O que o Mandato Cultural não é | David T. Koyzis

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Capela Sistina, Vaticano

Cristãos reformados geralmente se referem a Gênesis 1:28 como o Mandato Cultural:

E Deus lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai e enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que se move sobre a terra.”

Não há nada em particular de grande importância aqui; o texto bíblico está simplesmente afirmando que, como portadores da imagem de Deus, moldamos o mundo que nos rodeia e o adaptamos a uma diversidade de usos. Nos últimos anos, uma série de livros foram publicados por cristãos, precisamente sobre esse tema. Um dos melhores é Culture Making: Recovering Our Creative Calling, de Andy Crouch.

No entanto, há uma tendência persistente entre alguns de confundir o Mandato Cultural como uma ordem para redimir a cultura mais ampla dos efeitos de distorção do pecado. O recente comentário de Chuck Colson na Breakpoint Commentaries é típico neste respeito: Dupla Comissão. Colson entende corretamente que o mandato cultural – ou Comissão – e a Grande Comissão (Mateus 28:18-20) não são antitéticos, mas, sendo corretamente concebidos, são complementares. No entanto, o seu entendimento do primeiro não é inteiramente precisa:

“Se os cristãos não aproveitarem o momento e agir sobre a comissão cultural, logo não haverá qualquer cultura para salvar. Quando, porém, fazemos o nosso dever, podemos mudar o mundo. Olhe para cristãos como William Wilberforce, que passou a maior parte de sua vida lutando – e vencendo – a guerra contra a escravidão na Grã-Bretanha, e provocando uma grande renovação cultural no país.”

Não vou negar que existem batalhas a serem travadas sobre questões importantes, mas isso não é realmente o que é o Mandato Cultural. Como Crouch coloca, “A cultura é, antes de tudo, o nome para o nosso implacável, inquieto esforço humano para tomar o mundo como ele nos é dado e fazer algo diferente” (p. 23). Temos uma propensão dada por Deus “para fazer algo mais do que nos foi dado.” Trata-se de coisas bastante básicas. Criamos “pinturas (sejam pinturas de dedo ou a Capela Sistina), omeletes, cadeiras, anjos de neve.” Aqueles que acreditam que o mandato cultural foi substituído pela Grande Comissão só precisam olhar em volta: nós, seres humanos, fazemos cultura de modo intencional ou não e sempre iremos fazer, pois Deus nos criou para isto. Você não tem que ser um guerreiro da cultura para reconhecer esta realidade da vida.

Claro, não se pode escapar do fato de que nossas atividades criadoras de cultura são afetadas por nossa natureza pecaminosa. Esta é a implicação de Gênesis 4: 19-22. Para se ter certeza, não há nada de intrinsecamente errado em moldarmos a cultura. No entanto, também não podemos escapar da mancha do pecado em todos os nossos empreendimentos. Além disso, deve ser feita uma distinção entre fazer cultura obediente e fazer cultura desobediente, o que corresponde à distinção de Santo Agostinho entre a Cidade de Deus e a Cidade deste mundo. A fabricação de uma cultura corretamente orientada obedece às normas que Deus nos deu para a vida em seu mundo: social, econômica, estética, ética, política e outras normas.

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Uma boa parte do que Colson chama de “Comissão Cultural” deve antes ser entendida como a última parte da “Grande Comissão”: “Ensinando-os a observar tudo o que vos tenho ordenado.” A evangelização requer que anunciemos, não somente a graça salvadora de Deus, mas também as normas que Deus pretende que os que estão em Cristo vivam. De modo algum, meros seres humanos irão redimir a cultura engajando-se em atividade criativa. Isto é presunçoso. Somente Deus, em Cristo, redime sua criação caída. Somos, no máximo, agentes do seu reino, manifestando a sua graça salvadora em tudo que fazemos – incluindo a formação da cultura.

Traduzido por Breno Oliveira Perdigão e revisado por Priscila Slobodticov.

Texto original: What the Cultural Mandate is Not. First Things.

David T. Koyzis é doutor em Filosofia pela Universidade de Notre Dame e atualmente é professor de Ciência Política na Redeemer University College, em Ancaster, Ontário, onde leciona desde 1987. Em 2004, sua obra Visões e ilusões políticas, publicada por Edições Vida Nova, foi premiada em primeiro lugar na categoria não ficção/cultura pela The Word Guild Canadian Writing Awards.
Neste estudo abrangente e atualizado, o cientista político David Koyzis examina as principais ideologias políticas de nosso tempo, a saber, o liberalismo, o conservadorismo, o nacionalismo, o democratismo e o socialismo. Koyzis faz tanto uma análise filosófica quanto uma crítica honesta a cada ideologia, revelando os problemas de cosmovisão inerentes a cada uma delas, destacando seus pontos fortes e fracos. Além disso, ele oferece modelos alternativos que são fruto do engajamento histórico de cristãos na arena pública ao longo dos tempos.

Escrito sob uma perspectiva bastante ampla e analítica, Visões e ilusões políticas reafirma, em sua segunda edição ampliada e atualizada, o compromisso de ser um guia útil e sensível, sobretudo para aqueles que atuam na esfera pública, analistas culturais, eruditos, cientistas políticos, enfim, todos os que se interessam pelo pensamento político.

Publicado por Vida Nova.

2 Comments

  1. A visão de Mandato Cultura do autor esta equivocada, errada. O mandato corresponde em uma ordem de Deus em interagir com o mundo sendo espelho da relação com o Criador. Sendo um exemplo em tudo que fazemos no mundo secular. Em resumo se este mandato não existisse, apenas viveríamos em culta a Deus, mas ele existe justamente para que possamos aprender a relação de vida secular com a graciosidade da benção da vida em Em Cristo nosso Senhor e Salvador.
    Att.
    Sandro Andrade

    • Francine Figueredo Dantas disse:

      Sandro, meu irmão! O David T. Koyzis apontou o que o mandato cultural não é. O mandato cultural existe e devemos buscar vivê-lo sob o poder do Espírito Santo para de fato manifestarmos a graça Salvadora de Cristo. Temos que tomar cuidado com a motivação das nossas ações. Nós não redimimos a cultura porque somos imagem e semelhança de Deus. Antes, porque somos redimidos por Deus, manifestamos a graça de Deus para conosco através das nossas boas obras em nossos relacionamentos com a sociedade. Só Deus tem o poder em si mesmo para redimir algo porque Ele é santo. E tudo que faz é sem pecado algum.

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