13 Reasons Why e a esperança que só o Evangelho traz | Thiago Oliveira

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13 Reasons Why (ou Os 13 Porquês) é a série mais comentada do momento. Produzida pela Netflix, foi baseada num livro homônimo, lançado 10 anos antes, cujo autor – Jay Asher – chega a participar da adaptação. Mas por que todo esse rebuliço com uma série que, à primeira vista, parece ser mais um produto para adolescentes – mostrando aquela realidade das escolas norte-americanas, com seus atletas, nerds, líderes de torcida e todo o resto? O sucesso se dá por conta de sua temática nada convencional: suicídio.

A série é pretensiosa, pois lançar um produto do entretenimento para falar dos temas que trata é algo que requer certa dose de coragem. Todavia, em muitos momentos acredito que os temas foram tratados de uma forma bem superficial. Como ponto positivo, considero o bullying bem retratado, e se este fosse o mote da produção, seria uma excelente ferramenta para conscientizar os adolescentes e jovens de que praticá-lo é tão sério que pode levar pessoas a tomar medidas drásticas e irreversíveis. Mas há uma ressalva que gostaria de destacar. E a partir daqui haverá spoiler.

O tema suicídio é algo tão delicado, que para abordá-lo, há vários cuidados que devem ser tomados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) até publicou um manual para que produções artísticas sigam determinados parâmetros ao trabalharem com enredos que tenham suicídio. Mas a premissa da série já quebra uma regra importante. Hannah Baker, ao tirar a sua vida, grava em fitas cassetes os 13 motivos que a levaram a se matar. Cada motivo é apresentado em um episódio, o que gera 13 episódios ouvindo a voz de uma garota morta, dando detalhes sobre situações desagradáveis que a levaram a pensar que não tinha outra alternativa além de se matar. Segundo o manual da OMS, publicar cartas de pessoas suicidas e repercutir essas cartas (no caso da série temos áudios), pode levar outras pessoas que estão pensando em se matar a fazerem algo parecido ao perceberem que suas vozes serão ouvidas, mesmo que post-mortem. Outra regra básica descumprida pelo produto da Netflix é mostrar a personagem cortando os pulsos numa banheira, sangrando até morrer (no livro a protagonista toma remédios). Publicitar o suicídio não é recomendado, principalmente por conta do fenômeno dos suicídios em grupo praticados por adolescentes. No documento que serve para prevenir a prática, a OMS diz que: “Uma tentativa de suicídio ou um suicídio consumado, se forem publicitados, podem levar a comportamentos de autodestruição em grupos de colegas ou em outras comunidades semelhantes que imitem o estilo de vida ou os atributos de personalidade do indivíduo suicida”.

Mesmo sendo uma obra ficcional, a cena detalhada e realista, a ponto de perturbar o telespectador, da morte de Hannah, pode ativar gatilhos nos jovens que pensam (ou pensaram ou tentaram) em se suicidar. Devido a isso, alguns psiquiatras e psicólogos chegaram a emitir um alerta para que pessoas com tendências suicidas não assistam à série. De fato, ao terminar de ver os 13 episódios, notei que a saída não é muito bem trabalhada. 13 Reasons Why te deixa com uma sensação de que não há esperança, a vida de Hannah não vai voltar e as pessoas que conviveram com ela, incluindo aqui os pais, vão lidar com este fato para o resto de suas vidas, sendo atormentados pela tragédia. E a ideia de gravar as fitas, culpabilizando, de certa maneira, outras pessoas por decidir se matar, potencializa o tormento dos que ficaram. Até mesmo Clay, co-protagonista, ouvinte das fitas que dão o desenrolar do enredo, acaba sentindo-se assassino da Hannah, quando fica nítido que ele não tinha dimensão do que se passava, pois a própria Hannah não compartilhava com ele as suas angústias. Culpar outras pessoas pelo suicídio de alguém não é uma abordagem adequada, pois, embora nossas atitudes causem influência nos outros, no fim das contas, tirar a própria vida é uma decisão pessoal, geralmente cometida por alguém que tem algum tipo de transtorno psicológico, tal como a depressão. Exemplifico: Uma garota termina o namoro e na outra semana o namorado se mata por não saber lidar com o término do relacionamento. Será que é justo a namorada conviver com a culpa e ficar se maldizendo com frases do tipo: “se eu não tivesse acabado o namoro, ele ainda estaria aqui”? Seria justo alguém, talvez os pais do garoto morto, acusarem-na por ter tirado a vida do seu querido filho? Hannah Baker faz com que o Clay, um típico cara legal, que também sofria bullying e era apaixonado por ela, quase se jogue de um penhasco de tanta culpa que sente ao ouvir seu nome em uma das fitas. Clay não faz isso, mas outro rapaz, o Alex, faz e dá um tiro na própria cabeça. Hannah parece querer vingança, e se ela tinha algum tipo de transtorno, o roteiro não nos da segurança para dizer que sim e nem que não. Todavia, como ficamos sabendo que ela sofreu abuso sexual, podemos deduzir que isso gerou um trauma que afetou o seu psicológico.

Como frisei anteriormente, a série, que segundo os produtores tem a nobre intenção de fazer pessoas superarem o suicídio, não trabalha com aquilo que a OMS classifique como apropriado para o aconselhamento. Vejamos:

O aconselhamento é apropriado para todas as crianças e adolescentes com comportamentos suicidas e deve focar-se no tratamento cognitivo comportamental, com ênfase na capacidade para enfrentar problemas. Os objetivos do aconselhamento eficaz podem incluir uma melhor compreensão de si mesmo, identificar sentimentos conflituosos, melhorar a autoestima, mudar comportamentos desadaptativos, aprender a resolver conflitos, e a interagir mais eficazmente com os colegas”.

Fato é que se 13 Reasons Why serve para debatermos muitas questões, mesmo com a ressalva, não chego ao ponto de desestimular que a assistam. Seria bom que muitos pais de adolescentes, professores e também pastores tomassem conhecimento do conteúdo da série. A adolescência tende a ser um período difícil, pois é uma etapa de transição, e as pressões da vida adulta – que está por vir – muitas vezes são encaradas de modo disfuncional, principalmente em lares onde o adolescente não tem um bom relacionamento com seus pais. Como pastor, tendo sido pai recentemente (minha filha está completando 20 dias de nascida), acredito que melhorar o ambiente familiar e fortalecer os laços parentais seja um ótimo fator preventivo. E para isso, nada melhor do que ter na base familiar a Palavra de Deus. Sem os valores da Escritura presentes na vida diária familiar a sociedade sofre por inteiro e os mais jovens são os mais vulneráveis. Em 13 Reasons Why vemos que não existe o elemento religioso na vida daqueles jovens, que vivem um tipo de “hedonismo escapista”, e mesmo naquele contexto de festas, sexo livre e drogatização, suas vidas são vazias, em maior e menor grau, todos estão fadados à desesperança. E quando não há esperança, o niilismo predomina e causa estragos.

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Para os que vivem em famílias disfuncionais, sentem-se vazios, e que pensam em suicídio com determinada frequência, percebendo-se sozinhos ou fracassados, digo que dar cabo de suas vidas não evitará o sofrimento. Há vida após a morte. E se não tivermos um encontro com Jesus aqui, o sofrimento ainda será realidade para além do túmulo. O suicídio não é solução, e por ser um pecado – pois viola o sexto mandamento – não tem poder de resolver nada. Ele apenas piora as coisas. Sei que alguns vão torcer o nariz para este parágrafo, pois não querem ver o suicídio como algo pecaminoso. Todavia, é um ato moral, que demanda estar consciente do que se faz, e tirar a própria vida não é de nossa competência. A vida é dom de Deus. Ele doa, Ele tira. Esta prerrogativa não é nossa, mas é exclusivamente divina. Por ser pecado, o suicídio desagrada ao Criador, logo, não vai ser desta maneira que você encontrará descanso. Não faço tal exortação sem amor. É com misericórdia que exponho este pecado, sabendo que nem eu mesmo estou livre de ser tentado para tal coisa, pelo menos não enquanto habitar neste mundo decaído.

No entanto, o Evangelho é mensagem de esperança, e Cristo nos oferece vida abundante (João 10.10). Ele ofereceu a própria vida, logo, não precisamos oferecer as nossas, pois o Seu sacrifício foi suficiente para nos redimir. Sei que redenção é o que muitos procuram, mas não há outra forma de se obter se não for através da fé em Jesus. Hannah Baker tentou se redimir através das amizades, do romance e até da poesia, mas todos os “messias” que ela buscou não foram capazes de salvá-la. Devemos depositar n’Ele a nossa esperança e, mesmo que esses dias sejam perversos, há um lugar reservado a todo aquele que crê, onde não haverá nem dor nem choro, nem morte e nem lamento. Ele mesmo enxugará dos nossos olhos toda lágrima (Ap 21.4). Não quero diminuir a tua dor, não quero te pedir para deixar de falar com especialistas, muito menos sou capaz de vivenciar os teus dilemas, mas eu sei que Cristo é a solução para todos eles. Leia um dos evangelhos. Pode ser o de Mateus. Tire algumas noites para ler e descubra muito mais que 13 razões para confiar e entregar a tua vida para o único que é capaz de fazer novas todas as coisas. Se teus ombros estão cansados, ouça o convite do Senhor que diz: “Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar suas pesadas cargas, e Eu vos darei descanso” (Mateus 11.28). Em Cristo temos infinitas razões para celebrarmos a vida.

E aos pais que perderam algum filho em situação semelhante, não sou capaz de mensurar o tamanho da dor que vocês sentem, mas tenho noção de que o Pai sabe o que é ver seu Filho sangrar até morrer. Deus não está alheio às nossas dores. Cristo, que é divino, ao adquirir natureza humana, sentiu dor e sabe muito bem o que é ser por ela abatido. Ele é capaz de consolar. O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios disse:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.” (2 Coríntios 1:3-4).

Creiam! Que Cristo em vós seja a esperança da glória!

Aos leitores desse texto, convoco para que oremos pelas pessoas com tendências suicidas. Oremos também pelos familiares e amigos que ficam. Oremos para que a igreja esteja preparada biblicamente para lidar com este delicado tema e com os dramas vivenciados pelas Hannahs da vida real.

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Thiago Oliveira é graduado em História e especialista em Ciência Política, ambos pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso). Mestrando em Estudos Teológicos pelo Mints-Recife. Casado com Samanta e pai de Valentina, atualmente pastoreia a Igreja Evangélica Livre em Itapuama/PE.

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