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31/jul/2014Expedição em busca da verdade – Parte 8: Existem verdades absolutas? | Fábio Mendes
05/ago/2014NOTA: O que se segue é um sermão pregado pelo pastor Jonas Madureira no dia o2 de agosto de 2014 no culto de abertura da Aliança Bíblica Universitária de São Paulo, na Igreja Batista de Vila Mariana. Não se trata de uma transcrição integral do sermão, embora grande parte dele tenha sido transcrito. Alguns trechos foram adaptados para a linguagem formal e a essência da mensagem não foi alterada.
Como lidar com a questão de alguém que está na universidade, deseja ser um profissional, e sofre pressões de um contexto cultural secular?
Poderíamos pensar o senhorio de Cristo em termos de um Ser que tem controle sobre tudo, que controla até mesmo a quantidade de fios de cabelo, ou como um governo extremamente meticuloso e rigoroso que nos leva a uma espécie de preparação militar para entrar na universidade em uma campanha e vencer todos os principados. Porém, precisamos repensar o senhorio de Cristo a partir das implicações de todas as esferas da existência.
Uma visão equivocada sobre o senhorio de Cristo
Quero iniciar a partir de um equívoco que cometemos. Em uma apreensão equivocada, acabamos não reconhecendo Seu senhorio. Por que temos um entendimento equivocado, acabamos perdendo de vista a dimensão do significado e o valor do Senhorio de Cristo. Não são poucos que entendem a obra de Cristo como uma espécie de plano B de Deus, como uma espécie de “jeitinho brasileiro”. O plano A de Deus seria Adão. Essas pessoas dizem que o plano de Deus só seria perfeito se Adão tivesse sido “aprovado na prova”, ou seja, não tivesse pecado. Como Adão errou, o plano B de Deus entra em ação. Deus, então, “inventa Jesus” para resolver o problema do pecado.
Não há nada mais anticristão do que esse pensamento. Jesus não é o plano B. Ele sempre existiu, ele é Deus e não uma invenção. O fato de a Bíblia dizer que Jesus foi gerado, não significa que ele não seja Deus. Há uma diferença entre gerar e criar, como explica C. S. Lewis. Eu posso criar uma estátua a partir de uma matéria bruta, criar uma música, uma teoria, um espetáculo, uma máquina etc., mas não posso criar filhos, somente posso gerá-los. A geração é sempre uma espécie daquilo que a gera. A Bíblia usa a palavra monogenés (μονογενής) para se referir a Jesus, ou seja, ele é o único gerado. Se ele foi gerado, não podemos entender isso do ponto de vista temporal. Significa que ele foi gerado por Deus. João 1.1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Tudo que existe foi criado por intermédio de Jesus. Ele é o intermediador da criação. Estamos, em primeira instância, diante de Deus. Não se trata de um plano B para resolver o pecado do homem. Independentemente de o homem pecar, Jesus já existia.
Quando falamos do senhorio de Cristo, portanto, falamos dele como o criador do universo, que fez tudo. Não existe absolutamente nada que não seja fruto da obra criadora de Jesus. Abraham Kuyper disse: “Não há um único centímetro quadrado de todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame ‘é meu!’.” Aquela divisão entre sagrado e profano não existe. Até mesmo um ateu glorifica a Deus porque sempre que usa a inteligência dele para negar a Deus, ele está se valendo de algo que foi dado por Deus. Não há como olharmos para todas as dimensões da cultura e não concluir que Deus pode ser glorificado lá.
Glorificando a Deus no contexto universitário
Neste sentido, Jesus é o criador, o mediador, de todas as esferas do mundo. Deste modo, Jesus não será Senhor nas diversas disciplinas de uma universidade só porque você coloca o nome de Deus em sua teoria. O fato de algo ter o nome de Deus, não significa que honre a Deus. As coisas à nossa volta podem glorificar a Deus na medida em que realizam em si mesmas as coisas pelas quais elas foram feitas. É por isso que não existe jazz gospel. Há coisas em que não vamos conseguir colocar o nome de Deus.
A pergunta então é: isso não é para Deus? O nome de Deus será glorificado quando o seu trabalho for o melhor. Você não precisa colocar o nome de Deus nele. De alguma forma, precisamos repensar nossa maneira de servir a Deus. Enquanto pensarmos nosso serviço a Cristo apenas em termos dualistas, ou seja, somente posso servir a Deus tocando um instrumento ou pregando, iremos servi-lo apenas dessa maneira. Se você estuda química, matemática, zootecnia etc., e não consegue imaginar usar essas coisas na igreja, você deve se conscientizar que o senhorio de Cristo não está preso às quatro paredes da igreja.
Quando falamos do senhorio de Cristo no contexto universitário, estamos chamando atenção para uma cegueira. Isso envolve sabedoria. Quando fazemos um estudo sobre o nascimento das universidades, vemos que elas surgem a partir do contexto eclesiástico. É incrível como perdemos essa ligação entre Deus e a universidade.
Como ver o senhorio de Cristo na universidade? A ideia mais grosseira seria transformar-se em professor para evangelizar. É como uma emboscada. O aluno vai assistir a uma aula de introdução a algum pensamento, acredita que realmente vai estudar isso, mas você apresenta Jesus. O maior folheto evangelístico que você tem é você mesmo.
Quando estava na PUC, uma das minhas maiores dificuldades era que, quando explicava o evangelho a alguém e a pessoa gostava, chegava um professor ateu inteligente e então aquela pessoa queria ser como esse professor. Eu olhava para o meu contexto universitário e não tinha nenhum professor evangélico. Havia a ideia de que ou você é inteligente ou é evangélico. Precisamos fazer ciência na universidade. E precisamos fazer isso pra valer. As pessoas irão olhar então para você e perguntar sobre aquilo em que você acredita, porque você está contribuindo para a universidade. Quando você entende o senhorio de Cristo, você não pensa: “Meu Deus estou estudando teoria geral do processo enquanto muitas almas estão morrendo!”
A igreja e a universidade
Infelizmente, a relação da igreja com a universidade é “menos zero”. A igreja consegue preparar um missionário para um país não alcançando, completamente radical em relação à sua crítica ao evangelho, para que possa fazer um trabalho suado, mas não consegue preparar um missionário para o campo universitário. A igreja tem medo da universidade. Eles têm medo de que o jovem entre na universidade. Ficam desesperados. Os pastores têm medo de perguntas. “Pastor, será que a criação foi em sete dias mesmo?” Não dá pra ter uma conversa franca. A igreja não sabe lidar com a universidade e o nome dessa igreja são os pastores. Os pastores não amam a universidade. Enquanto não derem “um beijo” na universidade, continuarão a perder universitários cristãos.
Qual igreja você conhece que consegue investir em um jovem para que possa fazer pós-graduação, doutorado em biologia? Vão pensar, “por que a igreja precisa de biólogo?”. A biologia é um saber que pode glorificar a Deus. Quando fazemos da melhor maneira, Deus é glorificado. Por que você não consegue usar sua ciência para glorificar a Deus, para servir a Deus? Estamos vendo o senhorio de uma maneira muito equivocada.
O filósofo Georg Hegel era protestante e a igreja pagou todos os estudos dele. Se ele foi reconhecido por aquilo que ele fez, foi porque a igreja fez isso. Quantas de nossas igrejas estão investindo pesado nos universitários?
Enquanto os pastores não entenderem que podemos glorificar a Deus e servi-lo em outros campos, não conseguiremos ter um contexto universitário em que podemos vislumbrar o senhorio de Cristo sendo glorificado por cristãos e que são chamados.
Como disse Bruce Nichols, “O evangelho nunca é hóspede da cultura, mas sempre seu juiz e redentor”. Neste sentido, o evangelho nunca é o hospede de uma universidade, porque ele é sempre o juiz.
A doutrina da encarnação
Para que isso possa acontecer, precisamos ter conhecimento da doutrina da encarnação. E ela ensina duas coisas:
1. Deus é Senhor: Quando Deus quis revelar algo de si sobre a humanidade de uma maneira mais sublime, Ele o fez por meio da encarnação. Deus se tornou homem. Tornou-se carne. Isto significa que Deus participou de nossa realidade. Precisamos nos inspirar na doutrina da encarnação. Se queremos influenciar a universidade, não podemos vê-la como inimiga da fé. Precisamos participar, nos engajar. Em outras palavras, estou dizendo que aproveite o que você esta fazendo e seja o melhor juiz, o melhor biólogo. Faça o melhor curso. O que mais precisamos hoje é de referências na universidade. Enquanto não tivermos, seremos sempre considerados uma subclasse.
2. Não apenas devemos participar, mas também comunicar o evangelho: Jesus comunicou o evangelho em nossa linguagem. Você acha que o evangelho chegaria até nós se Ele não assumisse a humanidade? Ele precisou ser como nós para que pudéssemos, a partir de sua humanidade, entendermos o que Ele queria comunicar a nós. Existem varias linguagens. Filosófica, biológica, psicológica, e podemos comunicar através dessas linguagens. O maior desafio, então, é como podemos usar essa linguagem e comunicar com ela essa visão de mundo que o evangelho nos dá.
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Talvez a maior dificuldade seja, no fundo, o seu pastor. Precisamos encontrar pessoas que entendam nosso dilema, a tensão que enfrentamos em todas as áreas do saber, e que possam nos tutorear. Qualquer ministério que, de alguma forma, esteja presente na universidade, tem condições de fazer isso.
Que a mensagem de hoje te anime a mergulhar nos seus estudos, sabendo que eles podem glorificar a Deus ainda que eles sejam um monte de números.
Jonas Madureira é bacharel em teologia pelo Betel Brasileiro e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, bacharel e mestre em filosofia pela PUC-SP e doutor em filosofia pela USP e Universidade de Colônia (Alemanha). É professor de Teologia Sistemática e Apologética no Seminário Martin Bucer e de Filosofia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Autor do livro Filosofia, do Curso Vida Nova de Teologia Básica, Inteligência humilhada e Tomás de Aquino e o conhecimento de Deus, publicados por Edições Vida Nova. É também pastor na Igreja Batista da Palavra, em São Paulo. |
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Inteligência humilhada é fruto de uma cuidadosa reflexão sobre como se relacionam o conhecimento de Deus e os limites da razão humana. Além disso, é o resgate de uma tradição do pensamento cristão que sempre se recusou a reduzir o debate entre fé e razão nos termos do racionalismo ou do fideísmo. A finalidade do conceito de “inteligência humilhada” é despertar o interesse por uma razão que ora e uma fé que pensa. Seguindo o conselho de João de Salisbúria, Jonas Madureira subiu nos ombros de cinco gigantes da tradição cristã: Agostinho de Hipona, Anselmo da Cantuária, João Calvino, Blaise Pascal e Herman Dooyeweerd. Todos eles serviram de ponto de partida e fundamentação do conceito. Ao longo deste livro, essas cinco vozes, sobretudo a de Agostinho, são ouvidas nos mais diversos assuntos: teologia propriamente dita, revelação natural, problema do mal, gramática da antropologia bíblica, formação de um teólogo entre outros. Publicado por Vida Nova. |
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