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20/jun/2014Expedição em busca da verdade – Parte 3
Esta é uma série intitulada “Expedição em busca da Verdade”, que tem por objetivo fornecer uma perspectiva racional e filosófica a respeito da existência de Deus e da veracidade do Cristianismo. Clique aqui para conferir todos os textos da série.
Eu tinha medo de desafiar minha fé. Se você tem fé em algo e se recusa a escutar objeções ao que você crê, isso é um sinal de fé ou de falta de fé? Isso me incomodava muito. Incomodava-me por não ser racional. Suponha que eu creia que ao sentar-me em uma cadeira ela será forte o suficiente para aguentar meu peso. Se alguém crê que ela irá quebrar e quer me explicar o porquê, eu deveria temer? Se estou confiante de que ela não irá quebrar, eu não deveria temer. Eu talvez até goste de ouvir a objeção para fazer com que a pessoa que a está suscitando se torne mais confiante na cadeira. E mesmo que eu me baseie na possibilidade de estar errado, não seria inteligente saber que eu estava errado? Não importa como, a coisa racional a ser feita era entrar nesta expedição em busca da verdade mesmo estando convencido do que eu cria. Eu não tinha nada a perder e tudo a ganhar. Era a coisa racional a ser feita.
No entanto, o que é fé? Se esta requer muita evidência, cessaria de ser fé? Mas se não requer evidência, então eu teria somente fé na fé. O problema desta abordagem é que se nenhuma evidência é exigida, então não haveria nenhum sistema de balanços. E se uma pessoa acreditasse em duendes ou no Papai Noel? Se eu acreditava que o Cristianismo era verdadeiro, então a diferença entre crer no Cristianismo e crer no Papai Noel era simplesmente que o primeiro era verdadeiro e o segundo não era. No entanto, se ambos exigiam a mesma fé sem nenhuma evidência, então, se uma pessoa acreditasse no Cristianismo em vez de outras religiões, seria somente uma questão de sorte. Afinal de contas, se evidência não conta, a única coisa que pode afetar a crença no verdadeiro ou no falso seria pura “sorte”. Desta forma, que será que a fé era um passo cego de “sorte” onde o “sortudo” ganharia o prêmio?
Fé, em muitos círculos, é vista como algo que você crê, mas sem a necessidade de evidência. Quanto mais evidência é exigida, menos fé é necessário. Muitos creem que evidência é algo ruim quando se trata de fé. O que me incomodava nesta posição é que se eu imagino fé e evidência em dois lados opostos de um espectro, com a fé de uma lado e a evidência do outro, então isso significa que quanto mais evidência uma pessoa tem menos fé acaba tendo. Quanto menos evidência eu tenho, mais fé acabo tendo. Esse pensamento leva a uma conclusão absurda: Eu preciso esperar que não apareça nenhuma evidência para o que creio, pois, à medida em que evidência é encontrada, minha fé diminui. Com esse pensamento, para ser consistente, não vou querer evidências para o que creio. Eu deveria buscar acabar com qualquer evidência, pois estas agiriam contra minha fé e não a favor. Esse pensamento era absurdo e irracional.
Então, o que vinha a ser fé? Esta precisa de evidência? Esta diminui na presença de provas? Essas eram perguntas que eu tinha durante minha expedição. Irei tratar das minhas descobertas em outros textos. Eu estava disposto a entrar nesta expedição. Eu tinha que ler opiniões contrárias. Eu tinha que entender por que eu cria no que cria. Eu sentia que este seria um processo necessário para que eu fosse honesto comigo mesmo durante essa jornada. Eu tinha que entender o que é fé e qual o papel ela ocupava dentro do Cristianismo.
Será que fé era algo somente compartilhado por pessoas religiosas? Se fé pode ser definida como crença em coisas que não podem ser vistas, isso se restringiria a religião somente? Afinal de contas, “consciência” não é algo que vemos, nós experimentamos. No entanto, cremos que “consciência” existe, mesmo os que não são religiosos.
Se fé não é a ausência total de evidência ou um passo irracional de fé, então o que seria? Lembrei-me de um dos meus professores da faculdade que, numa palestra, havia afirmado que a fé é um passo que vai além da evidência mas não contra ela. Para mim, a fé parecia-se com uma decisão de se CONFIAR uma vez que a evidência é analisada. No cristianismo, por exemplo, isso significava entender suas afirmações, entender o motivo de as afirmações terem sido feitas e então decidir dar o “salto”. Isto não significa, porém, “pular” sem paraquedas; significa analisar o paraquedas, saber como foi dobrado, escutar o testemunho de pessoas que viram o paraquedas ser empacotado e, então, finalmente tomar a decisão de “saltar”. A fé, creio eu, envolve saltar uma vez que a evidência é analisada. É uma decisão de confiança, não só intelectual mas em ação. Se eu acreditasse que o paraquedas abriria depois de analisar todas as evidências, meu exercício de fé não seria ver pessoas saltarem. Eu mesmo teria que saltar, senão esse exercício não seria nada mais do que um exercício intelectual sem propósito. Fé é um ato de confiança e ação baseado em evidências razoáveis mas não necessariamente completas.
Se esta definição é correta, mesmo o ateu ou agnóstico teriam fé. Analisemos por exemplo a crença na existência de Deus. Um ateu afirma que Deus não existe. Vou presumir que eles olharam para as evidências e concluíram que Deus não existe. No entanto, note que esse conhecimento não é só teórico. Eles efetivamente “saltam” e vivem uma vida como se Deus não existisse. Um ateu não pode afirmar com 100% de certeza que Deus não existe. Eles estão saltando com o “paraquedas do ateísmo” com esperança de que ele irá abrir (tecnicamente eles nunca saberiam se ele irá abrir, pois, se o ateísmo é verdadeiro, tudo deixa de existir na morte de forma que nunca saberiam). E o agnóstico? Este também está tomando um passo de fé ao crer que a verdade não pode ser encontrada (uma curiosidade: se você crê que a verdade não pode ser encontrada como encontrou a verdade de que “a verdade não pode ser encontrada”?).
Não decidir é decidir; decidir é decidir. De forma que a minha conclusão é de que todos tomam passos de fé diariamente. Analisamos a evidência e tomamos decisões que vão além da evidência, mas não necessariamente contrária a ela. Vemos que aviões são seguros e voamos. Não temos 100% de certeza de que AQUELE avião especificamente chegará ao seu destino. Mas tomamos a decisão de ir além da evidência. Note que dificilmente tomamos a decisão contra a evidência. Se 1% dos aviões chegasse ao seu destino devido a muitos acidentes aéreos, creio que muitos não entrariam em um avião.
Clique aqui para conferir a Parte 4. Todos os textos aqui.
Fábio Mendes mora na Califórnia, EUA. É bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Bethel, em Minnesota, e MBA em gerenciamento de tecnologia pela University of Phoenix. Atualmente, exerce a função de Arquiteto Sênior de Sistemas para uma seguradora internacional. Membro da igreja Christ Fellowship, em Miami, dedica-se ao pensamento e à filosofia cristã com ênfase para jovens. |