbyterian Church – Carolina do Norte, e graduado pela Greenville Presbyterian Theological Seminary. Ele é casado com Stacy e juntos têm quatro filhos.

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