Parece que a tecnologia não só está mudando apenas nossas vidas. Ela também pode estar mudando a estrutura do nosso cérebro.
Muitos pensadores têm argumentado que a tecnologia não é neutra, que é, de fato, “carregada de valor”. Neil Postman, autor de Technopoly e outros livros, argumentou que os criadores tecnológicos incorporam seus valores pessoais ou corporativos em artefatos técnicos. Como resultado, os objetos tecnológicos são orientados a determinadas utilizações, que por sua vez influenciam o usuário a usá-los de uma forma particular. Isso me leva a pensar nos valores que são incorporados em nossas ferramentas digitais e como eles influenciam a maneira como trabalhamos e interagimos.
Mas parece que a tecnologia não só muda as coisas, ela também pode mudar os nossos cérebros. Em seu recente livro iBrain: Surviving the Technical Alteration of the Modern Mind (iCérebro: Sobrevivendo à Alteração Tecnológica da Mente Moderna), o neurocientista Gary Small explorou como a web e as mídias digitais modernas estão mudando a estrutura do nosso cérebro. Embora se pense que as múltiplas tarefas ao navegar na internet acelerem o aprendizado, ela também pode levar ao transtorno de déficit de atenção, dependência da Internet e isolamento social. Ele escreve que a revolução digital “nos fez mergulhar em um estado contínuo de desatenção” e neste estado as pessoas “não têm mais tempo para refletir, contemplar, ou tomar decisões pensadas.” Em vez disso, somos levados a distração.
Estas mudanças têm impacto particular sobre o desenvolvimento de jovens “nativos digitais” que tenham sido expostos à cultura digital desde a infância. Os jovens têm seus cérebros mais maleáveis, sendo formados e moldados em parte pelo ambiente digital em que estão imersos. De acordo com Small, o cérebro pode se adaptar ao dinamismo do mundo cibernético, mas a exposição excessiva a atividades online também pode causar atrofiamento nas interações sociais. Em novembro de 2008, a Revista Maclean’s tinha um artigo intitulado “Idiotizadas: A preocupação da ciência com o efeito tecnológico no cérebro infantil (Dumbed Down: The Troubling Science of How Technology is Rewiring Kids’ Brains), que destacou esse mesmo problema.
Em outro artigo intitulado “O Google está nos tornando estúpidos?” O autor Nicholas Carr lamenta que a internet tem diminuído a capacidade de concentração e de ler longos livros. Ele afirma: “Quer eu esteja online ou não, minha mente agora espera receber informações da maneira como a internet as distribui: em uma rápida corrente de partículas em movimento. Certa vez eu fui um mergulhador em um oceano de palavras. Agora surfo numa superfície como um piloto de Jet Ski”. A leitura profunda deu lugar à leitura “superficial”, na medida em que os usuários clicam em hiperlinks e saltam de site para site.
Small afirma que esse bombardeio implacável de dados pode levar a um tipo de “tensão cerebral” que deixa as pessoas sentindo-se dentro de um “nevoeiro digital.” Algumas das sugestões de Small para evitar “o esgotamento techno do cérebro” incluem a necessidade de estabelecer limites, um equilíbrio no tempo online e offline.
Parece que quanto mais descobrimos sobre as leis criadoras da computação e nosso avanço tecnológico, também precisamos discernir mais sobre as “normas” da computação. Quais são as maneiras apropriadas para usar, limitar e equilibrar o uso da tecnologia do computador?
No outono passado, os alunos da Redeemer University College foram encorajados a comprometer-se a um “e-jejum” (“e-fast”: um jejum de eletrônicos), durante o qual eles foram convidados a parar ou limitar uma de suas atividades digitais (tais como jogos de vídeo game, redes sociais, e-mails, mensagens instantâneas etc.) por uma semana. Muitos alunos (e professores – incluindo este) descobriu quão desafiador esta simples proposta se tornou. No final da semana, uma aluna compartilhou durante um tempo na capela como seu “e-jejum” levou a mudanças maravilhosas em sua vida devocional pessoal.
Precisamos discernir que há uma necessidade em limitarmos o uso das nossas ferramentas digitais, e que a verdadeira comunicação face-a-face é essencial ao ser humano. E talvez em um mundo digital agitado, aclamando por nossa contínua desatenção, precisemos re-aprender a separar tempo para reflexão e devoção. Como na história de Maria e Marta, muitos de nós precisam se esforçar para por de lado nossas muitas distrações digitais e ter tempo para se assentar aos pés do Mestre e ouvi-lo.
Traduzido por Pedro Felipe e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: The Net and Your Brain.
2 Comments
Boa noite, por favor preciso saber qual a data da publicação deste artigo, quero usar uma referencia sobre este conteudo em um trabalho da faculdade
Oi, Erika. O texto foi publicado no dia 2 de março de 2017. Abraço!