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Martinho Lutero

No dia 31 de outubro deste ano, o Papa Francisco (Jorge Mario Bergoglio) participará de um culto ecumênico com a Federação Mundial de Igrejas Luteranas para marcar um ano de celebrações em comemoração aos 500 anos desde que Martinho Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta do castelo da igreja de Wittenberg. Quando comentou sobre esse evento, o Papa Francisco disse aos repórteres: “E hoje, luteranos e católicos, protestantes, todos estamos de acordo sobre a doutrina da justificação” (aqui). Baseado neste e em outros comentários, parece cada vez mais provável que, neste evento, ele declare que a Reforma acabou.

Isso nos impele a perguntar: “A Reforma realmente acabou?”

Jamais! “Jamais houve algo tão bem elaborado pela sabedoria humana, ou tão firmemente estabelecido, que (com o decorrer do tempo) não fosse corrompido”. Assim disse o Arcebispo Thomas Cranmer no prefácio à sua edição de 1549 do Livro de Oração Comum. A igreja está sempre se reformando porque ela é constituída de pecadores em contínua necessidade de serem reformados pela Palavra de Deus.

O “R” da Reforma descreve um período de tempo que começou em 1517, quando Martinho Lutero, um monge agostiniano que ensinava a Bíblia em uma universidade alemã em Wittenberg, lutou com a seguinte pergunta: “Como uma pessoa pode assegurar-se de que é justa perante Deus?”. Nos dias de Lutero, a igreja ensinava a “fazer o que está dentro de você”. Em outras palavras, a justiça era alcançada pela cooperação com a graça de Deus e pelo desenvolvimento de hábitos piedosos, pela prática da autonegação e pela participação nos sacramentos. Lutero recorda: “Torturei-me com orações, jejum, vigílias e frio intenso: a frieza sozinha podia ter me matado” (Luther’s Works, 24:24) e “por pouco eu não jejuei até morrer, visto que, por diversas vezes, fiquei por três dias sem beber uma gota de água ou comer uma migalha de comida. Levei isso muito a sério” (LW, 54:339-340). Contudo, apesar de aplicar os ensinos da igreja com vigor, Lutero não encontrou segurança. Ele descreve este estado como sua “monstruosa incerteza” (LW, 26:386).

Então, na preparação para 1517, Lutero estava se preparando para ensinar Novo Testamento. Ele estava preparando aulas sobre os livros de Romanos, Hebreus, Gálatas e Salmos. No processo, ele descobriu que precisava depositar sua confiança nas promessas objetivas de Deus declaradas nas Escrituras, não em seu próprio desempenho religioso:

Elas [as promessas objetivas de Deus] nos tiram de nós mesmos e nos colocam fora de nós, para que não dependamos de nossa própria força, consciência, experiência, pessoa ou obras, mas daquilo que está fora de nós mesmos, ou seja, da promessa e verdade de Deus, que não falham” (LW, 26:386-7).

A fé – ou confiar nas promessas de Deus (demonstradas por Cristo), em vez de no seu próprio desempenho – libertou Lutero de sua “monstruosa incerteza” e deu-lhe certeza da eternidade.

Quando o Papa Francisco faz declarações como “e hoje, luteranos e católicos, protestantes, todos estamos de acordo sobre a doutrina da justificação. Neste ponto, que é muito importante, ele [Lutero] não errou”, precisamos entender o que o Papa quer dizer por “justificação”. É algo absolutamente diferente do que significava para Lutero. Para o Papa, “justificação”, na verdade, inclui receber a justificação inicial no batismo, mais o processo de santificação durante a vida inteira. Em outras palavras, os católicos ensinam que uma pessoa é justa perante Deus com base no que Deus faz mais aquilo que ela faz para tornar-se mais santa[1]. No fim, isso ainda deixa os católicos com “monstruosa incerteza”, pois eles ainda precisam olhar para si mesmos para saber se são bons o bastante para Deus. Eles nunca estão completamente seguros.

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Pessoalmente falando, tendo crescido na Igreja Católica, quando comecei a ler a Bíblia com meus amigos protestantes na universidade, percebi que Deus salva pessoas que não merecem, sem a ajuda delas. Isso significa que, quaisquer que sejam as circunstâncias, ainda tenho certeza de minha posição perante ele, pois ser justo diante de Deus depende de algo objetivo e fora de mim mesmo: a morte sacrificial de Jesus somente. Nunca fui ensinado acerca disto na Igreja Católica, a despeito das mais de mil aulas religiosas na escola e de ter ido à Missa toda semana por vinte anos. Todavia, quando percebi que podia ter certeza de minha posição perante Deus, fui capaz de viver minha vida completamente para ele com confiança. Esta é a notícia mais importante e revolucionária que eu aprendi!

Apesar dessas declarações de concordância entre católicos e um pequeno número de protestantes (que honestamente apenas obscurecem essas diferenças importantes), infelizmente, as questões levantadas na Reforma estão longe de serem resolvidas. Que tal perguntar a seu amigo católico se eles estão certos de que estão indo para o céu? Se não tiverem, que tal compartilhar com eles a solução que Lutero descobriu e você (espero) também? “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10.14).

Quando se trata da questão da nossa posição diante de Deus, podemos ter certeza da eternidade, em vez de uma “monstruosa incerteza”!

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[1] Ver Catecismo da Igreja Católica, artigos 1993 e 2008 (aqui).

Este artigo foi publicado originalmente em GoThereFor.com, site que disponibiliza artigos gratuitamente e uma biblioteca de recursos para ajudar discípulos de Cristo a discipularem outros.

Texto original: “Why the Reformation is definitely not over“.

Traduzido por Leonardo Bruno Galdino e revisado por Jonathan Silveira.

Mark Gilbert trabalha para a Certainty4Eternity, uma organização estabelecida para auxiliar igrejas a compartilhar o evangelho com pessoas de um contexto Católico Romano.

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