Se você é pai ou mãe, será impossível evitar esse tópico. Não se trata de saber se você terá de falar com o seu filho ou filha sobre a crescente aceitação da transgeneridade; se trata apenas de saber quando. Quando isso acontecer, o que você vai dizer?
Você vai encolher os ombros, sem saber o que falar, e evitará completamente o assunto, deixando seu filho para ser informado apenas pelo mundo exterior e ter suas opiniões moldadas por ele?
Você vai responder fazendo pouco do assunto e dizendo ao seu filho: “Essas pessoas são loucas. Elas só precisam saber o que significa ser um homem ou uma mulher. E isso vai resolver tudo”.
Você vai entrar em pânico, tirar seu filho da escola e tentar protegê-lo disso — e de tudo o mais que está errado “lá fora” no mundo?
Ou você vai se sentar com ele e ter uma conversa difícil e honesta sobre um tema desafiador, que a mente jovem da criança pode achar muito difícil de entender?
Você não pode evitar que seu filho tenha essa conversa, mais cedo ou mais tarde. A questão é se a conversa será com você ou com outra pessoa. Se você quer evitar completamente o tópico, e seu filho percebe, isso não só dará a impressão de que você não quer ajudá-lo a entender assuntos desafiadores, como pode sugerir que os cristãos não têm a capacidade de dar uma resposta compassiva, que veja o assunto de vários ângulos, e que sua fé não consegue lidar com a realidade.
A tentação de proteger nossos filhos desses assuntos é compreensível, mas não é aceitável. Para educar com sabedoria, é preciso equilibrar o desejo de proteger seu filho do mundo com a necessidade de prepará-lo para o mundo. Portanto, o modo como você explica algo a uma criança de oito anos será diferente da maneira como você falaria com seu filho de dezesseis anos. Mas você terá de dizer alguma coisa. Então aqui está o que eu diria a uma criança de dez anos em uma caminhada de uma hora:
Se seu filho fizer uma pergunta para a qual você não tem resposta, tenha a coragem de dizer: “Eu não sei, mas vou pesquisar o que a Bíblia diz sobre isso”. Ser honesto com seus filhos sobre tópicos difíceis e deixar que eles vejam que você se esforça para tirar suas dúvidas, em vez de dar uma resposta de qualquer jeito, mostrará seu empenho em ajudá-los a lidar com uma cultura desafiadora de uma forma inteligente.
Por fim, encontre maneiras de fazer com que essa conversa tenha continuidade, pois, naturalmente, à medida que seu filho crescer, ela terá desdobramentos. À medida que uma criança amadurece e passa por novas fases na vida, haverá perguntas naturais sobre as expectativas certas e sobre como ela se entende como homem ou mulher. Incentive isso. Não fuja de perguntas importantes sobre identidade sexual e de gênero só porque seu filho pré-adolescente ou adolescente está fazendo perguntas difíceis e embaraçosas. Não ceda à tentação de se eximir da responsabilidade parental justamente no período atrapalhado da puberdade. É nessa fase que seu filho precisa da sua maior atenção, da sua confiança e do seu reforço. Tanto no lar quanto na igreja, cada um de nós se inclina para a “verdade” dura ou para o “amor” mentiroso — e precisamos estar cientes disso na criação dos nossos filhos. Precisamos lutar em oração contra qualquer tendência particular que nós, como pais, possamos ter na criação dos nossos filhos. Comunique-se com confiança, mas não com arrogância.
Comunique-se com compaixão, não com dureza. Comunique-se honestamente, não de forma simplista ou trivial.
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Trecho extraído e adaptado da obra “Deus e o debate transgênero“, de Andrew T. Walkera, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2024, p. 141-145. Publicado no site Cruciforme com permissão.
É professor associado de Ética Cristã e Teologia Prática no The Southern Baptist Theological Seminary e pesquisador no The Ethics and Public Policy Center. Ele também é o Diretor do Carl F. H. Henry Institute for Evangelical Engagement. Escreveu outros livros, entre eles Faithful reason: natural law ethics for God’s glory and our good e Liberty for all: defending everyone’s religious freedom in a pluralistic age. É casado com Christian, com quem tem três filhos, e membro da Igreja Batista Highview em Louisville, Kentucky, EUA. |