Como agir se você perdeu alguém querido | Timothy Keller

4 mitos sobre as Cruzadas | Paul Copan e Matthew Flannagan
18/nov/2020
Apologética com Russell Shedd | Jonathan Silveira
26/nov/2020
4 mitos sobre as Cruzadas | Paul Copan e Matthew Flannagan
18/nov/2020
Apologética com Russell Shedd | Jonathan Silveira
26/nov/2020

Se a morte foi repentina, não imagine que você precisa tomar de imediato decisões importantes, como onde morará ou se mudará de emprego. É provável que não seja um bom momento para tomar decisões desse tipo. Se a pessoa querida morreu depois de uma longa enfermidade, ou mesmo depois de um tempo em que ficou inconsciente ou confusa, muitas vezes começamos a “abrir mão” dela em nosso coração antes de ela falecer. Mas, se a morte foi um choque inesperado, é possível que você tenha uma impressão de irrealidade por um bom tempo. É a sensação de que você está em um sonho, ou em um filme, ou de que é outra pessoa. Nessa situação, viva um dia de cada vez e faça uma coisa de cada vez, à medida que for necessário, sem gastar tempo demais ou de menos com outros. À medida que você assimilar a realidade e, por fim, começar a abrir mão da pessoa, terá mais condições de pensar no futuro. Mas não se apresse.

Seja honesto a respeito de seus pensamentos e sentimentos em relação a outros, a Deus ou até a si mesmo. Não imagine que é “pouco espiritual” ter questionamentos e esbravejar. Lembre-se de Jesus, que chorou e se irou com a morte de seu amigo Lázaro. Lembre-se de Jó, que clamou ao Senhor. Jó se queixou em alta voz, mas se queixou para Deus. Ele nunca deixou de orar e de se encontrar com Deus, embora essa prática não lhe tenha trazido muitos benefícios imediatos. Só porque sabemos que uma pessoa querida está com Cristo e que, um dia, estaremos juntos, não significa que devemos nos sentir felizes no presente e reprimir a tristeza, ou mesmo a ira. De maneira nenhuma. Jesus não reprimiu os sentimentos dele! Contudo, não expresse emoções de uma forma inteiramente desenfreada, prejudicial a si mesmo ou a outros ao seu redor.

Quando perdemos alguém querido que era crente, devemos meditar no estado de alegria em que ele agora se encontra. Quando a esposa de C. S. Lewis faleceu, ele ouviu alguém dizer: “Ela está na mão de Deus” e, de repente, uma imagem se formou em sua mente:

“Ela está na mão de Deus.” Essa ideia ganha nova energia quando penso em minha esposa como uma espada. Talvez a vida terrena que dividi com ela fosse apenas uma parte do processo de lhe conferir têmpera. Agora, quem sabe ele segura sua empunhadura; avalia o peso da nova arma; faz com ela raios no céu. “Uma verdadeira lâmina de Jerusalém.” […] Que perverso seria se pudéssemos trazer de volta os mortos![1]

Se pudéssemos ver fisicamente nossos queridos neste momento, seriam tão extraordinariamente radiantes e belos que seríamos tentados a nos curvar e adorá-los. Não que eles deixariam.

O maior desafio depois de perder alguém querido é perceber que o amor, a alegria e a graça que agora parecem ter sumido ainda estão disponíveis diretamente da fonte original, o Senhor. Há profundezas, fontes de poder disponíveis na comunhão com ele, das quais você ainda nem começou a beber. Não é algo que acontece de imediato. Não espere uma vida de oração muito maravilhosa por enquanto. Ela virá acompanhada da mesma impressão de irrealidade que todas as outras coisas. Mas, com o tempo, haverá consolo e paz inimagináveis a seu dispor. Quando temos outras coisas — cônjuge, família, amigos, saúde, um lar, segurança —, não somos impelidos a verdadeiramente sondar as profundezas daquilo que está a nosso dispor na comunhão e na oração. Há mais que suficiente para sustentá-lo para o resto de sua vida como alguém mais profundo, mais sábio e até mais alegre (em alguns aspectos) do que antes da tragédia. Por vezes, feridas desse tipo jamais desaparecem. Mas, como as marcas dos pregos nas mãos de Jesus, podem se tornar “ricas feridas […] glorificadas em beleza”.[2] Apegue-se à esperança de que você não sentirá para sempre o vazio que sente agora.

Eis algumas passagens para refletir durante uma semana ao enfrentar a morte de alguém querido. São sete textos, um para cada dia:

Segunda-feira. “Os dias do ser humano estão determinados; tu decretaste o número de seus meses e estabeleceste limites que ele não pode ultrapassar. Por isso, desvia dele o teu olhar, e deixa-o, até que ele cumpra seu tempo como trabalhador contratado” (Jó 14.5,6). “Tiraste de mim meus amigos e meus companheiros; [agora] as trevas são minha companhia mais chegada” (Sl 88.18). O que nos revela o fato de Deus não apenas permitir, mas incluir, esses pensamentos em sua Palavra? Ele sabe como nos sentimos e o que dizemos quando estamos em desespero.[3]

Terça-feira. “O justo perece, e ninguém pondera sobre isso em seu coração; os piedosos são tirados, e ninguém entende que os justos são tirados para serem poupados do mal. Aqueles que andam retamente entrarão na paz; acharão descanso na morte” (Is 57.1,2). Da nossa perspectiva, a morte, especialmente dos jovens, não é nada além de um grande mal. E, no entanto, não conhecemos o futuro. E se a morte é a forma de Deus tomar pessoas para si, lhes dar paz e salvá-las do mal? Por que essa ideia é tão contraintuitiva para os seres humanos?

Quarta-feira. Leia João 11.17-44. Jesus mostra que ele vê a morte da perspectiva de Deus e da perspectiva dos seres humanos enlutados. Ele chora com Maria e Marta e, no entanto, se ira (v. 38) com a morte, mesmo sabendo que ressuscitará Lázaro de imediato. Embora Deus esteja trazendo seu povo para o lar com ele, conhece a tristeza e a devastação que a morte causa e se entristece profundamente junto conosco. É de ajuda para você em algum aspecto saber que Deus odeia a morte? “Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, jamais morrerá. Você crê nisso?’” (Jo 11.25,26). Você crê nisso? Em caso afirmativo, de que maneira isso influencia sua forma de se entristecer?

Quinta-feira. “E, se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é inútil; vocês ainda estão em seus pecados. Nesse caso, também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todas as pessoas somos as mais dignas de compaixão. Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias dentre aqueles que dormiram. Uma vez que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma que em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados” (1Co 15.17-22). Paulo aposta a credibilidade de todo o cristianismo no fato de que Jesus ressuscitou dos mortos. Se a fé cristã é apenas um consolo nesta vida, somos dignos de compaixão, e aqueles que morreram esperando em Cristo se foram para sempre. Portanto, antes de considerar qualquer outro ensinamento ou proposição do cristianismo, esta é a primeira pergunta a fazer: Jesus foi ressuscitado dos mortos? Se a resposta for “sim”, o caminho adiante, embora traga sofrimento, conduz à esperança. Se a resposta for “não”, a vida não tem sentido. Qual é a resposta?

Sexta-feira. “Sabemos que, se for destruída nossa tenda, a habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu, não construída por mãos humanas. Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos de nossa habitação celestial. Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem nos preparou para esse propósito foi Deus, que nos deu o Espírito como garantia do que está por vir” (2Co 5.1-5). Paulo rejeita de modo específico a ideia de que, quando morremos, nos tornamos espíritos desencarnados; antes, somos revestidos de imortalidade. Ele já havia tratado desse tema em 1Coríntios 15, em que falou sobre a ressurreição do corpo (v. 42-54). Portanto, a passagem pela morte não é o ingresso em uma vida fantasmagórica, mas em uma vida de plenitude e alegria inimagináveis. Nossos queridos não dos deixam para, então, entrarem em um lugar de escuridão. Eles nos deixam e entram na luz.

Sábado. “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz deitar em pastos verdejantes. Conduz-me para as águas tranquilas. Restaura minha alma. Conduz-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; tua vara e teu cajado me consolam. Preparas diante de mim uma mesa na presença de meus inimigos; unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre” (Sl 23, ESV). Eis uma série de consolos para os entristecidos. Ao caminhar pelo vale da sombra da morte, lembre-se de que Jesus, o Pastor, o conduziu até ali. Ele tem consolo para lhe oferecer e maneiras de fortalecê-lo, aprofundá-lo e desenvolvê-lo que seriam impossíveis em qualquer outra situação. Portanto, agradeça pela presença dele, não se entregue à autocomiseração e busque-o em oração mesmo quando não sentir a presença dele (ele está presente). Jesus passou pela morte, sozinho e rejeitado por todos (Mt 27.46) para que, ao enfrentarmos a morte de nossos queridos, ou mesmo nossa morte, jamais estejamos sozinhos.

Domingo. “Portanto, agora, já não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito que dá vida libertou você da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1,2). Muitos não têm consciência da condenação que foi pronunciada sobre eles, ou não sabem de sua magnitude, exceto, talvez, por uma sensação incômoda de apreensão. Diante da morte, porém, nosso Inimigo permite que vejamos toda a amplitude de nossa traição cósmica. Que resposta temos para lhe dar? Apenas que Jesus tomou sobre si nosso castigo e nos libertou, e agora não resta condenação para nós. Alegre-se!

_________________

[1] C. S. Lewis, A grief observed (New York: HarperOne, 2001), p. 63, 76 [edição em português: A anatomia de uma dor: um luto em observação, tradução de Alípio Franca (São Paulo: Vida, 2006)].

[2] De Crown him with many crowns, hino de Matthew Bridges e Godfrey Thring, 1851.

[3] Derek Kidner, Psalms 1—72: an introduction and commentary (Leicester, Reino Unido: InterVarsity, 1973), p. 157.

Trecho extraído e adaptado da obra “Nascimento, casamento e morte: como encontrar Deus nos eventos mais significativos da vida“, de Timothy Keller, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2020, pp. 211-217. Traduzido por Susana Klassen. Publicado no site Tuporém com permissão.

Timothy Keller nasceu e cresceu na Pensilvânia, com formação acadêmica na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. Ele é pastor da Redeemer Presbyterian Church, em Manhattan. Já esteve na lista de best-sellers do New York Times e escreveu vários livros, entre eles A fé na era do ceticismo, Igreja centrada, A cruz do Rei, Encontros com Jesus, Ego transformado, Justiça generosa, entre outros, todos publicados por Vida Nova.
Esta obra dedica-se a esses três momentos-chave da vida em três seções bem destacadas e de fácil consulta. Na seção sobre o "Nascimento", Timothy Keller nos ajuda a compreender o nascimento físico e espiritual e como o batismo conecta essas duas experiências. Na seção sobre o "Casamento", Keller e a esposa, Kathy, mostram — à luz da Bíblia e com a experiência de 45 anos de matrimônio — como iniciar e nutrir um casamento. E, por fim, na seção sobre a "Morte", Keller trata de um dos assuntos mais negligenciados em nossa cultura, mostrando como a Palavra de Deus oferece alternativa e esperança para o desespero e a negação causados pela morte.

Nascimento, casamento e morte proporciona orientação, consolo e sabedoria, e nos aponta o caminho para encontrar Deus e conhecê-lo ao longo de toda a vida.

Publicado por Vida Nova.

2 Comments

  1. gilberto marcos Mota Basilio disse:

    Gostei demais nunca li ou ouvi tais palavras me ajudou obrigado vou comprar o livro se achar tem em ebook?

Deixe uma resposta