O mesmo Cristo que nos alimenta nos guarda | Elyse Fitzpatrick

O coração pastoral de Paulo: Uma análise de Cl 1.28-29 | Wanderson Logiudice
25/nov/2024
O coração pastoral de Paulo: Uma análise de Cl 1.28-29 | Wanderson Logiudice
25/nov/2024

Foto de Debby Hudson na Unsplash

Jesus realizou nossa união primeiramente com seu corpo físico, que é o verdadeiro pão que desceu do céu. Esse é o pão que devemos comer, o pão que dá vida ao mundo (Jo 6.33). Ele também derramou seu sangue, a verdadeira bebida que tomamos, derramada e transfundida para o nosso corpo, sem a qual não temos vida. Sua definição de nossa unidade com ele deveria nos deixar de queixo caído: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. […] Quem de mim se alimenta também viverá por minha causa. […] Quem comer este pão viverá para sempre”. Um mistério profundo? Sim. Diante desse mistério, até seus discípulos disseram: “Essa palavra é dura”. Nossa única esperança de compreensão é que “o Espírito é o que dá vida” (v. 56-63). Nosso raciocínio natural não ajuda em nada. Mais uma vez, oremos com humildade para que o Senhor ilumine nossa mente em relação a essas coisas.

Neste exato momento, Jesus está nos alimentando e cuidando de nós, pelo Espírito, por meio de suas graças para a igreja — a palavra do evangelho, a Palavra pregada e os sacramentos. Como um marido fiel, ele jamais descuidou de seu dever de prover tudo quanto sua noiva precisa para ser a mulher gloriosa que ele deseja.

Além disso, no cumprimento de seu papel de Segundo Adão, Jesus deixou seu pai e sua mãe para se unir a sua esposa. Deixou seu Pai quando deixou o trono do Pai no céu e deixou sua mãe quando, na cruz, ele a entregou aos cuidados de João (Jo 19.26). Deixando o Pai e a mãe, ele se uniu a sua esposa quando, pelo sangue e pela água vertidos de seu coração, a igreja nasceu e lhe foi dada para que o Deus-homem e sua esposa se tornassem um. Desde esse momento ele “se apegou” a ela e jamais a abandonará. E como poderia? Somos um!

Repetindo, Jesus é o segundo Adão e nós somos sua noiva, osso de seus ossos e carne de sua carne. Somos agora “uma só carne” com ele, não só por causa da encarnação (ele ter assumido nossa carne), mas também porque estamos casados com ele. Somos um com ele, assim como marido e mulher são um. Essa unidade não é uma união física, mas, sim, espiritual, uma relação de aliança em que ele se uniu a nós em união indissolúvel eterna. Estamos unidos ao Senhor e nos tornamos “um espírito com ele” (1Co 6.17).

O relacionamento de aliança que temos com nosso marido celestial não pode jamais ser rompido, pois isso seria o mesmo que separar seu corpo humano de sua natureza de Verbo. Ele fez votos de aliança e entrou em uma relação vinculativa conosco. Cristo proferiu esses votos quando prometeu que nos desposaria e que o conheceríamos intimamente. Em essência, em seu momento mais sombrio no Getsêmani, quando, pela força de seu amor e no poder do Espírito, disse: “Seja feita a tua vontade”, ele estava olhando para nós e dizendo: “Sim, eu aceito”. E junto com esse voto ele também nos deu fé para responder: “Sim, eu aceito” ao pedido dele. Os votos de casamento foram feitos. Estamos unidos com ele para sempre. Paulo chega a dizer que nos unimos “àquele que ressuscitou dentre os mortos”. Nossa união com ele, embora não seja física, é real, pois resulta até na geração de filhos, “a fim de produzirmos fruto para Deus” (Rm 7.4). Somos “jurídica e organicamente um” com ele pelo casamento, agora mesmo.[1]

O Senhor Jesus se propôs ter uma noiva, e ele escolheu você individualmente para fazer parte da igreja de modo coletivo. Ele comprou sua noiva e a tomou para si pagando um altíssimo preço. O Senhor Jesus e sua noiva, a igreja, foram unidos pelo próprio Deus, de maneira que já não somos dois, mas um. Ninguém, principalmente o homem fiel, Cristo Jesus, jamais nos separará. Ele nunca nos deixará nem nos abandonará (Hb 13.5). Nada pode nos separar do amor que Deus tem por nós (Rm 8.38,39). Ele nunca vai se divorciar de nós por ter descoberto alguma coisa “vergonhosa” em nós (Dt 24.1). Afinal, ele tinha conhecimento de todas as nossas indecências antes de se comprometer a se casar conosco. Além do mais, por causa de sua obra, ele nos embelezou de tal modo que toda a nossa degradação desapareceu. Jesus nunca nos tratará “traiçoeiramente”, trocando-nos por alguém mais jovem, como os maridos de Israel fizeram (Ml 2.14, NASB). Agora somos a esposa que Cristo tem como troféu.

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Quando João teve sua visão do céu, vislumbrou uma festa de casamento vindoura e o Cordeiro com sua noiva já preparada (Ap 19.7). João viu essa celebração como se ela já tivesse ocorrido no tempo. Lembre-se de que no Oriente Médio antigo uma promessa de matrimônio, ou noivado, era tão importante quanto a própria cerimônia de casamento — e foi por isso que José a princípio pensou em se “divorciar” ou “deixar” Maria por sua suposta infidelidade, embora eles ainda não fossem casados. Nós também estamos comprometidos com Cristo, e a mudança criada por esse noivado em nosso estado civil é tão séria quanto se já tivesse ocorrido o casamento propriamente dito. Esse é o grau de certeza que podemos ter do compromisso de Cristo conosco. Aos olhos de Deus, nosso casamento já aconteceu.


Notas

[1] A. H. Strong, Systematic theology (Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1907), p. 795-6 [edição em português: Teologia sistemática: a doutrina de Deus, tradução de Augusto Victorino (São Paulo: Hagnos, 2003)].

 

Trecho extraído e adaptado da obra “Encontrados nele: a alegria da encarnação e de nossa união com Cristo”, de Elyse Fitzpatrick, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2018, p. 182-185.  Publicado no site Cruciforme com permissão.

 

Elyse Fitzpatrick (MA em aconselhamento bíblico,Trinity Theological Seminary) trabalha como conselheira no Instituto de Aconselhamento Bíblico e Discipulado (anteriormente CCEF West) e frequentemente dá palestras em retiros e conferências. É autora de Ídolos do coração, Aconselhamento a partir da cruz, Encontrados nele e Por que ele me ama (Vida Nova), além de vários artigos em periódicos sobre o tema dos distúrbios alimentares. Elyse e o marido, Philip, têm três filhos e dois netos.
Não há ninguém que nunca tenha experimentado solidão ou isolamento. Isso acontece porque, quando fomos expulsos do Éden, perdemos mais do que simplesmente um belo lar. Perdemos o relacionamento com Deus e com as pessoas.

Mas Deus fez o impensável: o Filho de Deus tornou-se o homem Cristo Jesus — um de nós —, para que pudéssemos ser unidos a ele.

"Encontrados nele", de Elyse Fitzpatrick, explora a maravilha da encarnação e a glória da nossa união com Cristo, oferecendo, por meio do poder do evangelho, um caminho seguro para a suprema aceitação e segurança nos nossos relacionamentos.

 

 

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