Natal: Operação Resgate | Lucas Sabatier
22/dez/2015A Grande Aposta – Tem uma agulha no palheiro, e o palheiro está pegando fogo. | Silas Chosen
12/fev/2016*Spoilers da Trilogia Clássica de Star Wars aos montes*
Você conhece Star Wars, certo? Então não preciso introduzir o assunto.
Você conhece o Darth Vader? Conhece.
Talvez só mesmo a imagem de Charles Chaplin seja mais icônica do que a máscara, a voz e o climão que fica toda vez que ele entra em cena. Darth Vader é o vilão mais popular e mais famoso da história do cinema. Como personagem, tem uma qualidade um pouco relativa, já que a maneira com a qual é escrito muda de filme para filme. No primeiro ele era um pouco mais do que um capanga. Quando o criador da saga, George Lucas, percebeu que viriam mais filmes, criou a história da paternidade mais surpreendente do cinema. Vader então deixou de ser uma peça exemplar de design. Ele tornou-se um mito.
O filme menos popular da trilogia clássica de Star Wars é “O Retorno de Jedi”, e por ótimos motivos. O roteirista segurou a mão em muitas coisas e a área de marketing conseguiu colocar “ursinhos bonitinhos” para lutarem contra o Império (e vencerem…?). Um dos fatos que mais divide os fãs é como aquele mito acaba. Como é o fim do maior vilão da história do cinema. Se você assistiu, você lembra bem: Vader se sacrifica para matar o Imperador e salvar seu filho, Luke. No último momento, Vader obtém uma pequena redenção.
Luke passou o filme inteiro lutando contra o conceito fatalista de que seu pai não teria retorno. Ele afundou demais na escuridão. O que todos lhe diziam é que não havia como recuperar seu pai. O próprio Darth Vader lhe diz isso. Não há volta. Ele é mais máquina do que homem. Seguindo o conceito de fascismo vs. liberdade que a saga toda apresenta, “ser máquina” é mais do que “ter muitas partes artificiais no seu corpo”. Vader é parte da máquina de guerra que o criou e que o mantém. Máquina essa que precisa muito dele como estrategista, como piloto, como comandante, como símbolo.
E mesmo assim, Luke, armado só com sua espadinha, se entrega ao Império para tentar resgatar seu pai. Ele sabe que seu pai ainda está lá dentro, preso. Não sabe se ele quer sair. Mas precisa tentar, afinal, pai é pai.
A redenção de Vader choca muitos fãs. E chocou muita gente na pré-produção do filme também. Quando George Lucas teve a ideia, muita gente foi contra. Um dos produtores do filme, um cristão praticante, discutia vigorosamente contra a ideia. Até que o próprio George Lucas o lembrou: “Ei, não é na sua religião que a redenção é prometida a todos aqueles que se arrependem?”.
Para os produtores do filme e para muita gente, Darth Vader é o Hitler espacial. E não há redenção para nenhum tipo de Hitler. Levado a extremos um pouco mais profundos (ou mais superficiais, depende do seu ponto de vista), não há redenção para os maus. Aquele que é “mau” deixa de ser uma pessoa. Torna-se, imediatamente, nada mais do que um obstáculo.
Há um conceito que parece complexo, mas é aplicável até mesmo numa obra tão abertamente maniqueísta quanto Star Wars. Ninguém realmente é “mau”. O problema sempre está na perspectiva de como fazer o “bem”. Ninguém, com a exceção talvez do Imperador Palpatine, faz maldades só por serem maldades (salvo doença mental ou roteiro simplista). Há sempre uma necessidade oculta por trás das atrocidades que nossa raça cria (política, social, organizacional). O próprio Império da saga era “do bem”, já que perseguia os criminosos e espalhava a “ordem”. Todo mundo, o tempo todo, acha que está certo. É por isso que existe uma “régua”, um padrão de moral e conduta aceito por todos. Para uns é o conteúdo moralmente aplicável da Bíblia. Para outros, do Corão. Para todos, é o que encaixa na consciência e “faz sentido”. Um sistema de regras externo, igual a todos, que define a todos os seus direitos e deveres. Quando alguém sente que uma de suas necessidades ultrapassa a necessidade de manter-se fiel a esse padrão, ou quando a própria consciência da pessoa não abrange conceitos mais diversos, cria-se a “maldade”. Mas, o ser humano não deixa de existir.
Você já ouviu de algum amigo, de algum colega, de algum parente na mesa de Natal, que bandido bom é bandido morto. Que determinada pessoa “teve o que mereceu”. É mesmo tão absurdo achar incompatível que essas pessoas muitas vezes sejam nossos colegas da igreja, que dizem ser tão íntimos de conceitos como amor, solidariedade e, acima de tudo, graça? Sede de justiça é algo louvável, mas olhe mais de perto. Isso não é sede de justiça. Isso é cegueira. Aplique a Graça que Deus exerce através de Jesus Cristo neste cenário e você vai perceber a dura realidade: se todos pecaram e carecem da Glória, isso inclui eu, você e o pessoal que curte comentários “justiceiros” (a não ser que alguém tenha realmente merecido sua própria redenção e esse deve ser o animal mais raro do mundo).
Essa é a realidade que nos foi dada. Somos todos famintos por redenção porque somos todos parte do sistema imperial que aniquila vidas. Um distúrbio na Força. Milhões de vozes que se calam de repente. Sair desse sistema é ser verdadeiramente liberto. E para muitos é um processo difícil.
Ver acontecer na tela do cinema é fácil. É muito bonito. Trazer para si…
Certamente, quase todos aqueles que gritavam o nome de Barrabás se emocionariam com o final de “O Retorno de Jedi”.
Silas Chosen é roteirista, cineasta, publicitário, ilustrador e é viciado em cinema e histórias. Escreve para sites e programas de rádio sobre cinema, cultura pop e cristianismo desde 2004. Faz parte da 4U Films, ministério de cinema independente. |
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