Quando a Ciência e as Escrituras entram em conflito – Uma abordagem reformada sobre a relação entre Ciência e Escrituras | Keith Mathison

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The center third of "Education" (1890), vitral de Louis Comfort Tiffany e Tiffany Studios, localizado na Linsly-Chittenden Hall na Yale University.

Nesta série, estamos discutindo a resposta do Dr. R. C. Sproul a uma pergunta sobre a idade do universo, durante o momento de perguntas e respostas na Conferência Nacional Ligonier de 2012. Em nosso último post, vimos a distinção de Calvino entre o conhecimento das coisas terrenas e das coisas celestiais, a fim de compreender por que o Dr. Sproul e outros teólogos reformados dizem que a igreja pode aprender com cientistas incrédulos. Neste post, devemos ver o que os cristãos devem fazer quando a ciência e a Bíblia parecem entrar em conflito.

Em suas observações finais, o Dr. Sproul fez as seguintes declarações:

No entanto, se puder ser mostrado que algo é definitivamente ensinado na Bíblia, sem sombra de dúvida, e alguém me apresenta uma teoria a partir da revelação natural – ou que se acredita que seja baseada na revelação natural – que contradiz a Palavra de Deus, eu vou ficar com a Palavra de Deus cem por cento das vezes. Contudo, novamente eu tenho que repetir: posso ter sido um mau intérprete da Palavra de Deus.

A doutrina Reformada das Escrituras inclui a crença em sua inspiração, infalibilidade e autoridade absoluta, e as palavras do Dr. Sproul aqui são um lembrete fundamental destas verdades. Se uma teoria científica ou hipótese contradiz um ensinamento real das Escrituras, esta teoria científica ou hipótese está necessariamente errada. As Escrituras ensinam, por exemplo, que Deus é o criador do céu e da terra e tudo o que os contém. Qualquer teoria científica que atribui a existência de todas as coisas a forças puramente materiais está, portanto, errada. A questão-chave, no entanto, como o Dr. Sproul nos lembra aqui, é lembrar a diferença entre a Palavra de Deus infalível e nossas interpretações falíveis desta Palavra. Antes de podermos determinar se existe ou não uma real contradição entre a Palavra de Deus e qualquer teoria científica ou hipótese, temos que ter certeza de que temos interpretado a Palavra de Deus corretamente. Uma vez estabelecido o ensino real das Escrituras, temos um critério de avaliação.

O Dr. Sproul continua:

Mas, novamente, eu não tenho que enfrentar esse problema já que acredito que ambas as esferas são esferas da revelação de Deus, e que a verdade tem que ser compatível. Então, se elas parecem estar em conflito, e se elas estão em conflito, se uma teoria da ciência natural está em conflito com a teoria teológica e a contradiz, aqui estou certo de uma coisa: alguém está errado.

Em um post anterior, discutimos a afirmação do Dr. Sproul de que toda verdade é a verdade de Deus. Um dos resultados mais importantes da compreensão deste fato é a noção de que, em última análise, não pode haver qualquer contradição real entre o que as Escrituras realmente ensinam e o que é verdade sobre a maneira como Deus criou o Universo e tudo o que há nele. É encorajador saber que, quando as Escrituras e a criação de Deus são devidamente interpretadas, não há contradição. Isso significa que os cristãos, em última análise, não têm absolutamente nada a temer na pesquisa científica. Se os cientistas descobrem algo acerca da criação de Deus que seja verdade, isso não vai e não pode contradizer as Escrituras, quando adequadamente interpretadas. Se há uma contradição com as Escrituras corretamente interpretadas, então sabemos que a “descoberta” em questão é uma má interpretação científica da criação de Deus.

Em outras palavras, se toda a verdade tem a sua fonte em Deus, e se toda a verdade é unificada, então o fato é que, se há uma contradição entre a interpretação das Escrituras e uma interpretação daquilo que Deus criou, então uma ou ambas as interpretações estão incorretas. Ambas não podem estar corretas. Como disse o Dr. Sproul, “Alguém está errado.”

Eu não salto para a conclusão de que tem que ser o cientista. Pode ser o teólogo. Mas, da mesma forma, eu não salto para conclusão de que tem que ser o teólogo. Poderia muito bem ser o cientista, porque temos seres humanos falíveis interpretando uma revelação natural infalível, mas também temos seres humanos falíveis interpretando uma revelação especial infalível.

O Dr. Sproul ressalta um ponto muito importante aqui, já que muitas pessoas envolvidas em discussões sobre as Escrituras e a ciência rapidamente saltam para uma das duas conclusões. Muitos cientistas vão diretamente para a conclusão de que, se alguém está errado, tem que ser o aluno da revelação especial de Deus – o teólogo ou estudioso bíblico. Isso é injustificado porque, como todos os seres humanos, os cientistas também são falíveis. A história está repleta de teorias científicas e práticas que já foram descartadas (por exemplo, o éter, o flogisto, os humores corporais). Ninguém que eu conheça deseja, por exemplo, ser tratado por médicos defendendo os “resultados garantidos” da medicina do século XVIII. A ciência é, por definição, um empreendimento que se autocorrige, o que significa que a ciência é, por definição, falível. Se assim não fosse, não haveria necessidade de correção.

Muitos cristãos, no entanto, muitas vezes vão para a conclusão prematura oposta – a de que, se alguém está errado, tem que ser o aluno da criação de Deus, ou seja, o cientista. Isso foi o que aconteceu com aqueles que rapidamente rejeitaram a visão heliocêntrica do sistema solar, acreditando que ela contradizia a Palavra de Deus. Saltar para a conclusão de que, se alguém está errado, tem que ser o cientista, é algo injustificado porque nem sínodos, nem conselhos, nem teólogos, e nem blogueiros de internet são intérpretes infalíveis das Escrituras. Os cristãos podem cometer e têm cometido erros em suas interpretações das Escrituras. Como o Dr. Sproul corretamente observou, “temos seres humanos falíveis interpretando uma revelação natural infalível, e temos seres humanos falíveis interpretando uma revelação especial infalível.” Assim, como o Dr. Sproul lembra, não devemos saltar automaticamente para uma ou outra conclusão. Tanto os cientistas como os teólogos são falíveis.

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A resposta do Dr. Sproul é importante porque uma falha consistente e contínua em manter essas coisas em mente trouxe à igreja um problema após o outro. Por um lado, encontramos numerosos cristãos fazendo concessões prematuras a especulações científicas ainda em sua infância, que podem ser rejeitadas à luz de mais pesquisa. Há físicos cristãos, por exemplo, que já dizem que devemos aceitar a ideia de um multiverso. Até onde sei, no entanto, o conceito de multiverso ainda é apenas uma hipótese. De fato, mesmo entre os que aceitam a ideia geral, existem inúmeras hipóteses sobre o multiverso sendo debatidas neste exato momento. Há também um debate sobre se tais hipóteses são até mesmo testáveis. Assim, por que os cristãos deveriam aceitar este conceito como se fosse um fato estabelecido? Uma leitura superficial de publicações cristãs e livros de apologética dos séculos XVIII e XIX deveria deixar qualquer cristão um pouco mais cauteloso ao fazer concessões prematuras às teorias e hipóteses científicas. Essas obras estão cheias de pastores e teólogos cristãos fazendo referência a “fatos” da ciência dos séculos XVIII e XIX – “fatos” que já foram rejeitados. Precisamos aprender com os seus erros.

Por outro lado, encontramos alguns cristãos rejeitando conclusões tiradas a partir de observações da criação de Deus que têm sido repetidamente testadas e confirmadas de todas as maneiras imagináveis ​​há séculos. Essa rejeição ocorre, como vimos, devido à percepção de uma contradição entre o conceito científico em questão e a Palavra de Deus. Todos os verdadeiros cristãos corretamente defendem a absoluta autoridade da Palavra de Deus. No entanto, se falharmos em considerar a possibilidade mencionada pelo Dr. Sproul (ou seja, a possibilidade de que a contradição pode se dar por causa de nossa má interpretação da Palavra de Deus, em vez de uma má interpretação da criação de Deus), então os cristãos podem acabar colocando sua própria palavra no lugar da palavra de Deus e rejeitar algo que é realmente verdadeiro sobre a criação de Deus. Não somos infalíveis em nossa interpretação das Escrituras.

O que, portanto, os cristãos devem fazer quando se depararem com uma teoria científica que parece entrar em conflito com as Escrituras? A partir da resposta do Dr. Sproul, podemos levantar vários pontos. Primeiro, podemos relaxar e não ter medo de que a teoria científica em questão vá refutar o cristianismo. Deus é a fonte de toda a verdade e, em última análise, não haverá conflito real entre o que Deus revela nas Escrituras e o que é verdade sobre Suas obras criadas. Em segundo lugar, lembre-se que Deus é a autoridade final e que, se houver um verdadeiro conflito entre a teoria científica em questão e o ensino real das Escrituras, a teoria científica está errada. Em terceiro lugar, reconhecemos que o nosso objetivo é descobrir a verdade a fim de não darmos falso testemunho acerca de Deus ou de Suas obras criadas. Para isso, devemos reconhecer que o conflito pode se dar devido a uma má interpretação da criação ou a uma má interpretação das Escrituras, ou mesmo a uma má interpretação de ambas. Isto significa que precisamos fazer uma análise profunda e cuidadosa tanto da teoria científica como da exegese bíblica, a fim de descobrirmos a origem do conflito. Temos de nos certificar que estamos lidando com o ensino real da Escritura em oposição a uma interpretação errada das Escrituras. E temos de examinar as evidências para a teoria científica em questão de forma a descobrir se estamos lidando com algo verdadeiro sobre a criação de Deus ou algo que é uma mera especulação. Todo este trabalho duro leva tempo, o que significa que não podemos tirar conclusões precipitadas.

Estes conceitos não são tão controversos quando estamos nos referindo a questões como o geocentrismo. Eles ficam muito mais difíceis quando tentamos aplicá-los a questões científicas de nossos dias. Em nosso último post, vamos olhar mais de perto a resposta do Dr. Sproul para a questão controversa sobre a idade do universo.

Traduzido por Fernando Pasquini Santos e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original: When Science and Scripture Conflict – A Reformed Approach to Science and Scripture. Ligonier Ministries.

Keith Mathison é professor de teologia sistemática no Reformation Bible College em Sanford. É autor de muitos livros, incluindo o livro From Age to Age.

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