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É correto afirmar "Ave, Maria, cheia de graça"? | R. C. Sproul - CRUCIFORME

É correto afirmar “Ave, Maria, cheia de graça”? | R. C. Sproul

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Foto de Jon Tyson na Unsplash

Um dos aspectos da veneração católica romana a Maria é a série de orações do rosário. A ave-maria está no centro do rosário. Segue sua formulação tradicional: “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é con­vosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém”. Ao começarmos a analisar a visão católica romana de Maria, quero examinar detidamente essas palavras. Ao fazê-lo, veremos inicialmente os contornos da contro­vérsia entre protestantismo e catolicismo romano.

As palavras, “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus” estão na Escritura. Elas constituem as palavras do anjo que anunciou os planos de Deus a Maria (Lc 1.28) e as pala­vras de Isabel, quando a saudou (v. 42). Portanto, são palavras que jamais deveriam repugnar um protestante que crê na autoridade da Escritura. Contudo, o uso das palavras na forma de oração constitui um problema para nós.

A segunda frase da ave-maria constitui um problema ainda maior: “Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores agora e na hora da nossa morte. Amém”. Os protestantes não têm obje­ção a que se chame Maria de “santa”. Afinal de contas, nós nos referimos aos “santos” no sentido de estar à parte. Todos os cris­tãos são “santos” nesse sentido. Assim, dizer que Maria é ‘santa” não indica necessariamente que a estamos adorando.

E quanto à expressão “mãe de Deus?” O Concílio de Éfeso (431) deu a Maria o título grego de Theotokos, que significa lite­ralmente “portadora de Deus”. Em sentido menos literal, o termo costuma ser traduzido por “mãe de Deus”. Esse título foi ratifi­cado no Concílio de Calcedônia (451), o único concílio ecumênico endossado por praticamente todas as igrejas do Concílio Mundial de Igrejas. Contudo, o que significa de fato esse título?

Na época do Concílio de Éfeso, entendia-se por Theotokos que Maria era mãe de Deus, mas não no sentido de que, de algum modo, Jesus tivesse recebido sua natureza divina de Maria. Significava sim­plesmente que Maria, sendo mãe de Jesus, era mãe de Deus nesse sentido — Jesus é Deus e Maria é sua mãe, ela toca sua natureza humana. Não houve confusão em Éfeso ou Calcedônia que levasse a crer que esse título pudesse conferir alguma ideia de divindade a Maria. Ele simplesmente descrevia o fato de que ela era a mãe terrena daquele que era Deus encarnado. O historiador Jaroslav Pelikan sugeriu uma boa tradução para Theotokos, uma tradução que capta com precisão esse entendimento histórico: “Aquela que dá à luz Aquele que é Deus”.[1] Em face desse entendimento, não houve ao longo da história nenhuma objeção oficial por parte dos pro­testantes ao título “mãe de Deus”. É óbvio que esse título poderia dar a entender muito mais do que Éfeso e Calcedônia entenderam, mas as palavras em si e por si mesmas, devidamente ressalvadas e definidas, não são motivo de controvérsia.

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A ave-maria conclui com uma súplica a Maria: “rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”. Aqui temos um pro­blema. Atribuir a Maria um papel intercessório levanta objeções da vasta maioria dos protestantes. Para eles, a intercessão de Maria agora ou na hora da nossa morte faz dela um tipo de mediadora da nossa redenção. De modo geral, o protestantismo insiste em que Jesus é o único mediador entre Deus e o homem (1Tm 2.5), embora, é claro, o Espírito Santo também interceda por nós (Rm 8.26).


[1] Jaroslav Pelikan, Mary through the centuries (New Haven: Yale University Press, 1996), p. 55.

Trecho extraído da obra “Estamos juntos? Um protestante analisa o catolicismo romano”, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2023, p. 137-139. Traduzido por A. G. Mendes. Publicado no site Cruciforme com permissão.

rc_sproulR. C. Sproul (1939-2017) foi pastor da igreja St. Andrews Chapel, em Sanford, Flórida, fundador e presidente do ministério Ligonier, professor e autor de diversos livros.
Em "Estamos juntos?", o Dr. R. C. Sproul defende as doutrinas fundamentais do protestantismo em oposição aos erros da igreja católica romana. O autor, um defensor apaixonado do evangelho da justificação exclusivamente pela graça por meio da fé somente em Cristo, cita as declarações históricas dos reformadores protestantes e das autoridades católicas romanas; em seguida, reproduz as declarações doutrinárias modernas para mostrar que a igreja católica romana não mudou suas posições oficiais. À luz dessa lacuna que persiste, diz ele, as tentativas de alguns no campo evangélico de encontrar um território comum com Roma em questões essenciais do evangelho não passam de inverdades, se comparadas com o ensinamento bíblico. Na avaliação do Dr. Sproul, a Reforma continua relevante.

Publicado por Vida Nova.

3 Comments

  1. Erci disse:

    “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (I Timóteo 2:5).

  2. Cláudio Luiz de Figueiredo Santos disse:

    Este texto veio de encontro a um questionamento que sempre me veio à cabeça nas missas. Sou católico apostólico romano e muitos dogmas e crenças estão em meu ser.
    Eu sempre achei em Maria extrema importância e santidade, no sentido de que trouxe Jesus o Deus encarnado à terra.
    Este texto foi muito revelador e importante.
    Hoje me identifico muito com a reforma.
    Obrigado.

    • roberta disse:

      É a mesma explicação que está no catecismo da Igreja Católica Romana e no Catecismo da Igreja Ortodoxa. O grande problema é que muitos Católicos não conhecem a própria instituição, não lêem nem a Bíblia que dirá os Catecismo, acabam se confundindo nos conceitos mais básicos do cristianismo.

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