“Ei, eu tenho uma pergunta!”, gritou um estudante no fundo da sala. Eu estava compartilhando os ensinamentos de Cristo na casa de fraternidade da Universidade de Massachusetts quando ele me interrompeu. “Sim, qual é a pergunta?”, eu perguntei. “Eu acho que Jesus é ótimo para você, mas eu conheço budistas e muçulmanos e eles são tão sinceros quanto você em relação à religião deles. Eles acreditam que as visões deles são tão verdadeiras como você acredita que a sua visão é verdadeira. Não há como uma pessoa saber que sua religião é a ‘correta’, então a melhor coisa a se fazer é apenas acreditar que a religião de cada pessoa é verdadeira e não julgar ninguém”.
Já ouviu algo assim? É difícil acreditar que você não tenha ouvido. Como devemos reagir a tal ideia? Como devemos responder? Eu acredito que existe uma boa resposta a esse ponto de vista e eu espero apresentá-la a seguir. Antes disso, porém, devemos observar cuidadosamente a motivação de tal declaração. O estudante estava presumindo não existir princípios objetivos que, se aplicados na investigação de uma determinada religião, ajudariam alguém a tomar uma melhor e mais racional decisão entre as opções religiosas. Ausentes tais princípios, qualquer escolha é puramente arbitrária ou totalmente baseada em emoções ou criação familiar. Em qualquer dos casos, tal escolha não autorizaria alguém julgar a escolha de outra pessoa como sendo errada.
Existem princípios objetivos que podem orientar alguém na escolha de uma religião? Sim, de fato, existem. Eu acredito que os quatro seguintes princípios devem ser usados para orientar alguém na escolha de qual religião ele ou ela deve seguir e, se aplicados adequadamente, creio que eles indicarão o cristianismo como sendo a escolha mais racional.
Princípio #1: O conceito de Deus de uma religião deve ser harmônico com aquilo que podemos saber de Deus a partir da criação.
Alguns leitores irão objetar dizendo que tudo o que podemos saber a respeito de Deus é o que Ele nos revelou por meio da Bíblia. A Bíblia, no entanto, deixa claro que até mesmo aqueles que nunca leram a Bíblia devem saber certas coisas a respeito de Deus, apenas observando a criação (Salmo 19.1-4; Romanos 1.18-23). Isso significa que, quando alguém começa a procurar por Deus através da leitura de vários “Livros Sagrados” de diferentes tradições religiosas, ele não inicia tal processo a partir do zero. Houve a oportunidade de “ler o livro” – o livro da criação – todos os dias antes de a pessoa pegar a Bíblia, o Alcorão ou qualquer outro livro.
Além disso, embora eu não vá apresentar o argumento aqui – quero que você mesmo investigue o assunto –, mas é possível apresentar uma defesa intelectual poderosa a partir de fatos sobre a criação que existe um Deus único e pessoal (um bom livro para começar a aprender a formar essa defesa é “Ensaios Apologéticos”, de Francis J. Beckwith, William Lane Craig, J. P. Moreland). Essa defesa afirma que a existência de um Deus pessoal é a melhor explicação para (1) a existência e o início do universo finito, (2) a beleza e ordem do universo, incluindo a existência da informação biológica, (3) a existência de mentes finitas como as nossas, e (4) a existência de lei moral objetiva e de igualdade de direitos humanos.
Observe que o princípio #1 aponta para o monoteísmo não porque a Bíblia assim requer, mas porque o monoteísmo é a melhor explicação desses fatos a respeito da criação. O princípio #1 deixa apenas o judaísmo, o cristianismo e o islamismo na jogada.
Princípio #2: Uma explicação adequada da origem e sucesso de uma religião deve recorrer à atividade divina.
Não se deve ser capaz de explicar a origem e sucesso de uma religião simplesmente afirmando que ela é o resultado de brilhantes compreensões humanas ou de sabedoria filosófica. Por mais importante que esses fatores sejam, eles, por si só, não indicam se uma religião é uma invenção humana ou uma revelação divinamente sancionada. Por exemplo, Maomé afirmou ter recebido a maior parte do Alcorão em uma caverna. Claramente, não há nada nesse aspecto acerca da origem do islã que escape da explicação naturalística.
Em contraste, pelo menos dois fatores indicam que o cristianismo possui origens sobrenaturais. Primeiro, há profecias cumpridas. Jesus cumpriu numerosas profecias de séculos antigos e este fato não pode simplesmente ser o resultado de sabedoria humana. Tal fato desafia a explicação naturalística. Mais uma vez, eu não irei desenvolver o argumento aqui, mas deve-se familiarizar com algumas das profecias do Antigo Testamento que Jesus cumpriu, juntamente com a evidência de que ele realmente as cumpriu (veja o livro “Em defesa de Cristo”, de Lee Strobel, capítulo 10). Em segundo lugar, baseando-se na evidência histórica de que o Novo Testamento é confiável, pode-se argumentar que o cristianismo é baseado em milagres reais feitos por Jesus e seus discípulos, incluindo a sua ressurreição dos mortos.
Se Jesus realmente cumpriu numerosas profecias e se ele realmente realizou milagres e ressuscitou dos mortos como o Novo Testamento afirma, então precisamos de explicações sobrenaturais para a origem e o sucesso contínuo da fé cristã. Não precisamos de tais explicações para a origem do islã ou de outras religiões mundiais.
Eu acredito que o princípio #2 deixa apenas o cristianismo e o judaísmo na jogada.
Princípio #3: O diagnóstico e solução de uma religião para a condição humana devem ser mais profundos do que as outras religiões.
Um aluno meu veio da Índia para estudar na Talbot School of Theology. Tendo sido criado como hindu, ele iniciou uma busca intensa pela verdade religiosa quando adolescente. Sua busca levou-o a estudar os textos religiosos das principais religiões mundiais. Sua busca também o levou a Jesus Cristo. Por quê? Ele disse que os ensinamentos de Jesus e do Novo Testamento se sobressaiu em relação aos outros por sua sabedoria, profundidade e poder. Embora todas as religiões possuam alguma verdade, deve-se escolher uma religião que melhor diagnostica o que há de errado com os humanos e como o problema pode ser resolvido.
Quando se faz um estudo cultural da condição humana, constatam-se as seguintes experiências e desejos humanos universais:todos os humanos (1) experimentam três tipos de alienação – eles se sentem alienados de Deus, de outras pessoas (incluindo aquelas que eles amam), e delas mesmas; (2) experimentam vergonha e culpa profundas e permanentes. (3) desejam vida pessoal após a morte, na qual seus amores e ideais possam continuar a fazer parte de sua experiência; (4) desejam que suas vidas individuais tenham significado e propósito; (5) desejam uma vida de beleza e drama, de fazer parte de algo grandioso e importante, de fazer parte de uma luta entre o bem e o mal; (6) experimentam a necessidade de ajuda e fortalecimento para poder viver uma vida virtuosa e de caráter.
Eu acredito que, se alguém cuidadosamente comparar o Novo Testamento com as outras abordagens religiosas sobre o assunto (incluindo o ateísmo), assim como o meu aluno, descobrir-se-á que a religião de Jesus de Nazaré fornece a mais profunda, a mais penetrante análise desses seis fatores juntamente com a mais rica solução desses anseios do coração humano.
O princípio #3 aponta diretamente para o cristianismo.
Princípio #4: Escolha uma religião que apresente Jesus em sua plenitude e essência e não uma que apresente apenas uma parte diluída e distorcida dele.
Este princípio pode parecer marcar cartas em favor do cristianismo, então deixe-me explicar. Você já notou que todas as religiões, incluindo algumas seitas do judaísmo, querem reivindicar Jesus como sendo um deles? Para os adeptos da Nova Era, ele é um canalizador. Para os muçulmanos, ele é o maior dos profetas, e assim por diante. Por que isso acontece? Eu acredito que isso acontece porque Jesus é facilmente reconhecido como a maior figura da história humana. Considerando que a maior parte das pessoas não se insurge contra ele, por que não escolher uma religião que tem a melhor chance de apresentar uma explicação mais precisa de quem ele realmente era, o que ele realmente fez e o que ele realmente ensinou?
Para relembrar, eu acredito que o princípio #1 limita as escolhas ao judaísmo, cristianismo e islamismo. O princípio #2 limita as escolhas ao judaísmo e cristianismo e os princípios #3 e #4 apontam diretamente para o próprio cristianismo. Mas não simplesmente aceite o que estou dizendo. Eu me abstive de apresentar os argumentos aqui para que você possa descobrir para onde esses princípios direcionam.
Se você concorda que são bons princípios para se escolher uma religião – e o que é que os faz serem bons é uma pergunta interessante – então comece a ler e a estudar para que você possa preencher as lacunas que deixei abertas aqui. Se você fizer isso, você não apenas irá adquirir um maior entendimento de sua própria fé, mas você também será capaz de ajudar pessoas a verem que escolher uma religião não precisa ser um passo arbitrário no escuro.
Traduzido por Jonathan Silveira.
Texto original aqui.
Os filósofos William L. Craig e J. P. Moreland conseguiram reunir, em apenas um volume, as principais disciplinas filosóficas necessárias para a construção da cosmovisão cristã. Depois de apresentar, em linhas gerais, os fundamentos da lógica e da argumentação, os autores explicam cuidadosamente cada uma das disciplinas orgânicas da filosofia (epistemologia, metafísica, filosofia da ciência, ética, filosofia da religião e teologia filosófica), bem como as suas implicações para a visão cristã da realidade. Certamente, é uma obra de referência para aqueles que buscam enxergar o mundo através da lente da fé cristã. |