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15/abr/2016Nesta cultura pós-moderna, temos testemunhado um ressurgimento fascinante do gnosticismo. Os gnósticos antigos eram chamados assim por afirmarem ter um tipo de conhecimento que era superior até mesmo ao dos apóstolos do Novo Testamento. Diziam que a percepção dos apóstolos era restringida pelas limitações naturais sofridas pelos seres humanos, que estão vinculados à racionalidade. Para esses hereges, o verdadeiro conhecimento seria alcançado não pela razão ou percepção sensorial, mas por uma intuição mística altamente desenvolvida. De forma semelhante, temos visto no mundo pós-moderno uma larga rejeição da racionalidade. Essa rejeição tem se infiltrado à força na igreja. Vemos tentativas frequentes de excluir a fé cristã de todas as considerações da racionalidade. Defende-se hoje em dia que a revelação bíblica só pode ser inteligível por meio da intuição ou por uma imaginação poética peculiarmente sensível. Isso traz consigo a ideia de que a revelação bíblica é ininteligível por meio da razão.
Por um bom motivo, a igreja, nos últimos séculos, teve que rejeitar o racionalismo em suas várias facetas. Não há uma filosofia monolítica de racionalismo; o racionalismo, na verdade, possui várias facetas. De um lado, pensamos no racionalismo como sendo distinto do empirismo em relação a como chegamos a saber o que sabemos. Em segundo lugar, o racionalismo iluminista contrasta a razão não com a percepção sensorial, mas com a revelação, argumentando que esta é irracional e que a única verdade que pode ser conhecida é aquela que pode ser alcançada pela razão natural. A terceira e mais complexa forma de racionalismo é o racionalismo Hegeliano, que define a razão com um R maiúsculo e que a realidade é um desdobramento no espaço e no tempo da razão definitiva.
Nenhuma dessas correntes filosóficas representa o cristianismo histórico. O cristianismo não tem bases no racionalismo. Entretanto, a rejeição do racionalismo na igreja moderna frequentemente traz consigo a rejeição da racionalidade. Essa rejeição é em si irracional. Quando rejeitamos o humanismo, não rejeitamos a ideia de que somos humanos. Se rejeitamos o existencialismo, não rejeitamos a existência. Assim, se rejeitamos um “ismo” associado à razão, não significa que devemos rejeitar a razão propriamente dita.
Qualquer debate sobre fé e razão deve fazer a seguinte pergunta: “O que é fé?”. A resposta bíblica, de acordo com o autor de Hebreus, é que fé é a garantia do que se espera e a prova do que não se vê (Hb 11.1). O autor de Hebreus prossegue dizendo que pela fé podemos entender que o mundo foi formado pela Palavra de Deus. A primeira coisa que podemos observar nessa declaração é que a fé é algo substancial, não efêmero. Em segundo lugar, ela representa um tipo de evidência; ela é a evidência de algo que não pode ser visto. Na essência do conceito neotestamentário, fé é a ideia de confiança, ou seja, envolve a confiança de alguém em relação a algo. Nesse aspecto, todos os seres humanos estão sujeitos a depender da fé em algum momento ou outro. Não sou especialista em medicina, então devo depositar certa confiança no diagnóstico dado a mim por especialistas da área. Essa confiança pode ser provisória até eu constatar que ela não é baseada em um fundamento ou evidência. Nesse ínterim, porém, confiar em algo que não vemos não é necessariamente uma questão de irracionalidade. Sem a razão, o conteúdo da fé bíblica seria ininteligível e sem sentido.
Assim, dizemos que a fé bíblica não é o mesmo que a razão, mas que ela é racional e coerente. A primeira afirmação de que a fé é racional significa que ela é inteligível, ou seja, não é absurda ou ilógica. Se a revelação bíblica fosse absurda ou irracional, ela seria completamente ininteligível e sem sentido. O conteúdo da Bíblia não pode penetrar a alma de uma criatura senciente sem primeiro passar por sua mente. Agostinho declarou que a fé sem evidência é credulidade. Nesse ponto, entendemos que, embora a fé seja racional, ela também é coerente. A fé bíblica não chama pessoas a crucificar seus intelectos ou a dar saltos cegos de fé nas trevas na esperança de que Cristo irá nos pegar. Ao invés disso, somos chamados para saltar da escuridão para a luz.
Quando as Escrituras afirmam que a fé é a prova do que não se vê, o que devemos entender? O exemplo dado é que pela fé entendemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus. Nenhum de nós foi uma testemunha ocular da ação de Deus na criação do mundo. Ainda assim, confiamos que o universo veio a existir pelo ato divino do trabalho de Deus na criação porque chegamos a acreditar, com base em motivos coerentes, que a Palavra de Deus é fidedigna. Uma vez que estamos convencidos de que a Palavra de Deus é fidedigna e que essa convicção é coerente, podemos confiar na Palavra de Deus mesmo em relação às coisas que não podemos ver. João Calvino também defendeu a visão de que a verdadeira fé não consiste em crer em oposição às evidências. Ao invés disso, a verdadeira fé envolve confiar nas evidências que Deus amplamente nos forneceu em Sua Palavra e por meio Dela. Essa fé não é ausente daquilo que Calvino chamou de evidências. Ao contrário, é a fé que se rende e se conforma com as evidências.
Devemos estar sempre atentos e vigilantes contra a intromissão da irracionalidade oriunda da filosofia existencialista, da teologia neo-ortodoxa e do ressurgimento do misticismo estabelecido no neo-gnosticismo. O que está em jogo é a coerência e a inteligibilidade do divino trabalho de Deus.
Traduzido por Vanessa Rodrigues e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original aqui. Ligonier Ministries.
R. C. Sproul (1939-2017) foi pastor da igreja St. Andrews Chapel, em Sanford, Flórida, fundador e presidente do ministério Ligonier, professor e autor de diversos livros. |
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Começando com antigos pensadores gregos como Platão e Aristóteles, passando por filósofos cristãos como Agostinho e Tomás de Aquino, e chegando aos formadores do pensamento moderno como Kant e Nietzsche, R. C. Sproul apresenta-nos o gigantesco impacto que as ideias desses e de outros pensadores exerceram e exercem sobre os fatos, as artes, a cultura e a teologia no mundo em que vivemos, além das consequências que elas têm sobre a nossa vida no dia a dia. Ao fazer uma exposição de conceitos básicos da filosofia, o propósito deste livro é mostrar que quanto maior for o conhecimento que o cristão tem das ideias que deram forma à nossa cultura, maior será sua capacidade de entender e influenciar o contexto no qual está inserido. Publicado por Edições Vida Nova. |
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1 Comments
Qual é a razão de crer na existência de Deus?
Qual é a razão de crer que a bíblia é a palavra do único e verdadeiro Deus?
Essas razões acima são obtidas pelo Espírito de Deus através da fé ou pelo raciocínio lógico humano?
Crer na existência de um único e verdadeiro Deus, e que a bíblia é a palavra de Deus, é o suficiente para me salvar?
A fé que salva é superior a razão? Ou a razão é superior a fé?
é possível o homem além de crer naturalmente na existência de um Deus, ter a fé que salva independente da razão?
A razão de uma forma geral é: aptidão para raciocinar, compreender, julgar. O homem que tem as suas faculdades mentais perfeitas, é um homem capaz de raciocinar, compreender, julgar, e inclusive, ser responsável por seus atos voluntários. O homem com suas faculdades mentais perfeitas (razão), independente do conhecimento de uma lei, sabe o que é certo e errado, bem ou mal, sabe quando faz alguém sofrer ou sorrir, sabe quando proporciona dor ou prazer a alguém, pelo simples fato de que ele tem os mesmos sentimentos. De uma forma geral e bem resumida, a razão além de perceber e aceitar o que é inquestionável ( lei da gravidade, existência de um Deus criador etc…), é a faculdade que tem o poder de controlar as sensibilidades (sentidos, emoções, sentimentos) através da vontade pelo livre arbítrio. O homem sem a razão certamente é louco e incapaz de compreender qualquer coisa inclusive os mistérios de Deus, e os seus atos são involuntários.
Através da razão o homem percebe a necessidade de uma resposta para a causa de todos os efeitos criados, e a única resposta capaz de satisfazê-lo é: Deus. Portanto é racional o entendimento de que Deus, que é único, não foi criado por ninguém e criou todas as coisas. Podemos dizer que a fé (crença) na existência de um Deus, e a necessidade de conhecê-lo, é uma verdade que se manifesta na razão humana, pois Deus nos criou desta forma. É importante ressaltar que a fé na existência de um Deus, que é uma verdade primeira da razão, é diferente da fé no evangelho de Deus para salvação, pois o evangelho ou boas novas, é uma *REVELAÇÃO DO PLANO DE SALVAÇÃO* de Deus por meio do seu Espírito, *QUE EXIGE COMO CONDIÇÃO DESTA SALVAÇÃO A FÉ EM JESUS CRISTO*, fé que se manifesta através do amor em obediência aos mandamentos de Jesus. Portanto a fé que salva é obtida por meio da Graça de Deus, que revelou o evangelho de Jesus através do Espírito Santo, que convence o homem do pecado, simplesmente porque ele é capaz de raciocinar e entender a mensagem. Então parece-me que a razão opera do início ao fim na vida do homem espiritual.
A pregação do evangelho tem que ser por meio de homens racionais e cheios do espírito Santo, e deve ser pregada para homens racionais que sejam capazes de entender a sua necessidade de um Salvador. A base da nossa fé em Cristo se apoia na razão da existência de Deus!
A fé na existência de Deus e atribuição da Bíblia como sendo sua revelação, pode ser obtida por meio da razão, mas isso não garante a salvação pois ela só pode ser obtida pela fé no evangelho revelado por Deus. Por exemplo: se a Bíblia de alguma forma ensinasse em sua doutrina o politeísmo ao invés do monoteísmo, que é a crença de um único e verdadeiro Deus, não seria razoável crer que ela é a revelação escrita de Deus.
A fé que salva não é superior a razão, pois para mim ter a fé que salva eu preciso da razão da existência de Deus e da necessidade de buscá-lo, uma vez compreendida pela pregação do evangelho.
Faço uma pergunta para todos nós que somos racionais: é possível ter uma fé que salva sem saber a razão de tal fé? É possível crer no evangelho de Deus para salvação e ser salvo sem saber a razão de tal fé que salva? Não. Tudo começa em *DEUS* inclusive a razão da fé que salva! *A CERTEZA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS* que amou o mundo de tal maneira e deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna, é a razão da fé no evangelho que salva!