“Prove-me que Deus existe”: Esclarecendo o ateísmo, o agnosticismo e outros assuntos | Paul Copan

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Horton e o Mundo dos Quem (Blue Sky Studios, 2008)

Depois de uma palestra dirigida à Sociedade Filomática — um clube de debate — na Union College, em Schenectady, Nova York, um aluno se aproximou de mim e exigiu o seguinte: “Prove para mim que Deus existe.”

Eu lhe perguntei: O que você consideraria como um nível aceitável de prova?

O aluno parou e finalmente respondeu: “Acho que nem sequer refleti sobre isso”. A conversa, que acabou sendo bastante amigável, acabou pouco tempo depois disso.

Em geral, quando os céticos pedem por “prova” aos cristãos, eles estão quase sempre pedindo por “provas científicas” para a existência de Deus: valores morais objetivos, a alma, ou vida após a morte. Já é de se esperar esses desafios em uma era de cientificismo – a crença de que a ciência e, portanto, “as provas científicas”, podem por si mesmas produzir conhecimento. Desde os ataques do 11 de setembro, esse moderno critério “iluminista” para obter conhecimento vem sendo reforçado pelos “Novos Ateus” Daniel Dennett, Richard Dawkins, Sam Harris e o falecido Christopher Hitchens. Richard Dawkins, por exemplo, escreve: “Conceitos científicos são fundamentados em evidências, e eles dão resultados. Mitos e crenças não se apoiam em evidências nem dão resultados.[1]

Esses críticos presumem que cristãos e outros teístas carregam o ônus da prova para mostrar que Deus existe. Enquanto isso, os ateus podem cruzar os braços e avaliar o que quer que os teístas possam apresentar. Se nada do que for apresentado for próximo, ou se não for evidência suficientemente forte para eles, então eles costumam achar que estão devidamente justificados na sua rejeição a Deus. Mas, é esse o procedimento adequado levando-se em conta a racionalidade e outras considerações apropriadas?

Em resposta a tais desafios, é prudente esclarecer e definir nossos termos. O que queremos dizer com ciência? O que é conhecimento? Qual a diferença entre um ateu e um agnóstico? Deve-se também esclarecer a respeito das “regras do diálogo” de modo que se possa ter uma conversa honesta sobre esses assuntos.

Ciência, Cientificismo e Conhecimento

Em primeiro lugar, vamos esclarecer algumas confusões a respeito da ciência e do conhecimento. Para isso, devemos fazer a distinção entre ciência e cientificismo. Como filósofo cristão da ciência, Del Ratzsch a define como a tentativa de estudo objetivo do mundo e dos fenômenos naturais, cujas teorias e explicações normalmente não se separam do mundo natural.[2]

Neste ponto, alguns vão tergiversar em torno da palavra “normalmente”. Esse termo, insinuam eles, “coloca Deus ilegitimamente dentro da ciência”. Mas pensar assim é um equívoco. Insistir que tudo que acontece no mundo físico demanda uma explicação materialista é uma petição de princípio, ou seja, é pressupor o que se quer provar. Mas se Deus existe, criou e projetou o universo, é perfeitamente cabível que ele atue diretamente no mundo de acordo com Seus bons e sábios propósitos. Além do mais, os atos de Deus no mundo deixariam, a princípio, rastros detectáveis dessa atividade no mundo físico – seja o Big Bang, o ajuste fino do universo, ou milagres como a transformação da água em vinho. Por exemplo, o livro de dois volumes de Craig Keener, Milagres, é uma obra que fornece farta documentação para esses vestígios físicos, como curas e ressurreições realizadas em nome de Jesus. Keener afirma possuir os “raios x” do antes e dos primeiros momentos após de várias dessas curas.[3] Então, enquanto muito do que ocorre no mundo físico tenha explicações naturais, exigir apenas explicações naturais para qualquer fenômeno físico na verdade vai além da ciência para atender as rígidas exigências do cientificismo, o qual pressupõe que o mundo físico é tudo que existe (em outras palavras, naturalismo). No interesse de buscar a verdade, não deveríamos estar à procura da melhor explicação para um evento físico – natural ou sobrenatural – e não necessariamente a melhor explicação natural?

Na versão em filme do livro Horton Hears a Who (no Brasil, Horton e o Mundo dos Quem), do Dr. Seuss, o canguru insiste que Horton, o elefante, está errado quanto à existência de vida sobre um pequeno grão de pó. Indignado com a crença de Horton nesses pequenos seres, o canguru declara de forma naturalista: “Se você não pode ver, ouvir, ou sentir algo, esse algo não existe”. O cientificismo afirma que só podemos conhecer por meio da observação científica.[4] Mas perceba: esta é uma pressuposição filosófica; não é o resultado de observação científica ou pesquisa. É uma afirmação sobre a ciência, não uma afirmação da ciência. Como podemos saber na realidade que a ciência por si só produz conhecimento? Ou, coloquemos de outra maneira: Como se pode provar cientificamente que todo conhecimento deve ser cientificamente demonstrável? A exigência “Sempre prove cientificamente” é uma declaração autocontraditória.

Vamos focar um pouco agora no que significa a palavra conhecimento. Economizando uma boa dose de debate, podemos dizer que o conhecimento tem três componentes: (a) uma crença que é (b) verdadeira e (c) que possui fundamento (ou, outros podem chamar de justificação): uma crença verdadeira fundamentada. Agora, essencial ao conhecimento é que a crença seja verdadeira. Então, eu não posso afirmar com acerto, “Eu sei que a terra é plana” ou “Eu sei que círculos são quadrados”. Você pode acreditar em afirmações e proposições falsas, mas não pode conhecê-las. A verdade está ligada ao conhecimento. Ademais, conhecimento requer que uma crença verdadeira tenha fundamento – ou algo que transforme uma crença verdadeira em conhecimento. Ter uma crença acidentalmente verdadeira não é conhecimento. Ter um bom pressentimento que acaba acontecendo não é conhecimento. Ou digamos que você conclua que seja 2h12 olhando para o relógio de uma vitrine; verifica-se que você está correto, mas apenas por coincidência: na realidade, o relógio não está funcionando. A crença de que seja 2h12 neste caso não conta como conhecimento também.

Assim sendo, desde a época de René Descartes (1596-1650), uma definição de conhecimento extremamente rigorosa, porém perniciosa, veio a contaminar o pensamento moderno – a saber, que conhecimento demanda 100% de certeza.[5] Então, caso seja “logicamente possível” que você esteja errado, você não conhece de fato. Por isso, muitas pessoas acabam ficando bastante indecisas sobre o que pode ser corretamente denominado de “conhecimento”. Todavia, seguir esse padrão absoluto, rígido, é tolice. Certamente, só Deus poderia satisfazê-lo. Mas nenhum epistemologista (filósofo que se especializa no estudo do conhecimento) confiável aceita esse mito do “conhecimento só com 100% de certeza”. Uma razão principal para isso é esta: não se pode saber com 100% de certeza que o conhecimento exige 100% de certeza. Além disso, é possível que conhecermos verdadeiramente muitas coisas que não atingem esse nível de confiança absoluta. Por exemplo, você sabe que existe um mundo independente de sua mente – ainda que seja logicamente possível que se trate apenas de uma ilusão – maya, como chamaria a escola de pensamento Hindu Advaita Vedanta. Deste modo, digamos que essa possibilidade lógica reduza o “nível de certeza” para 97%. Isso significa que não podemos saber realmente que um mundo externo existe? Bem, de que modo “os 100%” sabem que não existe mesmo um mundo fora de nossas mentes? O fato é que sabemos com certeza de muitas coisas, ainda que não seja com uma completa certeza. Na verdade, haveria pouquíssimas coisas que poderíamos conhecer se fôssemos adotar esse padrão exigente.

No que se refere ao conhecimento da existência de Deus, o teísta não tem que cumprir o padrão absoluto de Descartes. O crente pode ter várias boas razões em favor da crença em Deus – mesmo que essas razões não sejam matematicamente certas e absolutas. Uma forma apropriada de fazer uma defesa racional da existência de Deus é perguntar: Que contexto faz mais sentido considerando as características importantes do universo e da existência humana? Por exemplo, estamos cientes da existência da consciência, do livre arbítrio ou de uma suposta responsabilidade pessoal, personalidade, racionalidade, deveres, e valor humano – sem mencionar o início, o ajuste fino e as belezas do universo. Esses aspectos do universo e da existência humana dificilmente são surpreendentes se existe um Deus bom, pessoal, consciente, racional, criativo, poderoso e sábio. No entanto, esses fenômenos são bastante espantosos e chocantes se forem o resultado de processos materiais deterministas, sem valor, inconscientes, sem direção, irracionais. Temos todos os motivos para pensar que um mundo naturalista não produziria esses fenômenos – ao contrário do teísmo – e muitos dentre os próprios naturalistas registraram surpresa e até espanto de que tais características apareçam num universo materialista e determinista.[6]

Teísmo, Ateísmo e Agnosticismo

Há alguns anos, eu estava falando para um fórum aberto no Instituto Politécnico de Worcester (Massachusetts). Após concluir minha palestra, um estudante se pôs em pé e anunciou confiantemente: “O motivo pelo qual sou ateu é que não há nenhuma boa razão para acreditar em Deus”. Eu disse a ele, “Você tem que ser um agnóstico, então. Afinal, é possível que Deus exista mesmo que não haja nenhuma boa razão para a sua existência disponível a nós”. Em seguida, continuei perguntando que tipo de agnóstico ele era.

Isso nos leva a nosso segundo conjunto de termos a serem esclarecidos – teísmo, ateísmo e agnosticismo – e devemos também abordar a questão de quem carrega o ônus da prova em face desses pontos de vista conflitantes.

Sem dúvida, o teísta faz uma declaração sobre a realidade ao afirmar que Deus existe, um ser maximamente grande e digno de adoração. Então o teísta, que faz a afirmação de conhecer algo, deve carregar o ônus da prova. Como esta crença é justificada? Contudo, isso significa que o ateu e o agnóstico não estão fazendo uma declaração? Essa seria uma suposição equivocada.

Vamos considerar o ateu por um momento. Michael Scriven, um autodeclarado filósofo ateu, na verdade conceitua a sua própria visão de forma equivocada. Ele insiste: “Não precisamos de provas de que Deus não existe a fim de justificar o ateísmo. O ateísmo é obrigatório na ausência de qualquer evidência para a existência de Deus”.[7] Ele acrescenta que o conceito de Deus e a ideia do Papai Noel compartilham igualmente a mesma posição de serem “irreais” por não haver evidências para nenhum dos dois.[8]

Há, pelo menos, cinco problemas com as afirmações de Scriven. O primeiro é que ele define incorretamente o ateísmo. O falecido proeminente filósofo Anthony Flew – um ateu que veio a crer em Deus no fim de sua vida – definiu ateísmo como sendo a “rejeição da crença em Deus”.[9] Então, tem-se a Enciclopédia de Filosofia (1967), a qual define um “ateu” como “aquele que sustenta que não há Deus, isto é, que a afirmação “Deus existe” expressa uma falsa proposição.”[10] Julian Baggini, filósofo ateu, define ateísmo como “a crença de que não há Deus ou deuses”.[11] O fato é que a definição padrão de ateísmo é a rejeição da crença em Deus/deuses. A implicação é clara: se o ateísmo faz a alegação de conhecimento de que Deus não existe, esta posição carece de fundamentação tanto quanto a alegação do teísta de que Deus existe. Ambos carregam o ônus da prova uma vez que ambos fazem alegações.

Segundo, a descrição de Scriven não leva em conta nenhuma distinção entre ateísmo e agnosticismo. Então, qual é a diferença? O agnóstico não sabe se Deus existe ou não. Digamos que o agnóstico creia que as evidências para Deus estão absolutamente em falta e que as evidências que favorecem o ateísmo também estejam absolutamente em falta. Por que, então, não tomar o curso oposto de Scriven? Em vez disso, por que não dizer que na ausência de evidência para o ateísmo (“Deus não existe”), deve-se tonar um teísta?

Poderíamos acrescentar que, se tanto o ateu como o agnóstico afirmam que faltam evidências para a existência de Deus, como Scriven distingue estas duas posições? De acordo com sua proposta, o agnosticismo acabaria sendo idêntico ao ateísmo. Todavia, tal confusão de categorias não existe se adotarmos o entendimento padrão de ateísmo como rejeição da crença em Deus – não meramente uma ausência de crença, o que descreve o agnóstico corretamente. Claro que um agnóstico pode dizer que existem mesmo algumas evidências para Deus, mas que algumas evidências contra o impede de crer em Deus – vamos dizer que são 50% de um lado e 50% de outro. Porém, esta última questão é irrelevante aqui. A definição de ateísmo de Scriven não se sustenta.

Terceiro, a ausência de evidência não é evidência de ausência. Como observei anteriormente, se as evidências para Deus estão ausentes, a conclusão mais lógica a se tomar seria o agnosticismo. Afinal de contas, é possível que Deus exista ainda que as evidências a favor de Deus estejam de certo modo em falta. Neste caso, devemos suspender a crença, o que corresponde a uma mera ausência de crença, todavia diferente de uma rejeição à crença (ou seja, ateísmo). Por que pensar que estamos obrigados a desacreditar?[12]

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Quarto, e se a crença em Deus for “propriamente básica”, mesmo sem evidências que a embase? Alguns filósofos cristãos como Alvin Plantinga e Nicholas Wolterstorff argumentam que normalmente acreditamos em muitas coisas sem evidências ou argumentos – por exemplo, que existem outras mentes ou que o universo é mais antigo do que quinze minutos. Por que não poderíamos afirmar o mesmo sobre a existência de Deus – que ela é “propriamente básica”? Em outras palavras, quando nossas mentes estão funcionando adequadamente e concentradas em busca da verdade, uma crença firme e convincente na existência de Deus pode naturalmente originar-se a partir dessa experiência. Esses filósofos – que se chamam “epistemologistas reformados” – não negam que existam evidências a favor da existência de Deus – dizem apenas que as evidências não são obrigatórias para que a crença em Deus seja racional.

Assim, podemos afirmar que a crença em outras mentes ou em um universo mais antigo que 15 minutos é apenas parte de nosso bom senso, da experiência diária, constituindo-se, portanto, em uma evidência em si mesma. Logo, essas experiências básicas servem como evidência, ainda que essa evidência não tenha sido produzida por meio de argumentos sólidos. Mas, se esses epistemologistas reformados estiverem corretos, podemos falar de crença em Deus sem argumentos ou evidências.

Em quinto lugar, afirmar que Deus e Papai Noel estão no mesmo nível é uma comparação falaciosa. Temos fortes evidências de que o Papei Noel não existe. Sabemos de onde vêm os presentes de Natal. Sabemos que seres humanos – muito menos, duendes – não moram no Polo Norte. Podemos ter certeza de que o Papai Noel humano, se existisse, seria mortal e não eterno e imortal. Estas são evidências contra a existência do Papai Noel. Em contraste, temos de fato evidências que apontam para a existência de Deus – o início e o ajuste fino do universo, a consciência, a racionalidade, a beleza, a dignidade e o valor humano e o livre arbítrio. Essas evidências se encontram definitivamente em outro nível.

À luz dessas observações, convém fazermos outra importante distinção. Há dois tipos de agnóstico: (1) o agnóstico comum, que diz, “Eu gostaria muito de saber se Deus existe ou não, mas não tenho conhecimento o suficiente para ir além disso” e (2) o agnóstico rabugento, que assevera, “Não sei se Deus existe ou não – e nem se pode saber.” O segundo – o agnóstico cabeça-dura ou militante – faz a alegação radical segundo a qual ninguém pode saber se Deus existe. Perceba que o agnóstico militante também está fazendo uma alegação de conhecimento. Mais uma vez, tal alegação necessita de fundamentação tanto quanto as alegações ateístas e teístas, respectivamente. Embora esse tipo de agnóstico defenda que não se possa saber que Deus existe, por que insistir que ninguém mais possa? E se Deus Se revelar a alguém de uma forma poderosa, mas pessoal – digo, em uma sarça ardente ou em uma visão em seu quarto? Mesmo que a evidência para tais encontros não esteja publicamente acessível ao agnóstico cabeça-dura, o teísta persuadido acerca da existência de Deus por meio desses encontros está justificado em sua crença, e o agnóstico não poderia, com justiça, excluir essas possibilidades.

Como mencionado anteriormente, as evidências para a existência de Deus estão amplamente disponíveis em meio à criação, consciência, racionalidade, e experiência humana. Adicionalmente, a fé bíblica – ao contrário de outras religiões tradicionais – é verificável; ela está aberta ao escrutínio público. Se, por exemplo, Cristo não tivesse ressuscitado dos mortos, a fé cristã seria falsa, como Paulo argumenta em 1Coríntios 15. De fato, as Escrituras enfatizam constantemente o papel das testemunhas oculares, a importância dos sinais e maravilhas públicos na origem da fé (João 20:30,31), e outras evidências históricas para todos analisarem.

Apesar de termos motivos racionais para a crença em Deus, não nos esqueçamos das amplas razões práticas e existenciais para apreciá-lO. Isto é, a satisfação dos nossos desejos mais profundos acha-se em Deus. Esse auxílio provido pela crença teísta é, por vezes, passada por alto pelo cético. Nosso anseio por identidade, segurança e significado, nosso desejo por imortalidade e esperança para além do túmulo, nossa busca tanto por perdão de nossa culpa como pela remoção do opróbrio, ou o desejo por justiça cósmica – todos esses anseios são saciados por Deus em Cristo, que colocou a eternidade em nossos corações (Ec 3:11). Se fomos feitos para um relacionamento filial com Deus, por que não levar em conta esses desejos? Na verdade, cabe sermos sábios ao considerar esses motivos – em paralelo aos motivos racionais – uma vez que portamos a imagem de Deus, a qual vai além da experiência humana racional incluindo um amplo conjunto de considerações.

Fé e Evidência, Conhecimento e Ignorância

Qual a situação, portanto, do agnóstico comum? Aqui precisamos fazer outras distinções. “O agnóstico comum é inocente em sua ignorância de Deus, ou sua ignorância é culpável?” Em 2002, quando me encontrava em Moscou, tirei uma foto da “troca de guarda” a qual fica em frente à tumba do soldado desconhecido localizada aos pés da Muralha de Kremlin. Para tirar essa foto, pisei na grama, e, sabendo o suficiente de russo, não vi nenhum sinal afixado de proibição para o que eu estava fazendo. Mas, um segurança me afastou rapidamente do local, me dizendo que eu tinha feito algo muito errado – talvez pretendendo um suborno. Depois de me perguntar sobre meus estudos formais, ele exclamou, “Você é filósofo e não sabe mesmo que não se deve pisar na grama aqui?” Este foi verdadeiramente um caso de ignorância inocente.

Agora, e se eu extrapolasse a velocidade ao descer uma avenida ignorando os sinais? Caso a polícia rodoviária me abordasse, eu não poderia alegar, “Sou inocente; Não vi os sinais.” Minha ignorância seria culpável uma vez que tenho a obrigação de prestar atenção aos sinais de limite de velocidade. Receio que muitas pessoas que afirmam ignorância em relação à existência de Deus são mais como apateístas, que não se importam se Deus existe. Infelizmente, essas pessoas dedicam suas vidas em todos os tipos de lazer – Facebook, assistir filmes, cruzeiros de luxo, golfe – mas não levantam um dedo para meditar na questão mais significativa de todas, a existência de Deus. Por que Deus deveria Se revelar aos indolentes e apáticos?

E por que Ele se revelaria aos orgulhosos e arrogantes, que exigem que Deus “mostre a si mesmo” por meio de pirotecnia? (Mt 16:4) Tal demonstração produziria conversão e amor genuínos por Deus? Afinal de contas, os israelitas tiveram muitos sinais – as dez pragas do Egito, a abertura do Mar Vermelho, a provisão do maná toda manhã, a constante presença de uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite. Mesmo assim, a maioria dos israelitas morreu na incredulidade após manifestações de idolatria, rebelião e murmuração (1Cor 10:1-13). A evidência – ainda que consista na ressurreição de uma pessoa dos mortos – não garante fé em Deus. (Lc 16:31). Deus está interessado em algo mais do que nossa crença real e fundamentada de Sua existência. Até os demônios são firmes monoteístas (Tg 2:19). A pergunta mais urgente é: Estamos dispostos a conhecer e sermos conhecidos por Deus, a nos submetermos a Ele como nossa Autoridade Cósmica?

Buscar a Deus de todo o coração é fundamental para que Deus Se revele a nós (Jr 29:13). Como colocou o filósofo Blaise Pascal,

“[…] disposto a Se mostrar abertamente aos que O buscam de todo o coração, mas a ocultar-Se daqueles que fogem dEle com a mesma intensidade, Ele então administra o conhecimento de Si mesmo, dando sinais visíveis para os que O buscam, mas nenhum sinal para aqueles que dEle se afastam. Há luz suficiente para os que apenas desejam enxergar, e obscuridade o bastante para os que possuem disposição contrária.”[13]

Além do mais, Deus pode ter determinados motivos para Se ocultar – como por exemplo, encorajar uma confiança e perseverança maiores, aperfeiçoar o caráter, e assim por diante. Ele Se revela da forma como quiser.

Reflexões finais

Em se tratando de teísmo, ateísmo e agnosticismo, deve-se ter muito cuidado na definição das palavras. Esse cuidado equivale a ter uma noção do que significa conhecimento e ignorância. Vimos que o ateísmo – a crença de que Deus não existe – não é a definição inicialmente dada. Ateus, teístas e agnósticos mais rígidos, todos fazem uma afirmação quanto à realidade em relação a Deus, e esta afirmação deve ser justificada em vez de apenas pressuposta. Cada uma dessas posições carrega o ônus da prova – não apenas os teístas. Até mesmo o agnóstico comum pode simplesmente ser um “apateísta” e, assim, seria culpado por sua ignorância. As evidências estão disponíveis e Deus está disposto a Se revelar, mas as evidências – sem a humildade de coração – não produzirão uma confiança e um comprometimento genuínos para com Deus.

____________________

[1] River Out of Eden: A Darwinian View of Life (New York:  BasicBooks, 1995), 33. [edição em português: O Rio que saía do Éden – Uma visão darwiniana da vida]

[2] Del Ratzsch, Philosophy of Science (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1986), 15.

[3] Craig Keener, Miracles, 2 vols. (Grand Rapids: Baker Academic, 2011). Para mais relatos de milagres documentados, ver o capítulo 7 de J.P. Moreland, Kingdom Triangle (Grand Rapids: Zondervan, 2007). [edição em português O Triângulo do Reino (Vida, 2011)]

[4] A versão mais fraca do cientificismo afirma que a ciência é a melhor forma de obter conhecimento, mas ele é geralmente articulado em sua versão mais forte.

[5] Os critérios de Descartes para a recepção da crença são “autoevidentes”, “incorrigíveis” e “evidentes aos sentidos.” Evidentemente, os critérios dele não são autoevidentes, incorrigíveis e tampouco evidentes aos sentidos.

[6] Para mais detalhes a respeito, ver Paul Copan, “The Naturalists Are Declaring the Glory of God: Discovering Natural Theology in the Unlikeliest Places”, em Philosophy and the Christian Worldview: Analysis, Assessment and Development, eds. David Werther & Mark D. Linville (New York: Continuum, 2012), 50-70; Paul Copan e Paul K. Moser, The Rationality of Belief (London: Routledge, 2003); Paul Copan, Loving Wisdom: Christian Philosophy of Religion (St. Louis: Chalice Press, 2007); William Lane Craig e J. P. Moreland, eds., The Blackwell Companion to Natural Theology (Oxford: Blackwell, 2012).

[7] Michael Scriven, Primary Philosophy (New York: McGraw-Hill, 1966), 102.

[8] Ibid., 103.

[9] Antony Flew, Dictionary of Philosophy (New York: Macmillan, 1979), 28.

[10] Paul Edwards, ed., Atheism”, Encyclopedia of Philosophy (New York: Macmillan, 1967), 1:175.

[11] Julian Baggini, Atheism: A Very Short Introduction (Oxford: Oxford University Press, 2003), 3. [edição em português: Ateísmo – Uma Breve Introdução(L&PM Pocket, 2016)]

[12] Para uma discussão sobre o assunto, veja Alvin Plantinga, “Reason and Belief in God”, em Alvin Plantinga e Nicholas Wolterstorff, eds., Faith and Rationality (Notre Dame: University Press, 1983), 27.

[13] Pensées (Eng. Thoughts), #430. [edição em português: Pensamentos (Martins Fontes, 2005)]

Traduzido por Reginaldo Castro e revisado por Maria Gabriela Pileggi.

Texto original: Prove to me that God Exists: Getting Clear on Atheism, Agnosticism, and a Few Others Matters. Houston Baptist University.

Paul Copan (Ph.D., Marquette University) é filósofo e teólogo cristão, professor na Palm Beach Atlantic University onde leciona na disciplina de Filosofia e Ética. É autor e editor de 30 livros, incluindo Did God Really Command Genocide? (Baker) e An Introduction to Biblical Ethics: Walking in the Way of Wisdom (IVP Academic). Atuou como presidente da Evangelical Philosophical Society (Sociedade Filosófica Evangélica) por seis anos. Seu site é: www.paulcopan.com
Jesus_dos_evangelhosO VERDADEIRO JESUS QUEIRA, POR FAVOR, FICAR DE PÉ!

O Jesus que andou pelas ruas de Nazaré é o mesmo Jesus a quem os Evangelhos atribuem milagres e divindade? Os cristãos podem legitimamente afirmar que se trata realmente da mesma pessoa? Em suma, quem é o “verdadeiro Jesus”?

Este livro é a primeira tentativa de diálogo entre conservadores e liberais em torno do Jesus histórico, tomando por base um debate recente entre John Dominic Crossan, ex-codiretor do Jesus Seminar [Seminário Jesus], e o evangélico conservador William Lane Craig. Na busca por se manter imparcial em sua apresentação do debate habilmente moderado por William F. Buckley Jr., a obra apresenta ainda a reflexão de quatro especialistas no assunto: Robert Miller e Marcus Borg, que representam o Seminário Jesus, e Craig Blomberg e Ben Witherington III, que oferecem as respostas conservadoras.

Publicado por Vida Nova.

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